segunda-feira, 29 de outubro de 2018

II. A PRÁTICA DA MEDITAÇÃO E A SABEDORIA NO COTIDIANO


Budismo. www.budavirtual.com.br. Texto de Jetsunma Tenzin Palmo (1943-  ). II. A PRÁTICA DA MEDITAÇÃO E SABEDORIA NO COTIDIANO. Prajna Paramita, Ou SABEDORIA. Demos uma olhada em shamatha, essa ideia de deixar a mente mais quieta e calma, mais concentrada. Também consideramos o fato de que shamatha ajuda a mente a enxergar o fundo do lago. Mas ela não remove o lodo, não remove todo o lixo e todas as ervas daninhas que estão no fundo. Quando eu estava em Lahaul, fora da minha caverna, havia uma área plana que parecia um pátio. Era de terra endurecida e na superfície havia moitas de florzinhas bonitas. Quando chovia, tudo ficava barrento, e decidi assentar algumas pedras grandes e planas. Isso significava que eu teria que arrancar as florzinhas. Decidi que a única maneira de me livrar daquelas flores delicadas era não apenas cortá-las, mas arrancar todas as raízes para que não crescessem novamente. Imaginei que puxaria e elas sairiam. Porém, quando comecei a rastrear às raízes das florizinhas, descobri que literalmente estendiam-se por todo o pátio. Estavam espalhadas e interconectadas em uma enorme rede subterrânea, embora apenas algumas pequenas moitas fossem visíveis na superfície. As ervas daninhas da nossa mente são assim. Além de tudo, parecem atraentes. ”Ah, eu amo chocolate” ou ”Eu adoro roupas novas”. Tão inocente. Mas essas raízes de nosso desejo são profundas e grossas, espalham-se e estão na base de tudo. Esse é o problema. Essas raízes de negatividades, nossas ilusões, nossa má vontade e nossa ganância são tão profundamente arraigadas em nossa mente que permeiam tudo, e muitas vezes nem sequer as reconhecemos pelo que realmente são. Podemos questionar para que arrancá-las fora. Puxamos, um pouco aqui, cortamos e aparamos um pouco ali, mas não enfrentamos esse sistema de raízes penetrantes. A mim parece que a meditação vipassana lida com a mente em duas frentes que, ao fina, se unem na realização da natureza vazia da mente. Primeiro, lidamos com o fato de que nossa mente é permeada por impulsos negativos muito profundos, que criam muita dor e muitos problemas em nossa vida, para nós mesmos e para os outros. Além disso, há toda a questão de quem afinal experimenta essa doer e esses problemas. Trataremos disso resumidamente, pois é um assunto vasto. Por meio da pratica de shamatha, nossa mente se acalma. E, à medida que a mente se aquieta, o fluxo de pensamentos passa por 3 estágios. Primeiro é como uma cachoeira, uma queda d’água estrondosa. Depois, torna-se como um rio turbulento, tornando-se gradualmente mais plácido conforme vai correndo. Eventualmente o rio deságua no oceano. Talvez em nossa prática de meditação da permanência serena, nossa mente tenha chegado ao ponto em que não é mais uma cachoeira, é como um rio correndo calmamente. Neste ponto não precisamos entrar no oceano de samadhi, ou absorção profunda.  Isso não é tão importante. Precisamos apenas deixar a mente mais quieta, precisamos apenas adquirir a capacidade de nos concentrarmos em um único ponto, ter concentração uni direcionada. Essas duas condições são necessárias, mas não precisamos ficar em um estado sem quaisquer pensamentos. Anteriormente, como estávamos desenvolvendo a concentração uni focada, ignorávamos os pensamentos. Não dávamos qualquer atenção a eles. Dávamos atenção ao ponto focal de nossa concentração, que era a respiração. Agora, no entanto, aplicamos a concentração aos próprios pensamentos. Pode-se dizer que isso é como alguém sentado na beira de um rio apenas observando- o fluir. Não tentamos represar o rio, ou alterar seu fluxo de forma alguma, estamos apenas sentados as margens de nosso rio mental, observando os pensamentos fluírem. Não tentamos interferir. Não fazemos nada a respeito. O importante é não ficarmos fascinados ou sermos capturados pelos pensamentos – ”Óh! que ideia interessante”. Hmm sim certo”. – e no minuto seguinte nossa mente é carregada rio abaixo. Precisamos apenas observar os pensamentos fluindo. No entanto, se observamos a mente muito tensos, mantendo todos pensamentos, acabamos nos desequilibrando. O mestre zen Suzuki Roshi (1904-1971) disse que a maneira de controlar uma vaca é dar-lhe um amplo pasto. Quando tentamos desenvolver as qualidades da consciência, da atenção plena e da observação da mente, é muito importante dar a mente um bom pasto bem amplo e não a mantendo muito apertada. Essa tensão extrema não é o que desejamos. Em vez disso, queremos a sensação de permitir que nossos pensamentos venham e flutuam, e, enquanto isso, tomamos conhecimento, observamos, vemos os pensamentos, e se perderemos alguns não faz mal. Assim, esta é a etapa que vem depois de termos praticado com a respiração, ou algum objeto a nossa frente. Quando os pensamentos se acalmaram um pouco e não estão caóticos, e quando o foco, a concentração e a consciência se tornaram um pouco mais fortes e bem definidos, aí sim levamos a atenção da respiração para a própria mente. Segundo a psicologia budista, não podemos ter dois pensamentos ao mesmo tempo. Dois estados mentais não podem surgir em nossa consistência ao mesmo tempo. Os estados mentais são incrivelmente rápidos, e no entanto, sequenciais. Portanto, a medida que temos mais momentos de consciência, temos menos momentos de pensamento discursivo. Os pensamentos começam a desacelerar, começa a haver menos pensamentos, [..] quando chegamos a esse ponto, começamos a desenvolver o que é chamado de insight. Começamos a usar essa inteligência para observar a própria mente. Como eu disse antes, vivemos a partir da mente, experienciamos qualquer coisa apenas por meio da mente. No entanto, não a conhecemos. Nunca olhamos para ela. Dizemos ”Eu acho”, ”eu me lembro”, ”na minha opinião”, ”meu julgamento é”. Estamos cheios de julgamentos, intenções, ideias, pensamentos, fantasias, sonhos e memórias, mas o que é um pensamento? Qual a sua aparência? De onde vem? Onde permanece? Para onde vai? Qual é a sensação? Se parece com o que? ”Estou com raiva”, ”Estou feliz”, ”estou triste” – que aparência tem uma emoção? De onde vem? É dessa forma que usamos a mente para olhar para ela mesma. Tentamos ver o que é um pensamento – qual a sua aparência. O que é? Podemos pensar a respeito de um pensamento, mas podemos realmente experienciá-lo? Podemos continuar a investigar a mente. ”Tudo bem, há momentos em que há pensamentos. E depois há momentos em que não há pensamentos”. É igual ou diferente? E que tal a consciência que observa os pensamentos – a consciência é igual aos pensamentos ou é diferente? E a consciência se parece com o que? Podemos ver o observador? Podemos observa-lo? E então, é claro, podemos nos fazer a pergunta das perguntas: ”’Quem é o observador?”. Não vou dar a resposta a vocês! Nós dizemos: ”Eu acho”, ”eu me lembro”, ”eu gosto”, ”eu não gosto”, ”sou boa pessoa” ”sou má pessoa, mas quem é esse ”eu”? Nunca nos questionamos, nunca olhamos. Isso é essencial, porque estamos agarrados às nossas identificações, o que nos causa confusão e angústia. Nós nos identificamos primeiramente com o corpo que temos neste momento: ”Eu sou uma mulher”, ”eu sou um homem”, ”eu sou branca, ”eu sou negra”, ”eu sou europeia” ”eu sou americana, ”eu sou bonita”, ”eu sou feia”, ”eu sou gorda, ”eu sou magra”, esta sou eu”. Mas é claro que não somos os nossos corpos. […]. Nos identificamos com nossos pensamentos, com nossas opiniões e com nossos julgamentos, e nos identificamos com nossas memórias, especialmente as tristes, especialmente as difíceis. Nos agarramos, e nossa identidade orbita em torno do sofrimento. Somos seres tão perversos, mas, quando olhamos para nossa mente, vemos que as memórias são apenas pensamentos – e isso é tudo. Os eventos que estamos recordando terminaram, aconteceram anos atrás. Não estão aqui, não existem. Tudo o que nos restou são os pensamentos, mas, quando olhamos para os pensamentos vemos que eles, em si mesmos, são bastantes transparentes. Um pensamento não é uma coisa. Então por que nos identificamos tanto com eles? Nossas percepções criam a realidade que percebemos. Mas é claro que isso não quer dizer que a totalidade de fenômenos externos é puramente ilusão. Os tibetanos dizem que é como uma ilusão porque projetamos e não estamos conscientes de que é uma projeção nossa. Uma vez que nossas percepções são impuras e distorcidas pelo ego, não vemos as coisas como são, percebemos apenas a nossa própria versão, baseada na delusão (engano). Estamos olhando para a mente. Estamos olhando para o fluxo de pensamentos. Enquanto observamos os pensamentos e a consciência está em firme, os pensamentos começam a desacelerar. É como um filme: se começa a ser passado mais devagar e mais lentamente, reconhecemos quadro por quadro em vez do filme projetado. Da mesma forma, se nossa consciência é clara e firme, os pensamentos começam a desacelerar e podem ser reconhecido como unidades interligadas. E, quando nossa consciência estiver muito clara, pode acontecer o fluxo de pensamentos ser interrompido por uns instantes, havendo um intervalo entre o último pensamento e o seguinte. Quando existe esse intervalo, o observador se funde diretamente com aquilo que está subjacente ao pensamento, a natureza de clara luz da mente. Neste momento, surge a intuição direta e a realização da natureza da mente- não dual, não conceitual, não condicionada, além dos pensamentos.  Não somos capazes de pensar sobre isso, mas podemos experienciar. Neste tipo de meditação, a ideia é conseguir o maior número possível de lampejos de visão não dual como esses e prolonga-los. A medida que a mente repousa naturalmente nessa consciência não nascida com mais frequência e por períodos mais longos, ao final o praticante irá permanecer nesse estado desperto o tempo todo. É um nível de consciência que não tem fronteiras. Não existe o eu e o outro. O céu não tem centro e o céu não tem circunferência, é ilimitado. O céu permeia tudo, não apenas o espaço acima de nós, mas todos os lugares. É o espaço. Sem o espaço, não poderíamos ser nada porque o espaço é tudo. Quando falamos sobre o nosso verdadeiro eu, temos a ideia de alguém sentado dentro de nós – maior, o melhor e mais maravilhoso eu. Mas não é disso que estamos falando, de maneira alguma. Quando realizamos a verdadeira natureza do nosso ser, onde está o ”eu”, onde está o ”outro”?  Quanto ao espaço, não posso dizer que este é o meu espaço e aquele é o seu. É apenas espaço. E a verdadeira natureza da mente é assim. E essa natureza pode ser experienciada e realizada. É a mente de um buda. E esta qualidade vasta e ampla da mente está preenchida com todas as qualidades de sabedoria, compaixão e pureza. É a clara consciência por trás do funcionamento dos nossos sentidos que nos permite conhecer as coisas, que ilumina nosso pensamento e nossas emoções. Por trás do movimento da mente conceitual está o vasto conhecer silencioso. É tão simples. Mas não acreditamos. E de fato é triste que isso escape-nos. Ignoramos a simplicidade que está a nossa frente. Isso pode parecer muito frio, mas, as vezes, quando olhava nos olhos das outras pessoas ao meu redor, podia ver que estavam extremamente envolvidas com o que ouviam, viam e pensavam, e que não havia qualquer espaço interno. Por conta disso, suas mentes eram muito turbulentas, assim como minha própria mente também costumava ser. Uma compaixão imensa brotou dentro de mim porque entendi nossa situação difícil de forma muito clara. A compaixão genuína surge do insight. Normalmente, quando olhamos e quando experimentamos alguma coisa, acreditamos para valer no que estamos vendo e experimentando. Ficamos envolvidos. É como se não houvesse espaço interno. Porém, quando desenvolvemos a consciência pura, não ficamos mais submersos em nossos pensamentos. A consciência está sempre por trás do pensamento, e dos sentimentos. E assim nós praticamos. Praticamos a habilidade de dar um passo atrás para ver os pensamentos memórias, sentimentos e emoções apenas como pensamentos, memórias e sentimentos, meramente como estados mentais, e não como algo sólido ou real. ”Eu” e ”meu” são apenas estados mentais. Eles vêm, permanecem por um tempo e vão. Isso é tudo o que realmente está acontecendo, mas por não termos espaço em nossa mente, não conseguimos ver. A meditação nos permite ter espaço para ver que pensamentos e sentimentos não são algo sólido, opaco. São vazios em sua natureza, como uma bolha. Não podemos agarrá-los. Se olhamos para o pensamento em si, ele evapora. Em última análise, esta é a maneira mais hábil para lidarmos com as emoções, porque, quando qualquer emoção vem à tona, podemos olhá-la diretamente e, no momento em que a vemos, ela simplesmente desaparece. Tomemos uma emoção negativa como a raiva, por exemplo. No exato instante em que o pensamento de raiva se transforma espontaneamente em uma forma sutil de energia clara e aguda. Os venenos da mente, em suas raízes, são uma fonte de grande energia de sabedoria. O problema é que permitimos que se desenvolvam sem reconhecê-los, e surgem em formas muito distorcidas, como ganância, raiva e ciúme. Contudo, se conseguimos pegá-los no exato momento em que emergem na consciência, têm vibração e clareza. É uma forma extremamente clara de energia. Nos ensinamentos mais elevados se diz que quanto maiores as nossas impurezas emocionais, maior a nossa sabedoria. Entretanto, até que possamos pegar o pensamento em sua forma incipiente, no momento em que nasce – a menos que possamos fazer isso e transformá-lo naquele instante -, será melhor tentar lidar com as emoções negativas de outras maneiras. Porém, uma vez que possamos fazer isso, uma vez que tenhamos essa consciência poderosa que você as coisas de forma clara a cada momento, não há nada a temer, porque cada pensamento que aparece é transformado em energia de sabedoria. Nos textos tibetanos é dito: ”Olhe, onde está a mente? Está no estomago? Está no pé? No coração?”. Nesses textos, nunca se pergunta: ”Está na cabeça?” Não é interessante? Talvez nunca tenha ocorrido a eles que fosse possível a mente estar na cabeça. Certa vez, lembro que meu lama, Khamtrul Rinpoche, disse que era muito curioso que os ocidentais pensarem que a mente está na cabeça. Disso que o cérebro está na cabeça, mas o cérebro não é a mente. ”Já sabemos muito sobre o cérebro, mas ainda não encontramos a mente”, disse um famoso neurocirurgião. Quando os ocidentais, que dão muito valor a cabeça, meditam, acontece frequentemente de a meditação ficar localizada na cabeça. Às vezes, as pessoas, tem dores de cabeça por causa disso. Se alguém me dissesse: ”Eu sei que esta manhã você roubou minha carteira. Você é uma ladra!”. Eu diria: ”Quem? Eu?”, e apontaria para meu peito. Eu não diria ”Quem? Eu?”. Apontando para cabeça. A perfeição da sabedoria tem a ver com a qualidade de vacuidade. Os budistas falam muito sobre a vacuidade. Porém, quando os budistas dizem que tudo é vazio, estão falando basicamente de 2 coisas: uma é que nada existe por si mesmo, nada existe em si e por si só. Tudo pode surgir apenas em relação com todo o resto. É bastante óbvio. Não podemos pensar sobre a escuridão a menos que pensemos sobre a luz. Não podemos ter a esquerda a menos que tenhamos a direita. Só podemos pensar em termos relativos. A filosofia ocidental também lida com isso. Existem estudiosos na tradição budista que analisam tudo em termos de seus componentes. Esse relógio, por exemplo. Se eu disser: ”O que é isso?” Vocês vão responder ”É um relógio”. Então podemos questionar: ”Qual parte é o relógio?” A da frente? A de trás? A pulseira? O mecanismo interno?”‘ . Continuamos investigando para tentar encontrar a ”relogiedade”, o que faz o relógio um relógio, mas nunca poderemos encontrar o relógio em si. É apenas um rótulo que damos a uma combinação de muitas coisas.  A coisa em si não existe. É vazia de existência intrínseca. Nunca conseguimos encontrar a coisa em si e por si. Tudo o que vemos e experienciamos é um rótulo convencional. As pessoas passam 30 anos estudando esta abordagem. Vocês têm sorte – conseguiram em apenas algumas frases! O outro significado de vacuidade é o que abordamos anteriormente, essa qualidade de espaço de todas as coisas que permite que sejam preenchidas, mas aquilo que preenche é intrinsecamente vazio. E isso se aplica também a e mente. Os filósofos e estudiosos passam muitos anos analisando a realidade externa. Os iogues analisam a realidade interna. Durante minha primeira lição de meditação com o meu velho professor iogue, ele apontou para uma mesinha e perguntou ”Aquela mesa é vazia?”. ”Sim”, eu disse. Tinha feito meus estudos budistas. ”Você vê que ela é vazia?”. ”Não”, respondi. ”Sua mente é vazia?”. Disse ele. ”Sim”, disse, com um pouco mais de confiança. ”Você vê que ela é vazia?”. ”Não”. […] uma vez entendida a vacuidade da mente, entendemos tudo. Quando realizamos a natureza da mente, não apenas pensamos a respeito, mas vemos diretamente como ela funciona e como projeta a realidade externa. Considere que qualquer físico diria que esta mesa é basicamente vazia. É espaço com uns prótons e nêutrons esvoaçando. Mas não vemos assim. Nossa experiência não é essa. Experienciamos a mesa como algo muito sólido. Ela pesa quando tento erguê-la. Embora essa seja a minha experiencia, não é assim que um físico vê a matéria, não é? Portanto, o que estou experimentando é o que a minha mente projeta. Agora, se eu tivesse sentidos muito diferentes e um tipo diferente de mente, é provável que experienciasse a mesa de uma forma completamente distinta. Se fosse um daqueles insetos que fazem furos na maneira, minha percepção da mesa seria diferente, mas também seria real. Para o cupim, seria real. Nós acreditamos em nossos sentidos, temos uma espécie de consenso e conspiração para ver as coisas conforme nossas percepções sensoriais nos apresentam. Está ótimo, porque é assim que funcionamos, e não há nada de errado com isso em um nível relativo. É assim que estamos equipados para lidar com a vida em um plano convencional. Mas o problema surge quando pensamos que isso é verdadeiro. O problema surge porque acreditamos que nossos pensamentos condicionados estão nos dizendo a verdade. Acreditamos implicitamente em nossas identidades muito transitórias. O problema não é o ego – o problema é nossa identificação com o ego. A solução é saber que estamos apenas desempenhando um papel, como um ator. Para ser convincente, o ator precisa desempenhar o papel de forma mais persuasiva possível. O ator se identifica com o papel. Mas que problemão se o ator sai do palco e pensa que ainda é o personagem! O termo ”personalidade” vem da palavra latina persona, que era a máscara que os atores usavam no palco para representar os diferentes personagens. O problema é que nunca tiramos as nossas máscaras, mesmo na privacidade do nosso quarto. Pensamos: ”Este é quem realmente sou”. […] Por trás de tudo com o que nos identificamos está a consciência vasta e aberta que não é apenas o conhecimento, mas é em si a plenitude da sabedoria e compaixão. Sabedoria significa vermos as coisas como realmente são. Compreendemos as coisas com clareza, sem distorções. Quando falamos sobre sabedoria e vacuidade, não nos referimos a algo frio e distante. Esta consciência ampla e aberta contém tudo. A mente de Buda é vazia, por isso, pode estar repleta de todas as qualidades. Estamos plenos de todas as qualidades do Buda. Neste momento, elas estão apenas encobertas pelo esquecimento. A única maneira de descobri-las é olhar para dentro e começar a remover os falsos véus que cobrem o que sempre esteve presente, esperando ser encontrado.  “Vocês têm a oportunidade de treinar a mente. Não estão pensando o tempo todo em como poderão conseguir a próxima refeição para os seus filhos. Têm tempo livre e oportunidade para pensar além. Vocês nunca terão um momento melhor do que este de agora para usar esta vida de maneira significativa”. “A compaixão é extraordinariamente importante no caminho espiritual. É o outro lado da moeda — temos a sabedoria e a compaixão. Quanto maior a compreensão da dor inerente aos seres — quanto mais clara se torna a mente, como se limpando a poeira dos olhos —, mais se vê a dor subjacente à vida das pessoas e mais compaixão surge. Mesmo que as pessoas não aparentem explicitamente estar sofrendo, vemos que por trás da fachada há muita dor e muitos problemas. Naturalmente, então, surge a compaixão e uma nutre a outra. Compaixão sem sabedoria é estéril, é cega. É como ter pernas, mas não ter olhos. Sabedoria sem compaixão é como ser mutilado, não se consegue ir a lugar algum. Então, precisamos das duas e elas se apoiam mutuamente, porque não apenas o intelecto tem que estar aberto, mas também o coração. Elas são indivisíveis. Sabedoria e compaixão são como duas asas. Não conseguimos voar com uma só”. — Tenzin Palmo, em “No Coração da Vida”. Estes textos acima fazem parte do livro ‘No coração da vida: Sabedoria e compaixão para o cotidiano”. O primeiro livro de Jetsunma Tenzin Palmo em português. Para adquirir, clique aqui. Trata-se de um verdadeiro presente e oportunidade ter uma obra destas em português. O conteúdo deste livro refere-se a praticantes comuns preocupados em traduzir as instruções do Dharma para uma experiência de vida em andamento. Um aspecto importante do Dharma trata da transformação de nossa mente e atitudes ordinárias em algo altamente positivo, que traga benefícios não só para nós mesmos, como para todos que tenham contato conosco. O problema básico que encaramos é como mudar uma mente cheia de pensamentos e emoções negativos – ganância, raiva, ansiedade, inveja e por aí vai – em uma mente mais pacífica e cordial, com a qual seja um prazer para todo mundo (inclusive nós mesmos) viver. Este livro estabelece de forma simples alguns indicadores para ajudar praticantes comuns a usar o Dharma para levar uma vida mais significativa. Nossa mente, com seu fluxo incessante de pensamentos, memórias, opiniões, esperanças e medos, é nossa companhia constante, da qual não conseguimos escapar nem mesmo em sonhos. Assim, faz sentido cultivar para nossa jornada uma companhia de viagem que valha a pena. www.budavirtual.com.br. Abraço. Davi

Nenhum comentário:

Postar um comentário