sexta-feira, 5 de outubro de 2018

II. ALMA CRISTÃ VERSUS ALMA BUDISTA


Budismo. www.rodadalei.com.br. II. ALMA CRISTÃ VERSUS ALMA BUDISTA. Fonte: Desconhecido (2009). Saicho – Introdutor da Tradição Tiantai no Japão. Segundo a tradição Tiantai, todos os dharmas (fenômenos) ocorrem em um fluxo contínuo, mudando a cada instante, nunca permanente; desta maneira, afirmando que todos os fenômenos são vazios (sunyata, sct) e carentes de natureza própria (essência). Dizer que as coisas não possuem essência, ou não são reais, não implica afirmar que um objeto ou fenômeno não exista de fato. Os dharmas são transitórios e fugazes, mas não devem ser entendidos como “miragens”. Mesmo que as coisas do mundo sensível sejam efêmeras e encontrem-se sempre em mudança, elas são reais da forma com que se apresentam. Uma cadeira, por exemplo, é um conceito dentro do pensamento humano, só existe dentro da mente. Este conceito é associado à cadeira de uma casa, atribuindo a ela um significado, numa tentativa de “congelá-la” no tempo. A cadeira desta casa é real? Em um sentido objetivo, sim, mas ela não possui “realidade própria” porque é meramente um fenômeno. A cadeira é o resultado de causas e condições que propiciam sua existência: o solo que fez nascer a árvore que serviu de matéria-prima, o marceneiro que com habilidade e conhecimento construiu o assento, as ferramentas e os pregos que, por sua vez, foram desenvolvidos e produzidos por outras pessoas e, além disso, após a degradação natural com o tempo, esta cadeira “deixa de ser” cadeira, suas partes se desagregam e retomam o processo de um novo nascimento, fazendo parte de outros entes igualmente fugazes e compostos; assim, todos estes atributos fazem desta cadeira apenas um fenômeno efêmero, sem “realidade substancial”, como uma “breve faísca” em comparação à ordem de grandeza temporal do universo. Atribuir substancialidade ou uma característica “fixa” a um fenômeno é, na concepção de Tiantai, uma ilusão justamente por isso. Porque todas as coisas surgidas são assim, inclusive os seres sencientes. A ilusão e os apegos humanos querem atrelar características de ser às coisas, mas elas, segundo a tradição Tiantai, “não são”. Elas estão num estado constante de mudança. E tudo é assim. O homem é apenas um instante de um processo impossível de se marcar o início e mesmo depois de se dissolver, as coisas que lhe formam não desaparecem, apenas passam a fazer parte de outras coisas. Todas as coisas apresentam interdependência, já que se um único estágio da produção da cadeira (ou do seu surgimento) fosse eliminado, tudo seria diferente e ela nunca viria a existir. Neste sentido “tudo é Vazio”. (VASCONCELOS & PRATI, 2014 e SNODGRASS, 1997). Por outro lado, não se pode deixar de considerar que o mundo físico e seu vazio são dois aspectos de uma mesma realidade, não há vazio sem formas fenomênicas e não há formas fenomênicas sem a vacuidade. Formas e o vazio são inseparáveis, são fundidas, e ambas são igualmente reais. A impermanência e o vazio ou vacuidade, significa que as coisas surgem de um processo e elas representam apenas um instante desse processo. As pessoas comumente apenas enxergam um dos aspectos desta unidade. O budismo esotérico ensina que a realidade apresenta dois aspectos, um relativo, finito e condicionado e um absoluto, infinito e incondicionado. Em uma visão parcial, todas as coisas são transitórias e em momentâneas transformações, carentes de natureza própria; mas na totalidade, o imperfeito, o efêmero e os mutáveis dharmas estão fundidos com o perfeito, o eterno e a imutável “Realidade como ela é” (tathata, sct). O mundo sensível, fugaz e de formas impermanentes, é “movido” ou “vivificado” pelo Mundo de Buda: adamantino e durável; e ambos os mundos se interpenetram. (SNODGRASS, 1997). Esta “natureza essencial”, composta pelo que é impermanente em união com o duradouro, é chamada, na literatura Budista, de Tathāgatagarbha, que em uma tradução literal seria “Ventre do Tathagata” (Tathagata é um dos epítetos de Buda). (YOSHINORI, 2006 e 2007). O Tathāgatagarbha não deve ser entendido como algo transcendente, em nada se assemelha a um deus, não executa julgamentos, condenações, tampouco concede privilégios. Não é, tampouco, um conceito de justiça universal, mas sim, “tão somente”, a sabedoria intrínseca da vida (shunya prajña ou alaya-vijnana). (YOSHINORI, 2007 e MUNIZ, 2014). Para o Budismo, o Sagrado é a própria Vida que se move, impulsiona a matéria e todos os seres, ocasionando os fenômenos que são vazios e marcados pelo tempo (é o contínuo vir-a-ser ao incontrolável devir). Esta Lei não é a matéria, tampouco, um ente externo a ela. Este Sagrado está tipificado na literatura pela figura do Buda Vairocana (Dainichi, jpn) (FIGURA 2), a “suprema divindade”, a essência, a última realidade, aquele que subjaz todas as coisas e se expressa nos Cinco Elementos do mundo: água, fogo, terra, ar e o vazio (SAUNDERS, 1960).O Tathāgatagarbha aponta para a realidade de que todos os seres possuem, de forma inerente, a Natureza de Buda e, por conseguinte, são Budas latentes ou em “potencial”. Esta Natureza é na maioria das vezes ignorada pelos seres que, prejudicados pelos kleshas (ilusões, vícios e outros estados negativos da mente), não conseguem perceber a Verdade de suas próprias existências e acabam, por isso, caindo no sofrimento dos reinos inferiores do Samsara. Os kleshas, por sua vez, não fazem parte do Tathāgatagarbha, que é imaculado. (MUNIZ, 2014). “De modo semelhante, bons filhos, quando vejo todos os seres com o meu olho búdico, vejo que escondido dentro dos kleshas da ganância, do desejo, da raiva e da estupidez, está sentado, augusto e imutável, a sabedoria do Tathagata, a visão do Tathagata e o corpo do Tathagata. Bons filhos, todos os seres, embora se encontrem com todos os tipos de kleshas, têm um Tathagatagarbha que é eternamente imaculado e que está repleto de virtudes não diferentes das minhas”. (TATHAGATAGARBHA SUTRA, 1995, p. 2). Imagine uma cebola e suas camadas, o núcleo da cebola seria a Natureza de Buda presente em todos, e as camadas, as ilusões e vícios. Os seres quando olham para si não enxergam o núcleo, e para que mudem esta situação, terão que retirar diligentemente camada por camada até perceberem-se como realmente são. Os kleshas somente ocultam o Tathagatagarbha. O conceito de Tathagatagarbha, apesar de contextualmente aparecer em todos os sutras e tratados Budistas, é exposto mais claramente em um conjunto de dez sutras, tais como Tathagatagarbha-sutra, Srimaladevi-simhanada-sutra e o Mahaparinirvana Mahayana Sutra, bem como o tratado Ratna-gotra-vibhaga. Basicamente, estas obras expõe o Tathagatagarbha de duas maneiras: como o Atman (Alma Universal) e Gotra (a totalidade de seres e fenômenos), em oposição ao conceito de atman individual, ao qual o Budismo rejeita. No Budismo não há continuidade da personalidade (pudgala, sct), quando os seres morrem, por não haver mais causas e condições propícias para que subsistam, suas personalidades deixam de existir. (MUNIZ, 2014). Contudo, existe algo que “não morre”: aquilo que é “não nascido”, isto é, a vida como um Todo (nossas personalidades mortais são apenas manifestações condicionadas deste Todo). Desta maneira, a vida pode ser compreendida, então, como se todos os entes e fenômenos fossem, ao mesmo tempo, além de “indivíduos”, o Todo, ou seja, “organismos interdependentes” e transitórios de um mesmo sistema eterno. Desta percepção, como será visto a seguir, nasce a ética Budista, pois, “essa interdependência [deve] sensibilizar os seres humanos para a necessidade do cultivo de laços de uma solidariedade simbiótica e global com todas as criaturas” a fim de se minimizar o sofrimento mútuo. (ANDRADE, 2015, p. 17). A “Alma Universal”, ou melhor, a Vida, tem uma lógica bem determinada: os animais sabem como sobreviver, não é preciso ensinar os órgãos do corpo a realizarem suas funções, tampouco, as células a se dividirem, ou a gravidade ou qualquer lei física a agir. É evidente que existe uma sabedoria toda penetrante que impulsiona os fenômenos a executarem suas próprias naturezas. Esta sabedoria, o fundamento último da existência, do vir a ser e do devir, é a “Sabedoria da Vacuidade” (shunya prajña) e esta definição se confunde com a própria ideia de Tathagatagarbha. Shunya prajña é exatamente a noção de que todos os fenômenos são condicionados, vazios de existência essencial e apenas conjuntos de agregados. Os fenômenos só podem ocorrer, de acordo com suas leis próprias, quando causas e condições apropriadas se fazem presentes. Essas leis são incompreendidas pelo ser humano e, na maioria das vezes, fogem do nosso controle. (MUNIZ, 2014). A carreira Budista consiste em se viver de acordo com a Natureza Iluminada (Tathāgatagarbha). A ideia central é retornar à Verdade atemporal desvelada na compreensão genuína do Tathāgatagarbha: entendendo, assim, como se dá a vida e a realidade sem ilusões e apegos. Este é o conceito de “Iluminação”. Essa concepção de vida não é uma revolução no sentido esquerdista do termo, isto é, não é uma proposição de uma “nova verdade” subjetiva e construída através do homem, mas sim um regresso à Verdade que sempre esteve inscrita em nós, mas que se encontrava ocultada pelos kleshas. Esta Verdade, que é a mesma para todos (universalmente comunicável), nos impulsiona a vivermos de maneira ética. A Natureza de Buda, ou seja, o Buda Vairocana, é eterna, logo, sempre esteve dentro dos seres em todas as épocas. Em períodos de degenerescência moral as pessoas sufocam esta Verdade com ilusões efêmeras e tendem a agir de forma egoísta e cruel; por essa razão, de tempos em tempos, segundo os Sutras, Budas aparecem no mundo para guiar seus filhos corrompidos. (SUTRA DO LÓTUS, 2011). Deste modo, Tathāgatagarbha, embora não seja um deus transcendente, “carrega em si” a Verdade Eterna, a sólida referência a qual o Budismo baseia toda sua moralidade. Não pode haver uma moral objetiva, como acontece no Budismo, sem uma referência desse tipo. O “Embrião do Tathagata” nada mais é do que o Dharma inscrito de forma inata nos seres, a “Semente Búdica” que repousa silenciosamente no centro de tudo o que existe e se manifesta. Esta semente é acessada, pelo ser humano, por meio da consciência que vai se despertando na medida em que o praticante desenvolve sua carreira Budista. A título de ilustração, Kant defendia algo assim: as leis morais ou éticas “existem” de forma inata nas mentes dos seres humanos; elas não são reveladas por um deus, mas acessadas pela “Pura Razão”. Isto quer dizer que a Verdade não perde seu caráter único e atemporal, por estar dentro da mente. As leis morais nada mais são do que os Ensinamentos dos Budas, funcionam como as constantes leis físicas, com a diferença de que as leis morais dizem como as pessoas devem se comportar, não dizem o que as pessoas de fato farão. (KANT, 1980). Baruch Spinoza (1632-1677), quase como um Buda ocidental, pela semelhança de sua filosofia com o Dharma em muitos aspectos, também defendia uma espécie de imanentismo, ou seja, de que o Sagrado não está fora, mas dentro da mente. Este pensador defendia uma moral única, portanto, universal, acessada pela razão (ESPINOSA, 2013). Para ratificar esta ideia de universalidade e atemporalidade do Dharma, cito, por último, os Sutras do Lótus e de Amitaba (SUTRA CURTO DE AMITABHA, 2015), escrituras que relatam histórias de personagens do panteão Budista que pregam o mesmíssimo Dharma em universos ou mundos diferentes e em diferentes épocas, separadas, muitas vezes, por milhões de anos. Enfim, a caminhada Budista consiste na identificação do homem com sua própria natureza, para que este viva, assim, em conformidade com o Dharma. Essa “forma correta de vida” é desvelada mais e mais na medida em que a condição primordial de UNIDADE com o Tathāgatagarbha é percebida. Segundo a Tradição Tiantai, não existe um propósito para a existência; simplesmente as coisas acontecem, se movimentam, se assentam e vão buscando suas condições para a sobrevivência, isto é, esta tradição rejeita a causalidade final. Um vulcão parece não ser bom para os humanos, porém, atua conforme suas próprias diretrizes naturais e suas funções, segue o fluxo de sua “sabedoria intrínseca”, ou seja, não contradiz às suas próprias leis que são oriundas de causas e condições. Todos os fenômenos são impermanentes e seguem seu próprio fluxo. Atuam de acordo com uma lógica interna, um direcionamento inerente e todos são causados e condicionados. Quando estas causas e condições desaparecem os fenômenos deixam de existir. Presentes as causas e condições, voltam a se manifestar, estão latentes, “são” em potência – em um constante devir. Da mesma maneira, a mente tem sua própria natureza. Sendo assim, causas e condições fazem com que ela tome uma ou outra direção. Um pedaço de barro pode se transformar em um vaso muito útil e belo. Existe essa “potência” no barro. Assim como é igualmente possível ignorar o barro e considerá-lo apenas sujeira. Tudo depende das causas e condições criadas. A mente pode revelar sua verdadeira natureza, o Tathagatagarbha, ou pode ignorar essa potencialidade e preferir viver de forma medíocre. Há ambas as possibilidades. O ser humano pode ser um Buda ou um ser perverso. São os dois extremos de um mesmo mundo fenomênico. Ser vaso ou sujeira. O Sutra do Lótus diz que as pessoas veem o mundo em chamas; mas, que o “Mundo de Buda” nunca desaparece e que o próprio Buda, metaforicamente, continua lá pregando continuamente (SUTRA DO LÓTUS, 2011). Isto nada mais significa do que afirmar que é a mente quem diferencia entre ver o mundo em chamas ou o mundo de pureza, como aquele que reconhece o joio em meio ao trigo. Todas essas possibilidades fazem parte de uma mesma realidade, isto é, são interpenetradas. É possível ver o mundo prático real, como “imperfeito”, contudo, ao mesmo tempo, é possível perceber a essência de todos os fenômenos, sua vacuidade, sua interdependência e a forma como o Dharma provoca o despertar para a Verdade. Ver o “Mundo de Buda” é exatamente perceber que é possível se sentir livre mesmo em meio esta aparente dualidade, enxergando tudo com uma mente Iluminada, sem, no entanto, inventar uma suposta perfeição ou propósito divino para a realidade (Samsara, sct). Isto é, ver as coisas como elas são, sem invencionice ou ilusão de propósitos eternos. Aprender a agir da forma mais correta e sábia em um mundo em chamas, esse é o nosso Dharma, isso é o que somos. Para o Budismo, viver corretamente nesse mundo não é agir arbitrariamente, como muitos dizem. Alcançar o conhecimento da Realidade Última (ou seja, que tudo é condicionado e interdependente, que todos os fenômenos surgem e desaparecem continuamente e que os seres são frutos de uma imensa teia de relações causais) é a única chance que o ser humano tem de alcançar a felicidade, aprendendo a lidar melhor com os acontecimentos de sua vida. Isto é, este despertar proporciona capacitação à mente em perceber os fenômenos e ao mesmo tempo não se deixar abater por eles. Ao se observar o mundo fenomênico com serenidade e sabedoria, obtém-se o “olho divino do Buda”, que funciona como uma âncora inabalável em meio a um mar de ilusões. Este é o núcleo do ensinamento Tiantai. Ao se penetrar nesse mistério, constata-se que a realidade não precisa ser boa ou má. Ela apenas segue seu fluxo natural. É preciso saber viver sabiamente em meio ao que é, ou seja, entrar em sintonia com um mundo condicionado, causado e cheio de “incômodos”. O cerne do ensinamento do Buda, não somente na perspectiva Tiantai, mas como um todo, é a sabedoria; estar afinado com a “Sabedoria da Vida”, a fim de que, o sofrimento dos seres sejam minimizados e a comunhão mais plena entre os entes seja realizada. Esta é a sabedoria que desvela a Realidade de que os entes, em essência, são uma unidade. Não é lícito cortar as relações causais da vida, ou seja, interferir na “sabedoria intrínseca” dos fenômenos. Não se deve lesar, interferir no ciclo de vida dos outros seres, ferir, ou causar dor. Todos os seres são manifestações de um mesmo fluxo de fenômenos. Somos um mesmo organismo, não separados e não duais. COMPARAÇÃO ENTRE A ALMA DESCRITA POR TOMÁS DE AQUINO E A ALMA SEGUNDO A CONCEPÇÃO TIANTAI. Colocados ambos os pontos de vista a respeito da concepção entre a Alma cristã de Tomás de Aquino (1225-1274) e a concepção de “Alma” Budista da Escola Tiantai, vamos à parte mais importante do trabalho, a comparação entre estes dois conceitos. Primeiramente, é preciso explicitar que o termo Alma no Budismo é um tanto quanto inadequado, e é, inclusive, não reconhecido pela maioria das Escolas. O uso da expressão nesse trabalho é apenas uma aproximação com o conceito de alma cristã. Esta aproximação tem o intuito de tornar possível o estudo comparativo, de maneira simplificada, compatível ao entendimento do leitor ocidental. Como já descrito, a melhor forma de definir como se dá o movimento e a vida na perspectiva Budista é pelo uso das palavras Tathagatagarbha, Gotra ou Natureza Búdica. As concepções de alma cristã e budista, na verdade, são bastantes diferentes, coincidem somente no que diz respeito a explicar como ocorre o movimento, autônomo ou não, dos seres. Entre essas divergências, a principal é a de que no cristianismo as almas são individualizadas para cada ente, ou seja, um cachorro específico tem uma alma diferente de seu irmão, por exemplo. A macieira do seu quintal tem uma alma distinta da macieira do seu vizinho. Eu, como ser humano, tenho uma alma que é outra do meu pai e assim por diante. Já no Budismo, há “apenas” uma Alma que dá vida ao Todo. Os entes que compõe este Todo vivem por participarem desta Alma única e se diferenciam apenas por características de suas respectivas espécies. Uma adquire mais conhecimento que a outra, mas isso é apenas uma vantagem acidental e depende de fatores causais. Não é a Alma, no Budismo, que determina os limites formais dos entes, estes são determinados por suas características físicas/biológicas. Por exemplo, um bebê não consegue desenvolver pensamentos mais complexos que os de um animal de estimação; e se um homem permanecesse na infância por, digamos, quarenta anos, os únicos pensamentos que “sua alma” poderia formular seriam oriundos das sensações e paixões infantis por brincar e comer. Para o pensamento Tendai, o homem ultrapassa os demais seres, racionalmente falando, apenas por acidente; porque seus órgãos, dos quais seus pensamentos dependem, adquiriram modificações que se deram devido às características de desenvolvimento de sua espécie, o que não acontece com os órgãos das bestas. Nada faltaria à alma que move um animal irracional, quando “atuando” nos órgãos de uma pessoa humana, a potencialidade para adquirir todo o conhecimento comum aos seres racionais. Da mesma forma, o homem não pode exercer funções que são peculiares aos outros animais, mas poderia se a alma que o move “estivesse” nos órgãos de um outro animal. Assim, um ser humano nunca poderia voar (de maneira natural), pois está limitado à sua descendência de animal terrestre; suas características formais não dependem da alma, mas puramente de sua taxonomia. No Budismo, o florescimento de certas capacidades que distinguem os seres em determinados tipos ocorreram devido a causas e condições propícias de desenvolvimento das espécies ao longo dos anos, no mais clássico estilo darwinista. A alma é apenas a geratriz deste movimento e deste desenvolvimento constante dentro de uma certa regularidade e ordem necessárias à subsistência do Todo. A natureza deu a cada animal aquilo que este precisava para sobreviver: à águia, a visão aguçada e o privilégio de voar; aos roedores, a velocidade; aos felinos, a agilidade; aos cães, o olfato, etc. O homem, pela mesma razão, desenvolveu o raciocínio para fabricar armas e se defender. Somente esta diferença, que é física, não ontológica, nos diferenciaria dos demais entes. “O instruído e nobre discípulo não considera a forma, sensações, percepção, constituintes mentais ou consciência como alma; nem a alma como um desses agregados, nem tais agregados como contendo a alma, nem a alma como contendo os agregados. Por isso se diz que um instruído e nobre discípulo não está preso a nenhum agregado da existência, interno ou externo”. (BEISERT e MAIA, 2014). No cristianismo, o homem é superior ontologicamente aos demais animais e entes compostos de matéria e forma. O homem possui um tipo de alma diferente, chamada de intelectiva, os demais animais uma alma sensitiva e os vegetais uma alma vegetativa, enquanto que os minerais não são dotados de nenhum tipo de alma. Esta suposta superioridade ontológica dá ao homem o direito de subjugar os demais entes para sua própria alimentação, bem-estar e conforto. A utilização de animais para propósitos humanos é, portanto, considerada como um proceder ético. Já no Budismo, por não haver mais de uma alma, não há hierarquia ontológica entre os seres, pois todos são movidos por uma mesma alma universal. Até mesmo uma pedra participa desta alma, uma vez que também possui suas leis internas que mantém todos os seus constituintes coesos como um ente. Esta suposta igualdade ontológica entre os entes implica que o homem não deve deliberadamente matar os animais em nenhuma hipótese. Ou seja, o ser humano não tem direito de exploração sobre as demais formas de vida. A utilização de animais para propósitos humanos é, portanto, considerada como um proceder antiético. Inclusive, a Escola Tendai, como já mencionado, é vegetariana. Segundo o budismo, os seres são insubstanciais e estão em constante transformação, existem devido a uma cadeia causal praticamente infinita, resultado da influência de ações presentes e pregressas e compostos de uma complexa interdependência entre órgãos, tecidos, ossos e outras estruturas típicas de cada ente. Esta cadeia causal ocorre segundo uma Sabedoria intrínseca imanente, que é a própria Alma Budista, que contém todas as leis universais suficientes para que a matéria, além de não ser amorfa, tenha constituição própria e saiba realizar-se segundo fenômenos incessantes e bem determinados. Outra consequência lógica do pensamento budista é que, como os seres são insubstanciais, ou seja, não tem uma alma perene individualizada, não podem viver eternamente. Isso é válido para todos os entes, até mesmo para o homem. Ou seja, todos os seres são marcados pela finitude sem exceção nenhuma. A alma única é eterna e se manifesta em um tipo de criação e destruição ininterruptas da seguinte maneira: entes menores se agrupam de acordo com a Sabedoria da natureza para formar entes maiores e depois se decompõem e o ciclo se reinicia em um tipo de equilíbrio orgânico. Entretanto, a vida dos entes individuais é marcada pela efemeridade, assim, não há uma outra vida a ser experimentada após a morte, a única existência possível para todos é aqui e agora. Este processo cíclico e dinâmico pode ser sintetizado nas palavras de Montaigne, conforme se segue: “Os que se dedicam à crítica das ações humanas jamais se sentem tão embaraçados como quando procuram agrupar e harmonizar sob uma mesma luz todos os atos dos homens, pois estes se contradizem comumente e a tal ponto que não parecem provir de um mesmo indivíduo. Mário, o Jovem, ora parece filho de Marte ora filho de Vênus. Dizem que o Papa Bonifácio VIII assumiu o papado como uma raposa, conduziu-se como um leão e morreu como um cão. (...). Não somente o vento dos acontecimentos me agita conforme o rumo de onde vem, como eu mesmo me agito e perturbo em consequência da instabilidade da posição em que esteja. Quem se examina de perto raramente se vê duas vezes no mesmo estado. Dou à minha alma ora um aspecto ora outro, segundo o lado para o qual me volto. Se falo de mim de diversas maneiras é porque me olho de diferentes modos. Todas as contradições em mim se deparam, no fundo como na forma. […] E quem quer que se estude atentamente reconhecerá igualmente em si, e até em seu julgamento, essa mesma volubilidade, essa mesma discordância. […]. Somos todos constituídos de peças e pedaços juntados de maneira casual e diversa, e cada peça funciona independentemente das demais. Daí ser tão grande a diferença entre nós e nós mesmos quanto entre nós e outrem: ‘Crede-me, não é coisa fácil conduzir-se como um só homem’”. (MONTAIGNE, 2000, p. 184). O universo para o budista não é uma coisa pronta, é dinâmico. Para este universo não há seres privilegiados; com ou sem o homem o cosmos continua sua criação incessante. De modo muito avesso ao entendimento cristão que afirma ser o homem a “coroa da criação” (entre os compostos de matéria e forma), ou seja, um ser privilegiado e criado segundo um desígnio eterno. Para o budista, nossa raça é apenas mais uma das formas de vida que participam do planeta; não tem privilégios eternos e está sujeito à mesma cadeia de nascimento, envelhecimento, doença e morte como qualquer ser vivo. Se não há vida eterna, nem algum desígnio ao homem, não faz sentido então falar sobre salvação ou condenação. Não faz sentido falar sobre pecado ou coisa parecida. A espiritualidade budista é para ser vivida em uma mesma e única vida. Diferentemente, no cristianismo, a espiritualidade é desenvolvida em prol do conhecimento da causa primeira, que ocorre uma vez em que o composto alma-corpo é decomposto com a morte física. O cristão acredita que após a morte (caso seja salvo, é claro) poderá contemplar Deus eternamente em uma visão beatífica. Para o budismo, por outro lado, a morte é o fim de todos os sofrimentos, o Nirvana. Essa perspectiva de vida é bastante distinta do cristianismo, pois com isso é desfeita toda a noção de justiça universal. Uma pessoa que comete o mal precisa ser punida pela justiça dos homens, ainda em vida, pois não há outro tribunal celestial. O pecado também perde seu significado, pois não há o olho onipresente de Deus que a todos recompensa e pune. Mas não existir a concepção de pecado não faz do budismo Tiantai uma religião niilista ou hedonista. Apesar de não haver menção de uma alma eterna, salvação ou Deus, não se pode afirmar que o budismo não preza por uma vida de espiritualidade. Para a Escola de Zhiyi, encarar a finitude é a principal barreira para se viver uma vida plena e verdadeira. É no desespero com a finitude, que o praticante retira forças para enxergar alguma positividade na vida. Segundo o budismo, de um modo geral, as religiões teístas superestimam o papel do homem nessa vida, levando-os a ter expectativas muito grandes a respeito da própria existência, enquanto que viver é uma coisa simples e sem muito mistério. A espiritualidade budista é simplesmente um tipo de ataraxia (quietude absoluta da alma), isto é, uma busca por uma vida sem muitas perturbações ou inquietações da mente. O budista não espera muito mais da vida além de atingir um comedimento face aos relacionamentos, às posses e aos prazeres; ciente de que tudo é efêmero. Para se viver bem se faz necessário aceitar a finitude como uma regra que não se pode mudar. A espiritualidade budista se limita na diminuição de expectativas de felicidade perpétua e em se saber lidar com as vicissitudes da melhor forma possível. O praticante é disciplinado de modo a aproveitar os momentos bons, estando ciente de que eles são passageiros. A ideia é levar o homem a viver o aqui e agora, privilegiando as coisas que realmente importam e desconsiderando as coisas supérfluas e inúteis. A vida deve ser enxergada como um privilégio e não deve ser desperdiçada. Segundo o budismo Tiantai, a concepção eternalista, como a proposta pelo cristianismo, além de ser uma ilusão, uma vez que o ser humano é tão finito quanto qualquer outro ente, induz as pessoas a adiarem coisas que deveriam ser feitas no momento presente. O propósito de vida budista não tem como fundamento um Deus, mas é construído pelo próprio budista quando este se imbui em fazer seu micromundo o melhor possível, tanto para para si mesmo, quanto para as pessoas e seres que o rodeiam. Fica evidenciado até aqui que a alma budista “faz os papéis” de Deus e da alma do cristianismo. No cristianismo é preciso se separar a ação de Deus no tocante à criação e às leis universais que regem a vida, da ação de almas individualizadas que são responsáveis pelo “movimento interno”, vontade e o intelecto (no caso do homem) dos seres. Ou seja, no budismo uma única alma tanto cria, regula e movimenta todos os indivíduos com o objetivo de se garantir a manutenção do Todo. Se a alma toma os dois papéis, logo, a figura de Deus perde completamente sua função e seu sentido, sendo, desta forma, extremamente plausível afirmar que o budismo é ateísta, mas não ateísta em um sentido materialista ou contemporâneo do termo. A espiritualidade budista pode ser entendida em algum sentido, como uma espiritualidade “mais leve”, uma vez que não ensina sobre castigos ou recompensas eternas. O budista pode ficar com sua consciência tranquila, mesmo sabendo de suas imperfeições e vícios. Ele não será torturado em um mar de enxofre após a morte por algum pecado inconfesso e, tampouco, precisa fazer conjecturas sobre uma vida de contemplação eterna. Entretanto, isso não significa que o budista, livre da preocupação do pecado original, não deva se preocupar com a ética. Pelo contrário, é muito fácil de perceber que as escrituras budistas dão forte ênfase ao proceder moral e nobre. Exatamente por fazermos parte do Todo, é imprescindível agirmos de forma a garantirmos o equilíbrio deste Todo. Assim como há leis internas no mundo, que regem o movimento e a criação/destruição ininterruptas, pode-se dizer que também há leis morais intrínsecas que devem ser seguidas para que a harmonia das espécies não seja afetada. Estas leis morais são chamadas de Dharma. O ser humano, como vive coletivamente, deve agir de forma pacífica e justa para assegurar sua sobrevivência nesse mundo. A cada vez que o Dharma é rejeitado e as pessoas resolvem viver suas “próprias leis”, nossa espécie se desorganiza e se torna vulnerável, caminhando a passos largos para a extinção e a infelicidade. Para agir bem coletivamente, é preciso agir bem também “internamente” e é por isso que o budismo enfatiza a necessidade de autodisciplina. Disciplinar a mente é extremamente importante para se adquirir um satisfatório controle sobre as próprias ações e desejos e adquirir a consciência de que todos os seres são igualmente dignos por conterem uma mesma “Alma”, que é a Natureza de Buda. Quando o homem percebe esta unidade entre todos os entes, ele deixa de ser egoísta, pacifica seus desejos, e começa a viver em função desta unidade. Viver consciente desta unidade é viver de maneira bem-aventurada. A felicidade no cristianismo consiste em se viver de acordo com a vontade de Deus, que nos criou para que nos realizássemos conforme nossa natureza; esta felicidade começa aqui na Terra, mas é estendida aos fiéis por toda a eternidade no Reino dos Céus. Viver a vontade de Deus é agir conforme “a razão superior”, que é a faculdade da alma mais nobre do homem, que lhe auxilia a elencar de maneira hierárquica os valores mais importantes a serem considerados na vida. Já no budismo, uma vez que não há eternidade para os indivíduos, a felicidade é efêmera. A mensagem budista ao homem se restringe ao Reino da Terra. Expostas as divergências entre as tradições, apontemos agora para as convergências. Pode-se dizer que ambas as religiões têm uma espiritualidade, ou seja, há uma concepção cosmológica espiritual. No cristianismo, baseado em uma criação por um Ser espiritual, ou seja, um Deus que cria um homem também espiritual à sua imagem e semelhança. Enquanto no budismo, o Tathagatagarbha é o “espírito movente” responsável pela criação de um homem que participa deste mesmo espírito. Em ambas as religiões, o homem deve “se encontrar” com sua verdadeira natureza que é realizada através de uma vida de devoção à espiritualidade e busca pela sabedoria. Tanto no budismo quanto no cristianismo, o homem tem a verdade inscrita em “seu coração” de maneira inata. A diferença consiste em que no cristianismo isso só não basta, pois é necessário a interferência de Deus os dos seres puramente intelectivos para a total redenção. Até mesmo a razão superior pode ser maculada pelo pecado. A concepção de alma, tanto na teologia quanto na doutrina Tiantai, tem como consequência a necessidade de se exercer uma vida moral. No cristianismo porque a sabedoria de Deus revela ao homem a necessidade de se buscar a reta razão e as virtudes. Ter uma vida virtuosa é colocar a razão como dominante em relação aos desejos do corpo. É também, perceber que todos os homens são objetos do amor de Deus e que portanto, todos são dignos dos mesmos direitos. No budismo porque uma vez que o homem se “reencontra” com sua Natureza Iluminada, percebe-se como parte de uma cadeia causal que precisa manter-se equilibrada. Este equilíbrio é garantido pelo autodomínio e pela consciência os efeitos que nossas ações produzem no meio (karma). Viver de forma desregrada e egoísta é uma forma de auto aniquilação. Ambas as religiões enfatizam ser imprescindível voltar-se a algo maior que si mesmo, a algo Sagrado. Ou seja, é preciso se apoiar em um fundamento sólido para se viver bem, em Deus, no cristianismo, e no Dharma, no budismo. A mensagem cristã é acessada por meio de revelação divina e por meio da razão, já a mensagem budista é acessada exclusivamente por meio da razão, em uma busca mais introspectiva. Tanto o cristianismo quanto o budismo “acreditam” em uma verdade universal e objetiva. Não há espaços para verdades relativas ou subjetivistas nestas concepções religiosas. Deste modo, budismo e cristianismo ensinam conceitos atemporais e válidos para todos os seres humanos. Por exemplo, a caridade sempre será uma verdade, da mesma maneira, a fé, a temperança, a tolerância, a compaixão, a concentração, etc. CONSIDERAÇÕES FINAIS. Foi realizado neste trabalho uma humilde comparação entre os conceitos de Alma budista e cristã, segundo as concepções do Budismo da Escola Tiantai e a teologia de Santo Tomás de Aquino, respectivamente. Constatou-se que há divergências cruciais entre as definições, mas, curiosamente, também existem convergências. Basicamente, a Alma cristã é individualizada (há uma para cada ser), enquanto a Alma budista é única e permeia todos os entes. As características formais de cada ser são determinadas, segundo Tomás, pela Alma. Assim, a razão humana é determinada pela sua “alma racional”, que seria superior à alma puramente sensitiva dos animais ou à alma vegetativa das plantas. Disto conclui-se que no cristianismo há uma hierarquia de almas, que culmina no homem como portador da alma mais evoluída entres os seres compostos de matéria (pois existiriam supostos seres puramente imateriais com almas ainda mais superiores ontologicamente que a do homem, como as almas dos anjos, por exemplo). Esta hierarquia outorga ao homem poder sobre as demais criaturas, isto é, todas as coisas existem em função do homem e podem a ele servir. No budismo todas as almas são iguais e as características formais são acidentais, causadas somente pelas composições “biológicas” ou “químicas” de cada ente. O homem nesta concepção não seria racional por causa de sua alma, mas por causa de sua descendência, por trazer características da espécie humana. O mesmo raciocínio pode ser estendido aos vegetais e até mesmo aos minerais. Enquanto no cristianismo, os minerais não contém alma, para o budismo até mesmo os “inanimados” são permeados pela alma. Até mesmo uma pedra tem seu “movimento interno” que garantiria sua coesão como um ente distinto. Alma e Deus para o cristianismo teriam “funções” distintas. Deus é o criador, aquele que cria o mundo para o homem e o homem para um fim, para que este volte-se ao criador e viva feliz. A alma seria algo individual, responsável pela vontade, pelo movimento interno dos seres e pela forma. A “alma do Todo” budista, o Tathagatagarbha, faz um papel duplo, é tanto o criador, quanto o responsável pela vontade e pelo movimento interno dos seres. Porém a “criação” budista não é algo pronto, com um propósito voltado à espécie humana. A criação budista é algo dinâmico, que acontece a cada momento, a cada nascimento e morte dos entes, em uma evolução contínua; é uma criação que não privilegia esta ou aquela espécie. O Tathagatagarbha nada tem a ver com o Deus cristão. Não é um ser pessoal que escuta orações, oferece bênçãos, concede leis morais ou interfere diretamente na vida do homem. O Tathagatagarbha é, resumidamente, uma “ação constante” que, ao permear toda a matéria, imprimi-lhe a vida e suas leis imanentes, tanto leis físicas quanto leis morais universais. Estas leis (conhecidas como Dharma) estão inscritas nos seres, não são reveladas por um criador. A “alma budista” contém todas as qualidades espirituais benéficas dos seres. Ela induz nos seres o desejo pela Iluminação e ela própria torna possível a obtenção da Iluminação (uma vez que a Iluminação, por meio do Tathagatagarbha, encontra-se de forma latente dentro da mente). O Tathagatagarbha alimenta espiritualmente cada ser em quem ele se encontra. Para o homem, o acesso a esta sublime Natureza se dá por meio de um coração puro e pela introspecção desinteressada, ou seja, por uma sincera busca pela Verdade. O Tathagatagarbha é o fundamento de toda a realidade. Nenhuma forma de linguagem pode exprimir plenamente a totalidade de seu mistério e perfeição; qualquer palavra ou conceitualização são inadequadas. Quando o vento se move, ali está o Tathagatagarbha. Quando o pássaro alimenta seu filhote, ali está o Tathagatagarbha. O Tathagatagarbha também está no movimento do sol e da lua. O Tathagatagarbha também está presente no nascer de uma nova vida. Na doença também se encontra o Tathagatagarbha. E, da mesma forma, na morte ele também se esconde. Fica evidenciado, então, que Tathagatagarbha não é Deus e que esta ideia de deus ou deuses no budismo é algo sem importância. O budista não crê ou adora deuses ou deus e nada espera ou pede a eles. O budismo é uma doutrina humana, desenvolvida por humanos para que estes se realizem em sua natureza. A verdade budista deve ser procurada não em algo externo ao praticante, mas dentro dele mesmo. O fiel budista olha para dentro de si em busca de sua “redenção”, enquanto o cristão procura sua redenção em uma verdade transcendente. O budismo não trata de fatos considerados sobrenaturais, doutrinas inobserváveis, vida após a morte, espíritos ou qualquer coisa do gênero. O budismo não se ocupa de superstições e não é uma religião utilitarista, isto é, não é ponte para se conseguir saúde, fama, dinheiro ou influenciar por “meios místicos” o destino da vida humana ou os fatos pertinentes a ela. Enfim, apesar de tão numerosas diferenças entre o budismo e o cristianismo, este artigo também demonstrou haver algumas convergências interessantes entre as religiões estudadas. Entre elas destaca-se a ideia de que ambas acreditam em uma verdade universal e são avessas ao subjetivismo e ao relativismo. Ambas também afirmam haver necessidade de que o homem se autodomine, tenha conduta ética e saiba elencar verdadeiras prioridades e verdadeiros valores. Finalmente, tanto o budismo quanto o cristianismo também falam da importância do homem em realizar-se em sua própria natureza racional. www.rodadalei.com.br. Abraço. Davi

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