Teosofia.
Revista Theosophia. Texto de Tim Boyd (1953-
). COMO ESCOLHER MUDAR. Quando nos vemos envolvidos em um esforça
espiritual, ou caminho, estamos buscando alguma forma de mudança de natureza
interior. A menos que sejamos extremamente irrealistas, a mudança
necessariamente envolve uma escolha. Não se trata apenas de “queria que isso
fosse diferente”, quando a transformação da consciência acontece por estarmos
assistindo ao programa de TV. Temos que pensar nos termos da mudança e em como
vamos interagir com esse processo. Na tradição sufi, há muitas histórias, sobre
um grande Mestre arquetípico. Seu nome é Khidr, ou Al-Khidr. Ele é, às vezes,
descrito como o Homem Verde, pois suas vestes foram retratadas nessa cor,
simbolizando o frescor do conhecimento “extraído das fontes vivas da vida”. Uma
das características de sua magnitude é que dizem que ele é o mestre do profeta
Moisés. No islamismo, Moisés era altamente considerado e bem conhecido como um
dos grandes profetas e mestres. Muitas pessoas tinham experiências espirituais
por causa de suas palavras. Houve ocasiões em que pessoas lhe disseram: “Você
tem muito conhecimento, mas busca e, quando finalmente o encontrou, disse:
“Gostaria de estudar com você”. Khidr respondeu: “Para mim está bem, mas
realmente não sinto que você teria paciência com minha maneira de ensinar,
particularmente porque você é incapaz de compreendê-la”. Moisés então
respondeu: “Prometo que serei paciente e que vou aprender”. E assim eles
começaram a viajar juntos. A história descreve três episódios. Na primeira,
eles estavam caminhando ao longo de um rio e tinham que atravessar até a outra
margem. Alguns pescadores reconheceram Khidr e disseram: “Venham em nosso barco
e não cobraremos a viagem”. Enquanto ainda a bordo, Khidr pegou um machado e
abriu um buraco no fundo do barco. Moisés lhe disse: “É assim que você retribui
a bondade? Tem alguma coisa errada com isso. O que você está fazendo”? E Khidr
disse: “Eu disse que você não conseguiria ser paciente comigo”, ao que Moisés
respondeu: “Desculpe-me, não vou fazer isso de novo”, e foram embora depois que
o barco afundou. Em seguida encontraram um garoto a brincar com outros meninos.
Dessa vez, Khidr se aproximou e matou o menino. Naturalmente, Moisés protestou
diante do aparente assassinato e novamente foi lembrado sobre sua paciência.
Mais uma vez se desculpou. Na terceira vez, eles chegaram a uma aldeia após
viajarem por muito tempo. O costume, nesta parte do mundo, era não evitar
estranhos. Praticava-se a hospitalidade. Mas não foi o que fizeram, e Khidir
retribuiu reconstruindo um muro que desmoronara na aldeia. E novamente Moisés
protestou: “Não nos deram nem uma migalha para comer e aqui está você,
reconstruindo o muro. Você poderia ter sido pago, pelo menos!”. E Khidr
respondeu: “Esta foi sua última chance!”. Então Khidr explicou: “Quando estávamos
com os pescadores, abri um buraco no fundo do barco porque um rei guerreiro se
aproximava para tomar os barcos e levar os pescadores, que teriam morrido na
batalha por vir. Mas você não podia ver isso. O menino que foi morto pertencia
a uma família religiosa e justa, mas o menino era rebelde e desobediente e foi
morto porque Deus irá fornecer a essa família outro filho mais correto.
Finalmente, debaixo do muro que reconstruí, há um grande tesouro, que foi
escondido e deixado para os filhos de um homem que faleceu, deixando os meninos
órfãos. Reconstruí o muro para que o tesouro ficasse seguro até que os meninos
cheguem à idade e possam resgatá-lo. E com isso, ele e Moisés se separaram. Se
insistimos numa interpretação literal da história, cada um dos motivos de Khidr
são questionáveis de acordo com nossa ética e moral habituais. Mas talvez na
tradução sufi, assim como na Teosofia e em outras tradições e em outras
tradições, essas histórias de “ensinamentos” pretendam abrir a consciência de
diferentes maneiras. Na tradição sufi, como na teosofia, diz-se que as
histórias de ensinamentos possuem sete níveis de interpretação. Um deles é o
nível literal e moralista, e este é o que a maioria das pessoas consegue
alcançar. Mas há pelo menos duas maneiras alternativas de entender esta
história. O barco: um rei guerreiro ia confiscar esta ferramenta, fazendo dela
e das pessoas instrumentos de guerra. Em certas tradições, há ideia de ahimsa,
ou não violência. Assim, a ideia era eliminar o que seria usado como instrumento
de violência pelo rei guerreiro. Quando vistos sob uma perspectiva interior,
podemos nos perguntar: “O que existe dentro de nós que gera todo o
descontentamento, as guerras e controvérsias em que estamos envolvidos?”
Descobrimos que o rei abrigado em nossa mente é muitas vezes descrito como o
pequeno ego, ou a mente inferior. Para neutralizar os meios de expressão
violenta desse falso regente, que a tudo polariza para o mal dentro de nós, o
que podemos usar como ferramentas para lidar com a consciência imprópria? Na
tradição oriental, fala-se de órgãos de conhecimento pela maneira que o
tocamos, vemos, ouvimos, experimentamos, etc. Os órgãos de ação também são
cinco: mãos, pés, olhos, orelhas, língua, órgãos sexuais. São essas as maneiras
pelas quais agimos no mundo. Trata-se de uma possível interpretação. A ideia do
menino assassinado é mais difícil de compreender. Como justificar tal ação? Se
a olharmos como a tomada da vida de um jovem ser humano, não pode haver
justificativa. Em a Voz do Silêncio de Helena Petrovna Blavatsky (1831-1891)
existem muitas frases intensas. Uma frequentemente citada é: “A mente é a
assassina do real”. O nível inferior, imaturo,
não desenvolvido da mente obstrui nossa experiência da realidade; está
continuamente matando o real, lançando um fluxo constante de pensamentos,
imagens e apegos. A Voz continua repetindo: “Você deve matar o assassino”.
Novamente, essas são sugestões possíveis de interpretação sobre algo que
claramente não deve ser entendido literalmente. Então, há a construção do muro
para proteger o tesouro que os órfãos, quando chegarem à sua maioridade, serão
capazes de encontrar e utilizar. A ideia básica é que pai e filhos foram
separados no falecimento do pai. Os filhos, órfãos no mundo, separados de seu pai,
são uma réplica da história bíblia do filho pródigo encontrada em todas as
tradições. O filho sai da casa do pai, levando sua riqueza com ele, gasta-a
tolamente, viaja para uma terra distante e, finalmente, desperta e volta para
casa. O esforço de Khidr em reconstruir o muro é semelhante ao trabalho de
todas as grandes personalidades para se tornar uma das “pedras angulares que
forma o Muro dos Guardiões”, protegendo a humanidade, protegendo uma humanidade
imatura até que a mente chegue à maturidade. Há uma história sobre Khidr
chamada Quando as Águas foram Mudadas. Na história, Khidr anunciou à humanidade
que ia chegar um tempo, muito em breve, em que todas as águas da terra iam ser
mudadas e, no momento em que as novas águas começassem a fluir, aqueles que a
bebessem ficariam loucos. Somente aqueles que tivessem armazenado a água
original seriam capazes de manter a sanidade. Mas somente uma pessoa em todo o
mundo havia prestado atenção e ouvido a informação de Khidr. Ele fez uma grande
reserva de água. Chegou o dia em que observou que os rios começaram a secar e
os riachos pararam de correr. Ele voltou para seu santuário e esperou, e, em
pouco tempo, as novas águas começaram a fluir. Pouco tempo depois, o homem foi
se encontrar com as outras pessoas para ver como estavam. Quando lá chegou,
observou que todos estavam agindo de maneira fora do normal. Pensou que haviam
enlouquecido. E enquanto conversava com eles tentando lhes mostrar que haviam
se desviado do que realmente eram, algo muito claro para ele, observou que o
estavam olhando estranhamente. Alguns ficaram bastante irritados. Eles não
entendiam o que ele estava falando e pareciam pensar que ele era quem parecia
louco. Chegaram a acreditar que ele havia perdido a cabeça. Todo dia o homem
voltava para buscar água em seu reservatório, até que, em algum ponto, aquela
solidão abjeta de ser o único dente todas aquelas pessoas que eram diferentes
começou a cobrar seu preço. Concluiu que era melhor ser aceito e fazer parte do
resto do que sentir essa dor de ser o único a enxergar as coisas de forma
diferente. Então ele tomou um gole da nova água e esqueceu-se de seu estoque de
água “guardada”, bem como da realidade, tornando-se um com os outros. Essa
história refere-se a diversas esferas. A primeira é que estamos continuamente
ocupados neste processo simplesmente porque nascemos neste mundo. Um bebê ainda
não está acostumado com o tipo de visão das pessoas ao seu redor. Ele percebe
as coisas de forma muito diferente. Mas gradualmente, como nós, ele começa a beber
as águas deste mundo, e a cada gole ele vai se tornando “normalizado”, mais
habituado, aceitando progressivamente os diversos tipos de identidade que lhe
são atribuídas em virtude da família, religião e nação em que nasceu,
conformando-se até certo ponto com a realidade desses fatos. Nos estágios
iniciais, este processo não está sob nosso controle. Como bebês e crianças,
nossa capacidade de fazer escolhas com segurança ainda não surgiu. Em
determinado ponto de nosso desenvolvimento interior, embora não necessariamente
seja assim em todas as vidas, nossa percepção começa a funcionar de forma
diferente. Novas perspectivas começam a se apresentar, mesmo que
momentaneamente. Começamos a tomar consciência de algo mais profundo bem abaixo
do véu que tendemos a chamar de “normalidade”. À medida que essas perspectivas
surgem dentro de nós, a experiência mostra-se em forte contradição com o mundo
“normal” que habitamos, frequentemente de forma inquietante. Para a pessoa
nessa situação, muitas vezes fica mais fácil beber a água consumida pela
multidão, pois o comportamento exigido pela verdadeira percepção da realidade
nitidamente contrasta com os comportamentos aceitos em nossa vida “normal”,
representando, em algum nível, um problema neste mundo. Essas são as escolhas
que fazemos sob um determinado nível de percepção. Mas para sermos
perfeitamente honestos, a escolha sincera é impossível sem algum desdobramento
interior da consciência. Podemos achar que estamos fazendo escolhas, mas não
estamos fazendo grandes mudanças. Seria como trocar uma cadeira de lugar na
mesma sala. Reorganizar a mobília na mente ou na consciência não é transformar.
Conforme mencionou uma das grandes personalidades do mundo da psicologia do
século XX, e membro da Sociedade Teosófica, William James (1842-1910),
autor de As Variedades da Experiência
Religiosa e de muitas outras obras: “A maioria das pessoas acredita que está
pensando, quanto tudo o que realmente estão fazendo é reorganizar seus
preconceitos”. Essa é a atividade necessária de uma consciência ainda não
desenvolvida. No Proêmio de A Doutrina Secreta, de Helena P. Blavatsky
(1831-1891), três Proposições Fundamentais amplas e transcendentes são
discutidas. Uma delas considera o Absoluto, outra fala sobre os Ciclos (como
reencarnação, dia e noite, etc., que são inegáveis. Mas terceira fala sobre o
que está acontecendo conosco neste peregrinação humana. Ela a descreve como “a
peregrinação obrigatória da alma”. A alma encarna na matéria e necessariamente
participa de uma diversidade de experiências que finalmente culminam no
despertar da consciência. Helena P. Blavatsky descreve as duas fases deste
processo de despertar. Ela diz que primeiro ocorre um “impulso natural”. A
primeira maneira pela qual a alma começa a revelar sua capacidade é quando é
estimulada ou direcionada pela Natureza. Não está respondendo, mas reagindo.
Somos estimulados por diversos choques da natureza constantemente presentes ao
nosso redor. É assim que começamos a crescer e a desenvolver poderes para
direcionar e canalizar as forças da Natureza para que possamos estar
protegidos, como tentar-se manter aquecido, quando muito frio, e refrescado,
quando muito quente. Uma fase muito diferente vem em sequência. HPB descreve-a
como a alma em processo de desdobramento pelos “esforços auto induzidos e auto planejados”. Entramos na fase de
revelação, na qual finalmente podemos fazer escolhas legítimas. Não somos mais
reativos, mas responsivos. A ideia de liberdade possui diversos significados.
Geralmente, liberdade transmite a ideia de livrar-se de alguma coisa: de regras
de ditadores, da imposição de leis ruins, das compulsões da sociedade, as
pressões da natureza etc. O significado de ser livre é senso comum, de alguma
forma, somos livres quando estamos isolados das influências exteriores. De
alguma maneira, esta é uma etapa que necessariamente devemos passar. É muito
parecida com a fase de crescimento que os pais descrevem como os “terríveis
dois anos”, quando a palavra favorita da criança é “não”. O não desta idade,
assim como a rebeldia de um adolescente, são reações usadas para estabelecer
uma identidade e uma individualidade próprias, exercidas em oposição a outros
tipos de forças; neste caso, os pais e suas regras. Trata-se uma abordagem. À
medida que as pessoas se envolvem com o desenvolvimento de uma consciência
espiritual mais profunda, uma visão diferente do que significa ser livre começa
a surgir. Quando olhamos as vidas dos grandes eres das tradições religiosas
como Buda, Jesus, Maomé, Lao Tzu, Confúcio, Platão, Pitágoras, Quetzalcoat
entre outros, o que se vê em termos do tipo de liberdade que expressam é que
não se trata de estar livre “de” alguma coisa. Nos casos específicos,
descobre-se que a consciência abrangente é grandiosa porque inclui a totalidade
a seu alcance, não apenas as alegrias, mas as sutilezas, as tristezas e as
dores. Os grandes tendem a passar a vida tentando nos comunicar as maneiras
pelas quais nós também podemos nos desenvolver. Isso nunca envolve se proteger
dos outros, ou se isolar do fluxo da vida ao nosso redor, mas abraça-lo mais
integralmente. Muitas vezes acabaram, morrendo por terem tentado passar
informações para aliviar o sofrimento de pessoas como nós. Podemos experimenta
e compreender a liberdade em diferentes níveis. De muitas maneiras, trata-se de
fazer uma escolha para ser livre. Nos ensinamentos budistas, existe algo que
HPB comentou muito. Parece um pouco abstrato – os doze nidhanas – que são os
elos interdependentes que nos impulsionam para a roda do Samsara, ou a
existência cíclica não iluminada. Descrevem doze estágios específicos que ligam
a consciência a essa roda. Trata-se de uma ferramenta psicológica extremamente
útil, chamada de Roda da Vida, ou Bhava Chakra. No imaginário, a roda é
sustentada pelas presas e garras do Senhor da Morte, Yama. Nesta Roda, existem
desenhos relacionados ao processo de consciência. No núcleo do círculo está a
causa raiz da experiência que vivenciamos, retratada por três símbolos: o
porco, a cobra e um determinado pássaro, representando a ignorância, o apego e
a aversão. Nessa ordem, forma-se um círculo com cada um segurando a cauda de
seu precedente. A ignorância fundamental representada por esta roda não se
refere à falta de conhecimento convencional, mas ao fato de que tudo que se
pensa saber é entendido incorretamente. Um exemplo frequentemente usado para
descrever este tipo de ignorância é o de alguém caminhando em uma estrada, no
crepúsculo da noite, e pensando que vê uma serpente logo adiante, reagindo de
acordo com a visão: produção de adrenalina, medo, prontidão para fuga ou
ataque. A medida que se aproxima, torna-se consciente de que aquilo que pensava
ser uma cobra, é realmente uma corda enrolada no meio da estrada. Essa conclusão provoca o súbito desaparecimento da
reação pela percepção da realidade da corda. É este o exemplo usado sobre nossa
ignorância fundamental. Não se trata de não saber, mas de má interpretação do
que pensamos saber. A partir dos três símbolos centrais da Roda da Vida existe
outra roda que a envolve, onde se diz que o Kama deve ser produzido. À
proporção que o Karma é produzido, há outra roda, com seis segmentos que
significam os diferentes reinos do ser. Na cosmologia budista existem seres
infernais, fantasmas famintos, animais seres humanos e dois níveis de deuses.
Chega, se, então, ao anel mais interior do círculo, com doze ligações
interdependentes que retratam a repetição contínua da existência cíclica. É no
primeiro e no sétimo elo desta roda, que há a possibilidade de realmente
exercitar nossa capacidade de escolher ou interromper este ciclo repetitivo de
nascimento, envelhecimento, morte, renascimento e assim por diante. No
primeiro, há a imagem de uma avó cega segurando um bastão, significando nossa
ignorância. Este é um ponto possível de mudança. Perceber a realidade
corretamente interrompe o ciclo. A seguir, na roda externa, existem formações
Kármicas, consciência humana e outros símbolos que descrevem a maneira como a
consciência, envolta em ignorância, é conduzida ao longo da roda de samsara,
até chegar ao sétimo elo. O sétimo nidhana é descrito como sensação, ou
percepção, quando nos damos conta da natureza dual de nosso universo. A imagem
usada é a de um homem em pé atingido por uma flecha no olho: a percepção da
natureza dual do mundo e o surgimento das forças internas duais do apego e da
aversão. O homem ferido pela visão é outro momento onde a escolha é possível. O
primeiro dos três grandes princípios, ou verdades, descritos no final de o
Idílio do Lótus Branco, de Mabel Collins (1851-1927), é “a alma do homem é
imortal e seu futuro é o futuro de algo cujo crescimento e esplendor não tem
limite”. Somos ilimitados, por mais que tentemos negar. A terceira dessas
verdades fala sobre as raízes por que experimentamos ou não algum grau desta
natureza ilimitada. Ou seja, “cada homem é seu próprio legislador absoluto, o
administrador de sua própria glória ou trevas, o único a decidir sobre sua
vida, sua retribuição, sua punição”. Envolvendo um certo grau de
responsabilidade por isso. Na verdade, o propósito do processo de reunião de
conhecimento poderia ser descrito como uma preparação para um momento
especifico que vamos ver ou perder. Tratar-se de um momento muito recorrente
que estamos eternamente perdendo. Há um poema escrito por Jiddu Krishnamurti
(1895-1986), em Aos Pés do Mestre, quando ele era um menino de quatorze anos.
“Aguardando a palavra do Mestre, vigiando a Luz Oculta, escutando atento às
suas ordens mesmo no meio da luta; vendo seu sinal mais leve acima das cabeças
da multidão; ouvindo seu sussurro mais leve acima da mais vivaz terrena canção”. É uma bela
descrição do processo de consciência, em sintonia com esses momentos, essas
oportunidades de escolher mudar. Fui atleta quando era mais novo. Envolvi-me
com o futebol americano na posição de quarterback, o que demandava muito
treinamento. Antes de qualquer jogo oficial, os treinadores saiam para fazer
reconhecimento das equipes adversárias e elaborar nossa estratégia tática de
jogo contra eles. Além disso, como quarterback (jogadores de posição ofensiva
no Futebol Americano), fazia parte do meu treinamento observar o tipo de
posicionamento em campo dos jogadores adversários, buscando oportunidades
únicas. A chave era sempre estar preparado para esses momentos. No meio do
jogo, cansado, jogadores se batendo de todos os lados, a gente olha para o
campo, vê a formação do adversário e visualiza a oportunidade para a qual fomos
treinados. Neste exato momento, com a preparação, o pensamento, o treinamento e
a presença integral naquele momento, uma janela se abre para uma oportunidade
de ver e fazer uma escolha – escolher mudar o jogo sinalizando aos colegas de
equipe. É esta a analogia de prontidão interior que Krishnamurti descreve em
seu poema. Algumas tradições trabalham com a visão de que todos os nossos
pensamentos e ações no curso da vida neste mundo servem apenas como preparação
para um determinado momento, o momento de nossa morte. Algo único acontece
nesse momento. Essencialmente, um dos diversos sentidos que nos ligaram a este
mundo começa a falir: a visão se vai, o cheiro, o gosto, o toque, tornando-nos
mais voltados para o interior, com energia decrescente. Existe um processo de
seleção – um despojamento gradual é realizado. Algumas tradições espirituais
relatam que um momento especial ocorre quando a Luz Brilhante surge
repentinamente. Se nossas mentes não forem turbulentas pelos apegos e desejos
cultivados durante nossa vida, seremos capazes de ver a alvorada desta luz
quando ela surgir. Se os esforços de nossa vida nos prepararam para vê-la, podemos
optar por embarcar profundamente na experiência desta consciência profunda. A
forma pela qual nos preparamos para o nosso desdobramento, que não precisa ser
no último suspiro, é realizada por inúmeras pequenas e, algumas poucas grandes,
escolhas presentes na vida de todos. São estas as ferramentas que vamos usar
para nos impulsionar nesta mudança ou transformação. Vivendo no mundo de hoje
com suas poderosas exigências e dificuldades, a necessidade por indivíduos
transformados nunca foi maior. Aqueles que estão trilhando o que pode ser
chamado de caminho espiritual, comprometem-se com uma determinada
responsabilidade que se apresenta. Estamos aqui para cultivar um tipo especial
de consciência que permitirá a expressão desta vida maior na qual estamos inseridos,
vivenciamos e nos movimentamos. Devemos permitir que ela se expresse através de
nós. Não é preciso conhecer o plano e a resposta. Nossa missão é estar
disponível, perceber a oportunidade, ficar firme e abraça-la. Tudo isso virá
por meio das escolhas que fazemos de momento a momento. “O antigo problema
humano requer solução através de uma mente que possui amplitude, compreensão e
sutil atenção. O problema é como viver em paz e harmonia com outras pessoas,
com a natureza, consigo mesmo, e deixar tudo o que existe de melhor em nosso
interior se exteriorizar em um estado de beleza e perfeição”. Radha Burnier
(1923-2013). Não Há Outro Caminho a Seguir. Extraído: The Theosophist –
novembro, 2016. Abraço. Davi
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