segunda-feira, 1 de outubro de 2018

I. O DEVER E O CARÁTER IDEAL DE UM POLÍTICO


Hare Krishna. www.voltaaosupemo.com. Texto de Sri Nandanandana. I. O DEVER E O CARÁTER IDEAL DE UM POLÍTICO. Textos como o Mahabharata têm grande abundância de informação sobre os deveres do governo e do governante. Pelo estudo das seguintes informações, que é uma explicação concisa e resumida de como o governo e seus dirigentes devem atuar, segundo os textos védicos, compreenderemos como eles esperavam que as coisas fossem feitas no seu tempo e como nossos governos atuais são ineficientes sob vários aspectos. Também devemos ser capazes de perceber como nos aprimorar. Ademais, esses princípios védicos que são encontrados no antigo Mahabharata e em outros livros védicos são aplicáveis por parte de quaisquer líderes, quer locais, quer estaduais, quer nacionais. O OBJETIVO DO GOVERNO. O objetivo do governo deve ser delineado antes de tudo a fim de estabelecer a direção que ele assumirá para os cidadãos do país. Essa é a razão para haver uma constituição. Explica-se que os principais objetivos da constituição do país têm que ser para a propagação da retidão entre os cidadãos. Os cidadãos têm que saber como viver em uma atmosfera de bondade, ou sattva. CAOS NA FALTA DE UM GOVERNANTE APROPRIADO. Como se explica, quando não há um regente ou administrador apropriado para um país, haverá caos na região. No tocante a isso, o Ramayana (2.67.18) diz: “Em um Estado sem rei, a riqueza é insegura. Nem mesmo os fazendeiros e pastores podem dormir pacificamente com suas portas abertas”. Assim, a descrição acima é um sinal claro de uma liderança inapropriada, ou uma descrição de quando um governante não tem habilidade para conduzir a situação do devido modo. Quando abundam roubos e outros crimes, a riqueza se torna especialmente vulnerável visto que aqueles com menos riquezas ou em necessidade olharão com inveja para os que a detêm. Evidentemente, os pobres são ainda mais vulneráveis porquanto têm poucos meios para se defenderem de saqueadores e vândalos. Assim, a propriedade dos fracos será forçosamente tirada de sua posse por aqueles que sejam mais poderosos ou mais astutos. Até mesmo o rapto de mulheres se tornará comum. Sem boa liderança, até mesmo a polícia não protegerá o povo de forma eficiente. Ademais, em um nível social, os princípios religiosos desaparecerão, relacionamentos como o casamento serão extintos, e crime e caos manifestar-se-ão até mesmo nas esferas de negócios, banco, agricultura, cuidados com a saúde ou farmácia. Mesmo uma vida simples e pacífica será cada vez mais difícil de se conseguir. Isso é melhor desenvolvido no Ramayana (2.67.17): “Em um Estado onde não haja governo, um grupo de mulheres jovens embelezadas com ornamentos de ouro não pode sair no jardim à noite para recreação”. Isso pode ter sido o sinal de ausência de governo nos tempos do Ramayana, mas onde vivo em Detroit, um grupo de mulheres simplesmente não pode sair à noite sem arriscar sua segurança, estejam adornadas com ouro ou não. E na África e em outras partes do mundo, a mesma situação acontece: se alguma mulher é vista, fica vulnerável a estupro, tortura e assassinato. Isso não é “terra de ninguém”? Então, de acordo com essas descrições dos textos védicos, um país com um governante perverso, onde a desordem prevalece, é um país tão bom quanto uma terra sem governo nenhum. “Nenhuma alma é pacífica em um Estado sem um governante. Em tal Estado, os homens exploram uns aos outros assim como os peixes comem uns aos outros”. (Ramayana 2.67.31). Então, um bom governo e um líder qualificado são essenciais para uma sociedade progressiva. No entanto, quem é um bom líder? QUEM PODE GOVERNAR UM PAÍS? No sistema védico, o rei é chamado de raja, que significa “aquele que brilha”. Contudo, também significa “aquele que remove os obstáculos de seus cidadãos”. Isso indica que somente quem considera primorosamente o bem-estar de seus cidadãos deve ser rei ou governante. Alimentar os cidadãos, disponibilizar os meios para que obtenham felicidade e contentamento, proteger a retidão, dar ao povo recursos para a prosperidade e punir os infratores são os principais deveres de um rei segundo o Vishnu-smriti. “O reino do monarca que não toma nenhuma atitude quando homens baixos estabelecem a lei afundar-se-á como uma vaca no brejo. O reino onde os homens baixos são muito numerosos logo perecerá por completo, vitimado por fome e doenças”. (Manu-samhita 8.21-22). RECONHECENDO O CARÁTER DE UM LÍDER APROPRIADO. O principal protetor dos cidadãos na língua sânscrita se chama kshatriya. Essa palavra significa “guerreiro”, mais primariamente como alguém que protege o povo contra kshat, “infelicidade”, ou que remove os problemas e as dificuldades. É dito que um kshatriya exibe as qualidades de bravura, coragem, vigilância, caridade, proeza e firmeza no combate. (Mahabharata 6.42.43). Um kshatriya verdadeiro tem o dever máximo de proteger todos os seres (Mahabharata 12.120.3) bem como de fomentar a integridade, destruir aqueles que sejam cruéis e não fugir do inimigo. (Mahabharata 12.14.16). Kshatriyas devem empunhar suas armas apenas para proteger outros, sejam indivíduos, seja a comunidade como um todo. (Ramayana 3.10.3). Entretanto, um kshatriya que não exibe sua força segundo sua capacidade devido ao medo de perder sua vida merece ser chamado de ladrão. (Mahabharata 5.134.2). O kshatriya tem de exibir a conduta apropriada em relação a seus subordinados. Ele pode exercer controle sobre as demais classes na sociedade, daí ser chamado de “político”. Ele, destarte, tem que demonstrar imparcialidade na execução de seus deveres, sem favoritismo ou desdém em relação a alguém. Ele deve deliberar acerca do bem-estar de todos. Obviamente, ele tem que pessoalmente seguir as regras que estabelece para os demais. Deve ser capaz de punir os malfeitores apesar do status que possam ter na sociedade. Deve ter o desejo de aconselhar-se com outros que sejam competentes nisso. O progresso espiritual de um kshatriya é determinado por sua habilidade em proteger os santos e destruir os malfeitores. Os filósofos declaram que um guerreiro que é valente o bastante para morrer no campo de batalha em um conflito que ele não iniciou tem a mesma grandeza de um asceta que se devotou à prática de yoga. Em outras palavras, alcança o céu depois desta vida terrestre. Novamente é enfatizado que apenas os governantes que são capazes de sempre proteger a retidão e afastar os malfeitores devem ser instituídos como reis. O universo inteiro existe com base nisso. (Mahabharata 12.78.44) A força dos oprimidos e desolados está no rei. (Ramayana 7.59). Isso significa que aqueles que são pobres dependem do rei para seu bem-estar. Sem isso, estão eternamente condenados à pobreza e ao pesar. UM REI QUALIFICADO TEM QUE SER POSSUIDOR DE AUTOCONTROLE. Em uma edição resumida do Mahabharata, descreve-se: “Um homem sábio deve aprender boa conduta, boas palavras e boas ações em todo lugar, assim como um respigador reúne os grãos de milho abandonados pelos ceifeiros. A virtude é preservada pela veracidade; o aprendizado, pela prática; a beleza, pela higiene corporal, e a linhagem nobre, pelo bom caráter. A mera linhagem, no caso de alguém cuja conduta não é boa, não pode inspirar respeito. Um rei ou homem que inveja a riqueza, a beleza, o poder, a linhagem nobre, a felicidade, a boa fortuna e a honra de outrem sofre de uma doença incurável. Boa conduta é algo essencial em um homem. A intoxicação decorrente da riqueza é muito mais censurável do que a intoxicação decorrente do vinho, pois um homem embriagado com a prosperidade jamais retorna à sobriedade, a menos que caia”. O Mahabharata prossegue: “Como na Lua durante a quinzena brilhante, calamidades crescem para quem é escravo de seus sentidos. O rei que deseja controlar seus conselheiros antes de controlar seu próprio eu, ou o rei que deseja subjugar seus adversários antes de controlar seus conselheiros, peleja em uma batalha já perdida, perdendo sua força. O rei deve primeiramente subjugar seu próprio eu, tendo-o como seu inimigo. Ele, então, jamais fracassará no empenho de subjugar seus conselheiros e, em seguida, seus inimigos. Grande fortuna aguarda aquele que subjugou seus sentidos ou controlou seu eu ou é capaz de punir todos os ofensores ou age com discernimento ou tem a bênção da paciência”. “O corpo é a quadriga (carro de duas rodas puxada por quatro cavalos emparelhados): a alma em seu interior é o cocheiro, ao passo que os sentidos são os cavalos. Puxado por esses excelentes cavalos quando bem treinados, o sábio percorre com prazer e em paz a jornada da vida. Os cavalos, no entanto, se não domados e incapazes de serem controlados, conduzem o cocheiro inábil para a destruição no curso da viagem. Muitos reis de mentalidade maligna se arruínam em razão de seus próprios atos em razão da falta de domínio sobre os próprios sentidos. A ganância de conquistarem maior reinado é a causa de seu pecado”. OS PODERES E AS CARACTERÍSTICA QUE OS GOVERNANTES DEVEM TER. “É dito que os reis têm cinco tipos diferentes de poderes. Desses, o poder militar é considerado como o mais baixo. Considera-se a obtenção de bons conselheiros como o segundo tipo de poder. A obtenção de riquezas é o terceiro tipo, ao passo que o poder de nascimento, o qual o sujeito naturalmente obtém de seus pais, avós e outros antepassados, é o quarto tipo de poder. Aquilo, no entanto, através do qual tudo isso é conseguido e é o maior de todos os poderes chama-se ‘o poder do intelecto”. “Reis ilustres e poderosos regeram esta poderosa Terra tão cheia de riquezas e glórias e alegrias. Todos eles, no entanto, foram vitimados pelo Destruidor Universal. Partiram deixando para trás seus reinos e seus imensos prazeres. O filho, criado com muito zelo, quando morto, é levado embora e conduzido por homens para o crematório. Com o cabelo em desalinho e envoltos em choros comoventes, atiram o corpo na pira funerária como se fosse mera lenha. Outros desfrutam das riquezas do homem que morreu, enquanto os pássaros e o fogo banqueteiam-se com os elementos do corpo que jaz sem vida. Apenas duas coisas vão com ele para o outro mundo: seus méritos e seus pecados. Depois de jogarem o corpo, os parentes, amigos e filhos fazem o caminho inverso que fizeram até o crematório, como pássaros que abandonam uma árvore sem flores e frutas. Sim: o homem atirado à pira funerária tem por companhia apenas seus próprios atos. Portanto, todo homem deve, cuidadosa e gradualmente, estabelecer-se na retidão”. Yudhisthira perguntou ainda: “Como um rei deve se comportar?”. Bhisma respondeu: “Retidão é o lema de um rei. Nada é superior a isso neste mundo. Seus conselheiros devem ser todos puros de coração e igualmente puros em mente. Malícia é algo que jamais deve encontrar espaço no coração de um rei. Seus sentidos devem estar perfeitamente sob seu controle. Caso use sua inteligência, será glorioso: expandindo-se em grandeza como o oceano que é alimentado pelas águas de mil rios”. “Venenos matam apenas um homem, e o mesmo se dá com armas”, Bhisma continuou. “Em contraste, conselheiros perversos destroem um reino inteiro, junto dos reis e cidadãos. O bem maior é a retidão, e a paz suprema é o perdão. Contentamento supremo é o saber, ao passo que a felicidade suprema é a benevolência. Um rei pode facilmente tornar-se grandioso mediante duas atitudes: não se permitir falar palavras ásperas e desprezar aqueles que são perversos. Três crimes são considerados terríveis: roubo, abuso de mulheres e rompimento de relações amistosas. Três coisas destroem a alma: luxúria, ira e cobiça. Três coisas são essenciais: um seguidor, alguém que busca por proteção e alguém que veio ao seu reino ou residência. Esses devem ser protegidos. Um rei, malgrado poderoso, jamais deve consultar alguma destas quatro classes de homens: os poucos sábios, os procrastinadores, os insensíveis, os lisonjeadores. Cinco devem ser adorados: a mãe, o pai, o fogo, o preceptor e a alma. Seis faltas devem ser evitadas por um rei que deseja ser grandioso: sono excessivo, preguiça, medo, ira, insensibilidade e procrastinação. Estes seis não devem ser renunciados: veracidade, caridade, diligência, benevolência, perdão e paciência. O rei deve renunciar os sete vícios, a saber, mulheres, jogos de dados, caçada, fala ríspida, consumo de bebidas alcoólicas, severidade excessiva nas punições e desperdício de riquezas. Oito elementos glorificam um rei: sabedoria, nascimento nobre, autodomínio, aprendizado, bravura, moderação na fala, caridade apropriada e gratidão. Este corpo humano é uma casa com nove portas, três pilares e cinco testemunhas. É presidido pela alma. O rei que conhece isso é sábio. Estes dez indivíduos desconhecem o que é virtude: os intoxicados, os desatentos, os loucos, os fatigados, os irados, os famintos, os infelizes, os cobiçosos, os assustados e os luxuriosos”.  MAIS DESCRIÇÕES ACERCA DO CARÁTER E DOS DEVERES DE UM REI. Bhisma disse: “A veracidade é um importante atributo de um rei. Se desejas inspirar confiança na mente de seus subordinados, deves sempre ser veraz. Toda perfeição encontra seu lar em um rei. Sua conduta deve estar acima de qualquer reprovação. Autodomínio, humildade e retidão são qualidades que têm de estar presentes em um rei que será exitoso. Ele deve ter suas paixões sob completo controle”. Bhisma disse ainda: “A conduta de um rei deve ser franca e direta. Outro perigo para um rei é a brandura. Ele não deve ser excessivamente brando, ou será desconsiderado. Os cidadãos não terão respeito o bastante por ele e suas palavras. Ele, ao mesmo tempo, deve evitar o extremo oposto, ou seja, ele não deve ser excessivamente severo, ou os cidadãos o temerão, o que não é agradável ou positivo”. Em conclusão ao assunto, Bhisma disse: “Um rei tem de conhecer a arte de selecionar assistentes. Ele deve ter a compaixão como parte de sua composição mental, mas deve se esquivar de uma postura excessivamente perdoadora. Estar alerta é de grande necessidade para um rei. Ele deve estudar seus inimigos e também seus amigos, incessantemente. Destreza, inteligência e veracidade são três atributos necessários em um rei. Residências e edificações em geral que estejam velhas ou em ruínas devem ser renovadas caso queira uma opinião pública positiva de seus cidadãos. Deve saber utilizar seus poderes para infligir punições corporais e multas aos perversos”. O REI TEM DE PROTEGER SEUS CIDADÃOS. Por diversas vezes, o Mahabharata e outros textos enfatizam que um governante tem que ser capaz de proteger e cuidar de seus cidadãos. Isso acontece de diversas formas, o que é explicado brevemente nas muitas citações a seguir. Contudo, se um governante não pode cuidar de seus subordinados com zelo e firmeza, é evidente que tal pessoa é inapta a continuar em qualquer posição de liderança. “Tendo assim organizado todos os assuntos (de) seu (governo), ele deve zelosa e cuidadosamente proteger seus cidadãos. Aquele (monarca) cujos cidadãos são levados por ladrões (dasyu) para fora de seu reino enquanto gritam (por socorro) e ele e seus servos apenas olham sem nada fazer é um (rei) morto, e não vivente. O dever mais elevado de um kshatriya é proteger seus cidadãos, haja vista que o rei que desfruta das recompensas tem a obrigação de cumprir esse dever”. (Manu-samhita 8.142-144). “O rei deve proteger seus cidadãos assim como uma mulher grávida nutre o feto em seu ventre”. (Mahabharata 12.56.44) Em outras palavras, assim como uma mulher grávida sacrifica seus interesses pessoais pela causa da criança em seu ventre, o rei deve ser capaz de renunciar seus próprios interesses a fim de atender às necessidades dos cidadãos. “Da mesma maneira que um pai ajuda seu filho a superar uma crise, o rei deve livrar das dificuldades os seus cidadãos”. (Bhagavata Purana 11.17.45). “Se um rei é excessivamente gentil, o povo o desobedece. E se ele é autoritário, o povo o teme. Por conseguinte, de acordo com a situação, ele deve ser autoritário ou gentil”. (Mahabharata 12.140.65). “Manter felizes os cidadãos nesta Terra é o código de retidão de um rei”. (Mahabharata 12.57.11). “Os fracos e oprimidos, os cegos, os surdos, os aleijados, os órfãos, os idosos, as viúvas, os doentes e os aflitos devem receber alimento, vestes, medicamentos, abrigo e demais necessidades”. (Mahabharata 12.86.24. ). “O rei tem que considerar que seu principal dever é servir seus cidadãos. Ele deve protegê-los assim como uma mãe protege a criança em seu ventre. Alguma mãe pensará em gratificar-se enquanto seu filho está em seu ventre? Todos os pensamentos dela estarão voltados para a criança e para o bem-estar da mesma. Da mesma forma, o rei deve subordinar todos os seus desejos e vontades e buscar atender aqueles de seus cidadãos. O bem-estar deles deve ser seu único interesse”. “O melhor rei é aquele cujos cidadãos vivem em liberdade e alegria como se estivessem na casa do próprio pai. A paz estará com eles, bem como a satisfação. Assim, não haverá qualquer perversidade, ambição, desonestidade ou inveja. O âmago do dever de um rei é a proteção de seus cidadãos e a felicidade deles. Não se trata de algo fácil. Para garantir a felicidade de seu povo, ele deve recorrer a diversos métodos”. IMPOSTOS. Uma das funções primárias de um governante é supervisionar e planejar o desenvolvimento das terras em seu domínio, e um dos meios que ele usa para isso é a cobrança de impostos. Contudo, tem que arrecadar impostos de maneira sistemática e com a devida consideração por seus cidadãos. Descreve-se: “Assim como uma abelha suga o néctar das flores sem machucá-las, o rei deve obter o dinheiro de seus cidadãos sem afligi-los”. (Mahabharata 5.34.17). “Assim como uma abelha suga o néctar das flores delicadamente, sem danificar a planta, o rei deve obter dinheiro através de impostos cobrados de seus cidadãos sem fazer-lhes mal. Quem ordenha uma vaca não o faz até que as tetas fiquem vazias, senão que tem o cuidado de garantir de que sobre leite para o bezerro. Similarmente, o rei deve arrecadar impostos do povo depois de considerar cuidadosamente se terão o suficiente para se manterem”. (Mahabharata 12.88.4) “Como um sanguessuga, o rei deve obter dinheiro da nação gentilmente através da cobrança de impostos. Uma tigresa ergue seus filhotes com seus dentes, porém não os machuca. Similarmente, um rei deve cobrar impostos de seus cidadãos sem causar-lhes aflição”. (Mahabharata 12.88.5) “Ó rei, é deveras insensato o governante que, apesar de cobrar um sexto da renda de seus cidadãos, não cuida deles assim como cuida de seus filhos”. (Ramayana 3.6.11). “É dito que o rei que, sem proteger seus cidadãos, recolhe um sexto da renda deles [na forma de impostos] toma para si os pecados do povo”. (Mahabharata 1.213.9). “O rei deve se tornar um jardineiro, e não um fabricador de carvão. O jardineiro cuida das plantas a fim de receber delas flores e frutas. Similarmente, o rei deve conduzir seus cidadãos à prosperidade e, então, obter um quarto da renda deles na forma de impostos. Quem comercia carvão, no entanto, desarraiga a árvore e carboniza a mesma por completo. O rei não deve desarraigar seus cidadãos, roubando-lhes por completo suas riquezas”. (Mahabharata). “Assim como alguém que corta os úberes de uma vaca com a esperança de obter leite jamais o consegue, um Estado em que os impostos são cobrados inapropriadamente, assim atormentando os cidadãos, não prospera”. (Mahabharata 12.71.16). “A maioria dos autores dos Smritis declaram que não se devem cobrar impostos dos brahmanas que dominam os Vedas. Isso porque o rei obtém um sexto dos méritos obtidos por um brahmana que segue o caminho da retidão”. (Vishnu Dharmasutra 3.26-27). O ponto é que é dever do rei apoiar e cuidar das necessidades mundanas e espirituais dos brahmanas eruditos, ascetas e estudiosos e das instituições de ensino. Isso amplia o prestígio do rei. O rei deve tratá-los com absoluto respeito uma vez que se destinam a auxiliar na preservação do dharma e do equilíbrio social, através do que toda a sociedade pode operar em harmonia e continuar com o desenvolvimento espiritual que permite que todos fiquem contentes e sejam felizes.Portanto, o rei tem que adotar a atitude de que ele é servo dos cidadãos. Um governo desonesto deve temer que os cidadãos cedo ou tarde se revoltem contra seu líder. Que valor há para os cidadãos pagar altos impostos para um líder perverso que não os está governando devidamente e não é capaz de protegê-los quer na esfera militar, quer econômica, quer educacional etc.? O líder recebe um salário a partir dos impostos cobrados apenas quando pode desempenhar seu papel da maneira devida. De outro modo, os impostos cobrados para determinados propósitos são desperdiçados. USO DO TESOURO. A principal utilização do tesouro por parte do rei também é explicada: “O tesouro de um rei tem pôr fim a proteção do exército, de seus cidadãos e da retidão. Se é usado para esses fins, revelar-se-á benéfico. Por outro lado, se o tesouro é desperdiçado, isso se revelará desastroso. Se o rei utilizar o tesouro real para sua esposa e para seus filhos e para satisfazer seus próprios desejos sensuais, o mesmo lhe trará infelicidade e tal monarca será conduzido para o inferno”. (Shukraniti 4.2.3-5). O governante tem que usar sua renda pessoal para todos os seus interesses pessoais, sem jamais divergir alguma conta ou finança de sua administração para fins inapropriados. Não apenas ele acumulará o mau karma que o levará para o inferno, mas é frequente que sua própria vida – privada e política, junto do futuro de seus cidadãos e de seu país – seja condenada no devido tempo. “O rei deve se lembrar de que seu tesouro deve estar sempre cheio. A supervisão do trabalho de todos os seus oficiais deve ser feita pelo próprio rei. Ele jamais deve confiar cegamente nos guardiões da cidade ou do forte”. DEFENDER O PAÍS – ESTAR CIENTE DO INIMIGO. Na proteção dos cidadãos contra obstáculos, superintender a segurança do país é certamente uma preocupação primária que deve ser tida em conta pelo governante. Aconselha-se, portanto: “Ó rei, obviamente não encontrarás escrito no rosto de alguém se ele é um inimigo ou um aliado. Aquele que nos faz experienciar tormentos é quem entendemos como inimigo”. (Mahabharata 2.55.10). “Ainda que fracos, aqueles que são cautelosos não são derrotados pelo inimigo. Em contraste, alguém poderoso que não é vigilante em relação ao inimigo é aniquilado até mesmo por um inimigo fraco”. (Mahabharata 12.138.198). “Mesmo se um inimigo é fraco, quando sua força cresce, nem mesmo um homem poderoso é capaz de ignorá-lo”. (Mahabharata 5.9.22). “Mesmo se alguém é poderoso, não deve considerar inferior um inimigo que seja fraco, pois mesmo uma chama pequena é suficiente para queimar, e mesmo uma minúscula quantidade de veneno é o bastante para ceifar a vida”. (Mahabharata 12.58.17). “Neste mundo, não há nada mais perigoso do que estar inadvertido. Toda riqueza abandona tal indivíduo descuidado, em consequência do que tem de experienciar grandes catástrofes”. (Mahabharata 10.10.19). www.voltaaosupremo.com.br. Abraço. Davi


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