terça-feira, 5 de abril de 2016

Yoga Sutra. II. O Capítulo do Samadhi.



Yoga Sutra. “Disso vem a introversão da inteligência e a dissolução dos obstáculos”. As perturbações quando a mente gravita em direção a Citta, em atitude de recolhimento, desaparecem. Da mesma forma, aqui, buscamos elevar nossa inteligência para uma esfera mais sutil de atuação buscando o Içvara como referencial. Por isso os obstáculos se dissolvem. “Os obstáculos, Antarayas, limitadores, são as nove dispersões da mente, Citta: doença, insensibilidade, dúvida, negligência, imobilismo, desinteresse, divagação, não realização e instabilidade. Dor, desepero, agitação dos membros, inspiração e expiração aparecem junto com essas dispersões. Para  evita-las, exercita-se um único princípio, Tattva”. Esse Tattva é Atma, conforme o que aparece no aforismo 47. “O assentamento, tranquilização, de Citta se demonstra pela amizade para como o feliz, compaixão com o sofredor, alegria com o virtuoso e indiferença com o malvado”. A partir deste Sutra, e até o Sutra 41 o assunto é a tranquilização, Prosad, de Citta. 34. "Ou então, se demonstra, por meio da expulsão e do controle do Prana, sopro vital. Ou produzindo a estabilidade da mente que surge de uma transformação relacionada aos objetos perceptíveis, os objetos passam a ser percebidos sem interferência dos pensamentos limitado ao mundo objetivo. Sutra 1:36. “Ou, é, o brilho celestial que liberta da dor. Esse brilho, Jyotis, é o brilho dos astros noturnos, relacionado ao espírito e à inconsciência. Sutra 1:31. Inspiração e expiração, conforme aparecem nesse sutra, não representam apenas a respiração ofegante, mas representam as duas fases de movimento da respiração, consideradas inferiores às duas fases de repouso que há entre elas. Sutra 1:34. Prana é sinônimo de atividade. Expulsar o Prana é o mesmo que buscar um estado de repouso; controlar o Prana é a capacidade de controlar as forças do comportamento para que obedeça a invocação interior. Sutra 1:36. Esse brilho, Jyotis, é o influxo astral relacionado à nossa vocação. Pode-se dizer que é a luz das estrelas de nossa carta natal astrológica indicando os caminhos que levam à realização de nosso Dharma. Conforme Krishna fala para Arjuna no Bhagavad Gita, quando agimos em conformidade com o Dharma, não há sofrimento. É a divindade suprema que age por nosso intermédio. Como poderia haver dor, que é o sinal do errôneo, num ato que é o sinal do errôneo, num ato que está perfeitamente correto, como todo ato baseado em nossa vocação espiritual? 37. “Ou é, demonstrado pela presença de Citta, em relação ao apego aos desejos, porque Citta só se manifesta quanto não está presente o apego. Ou é orindo, o assentamento da mente, do saber que vem dos sonhos em sono profundo, quando silenciam as interferências externas na produção dos sonhos, e estes passam a refletir a sabedoria serena do Samprajnata. Ou então provem da meditação, Dhyana, no que é agradável, por corresponder à vocação 40. O controle sobre isto, do assentamento de Citta, se estende desde o infinitesimal ao imensamente grande. Encontra-se o colorido da joia, Mani, nascida em consequência do enfraquecimento material das Vrttis, com aquele mesmo colorido que está no observador, nos órgãos sensoriais e nos objetos observados”. A gema preciosa representa tradicionalmente a alma individual espiritualizada. “Dai, a razão, Saviitarka, combina-se perfeitamente com a imaginação, Vikalpa, aplicada ao conhecimento aprendido com palavras. Ao romper com a lógica racional, a imaginação liberta o pensamento dos limites do mundo material, abrindo caminho para o Samadhi. 43. A negação da razão, Nirvitarka, que servirá para a purificação da memória, Smrti, é semelhante a um referir-se às coisas que na verdade não levasse em conta suas peculiaridades externas, grosseiras”. Purificar a memória é torna-la apta para trazer para a consciência as reminiscências  da percepção sutil, que normalmente se desfazem ao contato com nossos pensamento. “Da mesma maneira são explicados, numa esfera mais sutil, a abstração, Savicara, e sua negação, Nirvicara”. Para poder dispor das impressões suas trazidas à sua mente e fruir da plenitude do estado de Samadhi, o yogue precisa aprender a prescindir até mesmo dos modos de pensamento mais abstratos. Sutra 1:40. Ao exercitar um único Tattva, que é a individualidade universal, Atma, o yogue se identifica plenamente com cada objeto, Visaya, tornando-se integrado a todos eles. O domínio que ele passa a ter sobre suas forças interiores se converte em controle  sobre as forças que movem todos os fenômenos materiais, das menores partículas, Anu, aos corpos celestiais. Sutra 1:43. Note que a memória foi descrita em 1:11 com a retenção do objeto percebido. A purificação da memória é, por conseguinte, a eliminação dos aspectos inferiores desse objeto retido, e que são os detalhes percebidos pela mente mais grosseira. O processo de purificação é referido em  II:21 que explica que o objeto  do percebedor é encontrar o Atma nos objetos percebidos, o que também se confirma em I:47. Vitarka: pensamento lógico, baseado nos objetos e nas palavras. Vicara: pensamento com que se elabora conceitos abstratos ou julgamentos de valor e mérito, sem a necessidade de referência a objetos materiais. Os prefixos As e Nir significam com e sem. 45. “E certamente o próprio conceito de esfera mais sutil termina no que não tem mais sinais perceptíveis, isto é, aquilo que não pode ser percebido ou observado. Este é de fato o Samadhi com semente. Na utilização habilidosa do Nirvicara, o Atma se assenta, junto a consciência, em sua condição superior, Adhyatma. Lá, ele é aquele que possui o conhecimento verdadeiro, Prajna. A semente de todo o conhecimento Sarvajna Bijam, está ligada ao Içvara. É uma outra natureza, de conhecimento, que não a daquele obtido por dedução ou revelação, mas que provem de causas diferentes. 50. O Samskara que nasce daí interrompe outros Samskara. 51. O que surge do recolhimento total, dentro deste recolhimento, é o Samadhi sem semente. É a condição em que não há mais objeto e observador. Onde o Atma se assenta por si só, de modo que o Samadhi não é construído, mas apenas existe”. Assim se completa o primeiro capítulo, chamdo Samadhi no tratado sobre Yoga de Çri Patanjali, na doutrina do Samkhya. Sutra I:46.  O Samadhi é descrito aqui como uma condição dinâmica da mente em que gradualmente o praticante descobre o Atma em cada objeto no qual empresta sua atenção. Eles passam a ser partes de um corpo vivente, inteligente e dotado de consciência, que é o Içvara, um reflexo elevado de nossa própria individualidade. Cada objeto, torna-se, junto a Içvara, uma semente de conhecimento e o ponto de partida dos pensamentos encadeados em direção ao abstrato e ao infinito. Sutra 1:50. Cabe esclarecer aqui que o Samadhi é uma condição de elevação da consciência que se obtém através de uma prática continuada, persistente e somada ao desapego. Por isso podemos dizer que ele próprio é, seguramente um hábito mental cultivado, um Samskara. Na verdade é o mais elevado de todos, que se sobrepõe e interrompe todos os demais. Abraço. Davi.

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