segunda-feira, 4 de abril de 2016

Yoga Sutra. I. O Capítulo do Samadhy.



Yoga Sutra. O texto sagrado está entre parênteses. “Eis os postulados mais elevados do Yoga. O Yoga é o recolhimento (Nirodha) dos meios de expressão (Vrttis) da mente (Citta). Então aquele que vê (drastr, o percebedor) se manifesta em sua natureza mais autêntica. Nesta outra condição está perfeitamente adequado aos meios de expressão (Vrttis). Os meios de expressão formam um conjunto de cinco, tanto na condição perturbada quanto na não  perturbada. Os meios de expressão da mente (Citta) são chamados: evidência (Pramana), inventividade (Viparyaya), imaginação (Vikalpa), sono (nidra) e memória (Smrti). As evidências são a percepção direta física, a inferência mental e o testemunho. A inventividade é um conhecimento derivativo que leva a formas que não são aquela que originou o conhecimento. Imaginação é o resultado do conhecimento adquirido pela palavra, desprovido de existência real”. É interessante notar que a imaginação aqui tem um poder de criação semelhante àquele que lhe atribuíam os alquimistas ocidentais. É o poder do verbo criador, razão pela qual o autor utiliza o termo Çabda (palavra), a poderosa força mobilizada pela deusa Sarasvati, conforme narrado no Anugitã. Sutra 1:2. Vrttis, que chamamos aqui de meios de expressão, podem ser descritos como os desdobramentos materiais de Citta. Quando estão vinculados ao mundo manifestado, criam a consciência e a ilusão de separação, trazendo para nós a ideia de que observador e objeto observado são entidades distintas. Quando são recolhidos, levam a consciência à percepção de Atma nos objetos observados. O que elimina qualquer possibilidade de separação, destruindo desta forma a raiz de todo sofrimento. Sutra 1:8. Embora a quase totalidade das traduções prefiram entender Viparyayas como engano, conhecimento errôneo, preferimos uma abordagem diversa. Nenhuma expressão de Citta, considerado este como o aspecto mais elevado da mente humana. Poderia representar necessariamente uma prática de erro ou engano, exceto quando manifestado sob condições adversas. “O sono (Nidra) é um meio de expressão sustentado pela experiência de não existir. A memória (Smrti) é a retenção, não perda, do objeto percebido. Seu recolhimento ou seja, o Nirodha desses cinco meios de expressão, advêm da disciplina e do desapego. A disciplina é o esforço em permanecer nele, nesse recolhimento. Ele, o recolhimento, então, praticado assiduamente com atenção e continuidade por um longo tempo, torna-se uma condição consolidada. O desapego é o sinal da vontade perfeita daquele que está indiferente aos objetos já vistos ou dos quais se ouviu falar. Em decorrência disso, o desapego, é a indiferença às qualidades materiais (Gunas) das coisas nas quais o espírito (Purusa) se revela. Um conhecimento intenso (Samprajnata) surge a partir de: suposição (Vitarka), avaliação (Vicara), sensação de realidade (Ananda) e da percepção da própria individualidade (Asmita) como uma existência separada de todas as outras”. A partir daqui, até o sutra 22, o autor traça a origem desse conhecimento intuitivo a partir de práticas intelectuais. Outro (Samprajnata) é resultante de hábitos mentais (Smskara) cultivados a partir da disciplina na experiência da ausência. É a certeza de continuar existindo daqueles que jazem incorpóreos na terra espiritual (Prakrti)  Sutra 1:10. A raiz sânscrita Drai, de onde vem a palavra para sono, traz consigo um sentido que envolve o conceito de ausência, inconsciência, adequado à comparação com a não existência. Tem a semelhança do sono da morte, ou da profunda transformação na aparência exterior do seu próprio corpo. Patanjali não faz referência ao sono como o estado de consciência alterado em que ainda temos algum tipo de percepção, sonhos etc. Pra este último ele teria utilizado o termo Svapna, que o define precisamente, como faz em 1:38 com Svapnanidra. O uso de Nidra para um meio de expressão de Citta, indica uma situação em que o indivíduo produz, voluntariamente a condição de não existência, seja durante a meditação, ao se abstrair totalmente da personalidade para mergulhar na unidade absoluta. Seja no caso em que deixe de deixe de representar o papel de sua própria personalidade para tornar-se uma outra, que pode ser conceitual, como o juiz encarnando as leis, ou imaginária, como o ator representando uma personagem de ficção. “O (Samprajnata) de outros  tem sua origem numa percepção intuitiva (Prajna) durante o estado de Samadhi retida pela memória, pela vontade (Virya), firme disposição e pela fé”. São as reminiscências. Essas percepções obtidas durante o Samadhi se desvanecem tão logo a consciência retorna, tal como ocorre com os sonhos. Podem ser retidas, no entanto, por um esforço de memória, vontade e fé. “O Samprajnata está próximo quando há intensas inquietações. Do fato de sua medida ser delicada, média ou  muito intensa, daí justamente vem a diferença. Ou o Samprajnata surge da entrega ao Senhor interior (Içvara)”. A partir deste sutra, até o sutra 29, estamos tratando da via inconsciente para obtenção do conhecimento intuitivo. “O Içava é um aspecto do Purusa, e portanto não é afetado pelos repositórios dos resultados das ações”. Os efeitos de nossos atos são armazenados junto ao nosso organismo psíquico, e afetam seu funcionamento. Içavara, porém, é de natureza espiritual (Purusa) e não está sujeito às suas influências. Veja-se, em relação a este sutra, o conteúdo de 11:12; “Repousa ligada a ele, ao Içvara, a semente de todo o conhecimento possível. É verdadeiramente o mestre dos antigos, pois não está limitado pelo tempo. O Pranava (a sílaba mística OM) é a sua expressão. Recitá-lo é fazer surgir o seu sentido na mente do recitador”. Sutra1:28. Traduzimos Artha por sentido neste sutra, embora a palavra tenha mais frequentemente o uso de objetivo ou finalidade. Optamos por esta forma porque o Içvara não surge na mente do recitador com um objetivo, mas apenas como um sentido, um vir a ser, que aponta para o seu Dharma, condição espiritual, vocação. Sutra 1:31. É importante chamar a atenção para a inclusão dos movimentos respiratórios como sinais externos das dispersões de Citta. De acordo com o sistema do Yoga, a respiração pode ser dividida em quatro fases: inspiração, pausa com retenção do ar, expiração e pausa com os pulmões esvaziados. Esta última fase é considerada a mais adequada para o esforço de concentração. No processo natural de relaxamento e introspecção, as duas pausas crescem em duração e se tornam maiores que as fases com movimento. Abraço. Davi.

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