sexta-feira, 1 de abril de 2016

Não há Motivo Jurídico para o Impeachment.



É difícil ficar a margem dos relevantes fatos nacionais da atualidade no Brasil. “O advogado Marcelo Lavenère, um dos dois autores do pedido de impeachment de Fernando Collor de Mello, (mandato 15/03/1990 a 29/12/1992) compara as condições daquele ato, em 1992, com a situação atual e afirma que com Dilma Van Rousseff, (mandato 1º/01/2011até hoje) o caso é diferente. O Dr. Lavenère falou com exclusividade à Sputnik Brasil. Em 1992, o então Presidente Fernando Collor de Mello, hoje senador pelo Estado de Alagoas, enfrentou um processo de impeachment deflagrado a partir de denúncias de seu irmão, Pedro Collor (1952-1994), de que uma organização liderada pelo chefe do Poder Executivo estava se beneficiando do poder para obter vantagens pessoais. Mesmo tendo renunciado durante a instauração do processo no Congresso Nacional, Collor de Mello teve o impeachment decretado e foi definitivamente afastado do poder, que passou a ser exercido, em sua plenitude, pelo até então Vice-Presidente Itamar Franco (1930-2011). Passados 23 anos, a Presidenta Dilma Rousseff se vê ameaçada de também sofrer processo de impeachment e consequente afastamento do poder. Esta hipótese, porém, é rejeitada pela própria chefe do Executivo, ao afirmar na cerimônia de posse do seu novo Ministério, na segunda-feira, 5, que irá governar até 2018, último ano do seu segundo mandato, conquistado nas eleições de outubro de 2014. Sobre o assunto, Sputnik Brasil entrevistou, com exclusividade, o advogado Marcelo Lavenère Machado, especialista em Direito Constitucional, Administrativo e Eleitoral e presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil entre os anos de 1991 e 1993. O Dr. Marcelo Lavenère foi um dos dois autores do pedido de impeachment contra Fernando Collor de Mello, tendo sido o outro autor o jornalista Barbosa Lima Sobrinho (1897-2000), na ocasião, presidente da ABI – Associação Brasileira de Imprensa. Nesta entrevista, Marcelo Lavenère compara as situações de Fernando Collor de Mello e Dilma Rousseff, e afirma que até o momento não há fatos juridicamente demonstrados que mereçam a instauração de processo de impeachment contra a atual presidente da República. Sputnik: O senhor vê possibilidade de comparação entre o sucedido com o então Presidente Fernando Collor de Mello e o que acontece hoje com a Presidenta Dilma Rousseff? Marcelo Lavenère: Numa primeira visão, é possível se pensar, já que houve o impeachment do Presidente Collor e agora se cogita o impeachment da Presidenta Dilma Rousseff. Poderia se imaginar que houvesse circunstâncias semelhantes nos dois momentos históricos. Como acompanhei de perto o impeachment do Presidente Collor e estou acompanhando agora o episódio que ocorre em relação à Presidenta Dilma, posso afirmar que as circunstâncias e o ambiente em que um e outro se dão são absolutamente diferentes. Naquele momento o Presidente Collor estava sendo acusado pessoalmente de ter praticado atos ilícitos fraudatórios da confiança do voto durante o mandato para o qual ele tinha sido eleito. Neste momento atual, a Presidenta Dilma Rousseff, além de não estar sendo apontada como tendo feito nenhum ato que pudesse justificar o impeachment, aquelas acusações que estão lançadas contra ela se referem a fatos pretéritos (passados), a fatos anteriores ao mandato da presidente, que começou em janeiro (segundo mandato) de 2015. Por isso entendo que não há motivo jurídico, não há fatos relevantes semelhantes na hipótese do impeachment de Collor e na eventual propositura, naturalmente indevida, de um pedido de impeachment da Presidenta Dilma. Sputnik: Recuando 23 anos (...). Marcelo Lavenère: É interessante e conveniente explicar como este processo de impeachment se desenvolve. Depois das denúncias feitas pelo irmão do presidente Collor, acusando várias pessoas, inclusive o presidente da República como sendo chefe de uma quadrilha que se apropriara do Governo – a acusação era dirigida ao presidente da República – nós propusemos a abertura de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), formada por deputados e senadores. A CPMI chegou a seu término e o relatório final reconhecia que havia acusações graves contra o presidente da República. Este relatório foi aprovado por unanimidade, e a partir daí surgiu a necessidade da abertura de um procedimento de impeachment. A Constituição Brasileira diz que, para ser pedido um impeachment, quem está legitimado a fazer isso é qualquer cidadão que esteja em dia com suas obrigações eleitorais. Uma entidade, uma Assembleia Estadual, um chefe de um governo, qualquer pessoa jurídica não tem legitimidade para pedir o impeachment, que é um procedimento devido exclusivamente ao cidadão. Por este motivo foi que eu atuei na qualidade de cidadão. Mas na verdade por trás da minha assinatura estava o fato de que eu era o presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, e a assinatura do Dr. Barbosa Lima Sobrinho, que assinou como pessoa física, como cidadão, tinha por trás uma entidade muito respeitada, a Associação Brasileira de Imprensa. Nós dois assinamos este pedido e somos os autores do único processo de impeachment que até hoje aconteceu num país do mundo e que tenha chegado a seu término sem uma convulsão, sem uma turbulência, sem uma ruptura dos cânones institucionais. Sputinik: O presidente da Câmara, Deputado Eduardo Cunha, disse que esta semana dará andamento a alguns pedidos que lhe foram apresentados, entre os quais o do eminente jurista Hélio Bicudo (este é o que está em tramitação na Comissão da Câmara para analisar a viabilidade da autorização, que se procedente vai ao plenário da Casa), ex-integrante do Partido dos Trabalhadores. O senhor vê condições de este pedido prosperar? Marcelo Lavenère: O processo de impeachment é um misto de processo jurídico com processo político. Se levarmos em conta exclusivamente o seu aspecto político, ou seja, a vontade de determinados segmentos de representantes políticos quererem exercer o impedimento ou a ruptura do mandato de uma presidente que foi regularmente eleita, então corremos o risco, sim, de haver isto que eu chamo um Golpe. Porque o processo de impeachment não é somente um processo político, ele é um processo jurídico, e a Constituição prevê hipóteses concretas em que um presidente da República pode sofrer um processo de impeachment. Como não foi praticado pela Presidenta Dilma, no curso deste mandato, nenhum daqueles atos que justificariam, teoricamente, a propositura de um processo de impeachment, posso concluir que qualquer pedido de impeachment da Presidenta Dilma será um pedido sem fundamentação jurídica e portanto não deve ter o apoio e a aprovação por parte dos deputados. Mas, repito, este é um processo que vai ser apreciado pela Câmara dos Deputados e estará sujeito às maiorias eventuais ou não que se formem naquela Casa Legislativa. Sputinik: O que se diz até o momento é que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, receberá os pedidos porém a palavra final ele delegará a comissões de deputados. Marcelo Lavenère: A deliberação final na Câmara pela admissibilidade ou não da abertura de um processo de impeachment é uma votação no Plenário da Câmara. Votam os 513 deputados apreciando o parecer que venha ou de uma Comissão Parlamentar de Inquérito ou da Comissão de Constituição e Justiça. Se votada a admissibilidade do impeachment e for acolhida essa admissibilidade, abre-se o processo do impeachment já não mais da Câmara Federal, porém corre no Senado da República, é o tribunal que vai julgar o processo sob a presidência do presidente da Suprema Corte. Em hipótese alguma o presidente da Câmara ou do Senado fará parte do julgamento final do processo de impeachment, se vier a ser aprovado. Sputinik: Supondo que o processo venha a ser instaurado, a Presidenta Dilma seria afastada imediatamente do cargo? Marcelo Lavenère: Admitida a admissibilidade do recurso e instaurado o processo no Senado, a Constituição prevê que a presidente se afaste do exercício do cargo, se for o caso (essa possibilidade existe apenas se o plenário da Câmara dos Deputados por voto de 2/3 de seus parlamentares 342 decidiram pela autorização do julgamento no Senado Federal). Ela continua sendo presidente da República, mas quem exerce o cargo é o vice-presidente da República, no caso Michel Temer. Se o impeachment vier a ser negado, a presidente volta para o exercício do cargo; se for aprovado, uma das consequências é a perda do cargo, a cassação do mandato. Sputinik: Fala-se de várias coisas simultaneamente, levando a opinião pública a uma certa confusão, a uma certa perplexidade diante de tantas argumentações. Marcelo Lavenère: Certamente. Os grandes veículos da imprensa brasileira atendem aos interesses das elites econômicas e tomam o partido muito claro de oposição ao atual Governo, que tem raízes em convicções políticas afeiçoadas aos interesses populares, aos interesses do povo mais pobre. O grande conglomerado de televisão e os principais jornais desenvolvem sabidamente uma campanha de desqualificação do Governo atendendo aos seus anunciantes e atendendo aos interesses que esses grandes veículos representam. Como esses grandes veículos de comunicação, tendo um partido tomado, têm uma opção de veicular as teses da oposição política ao Governo, isso cria, sim, no espírito do povo brasileiro, uma má informação, uma informação deformada, desviada, que é lamentável que possa existir num país como a democracia brasileira”. http://www.sputnikness.com.br. Não pormenorizarei a entrevista com o eminente jurista, pois sobre esse assunto já me expressei dando opinião contrária ao impeachment, que segundo Lavenère não encontra apoio jurisprudencial para que a propositura alcance resultado positivo. Ele está baseado em duas premissa largamente comentadas na mídia que são as pedaladas fiscais e o suposto crime de responsabilidade, fundado na (LRF) Lei de Responsabilidade Fiscal. A “pedalada fiscal” foi o nome dado à prática do Tesouro Nacional de atrasar de forma proposital o repasse de dinheiro para bancos públicos e privados, mais autarquias, como o INSS. O objetivo do Tesouro e do Ministério da Fazenda era melhorar artificialmente as contas federais. Ao deixar de transferir o dinheiro, o governo apresentava todos os meses despesas menores do que elas deveriam ser na prática e, assim, ludibriava o mercado financeiro e especialistas em contas públicas. A pedalada fiscal é uma prática ilegal, tida como um crime contra a LRF de 4 de maio de 2000 que regulamenta todas as movimentações de finanças feitas por entidades federais, estaduais e municipais. A LRF visa a transparência dos gastos públicos, questão esta que é ignorada pelas pedaladas fiscais, que justamente escondem os verdadeiros valores orçamentários do governo. De acordo com a Advocacia Geral da União (AGU), sabe-se que as pedaladas fiscais são praticadas desde o ano 2000, com o governo do ex presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2003). O artifício das pedaladas vem sendo usado a anos no Brasil e só agora é suposta base jurídica para incriminação na LRF. Isso mostra o casuísmo do pressuposto para fins oportunistas. Mas como a mídia sensacionalista e tendenciosa, tem se articulado desde o final da eleição passada, outubro de 2014, com o propósito de derrubar o Governo, tudo pode acontecer. O partido de sustentação política do Governo (PMDB) coordena através do seu presidente Michel Temer à saída do Governo. Esse fato ocorreu (28/03) na tarde de segunda-feira, numa reunião com o Diretório Nacional da sigla na presença de alguns ícones do partido. Temer não esteve presente nessa aclamação (que atropelando decisão anterior fora definida como voto das Executivas Regionais) do “desembarque” do governo que propôs que todos os membros da sigla, inclusive ministros que tenham cargo no governo Dilma os entregue até 12/04. O PMDB têm atualmente 7 ministros e mais de 800 cargos de confiança ocupados por seus militantes.  Temer tem uma questão de competência constitucional pra solucionar pessoalmente. Como entender um vice presidente que se articula para subtrair a legitimidade do Governo conquistada pelo voto popular? Suas atribuições como presidente da sigla partidária é mais relevante que seu cargo no executivo como vice presidente? Se todos devem abdicar de suas funções, por que o Temer continuará como vice presidente? Seria perfeitamente razoável e verossímil sua renúncia acompanhando seus pares na decisão da Executiva Nacional. Está claro e evidente que sua permanência implica sua “certeza” que a presidente será impedida e ele a substituirá no cargo.  Onde fica sua ética e decoro numa situação como essa de ser protagonista duma “insurreição” Golpista arquitetada pelas elites e imprensa espetaculosa interessada em seu desfecho. Acho vergonhosa a atitude do nosso vice presidente e dum oportunismo insano, seu partido numa hora delicada como essa que estamos atravessando, assumir tal postura ante democrática. Acho que não se tem notícia de um vice presidente administrar campanha entre seus pares para “depor” o presidente da República. A que ponto chegamos em nossa jovem democracia que corroída com essa atitude do senador Temer, dá sinais de que seus fundamentos estão sendo abalados. Esse ante republicanismo pode ser o diferencial que impedirá a sua futura posse, duvido que isso aconteça, do vice presidente no tão almejado cargo de mandatário da nação brasileira. Além de que um intrincado jogo político e jurídico deverá se desenrolar para que tal se suceda. Se não tomasse essa extrema e radical medida, estaria, conforme a natureza dos fatos na posição adequada à tal incumbência. Suponho que Temer jogou fora sua chance com essa disposição excludente. Temer, com sua postura interesseira, comandando o complô contra o Governo, mostra que nunca mereceu a confiança da presidente Dilma com razão. Como esteve sendo vice desde o início do mandato presidencial (1º/01/2011), seria razoável que se omitisse de tomar a frente desse golpe, administrando a conspiração. Mas não, preferiu abandonar o “barco” antecipadamente agindo de maneira covarde, como fazem aqueles que não tem honra nem civilidade. Pode pagar um preço alto pela sua ambição e avidez pelo poder. Está claro que a ação de sua sigla é inconveniente e danosa para a democracia brasileira, criando uma instabilidade política perigosa. Abrindo brecha à que movimentos oportunistas se apoderem das “massas” e das instituições combalidas e fragilizadas. A situação nacional se complica a cada dia. Temer deve ter esquecido das palavras de Leonel Brizola (1922-2004) “A política ama a traição mas abomina o traidor”.  Todos queremos mudanças, mas no momento certo e na hora que deve ser feita. Elas não acontecem da noite pro dia, e tem, geralmente, um processo traumático de transição. Esse parece ser o caso que vivemos hoje. Apressar os eventos pode produzir um efeito contrário, porque não dizer retrógrado. Os indicadores externo (baixa do dólar e subida das ações de empresas brasileiras na bolsa de valores), suponho, são um sinal não do que devemos fazer, mas como adequar nossa economia aos moldes da globalização. A soberania nacional requer uma democracia forte e atuantes. Responsável em defender os direitos de seus cidadãos e voz ativa nos fóruns internacionais. Não devemos colocar “o carro na frente dos bois”, isso trará enormes dificuldades e décadas para consertar o erro. A Oposição está confiante que a maioria dos parlamentares congressistas dessa sigla (PMDB) votarão na Comissão do Impeachment a favor da abertura do processo. Serão necessários 33 votos (maioria simples) à favor, dos 65 membro. Mas se esquecem que no plenário da Casa haverá uma imprevisível “batalha” e dificilmente alcançarão o número de votos (342) dos (513) necessários ao julgamento no Senado Federal. Se essa hipótese se sustentar, a não aprovação do processo de impeachment, haverá uma reorganização político partidária onde o Governo precisará estabelecer laços de entendimento e reconciliação (pacto ou aliança nacional) pelos interesses prioritários do Brasil e seu povo. Assim se criará ambiente favorável à sairmos dessa crise política e econômica. “O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), disse nesta quarta-feira (30/03) que o impeachment da presidente Dilma Rousseff não vai resolver a crise política e econômica brasileira. Ao contrário, ele afirmou que haverá possibilidade de conflitos sociais no caso de afastamento da presidente. O ministro defendeu o diálogo entre as forças políticas como solução das mazelas do país. É uma esperança vã (que o impeachment resolva a crise). Impossível de frutificar, argumentou. Nós não teremos a solução e o afastamento das mazelas do Brasil apeando a presidente da República. O que nós precisamos, na verdade, nessa hora, é de entendimento, é de compreensão, é de visão nacional, declarou o ministro. O ministro concordou com o argumento da presidente Dilma de que, se o impeachment for calcado em fatos que não configurem crime de responsabilidade, ocorrerá um Golpe”. http://www.oglobo.globo.com.br. Que os devas (anjos) protejam nosso Brasil das investidas dos asuras (demônios). Que Brahman a Consciência Cósmica ilumine a racionalidade de nossas classes representativas nas três esferas dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Dando-lhes sensibilidade e sobriedade (pelo entendimento, renúncia e fraternidade) para solucionarem os verdadeiros problemas que afetam diretamente nossa querida nação e seu povo. Nameste. (A divindade que está em mim, saúda a divindade que está em você).    Abraço. Davi.

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