Assisti
recentemente o filme A Incrível história de Adeline. Um drama interessante,
estreado em 2015, e sugiro aos leitores que quando tiverem tempo assistam
tirando suas conclusões. Segue algumas reflexão sobre o enredo. O drama de
Adeline apesar das tragédias e vicissitudes encontradas pelo personagem é
positivamente emotivo, sentimental e motivacional. Subliminarmente o diretor,
principalmente nas falas dos personagens e criações das cenas simples e
complexas, passa a ideia da surpresa, tristeza e angústia que é vencida pela
superação, otimismo, motivação e bom ânimo. Comparando seria um dia com
trovoadas, ventos e fortes chuvas que depois é clareado por um céu límpido, sol
com raios reluzentes e uma brisa suave e leve. Considero o filme com forte
expressão de "magia" e encanto que faxina aquele que o aprecia. Minha
esposa não desgrudou os olhos da tela, assistindo a projeção sem se levantar da
poltrona, coisa rara em se falando de cinema. Adeline traz ao inconsciente
humano a lembrança de que todo indivíduo passa por situações imprevisível que
não temos como controlar, num primeiro momento, tal seu impacto em nossa emoção
ou sentimento. O conceito do livre arbítrio e da predestinação é levantado como
um dos temas. Doutrinas cristãs irreconciliáveis na moderna teologia que causou
tantos "estragos" à necessidade de aproximação das divergentes
correntes teológicas. De um lado os ortodoxos conservadores
"predestinados" não abrem um centímetro de brecha à que os
progressistas do "livre arbítrio" assumam uma postura menos dogmática
na questão eclesial. O jovem diretor Lee Toland Krieger (1983- ) foi
feliz por não se envolver na polêmica cristã, mostrando nas ações e intenções
de Adeline os pressupostos dos dois aspectos. Fazendo o que o cristianismo não
conseguiu até agora, reconciliando no drama as duas milenares correntes
divergências do credo cristão. Desse modo em sua história Adeline sobrepõe os
extremo, criando a percepção de que em nossa alma ou espírito somos perduráveis
e em nosso corpo somos perecível. Isso é a conclusão da história quando ela
finalmente depois de 107 de vida consegue enxergar um fio de cabelo branco em
sua cabeça. Entretanto até que esse fato fosse percebido muitas situações foram
necessária que se realizassem em sua vida. Interessante que o roteiro do drama
não se preocupou em mensurar o tempo como costumamos entendê-lo em sua
linearidade no passado, presente e futuro. A ideia de Adeline chegar “pronta”
no mundo vivendo-o como uma pessoa adulta, acaba provocando um susto. Isso é
mostrado, penso, quando seu nascimento e infância, mal são detectados pelo
espectador; supondo, um claro detalhe quase imperceptível. O desenrolar do
enredo tem a preocupação de circularizar o tempo como se não tivesse início e
nem fim. Essa ideia é percebida na forma como Adeline vive seu drama que na
verdade expressa uma crise existencial onde no tempo, vê-se uma extemporânea.
Chegando a sua juventude ela não é desgastada fisicamente como os demais
humanos. Permanece jovem, em pleno vigor físico e sem acrescentar ao menos uma
única ruga. Uma abstração mais refletiva pode nos levar a pensar na
reencarnação de Adeline, quem sabe ela renasceu naquele corpo para passar pela
disciplina pedagógica do carma que balancearia suas atitudes boas e más ao
longo das vidas passadas que ela enfrentou. Uma posição explicativa à luz da
filosofia oriental para suas duas "ressurreições" apresentadas nos
acidentes fatais onde ela retorna à vida. Apesar de ser mencionado quanto a
esses fatos esclarecimentos científicos que poucos de nós compreendemos sua
essência. E convenhamos, se isso for possível (a longevidade humana) a técnicas
genética levará centenas de anos à disponibilizar mecanismos para esse
propósito. Sendo um sonho desde a Escola Platônica e os Alquimistas. Lembram da
mitologia da Pedra Filosofal que os homens antigos imaginavam que poderiam
manufaturar um objeto capaz de produzir a conservação da vida em seu estado de
juvenilidade; além de garantir fortuna ao que realizasse esse intento. Dizem
que o místico, mago e alquimista Nícholas Flamel nascido no século XIV viveu
mais de 400 anos. Uma vida rodeada de mistérios e enigmas experimentando algo
parecido com a narrativa de Adeline, mas em seu caso acumulou enorme riqueza
que distribuiu toda aos pobres da Idade Média. Uma ideia cristã discutida no
roteiro do drama é a expressão material da eternidade. Nesse aspecto podemos
inferir pelo drama que é inaceitável na condição à expressão da vida humana. O
processo de morte é inalienável ao Ser ou Ente. Todos e tudo tem a experiência
da morte como requisito do Vir a Ser. Tudo o que é deixa de Ser para depois
voltar a Ser. É o contínuo Devir que os filósofos explicam ao dizer que Tudo
Flui. Impensável o homem se eternizar no planeta não havendo circunstância
razoável capaz de sustentar tal fato. O roteiro de Adeline questiona essa
possibilidade colocando em check o conceito de uma eternidade na forma que
aprendemos na teologia. A ideia da continuidade da vida desenvolvida no enredo
faz pensarmos no big bang. Se o Universo tem 13,3 bilhões de anos e a Terra 4,5
bilhões de anos; se os átomos são divisíveis e destrutíveis fazendo ligações
químicas entre seus prótons, nêutron e elétrons. Possivelmente originamos das
partículas materiais cósmicas quando do ajuntamento para formar a Terra há
bilhões de anos atrás. Lembrando que nossa constituição química básica é
oxigênio, carbono, hidrogênio, nitrogênio, fluor, cálcio, fósforo, enxofre,
potássio, (...), cobalto, urânio, berilo e rádio. São 47 elemento químicos e
enumerei como exemplo apenas 13. Seria uma interpretação esotérica de Gênesis
2:7 “E formou o Senhor Deus ao homem do pó da Terra”. Mencionarei algumas cenas
da filmagem que chamaram-me a atenção. Quando Adeline observa uma gravura
mostrando a devastação do terremoto em São Francisco no ano de 1906, quando
possivelmente ela tinha 21 anos. Isso pensando que na noite do ano novo de 1986
já contava 107 anos, sendo a fatídica data de seu segundo acidente. Essa
hecatombe na Califórnia suscita a lembrança de que a península espera segundo geólogos
um novo terremoto de proporções parecidas com a daquele do início do século XX.
Agora provavelmente agravado com as também projeções da erupção do vulcão
kilauea no Havaí que alcançará Manhattan em Nova Iorque. O estado da Califórnia
é o mais rico da América com aproximadamente US$ 2 trilhões de dólares em seu
produto interno bruto, bem próximo do PIB brasileiro que é que US$ 2,3 trilhões
de dólares. O povo californiano sempre foi "guerreiro" e corajoso
desde os tempos da "corrida do ouro" em seu estado (1848-1855). A
prova disso é a construção da famosa ponte Golden Gate em São Francisco em
plena depressão econômica de 1929. Aos americanos que leem esse texto estejam
tranquilos e em paz. Tudo tem uma causa e efeito; nada acontecendo sem a
permissão da Natureza e seus deuses. Como diz o Eclesiastes bíblico "Tudo
tem o seu tempo determinado e a tempo para todo propósito debaixo do céu".
O cãozinho que Adeline criava foi seu único amigo por alguns anos. Uma
expressão de companheirismo e convivência que, as vezes, supera a dos humanos.
Sua morte produziu angústia e tristeza em seu ser. A cena dela ajoelhada
chorando por essa circunstância é comovente. Um sentimento visto mais nos
budistas e hinduísta que consideram a existência estendida em todos os reinos
da Natureza. Um animal, pode ter sido um humano em vidas passadas que devido
sua retificação cármica acabou regredindo no nível evolutivo. Seu
relacionamento com sua mãe que envelhecia rapidamente e ela continuava vigorosa
e bela é estranho aos nossos olhos. Sua amizade e depois o comprometimento
amoroso com o patrocinador da biblioteca pública onde ela trabalhava dá o tom
romântico ao drama. Também um desfecho trágico e esperançoso da história que se
desenrola a partir do momento em que o pai do favorecedor de livros descobre
que no passado teve um caso com Adeline. Ela continua jovem e linda sem as
marcas do tempo advindas com a velhice. É hilário quando Adeline, parada no
trânsito, é questionada por um policial que lhe pede a carteira, e conferindo
com a idade fica perplexo ao perceber a incompatibilidade dos anos. A história
acaba sem terminar como se Adeline começasse a reviver novamente seu drama.
Agora com uma expectativa de alcançar a velhice e finalmente a morte da qual
todos os seres terão que inexoravelmente passar. O filme, suponho, teve
inspiração no famoso romance da filósofa francesa Simone de Beauvoir
(1908-1968) com o título Todos os Homens são Mortais (1960). Nele é contado a
história do rei de Carmona Fosca nascido no ano de 1279 que bebe o elixir da
imortalidade, vivendo a angústia de não morrer atravessando vários séculos de
existência. A Incrível Historia de Adeline contem em seu figurino e cenas
charme, glamour e beleza. A protagonista Blake Lively (1987- ) é linda e
seu desempenho no drama é nota 10. Tem um caráter firme, é misteriosa, se
expressa com ponderação, fala pouco mas com discernimento, é discreta e serena.
A beleza física e interior da Lively encanta o espectador em especial os
homens. Qualidades vistas em poucas mulheres no mundo ocidental. Esses fatores
já valem os 112 minutos de apresentação da filmagem. Assistindo-o lembrei do
famoso filme de Alfred Hitchcok (1899-1980) Os Pássaros (1963) estrelado pela
famosa e linda atriz Tippi Hedren (1930- ) no papel de Madelaine. Nele
também é misturado a tragédia, motivação e esperança. Abraço. Davi.
Nenhum comentário:
Postar um comentário