Budismo Theravada. Introdução. Sob a perspectiva da prática pode ser dito que o
Budismo consiste de três ensinamentos superiores, (adhisikkha): a ética,
(sila), o desenvolvimento da mente ou meditação, (bhavana) e a
sabedoria, (pañña). Todos esses três elementos são essenciais para
alcançar a libertação do sofrimento. Apenas um ou dois deles não será o
bastante. Em linhas gerais, pode ser dito que a doutrina Budista contida
no Tipitaka,ou ‘três cestos’, está organizada de modo a correlacionar-se
com esses três elementos essenciais. Assim o primeiro ‘cesto’ da Disciplina, (Vinaya),
corresponde ao ensinamento da ética, os Discursos, (Sutta), correspondem
aos ensinamentos de meditação enquanto que o terceiro ‘cesto’, o Ensinamento
mais Elevado, (Abhidhamma), corresponde aos ensinamentos da sabedoria.
Com base nesse modelo, aqueles que têm como meta o objetivo máximo do Budismo
deveriam, além do cultivo da ética e da meditação, aprender também algo do
Abhidhamma. O estudo do Abhidhamma permite a formulação de um estrutura
filosófica prática que poderá ser empregada para vários fins: a investigação
das experiências na prática da meditação de insight e a interpretação dos
ensinamentos contidos nos outros dois ‘cestos’, os Suttas e o Vinaya, cuja
exegese num nível avançado é guiada pelos princípios do Abhidhamma. O
Abhidhamma possui a reputação de ser um ensinamento denso e difícil, talvez
derivado do fato de, originalmente, nas sociedades Budistas tradicionais apenas
monges e monjas estudarem-no, enquanto que as pessoas leigas se contentavam com
os Suttas e algumas narrativas do Vinaya. O Vinaya diz respeito ao Budha e à
comunidade monástica. Abrange a história das suas vidas e da comunidade,
incorporando os julgamentos éticos feitos pelo Budha de acordo com cada situação
individual que conforme o caso resultava numa regra de conduta para toda a
comunidade. Os Suttas são os discursos proferidos pelo Budha e pelos seus
discípulos mais graduados dirigidos a audiências específicas. O Abhidhamma apresenta
os ensinamentos contidos nos suttas num formato abstrato, estruturado, com uma
aparência altamente técnica, empregando esquemas ou matrizes para representar a
totalidade da natureza da mente e matéria. O Abhidhamma consiste de 7
livros: Dhammasangani, Vibhanga, Dhatukatha, Puggalapaññatti,
Kathavatthu, Yamaka ePatthana, cada um deles com o seu respectivocomentário: Atthasalini, (do Dhammasangani),Sammoha-vinodani, (do Vibhanga),
e Pañcappakarana-atthakattha, (os demais cinco livros). Todos
os comentários foram obra de Acariya Buddhaghosa, o mais eminente dos
comentadores do Cânone em Pali. Buddhaghosa era um monge hindu que foi para o
Sri Lanka no século V da era cristã para estudar os antigos comentários
compilados em Cingalês que haviam sido preservados no Mahavihara, o Grande
Monastério que era o centro da ortodoxia Theravada em Anuradhapura. Com base
nesses comentários, Buddhaghosa compôs novos comentários no idioma
internacional do Theravada, atualmente conhecido como Pali. Esses comentários,
compostos com refinamento e coerência doutrinária, não são obras originais que
expressam o pensamento de Buddhaghosa mas versões editadas e sintetizadas dos
comentários antigos. Esses comentários antigos não sobreviveram ao desgaste dos
anos. A obra prima de Buddhaghosa, o Visuddhimagga, é na verdade uma obra de
“Abhidhamma na prática” e os capítulos 14-27 constituem um compêndio resumido
da teoria do Abhidhamma como preparação para a meditação de insight. A Origem do Abhidhamma. O Tipitaka ou
Cânone em Pali foi compilado durante os três grandes concílios que ocorreram na
Índia depois da morte do Budha. O primeiro concílio ocorreu em Rajagaha três
meses depois do Parinibbana do Budha. Nesse concílio se reuniram 500 monges
arahants liderados pelo Ven. Mahakassapa, onde foram recitados todos os
ensinamentos do Budha. A recitação do Vinaya pelo Ven. Upali foi aceita como o
Vinaya Pitaka; a recitação do Dhamma pelo Ven. Ananda ficou estabelecida como o
Sutta Pitaka. Cem anos após o Parinibbana do Budha houve o segundo concílio em
Vesali. O terceiro concílio ocorreu em Pataliputra duzentos anos depois do
Parinibbana do Budha e nesse concílio o Abhidhamma foi recitado. Mas essa
explicação não é suficiente para dar resposta à questão sobre como surgiram
esses textos. Ao contrário dos suttas e dos relatos das regras monásticas no
Vinaya, os livros do Abhidhamma não trazem qualquer informação quanto à sua
origem. Os comentários, no entanto, atribuem essa dissertação ao próprio Budha.
O Atthasalini, que traz o relato mais explícito, menciona que o Buda
concretizou o Abhidhamma na noite da sua iluminação e que a investigação em
detalhe foi realizada durante a quarta semana após a iluminação. Depois disso,
durante o sétimo retiro das chuvas o Budha ensinou o Abhidhamma para as divindades
do Paraíso de Tavatimsa que incluía uma divindade que havia sido antes a sua
mãe. Como demonstração de gratidão para com a sua mãe, que havia falecido sete
dias depois do seu nascimento, o Budha ensinou o Abhidhamma durante três meses,
para que aquela divindade pudesse alcançar a libertação final. A cada manhã,
durante esse período, ele voltava ao plano humano para a sua refeição diária
quando então ensinava os métodos ou princípios da doutrina que ele havia
tratado para o seu discípulo principal Sariputta. A elaboração detalhada dos
ensinamentos do Abhidhamma a partir dos princípios gerais definidos pelo Budha
é atribuída a Sariputta que teria transmitido esses ensinamentos aos seus
discípulos diretos. O Anupada Sutta(MN 111) relata uma análise detalhada dos
processos mentais feita pelo Ven. Sariputta. Muitos outros suttas como por
exemplo o Madhupindika
Sutta (MN 18) e o Uddesavibhanga Sutta(MN 138) também
ilustram situações em que o Buda transmite um ensinamento de forma sumária
cabendo aos seus discípulos mais próximos analisar aquilo que foi dito de forma
resumida. Sob o ponto de vista Theravada o esquema exposto pelo Abhidhamma é
considerado como pertencendo ao domínio dos Budhas, ou seja, não é a invenção do
pensamento especulativo ou discursivo, ou um mosaico de hipóteses metafísicas,
mas a exposição da verdadeira natureza da existência tal como foi compreendida
por uma mente que penetrou a totalidade das coisas tanto nos seus níveis mais
profundos como no seus maiores detalhes. Dado esse caráter, o Abhidhamma
expressa do modo mais perfeito possível o conhecimento onisciente do Budha. É a
manifestação de como as coisas são, compreendidas pela mente de um Buda,
organizadas de acordo com os dois marcos principais dos seus ensinamentos: o
sofrimento e a cessação do sofrimento. Nos países Theravada como o Sri Lanka,
Myanmar e Tailândia, o Abhidhamma é altamente apreciado e reverenciado como o
pináculo das escrituras Budistas. Como exemplo da estima que o Abhidhamma
desfruta, o rei Kassapa V do Sri Lanka (séc. X da era cristã) ordenou que todo
o Abhidhamma fosse inscrito em placas de ouro e o primeiro livro decorado com
gemas preciosas. No entanto, nos círculos acadêmicos existem opiniões distintas
quanto à origem do Abhidhamma, e baseados em estudos comparativos dos diversos
textos disponíveis é traçada uma rota alternativa para os textos canônicos. A
palavra abhidhamma aparece nos suttas, mas em contextos que indicam que era um
assunto de discussão entre os monges, ao invés de um ensinamento transmitido
pelo Budha. Algumas vezes a palavra abhidhamma é encontrada junto com
abhivinaya e podemos supor que os dois termos se referem respectivamente ao
tratamento analítico, especializado, da doutrina e da disciplina monástica. Um
outro fator que os acadêmicos contemporâneos consideram ter sido uma semente no
desenvolvimento do Abhidhamma é o uso de certas listas mestras para representar
a estrutura conceitual dos ensinamentos do Budha. Com o propósito de facilitar a
memorização e visando auxiliar nas explicações, os especialistas na doutrina
dentro da Sangha com frequência formulavam os ensinamentos sob uma forma
esquemática. Esses esquemas, que se baseavam nos conjuntos numéricos que o
próprio Buda usava com regularidade como armação para expor a sua doutrina, não
eram mutuamente exclusivos mas se combinavam e mesclavam de modo a permitirem a
sua integração em listas mestras que se assemelhavam a diagramas em forma de
árvore. Essas listas mestras eram chamadas matikas, ‘matrizes,’ e a
habilidade exigida para o seu uso era algumas vezes considerada como uma das
qualidades de um monge erudito. Para ser competente no uso das matikas era
necessário conhecer não somente os termos e suas definições, mas também a sua
estrutura subjacente e o arranjo arquitetônico que revelavam a estrutura lógica
interna do Dhamma. Uma fase inicial do Abhidhamma pode ter consistido da
elaboração dessas listas mestras, uma tarefa que exigiria um conhecimento
abrangente dos ensinamentos e capacidade para um raciocínio com precisão
técnica rigorosa. Mesmo para os não Budistas que não consideram ter sido o
Budha um ser onisciente, mas apenas um eminente e profundo pensador, parece ser
improvável que o Budha não pudesse ter ciência das implicações filosóficas
e psicológicas dos seus ensinamentos, mesmo que ele não falasse sobre isso
desde o princípio para todos os seus discípulos. Considerando a inegável
profundidade do Abhidhamma, parece mais provável que pelo menos os seus
ensinamentos básicos derivam daquela intuição profunda que o Budha
chamava samma sambodhi, a Perfeita Iluminação. Parece,
portanto, plausível que a tradição Theravada atribua a estrutura e os elementos
básicos do Abhidhamma ao próprio Budha. Uma questão totalmente distinta, é
claro, é a origem da literatura ordenada do Abhidhamma tal como a conhecemos
hoje. Os textos do Abhidhamma, que foram apresentados no terceiro concílio em
Pataliputra, que constituíram o núcleo original do Abhidhamma Pitaka do
Theravada, podem ter continuado a evoluir por alguns séculos mais. No primeiro
século antes da era cristã o Abhidhamma Pitaka, juntamente com o restante do
Cânone em Pali, foi registrado em forma escrita pela primeira vez no
Alokavihara no Sri Lanka. Essa versão aprovada oficialmente marca o ponto
terminal do desenvolvimento dos textos canônicos do Abhidhamma Pitaka no
Theravada. Um outro elemento, que com freqüência é ignorado, é que ao fazer uma
análise comparativa do Abhidhamma com o Sutta Pitaka, são encontrados muitos
suttas, em particular no Samyutta Nikaya, que contêm uma quantidade
considerável de análises típicas do Abhidhamma. São discursos que fazem uso da
linguagem sob a perspectiva da realidade última, (paramattha),empregando
estrita terminologia filosófica e explicando a experiência como processos
condicionados desprovidos de uma entidade ou substância permanente; como
exemplo, os suttas que tratam dos cinco agregados, os dezoito elementos e os
seis meios dos sentidos (khandhas, dhatu, ayatana).
A Filosofia do Abhidhamma. Agora, em que sentido o Abhidhamma pode ser
chamado de filosofia? Façamos a grosso modo uma divisão da filosofia em fenomenologia
e ontologia e vamos caracterizá-las de modo sucinto da seguinte forma: a fenomenologia lida,
como o nome implica, com os “fenômenos”, isto é, com o mundo da experiência
interno e externo. A ontologia, ou metafísica, investiga e
busca a existência e a natureza de uma essência, ou princípio último, que dá
suporte a todo o mundo dos fenômenos. Em outras palavras, a fenomenologia investiga
as questões: O que acontece no mundo da nossa
experiência? Como isso acontece? A ontologia por
outro lado, insiste que a questão “como” não pode ser respondida sem a
referência a uma essência eterna que dá suporte à realidade, podendo essa
essência ser concebida como imanente ou transcendente. Com frequência neste
caso, a pergunta “como” é transformada em “porque”, assumindo a premissa tácita
de que a resposta tem que ser encontrada fora da realidade tal como ela se
apresenta. O Abhidhamma, sem dúvida, pertence à primeira dessas duas divisões
da filosofia, isto é, a fenomenologia. Mesmo o termodhamma, tão
fundamental no Abhidhamma, que inclui as “coisas” corporais bem como materiais,
pode muito bem ser interpretado como “fenômeno”. Portanto, o Abhidhamma não é
uma filosofia especulativa mas descritiva. Com o objetivo de descrever os
fenômenos o Abhidhamma emprega dois métodos complementares: a análise e a
investigação das relações, (ou condicionalidade), dos fenômenos. Os dois livros
mais importantes do Abhidhamma são o Dhammasangani e o Patthana-pakarana.
ODhammasangani é a classificação da existência em três categorias
últimas empíricas: consciência, (citta), fatores mentais, (cetasikas),
e mentalidade-materialidade (nome e forma), (nama-rupa). Nele é
encontrada a análise sistemática dos agregados, (khandhas), bases ou
meios, (ayatana), e elementos, (dhatu). O Patthana-pakarana é
o maior volume compreendendo seis partes. Nele é encontrado o modelo das
relações condicionadas, uma das quatro principais aplicações da doutrina da
origem dependente. Essas quatro aplicações são:
As quatro nobres verdades
Os doze elos da cadeia do vir a ser
O modelo das relações condicionadas
A lei de kamma
O Dhamasangani é em
essência um livro que contém classificações e definições dos termos empregados
no Abhidhamma. Seu enfoque é analítico, dissecando e categorizando as
experiências de acordo com os seus constituintes últimos ou dhammas. O Patthana usa
o método da síntese e mostra como todos esses fenômenos estão relacionados e
condicionados. O Abhidhamma também pode ser considerado como uma sistematização
das doutrinas contidas ou implícitas no Sutta Pitaka. Essas doutrinas são
formuladas no Abhidhamma numa linguagem mais precisa, estritamente filosófica
ou verdadeiramente realista, descrevendo as funções e processos desprovidos dos
conceitos convencionais e irreais que assumem a existência de um agente, de uma
identidade, de uma alma ou substância. Paramattha –
a Realidade Última. De acordo com a filosofia do Abhidhamma existem dois
tipos de realidade – a convencional, (sammuti), e a última, (paramattha).
A realidade convencional é o referencial do pensamento conceitual comum e modos
de expressão convencionais. Isto inclui entidades como seres vivos, pessoas,
homem, mulher, animais e os objetos aparentemente estáveis que constituem o
quadro que percebemos como sendo o mundo. O Abhidhamma defende que essas noções
em última análise não possuem validade pois os objetos que elas representam não
existem por si mesmos como realidades irredutíveis. A sua existência é
puramente conceitual, não real. Eles são o produto de fabricações mentais, não
realidades com uma substância inerente. A realidade última, por outro lado, são
os dhammas: elementos irredutíveis da existência, as entidades
últimas resultantes da correta análise da experiência. Esses elementos são o
nível de redução mais elementar dos fenômenos passíveis de serem
experimentados. São os verdadeiros constituintes da complexa multiplicidade das
experiências. Nos suttas, em geral, o Budha analisa um ser ou indivíduo sob a
forma de cinco tipos de paramatha,os cinco agregados: matéria,
sensação, percepção, formações mentais e consciência. No Abhidhamma a realidade
última é organizada em quatro categorias. As três primeiras – consciência,
fatores mentais e matéria – abrangem toda a realidade condicionada. Os cinco
agregados mencionados nos suttas se encaixam dentro desses três grupos. O
agregado da consciência, (viññana,) está representado no Abhidhamma
pela consciência, (citta), sendo que a palavra citta em
geral é empregada para se referir aos diferentes tipos de consciência que se
diferenciam de acordo com os seus fatores mentais concomitantes. Os três
agregados intermediários são incluídos no Abhidhamma dentro do grupo de fatores
mentais, (cetasika), os estados mentais que surgem juntamente com a
consciência e que desempenham diferentes funções. O Abhidhamma enumera 52
fatores mentais: os agregados da sensação e percepção são considerados cada um
como um fator; o agregado das formações mentais, (sankhara), é
subdividido em 50 fatores mentais. O agregado da matéria é idêntico ao grupo da
matéria no Abhidhamma. No Abhidhamma a matéria está dividida em 28 tipos de
fenômenos materiais. A esses três tipos de realidade condicionada é adicionada
uma quarta realidade que é incondicionada. Essa realidade que não está incluída
nos cinco agregados é Nibbana, o estado de libertação final do sofrimento
inerente aos estados condicionados. Portanto, no Abhidhamma existem ao todo
essas quatro realidades últimas: consciência, fatores mentais, matéria e
Nibbana. Análise da Consciência. Um dos principais
componentes do Abhidhamma é a análise e classificação da consciência. A mente
humana, tão evanescente e tão elusiva, foi submetida a um escrutínio
abrangente, meticuloso e imparcial. A abordagem adotada é de uma rigorosa
fenomenologia que descarta a noção de que na mente pode ser encontrada qualquer
tipo de unidade estática ou substância imanente. No entanto, essa psicologia
tem um fundamento básico na ética e um propósito soteriológico (salvação pela obra de Cristo) que impede que a
análise realista e não metafísica da mente acabe implicando em conclusões de
materialismo ético ou amoralismo teórico e prático. O método de investigação
empregado no Abhidhamma é indutivo,estando baseado exclusivamente
na observação introspectiva imparcial e sutil dos processos mentais. O Budha
conseguiu reduzir o processo de cognição aos seus distintos momentos de
consciência, que dada a sua sutileza e o seu caráter evanescente, não podem ser
observados diretamente por uma mente que não esteja treinada em meditação. Na
mente de cada ser ocorrem distintos tipos de estados mentais benéficos,
hábeis ou saudáveis, e prejudiciais, inábeis ou insalubres. Cada estado
mental saudável tem o seu correspondente oposto insalubre. Da mesma forma como
as criaturas microscópicas numa gota d’água só se tornam visíveis com o uso de
um microscópio, os processos acelerados e de curta duração da mente só são
reconhecidos com o auxílio de um instrumento preciso para o escrutínio mental –
uma mente aprimorada pelo treinamento metódico em meditação. O Anupada Sutta (MN 111) mencionado acima, relata que o
Ven. Sariputta, depois de emergir dos jhanas, analisou as suas realizações
meditativas de acordo com os seus respectivos fatores mentais constituintes.
Essa análise pode ser considerada como precursora da análise mais detalhada
proporcionada pelo Dhamasangani. O Abhidhamma
e o Mestre do Dhamma. Na tradição Theravada a familiaridade com o
Abhidhamma é considerado requisito indispensável para aqueles que querem
ensinar o Dhamma. As características do Abhidhamma que são de particular
importância para alguém que queira ensinar o Dhamma são as seguintes: a
organização sistemática do material doutrinário contido no Sutta Pitaka; o
emprego do raciocínio metódico e ordenado; a definição precisa dos termos
técnicos e sua delimitações; o tratamento de vários temas e situações da vida
diária sob a perspectiva da realidade última, (paramattha); a
maestria do conteúdo doutrinário. O Conhecimento do
Abhidhamma é Indispensável? Frequentemente surge a questão sobre a
compreensão do Abhidhamma, se ela é necessária para o completo entendimento do
Dhamma e para alcançar a libertação. Mesmo no Sutta Pitaka muitos métodos são
ensinados como ‘portas’ para a compreensão e penetração das mesmas Quatro
Nobres Verdades. Nem todas são necessárias para alcançar o objetivo último,
Nibbana, nem todas são adequadas na sua totalidade para todos os tipos de
indivíduos. Na verdade, o Buda ensinou diversas abordagens possíveis e deixou
por conta dos seus discípulos fazerem as suas escolhas pessoais de acordo com as
suas inclinações, circunstâncias e nível de maturidade. O mesmo princípio se
aplica ao Abhidhamma, quer seja no seu conjunto ou aspectos individuais.
Talvez, a melhor explicação da relação entre o Abhidhamma e os suttas tenha
sido formulada pelo Venerável Pelene Vajiranana Mahathera nestes símiles: “O
Abhidhamma é como uma lente de aumento poderosa, mas a compreensão obtida dos
suttas é o próprio olho, que realiza a ação de ver. Ou, o Abhidhamma é como um
frasco de remédio cujo rótulo contém uma análise exata e detalhada do
medicamento; mas o conhecimento adquirido dos suttas é o medicamento em si, que
por si só é capaz de curar a doença”. Abhidhammattha
Sangaha. Este trabalho, e em particular os compêndios da consciência,
fatores mentais, matéria e processo cognitivo, estão baseados no Abhidhammattha
Sangaha que é um livro escrito por Acariya Anurudha. Muito pouco é
conhecido sobre o autor do livro, nem mesmo o seu país de origem ou o período
exato em que ele viveu. Acredita-se que o livro tenha sido composto por volta
do séc. XII da era Cristã. No entanto, a obra que ele compôs é um trabalho de
mestre contendo um resumo da essência do Abhidhamma com uma apresentação que
favorece o seu estudo. Esse livro é hoje o padrão empregado pelos estudantes ao
iniciar seus estudos do Abhidhamma em todo o mundo Theravada. http://www.acessoaoinsight.net.
Abraço. Davi.
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