segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Judas Iscariotes. Parte II.



Nelson. Bom dia. Esse complexo assunto sobre Judas Iscariotes ultrapassa as ponderações da teologia tradicional.  Um vislumbre mais coerente e consistente deve ser procurado em outras fontes de pesquisa como por exemplo a arqueologia, antropologia e linguística. Ciências investigativas que tem o propósito de trazer possíveis argumentos para uma interpretação verossímil de fatos que a tradição espiritual ainda não tem um parecer conclusivo ou uma tendência verossimilhante. O artigo da filosofia esotérica que te enviei sobre o tema tinha esse objetivo, lançar um olhar diferente do usualmente aceito como pressuposto corrente. Então agora examinarei o assunto na perspectiva que entendo como fato hipotético para futuras assertivas lógicas. Judas é um personagem misterioso no relato da história de Jesus pois apesar de terem registros bíblicos de sua ascendência não há um chamamento específico vindo do Mestre Jesus quanto a ele. Isso é verificado com os principais colaboradores (discípulos) como: Pedro, Tiago, João, Filipe e outros que serviram diretamente a causa da fraternidade evangelística, comprometidos e engajados na missão divina do Cristo. Judas está sempre em seu mundo particular mesmo estando junto com os discípulos dando prioridade a seus interesses e necessidades particulares. Ele tinha entre o grupo dos discípulos uma posição elevada sendo o contador e responsável pelas despesas que eram gastar e as receitas que entravam como ofertas e dádivas dos simpatizantes do movimento. Assim podemos inferir que ele era versado nas matemáticas, registrando em relatórios com rigor os números para que o Mestre soubesse o que estava sendo feito com o dinheiro, e como faziam grandes deslocamentos o grupo precisava de um suporte financeiro para essas viagens. Digamos que ele fosse um homem de confiança do Mestre e entre os discípulos um dos poucos que haviam realizado um curso acadêmico em uma das (lembra que segundo o artigo haviam os Nazarenos e os Essênios) escolas da época. Não é dito nas Escrituras Sagradas que ele tivesse esposa ou filhos, sendo isso provável pois como vimos naquele artigo esotérico parece que antes de conhecer o Mestre ele passou por uma formação mística como iniciado de um movimento espiritualista ficando improvável a princípio ser mantenedor de uma família. Como se destacasse nesse grupo acabou adquirindo fama e prestígio assumindo uma posição proeminente criando seu próprio (Os Iscariotes) movimento espiritual religioso. É assim desde os primórdios da humanidade os que tomam posição de organização e coordenação, as vezes mesmo contra a vontade são proclamados os progenitores dos movimentos vanguardistas nas comunidades emergentes. Não há evidencias de quanto tempo Judas tenha ficado com esse grupo e os motivos que o levaram a abandonar as suas fileiras, ingressando no "rebanho" que o Mestre Jesus começava a formar no início de seu ministério. Mas imagino que o Mestre já o conhecia de tempos e que na juventude os dois tivessem cursado alguma escola de aprendizado para estudos espirituais como as citadas acima. Uma possível leitura psicológica de Judas poderia supostamente concluir que houve dois momentos em sua vida: a primeiro antes de entrar no grupo de Jesus, situação que temos poucos elementos para uma presumível análise. A segunda quando participou ativamente do grupo de Jesus de Nazaré junto com os demais discípulos. Os relatos bíblicos quanto a sua pessoa são voltados para uma personalidade individualista, narcisista e descompromissada com a fraternidade humana. Talvez estou exagerando, pois se ele caminhava com o Mestre contribuía com a irmandade universal com sua presteza e envolvimento mesmo que pensemos o contrário. Uma ante moralidade e senso ético vicioso no comprimento do dever da solidariedade demonstrado em passagens quando ele diz: "pra que esse desperdício, poderia ter sido dado aos pobres". Como era "o discípulo que carregava a bolsa" estava mais preocupado com as finanças (em certos momentos) que com as pessoas. Aquela passagem que o Mestre diz: "Tu com um beijo me traístes", mostra seu caráter deformado e necessitado de reparações cármicas. Na última ceia há um misterioso texto onde o Mestre Jesus fala: "Aquele que mete a mão comigo no prato e eu der o bocado esse há de me trair". Como sabemos esse pedaço de pão foi dado a Judas, a presciência divina envolta na predestinação. O cenário da traição estava armado e o determinismo celeste seria cumprido cabalmente. Tanto que grande parte dos discípulos se manifestou perguntando; "sou eu Senhor"? Apenas Judas silenciou assumindo seu amargo e terrível destino.Te falei de mistério nesse texto porque aparenta  ser ilógico a situação previamente definida no caso de Judas. O Eterno segundo penso trabalha com os humanos de duas maneira quanto ao futuro. Primeiro o livre arbítrio é necessariamente prerrogativa do indivíduo em situações de escolha. Nada substitui minha decisão de fazer ou não fazer aquilo que desejo e tenho vontade. A decisão humana é respeitada no céu e na terra pois aquele versículo que diz: "O que é ligado na terra será ligado no céu, e o que é desligado na terra será desligado no céu", presumo basear-se nesse argumento. Segundo somos avaliados quanto ao futuro pela predestinação sendo esse aspecto imagino uma prerrogativa divina em nossas vidas. Existem situações em que fatalmente teremos que passar, como se o destino estivesse antecipadamente traçado, sem possibilidade de fugirmos a ele. Você entende também assim? O debate desses dois termos (predestinação e livre arbítrio) na literatura teológica universal é gigantesco, existindo correntes filosóficas e teológicas que tentam justificar ora um lado, ora outro e algumas acham que o tratamento de Deus para conosco envolve os dois aspecto sendo essa minha posição. Então voltando a Judas, nesse raciocínio os desavisados e precipitados acham que foi usado um determinismo "arbitrário" de Deus. Como se Judas não tendo escolha fosse obrigado a realizar o que fez. Assim alguns autores se omitem em opinar sobre o porque desse tratamento diferenciado em relação a Judas nos evangelhos. Os que falam alguma coisa dizem que Judas possivelmente seria um Ser do Mundo Espiritual manifestado como homem numa Hierarquia Celeste Superior. Difícil entender racionalmente esse pressuposto mas esse é o pensamento da filosofia esotérica, já que os teólogos ficam com uma interpretação superficial demonizando o personagem por suas atitudes viciosas e contraproducentes. Como se nós humanos não pecássemos e só praticássemos atos de justiça. "Ora este homem adquiriu um campo com o preço da iniquidade, e precipitando-se rompeu-se pelo meio, e todas as suas entranhas se derramaram". Esse texto é extremamente negativo, sentimos uma certa repugnância ao lê-lo. Pelo menos é esse meu caso. Evidentemente o homem aqui é Judas e o preço da iniquidade pelo que entendo foi seu ato de traição quanto ao Mestre Jesus. Sabemos que segundo outra passagem bíblica o campo não foi comprado por Judas, assim precisamos de novos elementos para uma assertiva mais coerente.. Outro texto da conta que Judas "arrependido" voltou atrás quanto a aquisição desse campo jogando o dinheiro no pátio do templo perante o Sumo Sacerdote, que deu destinação as trinta moedas de prata recebida como preço da traição do Seu Mestre.  Alguns entendem essa situação que citei como "arrependimento" de "remorso" assim sendo seu ato não é digno de perdão divino pois usou o oportunismo barato para aliviar sua culpa, mas ficamos numa condição difícil pois onde estão os "verdadeiros" originais para tirarmos a prova de qual versão da Bíblia relacionada a esse fato está correta? O próprio dicionário da língua portuguesa confunde as duas palavras e ficamos sem uma compreensão verossímil. A segunda parte desse versículo é imprecisa e sem clareza para um julgamento plausível. Parece que houve um suicídio com um metal cortante que expôs as vísceras ao chão. Fico pensando que motivos levaram o escritor desse texto a uma descrição tão detalhada e friamente exposta de uma ocorrência com um "homem" que traiu o Mestre. Presumo que houve um exagero no noticiário quanto a morte de Judas. Me lembra hoje a imprensa jornalística escrita e televisiva de nossos dias manipulando a opinião pública daqueles que não tiveram acesso aos fatos como aconteceram. Será que os eventos se deram nessas proporções que são mostradas pelos escritores bíblicos. "E isso chegou ao conhecimento dos habitantes de Jerusalém, de maneira que em sua própria língua esse campo era chamado, Aceldama ou campo de sangue". Falei um pouco sobre esse fato no comentário anterior. Mas é interessante pois parece que o fato da morte de Judas deveria ser passado para o máximo de pessoas. O escritor dos Atos dos Apóstolos possivelmente Paulo ou Apolo segundo a tradição da Igreja Católica Romana tinha preocupação recorrente em que a maior parte do povo Judeu soubesse especificamente de como teria ocorrido a morte de Judas. Assim essa situação cooperaria para que se fortalecesse a Nova Comunidade Cristã que emergia daquele sinistro fato. Recordando que as origens Essênias de Judas não agradavam a maior parte do povo judeu pois ele representava um elemento impuro aos olhos da Comunidade Evangélica que se formava em torno do Mestre pois seus vícios e amoralidade eram acentuados em seu comportamento. "Então Judas atirando para o santuário as moedas de prata, retirou-se e foi enforcar". Fica evidente a polêmica levantada quanto a morte de Judas pois os escritores de Atos e do Evangelho de Mateus não se entendem quanto a maneira como isso ocorreu. Plausível é que os dois tem a preocupação de passar para a opinião pública um relato sensacionalista (se houvesse esse termo à época) que chamasse a atenção de todos, mostrando o fim daqueles que se intrometem contra os desígnios estabelecidos pelo Eterno Deus. As trinta moedas de prata foram devolvidas por Judas na presença dos responsáveis pelo templo em Jerusalém. Esse ato não o inocenta como sabemos, mas pelo menos mostra seu sentimos de tristeza por ter cometido a traição e a coragem de não ter ficado com a quantia estabelecida. Será que se Jesus escrevesse essa narrativa sobre a morte do seu discípulo Judas Ele usaria essas palavras tão pesadas e indigestas em seu comentário. Pondero que o Mestre Jesus nunca usaria uma linguagem contenciosa e politizada, (desprovida de amor) direcionada para um propósito político de instituir uma nova religião para a humanidade. De uma coisa presumivelmente temos certeza Judas Iscariotes morreu nos tempo de Jesus mas o modo como isso se deu é ainda um mistério que até o momento não temos acesso com realidade. Abraço. Davi.     

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