Nelson. Bom dia. Esse complexo assunto sobre Judas Iscariotes
ultrapassa as ponderações da teologia tradicional. Um vislumbre mais
coerente e consistente deve ser procurado em outras fontes de pesquisa como por
exemplo a arqueologia, antropologia e linguística. Ciências investigativas que
tem o propósito de trazer possíveis argumentos para uma interpretação
verossímil de fatos que a tradição espiritual ainda não tem um parecer
conclusivo ou uma tendência verossimilhante. O artigo da filosofia esotérica
que te enviei sobre o tema tinha esse objetivo, lançar um olhar diferente do
usualmente aceito como pressuposto corrente. Então agora examinarei o assunto
na perspectiva que entendo como fato hipotético para futuras assertivas
lógicas. Judas é um personagem misterioso no relato da história de Jesus pois
apesar de terem registros bíblicos de sua ascendência não há um chamamento
específico vindo do Mestre Jesus quanto a ele. Isso é verificado com os principais
colaboradores (discípulos) como: Pedro, Tiago, João, Filipe e outros que
serviram diretamente a causa da fraternidade evangelística, comprometidos e
engajados na missão divina do Cristo. Judas está sempre em seu mundo particular
mesmo estando junto com os discípulos dando prioridade a seus interesses e
necessidades particulares. Ele tinha entre o grupo dos discípulos uma posição
elevada sendo o contador e responsável pelas despesas que eram gastar e as
receitas que entravam como ofertas e dádivas dos simpatizantes do movimento. Assim
podemos inferir que ele era versado nas matemáticas, registrando em relatórios
com rigor os números para que o Mestre soubesse o que estava sendo feito com o dinheiro, e
como faziam grandes deslocamentos o grupo precisava de um suporte financeiro
para essas viagens. Digamos que ele fosse um homem de confiança do Mestre e
entre os discípulos um dos poucos que haviam realizado um curso acadêmico em uma
das (lembra que segundo o artigo haviam os Nazarenos e os Essênios) escolas da
época. Não é dito nas Escrituras Sagradas que ele tivesse esposa ou filhos, sendo isso
provável pois como vimos naquele artigo esotérico parece que antes de conhecer
o Mestre ele passou por uma formação mística como iniciado de um movimento
espiritualista ficando improvável a princípio ser mantenedor de uma família. Como se destacasse nesse grupo acabou adquirindo fama e
prestígio assumindo uma posição proeminente criando seu próprio (Os Iscariotes)
movimento espiritual religioso. É assim desde os primórdios da humanidade os
que tomam posição de organização e coordenação, as vezes mesmo contra a vontade
são proclamados os progenitores dos movimentos vanguardistas nas comunidades emergentes.
Não há evidencias de quanto tempo Judas tenha ficado com esse grupo e os
motivos que o levaram a abandonar as suas fileiras, ingressando no "rebanho" que
o Mestre Jesus começava a formar no início de seu ministério. Mas imagino que o
Mestre já o conhecia de tempos e que na juventude os dois tivessem cursado
alguma escola de aprendizado para estudos espirituais como as citadas acima. Uma
possível leitura psicológica de Judas poderia supostamente concluir que houve dois momentos em sua vida: a primeiro antes de entrar no grupo de Jesus, situação que temos poucos
elementos para uma presumível análise. A segunda quando participou ativamente
do grupo de Jesus de Nazaré junto com os demais discípulos. Os relatos bíblicos
quanto a sua pessoa são voltados para uma personalidade individualista,
narcisista e descompromissada com a fraternidade humana. Talvez estou
exagerando, pois se ele caminhava com o Mestre contribuía com a irmandade
universal com sua presteza e envolvimento mesmo que pensemos o contrário. Uma
ante moralidade e senso ético vicioso no comprimento do dever da solidariedade
demonstrado em passagens quando ele diz: "pra que esse desperdício,
poderia ter sido dado aos pobres". Como era "o discípulo que carregava
a bolsa" estava mais preocupado com as finanças (em certos momentos) que
com as pessoas. Aquela passagem que o Mestre diz: "Tu com um beijo me traístes", mostra seu caráter deformado e necessitado de reparações cármicas. Na última ceia há um misterioso texto onde o Mestre Jesus fala:
"Aquele que mete a mão comigo no prato e eu der o bocado esse há de me
trair". Como sabemos esse pedaço de pão foi dado a Judas, a presciência
divina envolta na predestinação. O cenário da traição estava armado e o
determinismo celeste seria cumprido cabalmente. Tanto que grande parte dos
discípulos se manifestou perguntando; "sou eu Senhor"? Apenas Judas
silenciou assumindo seu amargo e terrível destino.Te falei de mistério nesse
texto porque aparenta ser ilógico a situação previamente definida no caso
de Judas. O Eterno segundo penso trabalha com os humanos de duas maneira quanto
ao futuro. Primeiro o livre arbítrio é necessariamente prerrogativa do
indivíduo em situações de escolha. Nada substitui minha decisão de fazer ou não
fazer aquilo que desejo e tenho vontade. A decisão humana é respeitada no
céu e na terra pois aquele versículo que diz: "O que é ligado na terra
será ligado no céu, e o que é desligado na terra será desligado no céu",
presumo basear-se nesse argumento. Segundo somos avaliados quanto ao futuro pela
predestinação sendo esse aspecto imagino uma prerrogativa divina em nossas vidas. Existem situações em que fatalmente teremos que passar, como se o
destino estivesse antecipadamente traçado, sem possibilidade de fugirmos a ele.
Você entende também assim? O debate desses dois termos (predestinação e livre
arbítrio) na literatura teológica universal é gigantesco, existindo correntes
filosóficas e teológicas que tentam justificar ora um lado, ora outro e algumas acham que o
tratamento de Deus para conosco envolve os dois aspecto sendo essa minha
posição. Então voltando a Judas, nesse raciocínio os desavisados e precipitados acham que foi usado um determinismo "arbitrário" de Deus. Como se Judas não tendo escolha fosse obrigado a realizar o que fez. Assim alguns autores se omitem em opinar
sobre o porque desse tratamento diferenciado em relação a Judas nos evangelhos.
Os que falam alguma coisa dizem que Judas possivelmente seria um Ser do Mundo
Espiritual manifestado como homem numa Hierarquia Celeste Superior. Difícil
entender racionalmente esse pressuposto mas esse é o pensamento da filosofia
esotérica, já que os teólogos ficam com uma interpretação superficial
demonizando o personagem por suas atitudes viciosas e contraproducentes. Como
se nós humanos não pecássemos e só praticássemos atos de justiça. "Ora
este homem adquiriu um campo com o preço da iniquidade, e precipitando-se
rompeu-se pelo meio, e todas as suas entranhas se derramaram". Esse texto
é extremamente negativo, sentimos uma certa repugnância ao lê-lo. Pelo menos é
esse meu caso. Evidentemente o homem aqui é Judas e o preço da iniquidade pelo
que entendo foi seu ato de traição quanto ao Mestre Jesus. Sabemos que segundo
outra passagem bíblica o campo não foi comprado por Judas, assim precisamos de novos elementos para uma assertiva mais coerente.. Outro texto da conta que Judas
"arrependido" voltou atrás quanto a aquisição desse campo jogando o dinheiro
no pátio do templo perante o Sumo Sacerdote, que deu destinação as trinta
moedas de prata recebida como preço da traição do Seu Mestre. Alguns
entendem essa situação que citei como "arrependimento" de
"remorso" assim sendo seu ato não é digno de perdão divino pois usou
o oportunismo barato para aliviar sua culpa, mas ficamos numa condição difícil
pois onde estão os "verdadeiros" originais para tirarmos a prova de
qual versão da Bíblia relacionada a esse fato está correta? O próprio
dicionário da língua portuguesa confunde as duas palavras e ficamos sem uma
compreensão verossímil. A segunda parte desse versículo é imprecisa e sem
clareza para um julgamento plausível. Parece que houve um suicídio com um metal
cortante que expôs as vísceras ao chão. Fico pensando que motivos levaram o
escritor desse texto a uma descrição tão detalhada e friamente exposta de uma
ocorrência com um "homem" que traiu o Mestre. Presumo que houve um
exagero no noticiário quanto a morte de Judas. Me lembra hoje a imprensa
jornalística escrita e televisiva de nossos dias manipulando a opinião pública
daqueles que não tiveram acesso aos fatos como aconteceram. Será que os eventos
se deram nessas proporções que são mostradas pelos escritores bíblicos. "E isso
chegou ao conhecimento dos habitantes de Jerusalém, de maneira que em sua
própria língua esse campo era chamado, Aceldama ou campo de sangue". Falei
um pouco sobre esse fato no comentário anterior. Mas é interessante pois parece
que o fato da morte de Judas deveria ser passado para o máximo de pessoas. O
escritor dos Atos dos Apóstolos possivelmente Paulo ou Apolo segundo a tradição
da Igreja Católica Romana tinha preocupação recorrente em que a maior parte do
povo Judeu soubesse especificamente de como teria ocorrido a morte de Judas.
Assim essa situação cooperaria para que se fortalecesse a Nova Comunidade
Cristã que emergia daquele sinistro fato. Recordando que as origens
Essênias de Judas não agradavam a maior parte do povo judeu pois ele
representava um elemento impuro aos olhos da Comunidade Evangélica que se
formava em torno do Mestre pois seus vícios e amoralidade eram acentuados em
seu comportamento. "Então Judas atirando para o santuário as moedas de
prata, retirou-se e foi enforcar". Fica evidente a polêmica levantada
quanto a morte de Judas pois os escritores de Atos e do Evangelho de Mateus não
se entendem quanto a maneira como isso ocorreu. Plausível é que os dois tem a
preocupação de passar para a opinião pública um relato sensacionalista (se
houvesse esse termo à época) que chamasse a atenção de todos, mostrando o fim
daqueles que se intrometem contra os desígnios estabelecidos pelo Eterno Deus.
As trinta moedas de prata foram devolvidas por Judas na presença dos
responsáveis pelo templo em Jerusalém. Esse ato não o inocenta como sabemos,
mas pelo menos mostra seu sentimos de tristeza por ter cometido a traição e a
coragem de não ter ficado com a quantia estabelecida. Será que se Jesus escrevesse essa narrativa sobre a morte do seu discípulo Judas Ele usaria essas
palavras tão pesadas e indigestas em seu comentário. Pondero que o Mestre Jesus
nunca usaria uma linguagem contenciosa e politizada, (desprovida de amor)
direcionada para um propósito político de instituir uma nova religião para a
humanidade. De uma coisa presumivelmente temos certeza Judas Iscariotes morreu
nos tempo de Jesus mas o modo como isso se deu é ainda um mistério que até o
momento não temos acesso com realidade. Abraço. Davi.
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