sábado, 30 de agosto de 2014

A Verdade é uma Terra Sem Caminhos.

Irmã Sigma desculpe usar suas palavras para embasar meus argumentos, mas fica embaraçoso pra mim atender (exceção relacionada as cartas de pessoas desconhecidas) seu pedido reconhecendo ter sido feito com sinceridade e verdade. Desde que nos conhecemos sua discrição e bom senso manifestam sua maturidade e intimidade com a Divindade Superior. Requisitos primordiais para se ter equilíbrio mental e emocional quando chegam as adversidades, contratempos e surpresas em nossa cotidianidade. Percebeu na carta anterior a complexidade que é hoje eu conseguir me desvencilhar da filosofia esotérica, pois começo falando como cristão e no desenvolver do argumento misturo os conceitos tornando os pressupostos um único raciocínio. Nesse percurso de minha pouca trajetória nos estudos introdutórios da Teosofia tenho acumulado perdas de alguns irmãos sendo isso motivo de tristeza pois infiro que as pessoas têm poucas sensibilidades em relação (não estás incluída) ao misticismo esotérico. Isso porque me restrinjo ao máximo para não compartilhar com aqueles que manifestavam mais dogmatismo e crenças exclusivistas. Mesmo assim a grande maioria prefere ficar envolta em verdades e conceitos absolutos com uma falsa impressão de segurança e cobertura que lhes assegura certa paz e tranquilidade. Entendo a escolha e acho legítima a busca que cada pessoa tem quanto a sua espiritualidade e religiosidade pois daremos contas de nós mesmo a Deus. Também nessa perspectiva de investigação da espiritualidade humana que realizo não existe lugar para proselitismo e discipulado baseado em credo religioso. A Teosofia entende que cada um tem o direito de exercer a crença que melhor lhe convier e praticar seu ensino exotérico segundo exposto em seu (credo) regimento doutrinal. Portanto o ambiente Teosófico é baseado no livre pensamento e todos tem o direito de expressar suas opiniões concordando ou discordando dos argumentos filosóficos, científicos e místicos que ela apresenta. É dito em  II Coríntios 5: 10 que "Porque todos devemos comparecer ante o Tribunal de Cristo, para que cada um receba o que tiver feito por meio do corpo, ou bem ou mal". Reconheço que tens usado de paciência comigo inúmeras vezes quando lhe escrevi sobre assuntos com elementos da filosofia oculta. Notório está que desejas manter nossa amizade pois a irmandade já adquirimos como cristãos, mas penso, interpretando seus argumentos que deve ser separada do ensinamento hermético sem mencioná-lo em minha fala dirigida à você. Essa é a questão que venho refletindo: como fazer com que meus pensamentos ao lhe escrever se desvinculem dos conceitos (ocultos) que estão impregnados em minha mente? Parece uma incongruência como aquelas questões matemáticas que levam centenas de anos para serem resolvidas e algumas nunca serão. Um exemplo típico é a quadratura do círculo que é um problema proposto pelos antigos geômetras gregos (mais ou menos 500 AC) consistindo em construir um quadrado com a mesma área de um dado círculo servindo-se somente de uma régua e um compasso em um número finito de etapas. Em 1882 o matemático alemão Ferdinand Lindermann (1852-1939) provou que pi (3,14159 ... ao infinito) é um número transcendente, isto é, não existe um polinômio com coeficientes inteiros ou racionais não todos nulos dos quais pi seja uma raiz. Como resultado disso, é impossível exprimir pi com um número finito de números inteiros, de frações racionais ou suas raízes. A transcendência de pi estabelece a impossibilidade de se resolver o problema da quadratura do círculo: é impossível construir, somente com uma régua e um compasso, um quadrado cuja área seja rigorosamente igual à área de um determinado círculo. Resumindo em 1769 o sueco Emanuel Swedenborg (1688-1772) disse que o processo da quadratura do círculo, por requerer um número infinito de etapas poderia ser feito por Deus que é infinito. A analogia Sigma é para mostrar como estou ( ... ) preciso de sua amizade pois me é caríssima mas o preço que tenho que pagar por ela está além do que tenho à oferecer. Assim fica um problema insolúvel com tendência para um esquecimento daquilo que não se consegue esquecer levando para futuras vidas. Estou impregnado dos conceitos ocultos e tudo que falo está misturado ao mesmerismo (um magnetismo descoberto pelo alemão Franz Anton Mesmer (1734-1815) que conceituava um estado particular de vibração um tom de movimento sendo um fluído universal) e têm momentos que sinto não ser eu quem escreve parecendo que sou tomado por uma energia vinda de correntes arquetípicas dos pensamentos dos antigos mestres da Sabedoria Divina (Gnose). Também me preocupo com você e não desejo que faças nada com a intenção de me agradar por causa da nossa amizade (sinto que o que fazes é de coração puro e singelo) apenas, sendo que reiteradamente me admoestastes induzindo a tomar um posicionamento.  Entendo que deves priorizar seus sentimentos e emoções (como tens feito) alinhando-os a sua nobre vontade e experiência com o Cristianismo advindas de sua intimidade e comunhão com o Absoluto e Sempiterno. Dando atenção a sua intuição vinda de sua consciência que funciona como o Tribunal de Cristo em nossa vida produzindo discernimento daquilo que é autentico ou inautêntico em nossa experiência pessoal com Deus.  Não sei o que fazer logicamente ( ... ) pois nessa hora que preciso do Mestre ao meu lado ele parece que me deixou sozinho a resolver essa situação. Talvez você esteja compreendendo pouco do que estou falando pois nesses momentos ficamos pasmados e faltam palavras e raciocínio para externar com clareza o que se pretende. Estou num impasse dum lado quero sua amizade (reconhecendo que não tenho o direito de tê-la irrestritamente) mas do outro desejo viver a filosofia esotérica, pois em suas observações se entendi corretamente não queres que comento temas relacionados ao hermetismo (lacrado, oculto ou enigmático). Assim como não conseguirei desvincular de meus argumentos a filosofia oriental fico impossibilitado de cumprir o requisito "pedido" por você para que nossa amizade (comunicação) continue aberta e acessível. Desse modo se evidencia um inconveniente ( ... ) podendo prejudicar seu desenvolvimento no Cristianismo causando confusão em seus princípios adquiridos ao longo de sua trajetória espiritual. Concordo que nem todos os cristãos têm esse desprendimento de acoplar em seus conceitos históricos realidades que são plausíveis em outras tradições e culturas. Realmente somos ainda muito estreitos e supersticiosos agarrando-nos com toda força que temos a nossos axiomas e filosofias de vida. O Outro (nosso próximo) com seus pressupostos diferentes dos nossos filtramos em nossa consciência intelectiva. Aquilo que é adequado à nosso ponto de vista tendemos a aceitar. Mas o que não pertence (causa estranheza) ao nosso mundo interior e exterior assumimos uma posição de indiferença no sentido ameno do termo, sendo em alguns casos o extremo quando nos opomos ou criticamos velada ou abertamente. Uma atitude natural de nossa constituição pouco evoluída e centrada em nossos interesses e necessidade. Acho que se não tivesse tido uma experiência plasmada em mim da "verdade como uma terra sem caminhos" como disse Jiddu Krishnamurti (1895-1986) seria alguém ultraortodoxo (extremamente radical em tudo). Coisa que não quero e não desejo que aconteça de forma nenhuma pois penso que ao submeter-me a esse "pedido" estarei sendo parcimonioso com minha espiritualidade atual. Comparo hoje a "verdade" com a figura de um arco íris por sua beleza encantadora e sua diversidade de cores que são: vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, índigo e o violeta. Mais o ultra violeta e o infra vermelho e uma infinidade de tonalidades que os nossos sentidos visuais não conseguem perceber. A "verdade" é alegoricamente uma decoração que se faz pela reunião de pequenas peças coloridas de vidro, de pedra ou de outro material. As peças são assentadas de forma a produzir um desenho sobre alguma superfície que poderíamos inferir como sendo o Universo.  Desagradando o Mestre que tem confiado em mim, mesmo sendo reprovado no primeiro momento como neófito iniciante e recebendo uma nova oportunidade para ser incluído na Comunidade dos Candidatos a Iniciados nos Mistérios Ocultos. Buda (536-463) diz: "Você é seu próprio Mestre. Tudo depende de você". Veja como é difícil pra mim essa questão pois envolve conceitos éticos filosóficos espirituais sendo que para um catecúmeno (aprendiz) é questão de honra, submissão e sujeição a Ordem Egrégia. Deixo claro que não quero sua mudança de "referencial" apenas porque estou tratando desse assunto pois sua decisão é irrevogável e irretratável estando intrínseco ao seu coração como foi proposto. Amiga Sigma precisava lhe falar essas coisas pois estava sentindo (peso) uma grande cobrança interior. Não compreendo porque o Mestre tem insistido em mim pois já dei provas de minha incompetência e inconsistência moral e emocional para ingressar nos estudos esotéricos e mesmo assim ele não cede ao seu objetivo. Percebeu que misturo os conceitos cristãos com os esotéricos e isso não é bom para sua genuína experiência cristã adquirida ao longo dos anos.  Continuamos como irmãos em Cristo. Sua família é (dê um beijo no pequeno Alefe por mim) especial. Lembranças a todos e espero estar presente na inauguração de seu novo ambiente de convivência. Saúde. Um fraternal abraço. Guímel
    

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