sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Comentários sobre o dialogo que Eliphas Levi teve em uma visão. Parte II.

Amigos leitores. Penso que todos vocês estão preparados e habilitados à acessarem o Mosaico Espiritual. Acredito na maturidade e no bom senso daqueles que se interessam pelos assuntos aqui abordados. Como estamos num âmbito de pesquisa e investigação nos depararemos com temas que irão de encontro a nossos conceitos formados desde a catequese religiosa ainda quando éramos crianças.  Como cristãos estranhamos quando nossos dogmas são confrontados com outros argumentos que manifestam visão diferente daquela que foi nos apresentada no passado. Senti a necessidade de embasar os leitores com mais informações sobre o que falamos na biografia do ocultista Eliphas Levi (1810-1875). Especificamente naquele assunto que foi abordado sobre a personificação de Satã. Na visão que Eliphas teve um jovem lhe aparece e os dois travaram o seguinte diálogo: "Mas, finalmente, quem sois vós? perguntei-lhe, então, levantando-me. Vós negastes minha existência, respondeu-me ele, chamo-me Deus. Os imbecis denominam-me Satã". Poderia fazer um comentário sobre essa conversação daquilo que até agora tenho aprendido sobre os mistérios ocultos, mas achei por bem usar a literatura esotérica escrita por aqueles que se deixaram ser usados como canais da Sabedoria Divina Antiga. Assim tomarei como argumento para elucidar o diálogo, dois livros o primeiro é Cartas dos Mahatmas para A. P. Sinnett, volume II páginas 378-380. E o segundo é Ísis sem Véu de Helena P. Blavatsky (1831-1891), volume IV páginas 131-133. "Satã. Por Eliphas Levi. O Satã é apenas um tipo, hoje diríamos um arquétipo, e não um personagem real. Ele é o tipo oposto ao tipo Divino, o necessário fracasso dele em nossa imaginação. É a sombra revoltosa que torna visível para nós a luz infinita do Divino. Se Satã fosse uma personagem real, haveria dois Deuses, e o credo dos maniqueístas seria verdadeiro. O Maniqueísmo é uma filosofia religiosa sincrética e dualística fundada e propagada por Maniqueu (216-276), filósofo cristão do século III, que divide o mundo simplesmente entre Bom, ou Deus, e Mau, ou o diabo. A matéria é intrinsecamente má, e o espírito, intrinsecamente bom. Com a popularização do termo, maniqueísta passou a ser um adjetivo para toda doutrina fundada nos dois princípios opostos do Bem e do Mal. Satã é uma concepção imaginária do absoluto no mal. Uma concepção necessária para a completa afirmação da liberdade da vontade humana, que com ajuda deste absoluto imaginário, parece capaz de contrabalançar até mesmo todo o poder de Deus. É o mais audaz, e talvez o mais sublime dos sonhos do orgulho humano. "Vocês serão como deuses ao saber do bem e do mal", diz a serpente alegórica da Bíblia. Realmente, fazer do mal uma ciência é criar um Deus do mal, e se algum espírito puder resistir eternamente a Deus, já não há mais um, mas dois Deuses. Para resistir ao Infinito, é necessária uma força infinita, e duas infinitas opostas uma à outra devem neutralizar-se mutuamente. E se o mal é infinito e eterno, porque é contemporâneo da matéria, a consequência lógica seria que não há nem Deus nem demônio, como Entidades pessoais, apenas Um Princípio ou Lei. Não Criado, Infinito, Imutável e Absoluto. Mal ou Demônio, quanto mais profundamente ele cai na matéria. O Bem ou Deus, assim que ele é purificado desta última e se torna novamente puro e Imaculado Espírito, ou o Absoluto em sua subjetividade eterna, imutável. Se a resistência da parte de Satã é possível, o poder de Deus não existe mais, Deus e demônio destroem-se mutuamente, e o homem permanece sozinho. Ele fica sozinho com os fantasmas dos seus deuses. A esfinge híbrida, o touro de asas, que equilibra em sua mão humana uma espada cujos relâmpagos oscilantes levam a imaginação humana de um erro para outro, e do despotismo da luz para o despotismo da escuridão. A história da miséria do mundo é apenas o romance da guerra dos deuses, uma guerra ainda não terminada, enquanto o mundo cristão ainda adora um Deus no demônio, e um demônio em Deus. O antagonismo de poderes  é anarquia no dogma. Assim, à igreja que afirma que o demônio existe, o mundo responde com uma lógica assustadora: então Deus não existe. E é inútil tentar escapar deste argumento inventando a supremacia de um Deus que permite a um demônio produzir a condenação dos homens. Tal permissão seria uma monstruosidade, e seria equivalente a uma cumplicidade, e o deus que pode ser cúmplice deo demônio não pode ser Deus. O demônio dos dogmas é uma personificação do Ateísmo. O demônio da filosofia é o ideal exagerado do livre arbítrio humano. O demônio real ou físico é o magnetismo do mal. Evocar o demônio é apenas compreender por um instante esta personalidade imaginária. Isto envolve o exagero, além dos limites, na própria pessoa, da perversidade e da loucura, através dos atos mais criminosos e destituídos de sentido. O resultado desta operação é a morte da alma através da loucura, e frequentemente também a morte do corpo, como se fosse atingido por um raio, em uma congestão cerebral. o demônio sempre perturba, mas nunca dá nada em retribuição. São João o chama de "a Besta" porque sua essência é a loucura humana". Agora o livro Ísis Sem véu. "Essa extensa ilustração pode mostrar que o Satã do Velho Testamento, o diabolos ou diabo dos Evangelhos e das Epístolas Apostólicas são personificações do princípio antagônico da matéria, necessariamente inerente a ele, e não mau no sentido moral do termo. Os judeus, vindo do país persa, trouxeram consigo a doutrina de dois princípios. Não puderam trazer o Avesta, pois ele não estava escrito. Mas eles, queremos dizer os Assideus (Chasidim) e Parsis, investiram Ormuzd com o nome secreto em hebraico, e Ahriman, com o nome dos deuses do lugar. Satã dos hititas e diabolos, ou antes diabolos, dos gregos. A Igreja primitiva, pelo menos sua parte paulina, a dos gnósticos e seus sucessores refinaram posteriormente as suas ideias e a Igreja Católica as adotou e adaptou, enquanto passava pelo fio da espada os seus promulgadores. A Igreja Protestante é uma reação contra a Igreja Católica Romana. não é necessariamente coerente em suas partes, mas uma multidão de fragmentos que se chocam ao redor de um centro comum, atraindo-se e repelindo-se. Algumas partes se dirigem centrípetamente para Roma, ou para o sistema que fez a velha Roma existir. Outras ainda são empurradas pelo impulso, centrífugo para longe da ampla região etérea de Roma, ou mesmo da influência cristã. O diabo moderno é o legado principal da Cibele romana, "Babilônia, a Grande Mãe das religiões idólatras e abomináveis da terra". Mas talvez se pudesse argumentar que a teologia hindu, tanto bramânica quanto budista, está tão impregnada da crença em diabos objetivos quanto à própria cristandade. Há uma pequena diferença. A sutileza da mente hindu é uma garantia suficiente de que as pessoas educadas, a porção mais culta pelo menos dos teólogos bramânicos e budistas, consideram o diabo segundo uma outra luz. Para elas o diabo é uma abstração metafísica, uma alegoria do mal necessário, ao passo que para o cristão o mito se tornou uma entidade histórica, a pedra fundamental sobre a qual se erigiu a Cristandade, com seu dogma de redenção. Ele é tão necessário, como o mostrou Roger Gougenot des Mousseaux (1805-1876), para a Igreja, quanto a besta do capítulo dezessete do Apocalípse para seu leitor. Os protestantes de fala inglesa, não considerando a Bíblia suficientemente explicativa, adotaram a diabologia do celebrado poema Fausto de Johann Goethe (1749-1832), John Milton (1608-1674), primeiramente um puritano e depois quietista e unitário, sempre considerou sua grande produção como uma obra de ficção, ainda que ajustada às linhas gerais de diferentes partes das Escrituras Sagradas. O lalda-baoth dos ofitas foi  transformado num anjo de luz e na estrela da manhã e feito o diabo, no primeiro ato do Diabolic Drama. Assim, o capítulo doze do Apocalipse foi traduzido para o segundo ato. O grande Dragão Vermelho foi identificado com a mesma ilustre personagem de Lúcifer, e a última cena é a sua queda, como a de Vulcano - Hefaistos, do céu, para a ilha de Lemnos, as hostes fugitivas e seu líder "caem no abismo tenebroso" do Pandemonium. O terceiro ato é o Jardim do Éden. Satã preside um concílio num salão erigido por ele para seu novo império e determina empreender uma expedição exploradora à procura do novo mundo. O ato seguinte refere-se à queda do homem, sua passagem pela Terra, o advento do Logos, ou Filho de Deus, e sua redenção da Humanidade, ou sua porção eleita, como se deu. Esse drama de Paradise Lost compreende a crença não formulada dos "cristãos protestantes evangélicos" de fala inglesa. Não crer em suas características principais equivale, em seu ponto de vista, a "negar Cristo" e a "blasfemar contra o Espírito Santo". Se John Milton houvesse suspeitado de que seu poema, em vez de ser equiparado à Divina Comédia Humana de Dante Alighiere (1265-1321), seria considerado como um outro Apocalipse suplementar à Bíblia e complementar da sua demonologia. É mais provável que tivesse optado pela pobreza mais resolutamente e retirado o livro do prelo. Um poeta posterior, Robert Pollock, inspirando-se nessa obra, escreveu uma outra, The Course of Time, que também foi tida durante algum tempo como uma nova Escritura, mas o século XIX felizmente recebeu uma outra inspiração e o poeta escocês está caindo no esquecimento. Talvez devamos dar uma breve notícia do diabo europeu. Ele é o gênio que intervém na bruxaria, na feitiçaria e em outros malefícios. Os padres, tomando a ideia dos "fariseus", transformaram em diabos os deuses pagãos. Mithra, Serapis e outros. A Igreja Católica Romana denunciou a adoração antiga como comércio com os poderes da escuridão. Os malefic e as feiticeira da Idade Média eram nada menos do que adeptos da adoração proscrita. A Magia nos tempos antigos fora considerada como ciência divina, sabedorai e conhecimento de Deus. A arte de curar nos templos de Esculápio e nos santuários do Egito e do Oriente sempre foi mágica. Até mesmo Darius Hystaspes, que exterminou os magos Medos e expulsou, da Babilônia para a Ásia Menor, os Teurgos caldaicos, fora instruído pelos bramanes da Ásia Superior e, finalmente, enquanto estabelecia o culto de Ormusde, foi  ele próprio denominado de instituidor do magismo. Tudo agora está mudado. A ignorância foi entronizada como a mãe da devoção. A erudição foi condenada e os sábios prosseguiram em sua obra científica com o perigo de suas vidas. Foram obrigados a expor suas ideias em uma linguagem enigmática compreendida apenas pelos seus adeptos e a aceitar o opróbrio, a calúnia e a pobreza. Os fiéis da adoração antiga foram perseguidos e condenados à morte por feitiçaria. Os albigenses, descendentes dos gnósticos, e os Waldenses, precursores dos protestantes, foram caçados e exterminados sob acusações semelhantes. O próprio Martinho Lutero (1483-1546) foi acusado de conivência com Satã em pessoa. Todo o mundo protestante ainda está sob o peso da mesma imputação. Não há distinção nos julgamentos da Igreja entre dissensão, heresia e feitiçaria. E, exceto onde a autoridade civil lança sua proteção, eles representam ofensa capitais. A liberdade religiosa é vista pela Igreja como intolerância. Mas os reformadores foram alimentados com o leite de sua mãe. Lutero era tão sedento de sangue quanto o Papa. John Calvino (1509-1564) mais intolerante do que Leão ou Urbano. Trinta anos de guerra despovoaram distritos inteiros da Alemanha, tanto protestantes quanto católicos. O novo credo, também, abriu suas baterias contra a feitiçaria. Os códigos legais carminaram-se com uma legislação sangrenta na Suécia., na Dinamarca, na Holanda, na Grã - Bretanha e na Commonwaealth norte - americana. Quem quer que fosse mais liberal, mais inteligente, que expressasse mais livremente o seu pensamento do que seus companheiros, era preso e morto. As fogueiras que foram apagadas em Smithfield foram novamente acesas para os magos. Era menos arriscado rebelar-se contra um trono do que perseguir um conhecimento abstruso asém dos limites da linha marcada pela ortodoxia. No século XVII, Satã fez uma investida na Nova Inglaterra, em Nova Jersey e Nova York e em muitas das colônias sulistas da América do Norte, e Cotton Mather (1663-1728) nos fornece as principais crônicas sobre suas manifestações. Alguns anos depois, visitou o Presbitério de Mora, na Suécia, e a vida cotidiana na Dalecarlia foi modificada com a queima de crianças vivas e a flagelação de outras às portas da igreja, nos dias de Sabbath. O ceticismo dos tempos modernos, todavia, recolheu aos conventos a crença na feitiçaria, e o diabo de forma antropomórfica pessoal, com seu pé à baco e chifres de bode à Pã, só tem lugar nas Cartas Encíclicas e outras efusões da Igreja Católica Romana. A respeitabilidade protestante não o permite ser nomeado, senão em voz baixa no púlpito. Relatada a biografia do diabo desde seu primeiro acidente na Índia e na Pérsia, seu progresso entre os judeus e na teologia cristã antiga e recente até as últimas fases da sua manifestação, examinemos agora algumas opiniões dominantes nos primeiros séculos cristãos". Paramos por aqui com as abordagens referentes a tentativa de explicar a visão que teve Eliphas Levi quando foi dito que o diabo é o oposto de Deus (isso em outras palavras). Deixo claro que ainda não tenho uma opinião formada sobre o assunto, carecendo de mais conhecimento lógico e uma melhor consistência filosófica esotérica. Prefiro continuar em minhas investigações procurando aprender os pressupostos que envolvem a questão, mas entendo que as ponderações acessórias que mencionamos nos dois livros trazem elementos novos para a formação de um presumível juízo razoável sobre esse tema. Abraço. Davi.     

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