quarta-feira, 3 de setembro de 2014

A Tradição dos Mistérios. Parte II.

(C.042) Continuando nossas ponderações segundo as tradições antigas o Mestre Jesus formou seus conhecimentos filosóficos e espirituais na Escola dos Nazarenos. Esse termo (Nazareno) tem origem no hebraico nétser ou no aramaico natsaraya sendo seu significado apesar de incerto rebento ou renovo, ou seja, a haste que se desenvolve na base de certas plantas e que, separadas, poderão propagar a espécie. De forma abrangente (Nazareno) poderá ser o gentílico aplicável a qualquer pessoa nascida ou moradora em povoações ou locais geográficos de nome Nazaré. Em sentido mais restrito Nazareno costumava ser utilizado para se referir ao mais conhecido habitante da antiga vila de Nazaré, na região da Galiléia, cerca de 100 quilômetros a norte de Jerusalém, a que a Bíblia chama de Jesus, bem como aos seus seguidores. Jesus, sua mãe Maria e o marido José viveram grande parte de suas vidas na localidade de Nazaré. Assim, visto que desde a infância foi criado como filho do carpinteiro local, ele veio a ser conhecido como Jesus o Nazareno ou Jesus de Nazaré. O termo Nazareno também pode designar um grupo religioso ao qual Jesus talvez tenha pertencido chamado Os Nazarenos. Eles eram iniciados nos mistérios ocultos inclusive tendo rituais e cerimoniais para cumprirem os preceitos da Ordem pois segundo a Torah exotérica no livro de Números 6: 1-21 em virtude da consagração o Nazireu devia abster-se de tomar certos alimentos e bebidas fermentadas, de cortar o cabelo e tocar em cadáver. Além de não comer carne em muitas circunstâncias, isso é relatado em Romanos 14:21 que diz: "Bom é não comer carne nem beber vinho". Essas exigências particulares parecem mencionar os seguintes princípio: manter-se mentalmente são e cerimonialmente puro. Alguns textos Bíblicos atestam esse argumento de que o Mestre esteve entre os Nazarenos como vejamos: João 18; 4-5 "Jesus, portanto, sabendo todas as coisas que lhe aconteceriam, saiu e disse-lhes: A quem procurais? Responderam-lhe: A Jesus, O Nazareno. Disse-lhes: Sou eu". Atos 22:8 "Eu respondi: Quem és, Senhor? E ele me disse: Eu sou Jesus, O Nazareno a quem persegues". João 19:19 "Pilatos escreveu também um título e o pós em cima da cruz. Estava escrito: Jesus Nazareno o Rei dos Judeus". Portanto podemos concluir que Jesus após ter sido iniciado nesse movimento religioso espiritual formou os Novos Nazarenos junto com seus discípulos e seguidores. Tradições também antigas dão conta que O Mestre Jesus teve contato ampliando comunicação com outro movimento religioso espiritualista em sua época chamado Os Essênios. Numa conhecida comunidade na localidade de Qumran em 1955, nas regiões de zona árida e quente próxima ao Mar Morto, foram encontrados jarros com manuscritos que continham documentos, revelações, leis, usos e costumes de uma comunidade chamada de Essênios. O Essenismo é transcrito pela primeira vez por Filon de Alexandria (20 AC 50 AD) e Flávio Josefo (37-100), onde citavam que era uma Ordem Religiosa que havia se afastado do Judaísmo tradicional por motivos desconhecidos sendo seus costumes diferenciados em determinados pontos do povo Judeu. Iniciaram seus estudos nos séculos que vão desde o ano 150 AC até 70 DC. O Essenismo foi melhor revelado na história oficial, pela descoberta dos famosos Manuscritos do Mar Morto, que são uma coleção de centenas de textos e fragmentos de texto encontrados em cavernas de Qumran. Mesmo após décadas de trabalho e controvérsias, a tradução integral dos manuscritos do Mar Morto foi completada em 2002. Os Essênios alimentavam-se basicamente de frutas e legumes. Banhavam-se em águas, para equilibrar o corpo, supondo-se que dessa tradição tenha surgido o rito do batismo pois João Batista era um Essênio segundo as tradições. Retomando nosso percurso histórico pela Saga da Ciência Sagrada após essa importante inferência a respeito da pessoa do Mestre Jesus. Assim devido as sucessivas quedas da humanidade ao longo das Raças Raízes que assimilaram os contingentes populacionais dos tempos passados houve a necessidade dos mistérios maiores serem guardados em organizações estatais. Esses mistérios estiveram sob o poder de muitos Iniciados e Adeptos da filosofia Esotérica para que não fossem profanados (violados) seus segredos que são permitidos aos que manifestam pureza de espírito e moral ilibada pelo comportamento e temperamento pessoal. Esses (Iniciados) estavam como depositários dos mistérios Egípcios, Cretenses, Judaicos (Cabala, Midrashin, Zohar, Talmud, Torah), Sufismo, Gnosticismo. Da Idade Média até hoje temos os ensinamentos ocultos guardados por Escolas de Fraternidade e Movimentos pela Causa Universal da Compreensão Humana tipificados pelos antigos Templários, Rosas Cruzes, Maçons, Nova Era, Teosofia e outros. Tudo começou com a Civilização da Atlântida que submergiu nas águas e muito do conhecimento oculto que na época estava guardado em papiros e pergaminhos sucumbiram, ficando alguns fragmentos que foram levados pelos sobreviventes atlantes que estavam comprometidos com esses segredos para o Egito. Os Faraós Iniciados na filosofia oculta construíram as pirâmides e conservaram em urnas nas catacumbas dos príncipes egípcios o tesouro da Sabedoria Divina que restou da destruição da Atlântida. Haviam muitos templos e santuários em Atlântida que eram locais de celebrações ritualísticas de invocações e evocações das Divindades Superiores que protegiam os mistérios e dentre vários processos  como o numinoso os Iniciados adquiriam conhecimentos novos das correntes arquetípicas do mundo dos pensamentos e das formas concretas e abstratas. Antes da época do profeta Moisés (1200 AC) que libertou o povo Hebreu do cativeiro no Egito as pirâmides eram centros de iniciação em mistérios. Platão (428 AC 347) no dialogo Timeu e Crístias fala da lenda sobre A Atlântida. Numa viagem ao Egito o legislador ateniense Solon (638 AC 538) teria ouvido de sacerdotes de Sais no Egito a tradição sobre a Atlântida. Seu neto Crítias por sua vez a narrara a Sócrates (469 AC 399). A Atlântida de Platão seria uma ilha vastíssima perto das Colunas de Hércules (Estreito de Gibraltar) e fora habitada pelos atlantes, descendentes de Atlas, filho de Poseidon (deus do mar). Os atlantes regidos por leis justas e riquíssimos, tinham empreendido a conquista do mundo mediterrâneo, mas Atenas os repelira. Finalmente a degeneração dos seus costumes provocaram a ira dos deuses, e um maremoto (cataclismo) tragara a ilha em um dia e uma noite. Os penhascos se afloraram e o lodo se acumulou e os baixios tornaram suas paragens inavegáveis. Sobraram pouquíssimos atlantes dessa devastação cataclísmica e mesmo assim esses caminhando para o norte alcançaram a região do Egito e recomeçaram com o que restou as tradições dos mistérios ocultos. Segundo pesquisas clarividentes do senhor Charles W. Leadbeater (1854-1934) os mistérios egípcios geraram primordialmente os do mundo inteiro sendo que eles datam de aproximadamente 40 mil anos atrás. Os mistérios Cretenses de 10 mil anos atrás estão envoltos na Lenda do Minotauro. Conta a lenda que Minotauro (metade homem metade touro) nasceu em função de um desrespeito de seu pai ao deus dos mares, Poseidon. O rei Minos, antes de tornar-se rei de Creta, havia feito um pedido ao deus para que ele se tornasse o rei. Poseidon aceitou o pedido, porém pediu em troca que Minos sacrificasse, em sua homenagem, um lindo touro branco que sairia do mar. Ao receber o animal, o rei ficou tão impressionado com sua beleza que resolveu sacrificar um outro touro em seu lugar, esperando que o deus não percebesse. Muito bravo com a atitude do rei, Poseidon resolveu castigar o mortal e fez com que a esposa de Minos, Pasifae, se apaixonasse pelo touro. Isso não só aconteceu como também ela acabou ficando grávida do animal. Nasceu desta união o Minotauro. Desesperado e com muito medo, Minos solicitou a Dédalos que este construisse um labirinto gigante para prender a criatura. O labirinto foi construído no subsolo do palácio de Minos, na cidade de Cnossos, em Creta. Após vencer e dominar, numa guerra, os atenienses, que haviam matado Androceu (filho de Minos), o rei de Creta ordenou que fossem enviados todos os anos sete rapazes e sete moças de Atenas para serem devorados pelo Minotauro. Após o terceiro ano de sacrifícios, o herói grego Teseu resolve apresentar-se voluntariamente para ira à Creta matar o Minotauro. Ao chegar à ilha, Ariadne (filha do rei Minos) apaixona-se pelo herói grego e resolve ajudá-lo, entregando-lhe um novelo de lã para que Teseu pudesse marcas o caminho na entrada e não se perder no grandioso e perigoso labirinto. Tomando todo cuidado, Teseu escondeu-se entre as paredes do labirinto e atacou o monstro de surpresa. Usou uma espada mágica, que havia ganhado de presente de Ariadne, colocando fim àquela terrível criatura. O herói ajudou a salvar outros atenienses que ainda estavam vivos dentro do labirinto. Saíram do local seguindo o caminho deixado pelo novelo de lã. Como foi dito anteriormente o profeta Hebreu Moisés era um auto iniciado aprendendo os mistérios no Egito quando de sua longa (40 anos) estadia por esse país levando esse conhecimento para a Palestina. A história dos judeus é marcada por mistérios desde a saída do Egito quando o cajado de Moisés abriu as águas em duas partes fazendo uma "parede" para que o povo passasse a pés enxutos. Isso mostra que ele conhecia os mistérios que estavam ocultos na natureza sabendo aplicá-los no momento oportuno. Quando suplica a Deus para que conceda água que possa saciar a sede do povo revoltados no deserto, ele fere a rocha três vezes e dela jorra água. Ele sabia como lidar com situações imprevisíveis usando o poder da mente para subordinar os mistérios do reino mineral. Os mistérios gregos de 7 mil anos atrás expresso na Lenda de Orfeu e Erídice mostram a beleza e a poesia estética do mito. Grande herói da Trácia, Orfeu era conhecido não pelas suas qualidades de guerreiro, mas pelas suas qualidades musicais. Filho de Apolo e da musa Calíope, recebeu do pai uma lira como presente e aprendeu a tocar com tanta dedicação e beleza, que ninguém conseguia ficar indiferente ao encanto da sua música. Tanto os seres humanos como os animais, e diz-se que até as árvores e os rochedos se rendiam ao seu fascínio. Orfeu amava apaixonadamente a ninfa Eurídice. No dia do casamento de ambos, esteve presente Himeneu para abençoar a união, mas o fumo da sua tocha fez lacrimejar os noivos, o que não trouxe augúrios favoráveis. Pouco tempo depois, Eurídice passeava com as ninfas, quando foi surpreendida pelo pastor Aristeu, que, ao vê-la, se apaixonou perdidamente e tentou conquistá-la. Na sua fuga, Eurídice pisou uma cobra e morreu da mordedura que esta lhe fez no pé. Orfeu, inconsolável, tocou e cantou aos homens e aos deuses, mas nada conseguiu. Decidiu, então, descer ao reino dos mortos para conseguir recuperar Eurídice. Perante o trono de Hades e Perséfone, Orfeu cantou o seu desgosto e o seu amor dizendo que, se não lhe devolvessem Eurídice, ele próprio ficaria ali com ela, no reino dos mortos. Todos os fantasmas que o ouviam, choravam e Hades e Perséfone ficaram tão comovidos que lhe devolveram Eurídice. Mas  com uma condição: Orfeu poderia levar Eurídice, mas não poderia olhá-la antes de terem alcançado o mundo superior. Caminhando na frente, Orfeu, que estava quase a chegar aos portões de Hades, com receio de ter sido enganado por Hades, virou-se para trás para confirmar se Eurídice o seguia. Esta, com os olhos cheios de lágrimas, foi levada para o mundo dos mortos, por uma força irreversível. Orfeu tentou alcançá-la, mas sem êxito. Profundamente triste, Orfeu ficou na margem do rio, durante sete dias, sem comer nem dormir, suplicando a volta de Eurídice. Depois, vagueou triste e solitário pelo mundo, sem nunca mais querer saber de mulher alguma e repelindo todas aquelas que o tentavam seduzir, até que um dia, as mulheres da Trácia, enfurecidas pelo seu desprezo, o mataram. O seu corpo foi atirado ao rio Ebro e levado até a ilha de Lesbos, onde, durante muito tempo, a cabeça de Orfeu, presa numa rocha proferia oráculos. A sua lira foi colocada num templo de Lesbos. Outra lenda diz que as musas enterraram Orfeu, em Limetra, num túmulo onde o rouxinol canta mais suavemente do que em qualquer outra parte da Grécia e a lira do jovem apaixonado foi colocada por Zeus entre as estrelas. Orfeu encontrou por fim Eurídice e, abraçando-a, nunca mais deixou de contemplá-la. Essa lenda comoveu-me perpassando os sentimentos e emoções evidenciando em cada parágrafo simplicidade, pureza e santidade. Precisamos valorizar essa espiritualidade poética e religiosidade mítica. Quantos princípios cristãos podemos tirar desse mito e suponho que muitos escritores bíblicos (apóstolos Paulo e João) e os profetas (Moisés, Isaías, Jeremias, Ezequiel) a leram e a usaram em seus argumentos sobre hamarteologia (doutrina do pecado), soterologia (doutrina da salvação) e escatologia (doutrina dos últimos tempos). Outro aspecto importante nesse contexto dos mistérios que deram inicio a essas Escolas de Iniciados na Antiguidade foram Os Mistérios de Elêusis. Esses mistérios faziam parte de um festival religioso, em honra a Deméter, a deusa dos cereais e da fertilidade. Os objetivos da festividade eram não só recordar o rapto da filha da deusa, Perséfone por Hades (deus dos mortos), e o reencontro da jovem com a mãe, como tambem celebrar o ciclo da vida e da morte e o ciclo da vida produtiva e da vida estéril. Os Mistérios de Elêusis realizavam-se de cinco em cinco anos, no  outono, com música e danças. As cidades de Atenas e de Elêusi eram os principais palcos do festival. Os jovens de Atenas dirigiam-se a Elêusis  (especificamente, ao templo da deusa Deméter), para pegar nos objetos sagrados do culto e levá-los para Atenas, onde eram colocados no templo Eleusinion, na base da Acrópole. No dia  seguinte, os fiéis, que eram julgados dignos de participar nos mistérios, reuniam-se, primeiramente, em Atenas, à chamada do hierofante (o sacerdote que presidia os rituais). Depois, purificavam-se no mar, levando consigo porcos que também eram ali banhados e, em seguida, sacrificados. Depois os objetos sagrados eram levados para Elêusis, em procissão, juntamente com a estátua de Iaco (provavelmente o nome místico de Dionísio), pois era este que dirigia a procissão dos iniciados. Finalmente, eram então celebrados os Mistérios, em Elêusis, nos quais apenas os iniciados podiam participar, tendo de guardar segredo sobre tudo o que se passava. Estes podiam ser homens, mulheres e escravos que falassem grego e cujas mãos estivessem limpas de crimes de sangue. A iniciação tinha duas etapas, realizando-se a segunda somente após um ano de duras provas. Segundo se pensa, os iniciados do primeiro grau, os mystae, depois de beberem o kykeon e comerem o pão sagrado, assistiam a um drama litúrgico que dizia respeito ao rapto de Perséfone. Os iniciados do grupo mais elevados, os epopotae, assistiam a uma outra peça de teatro cuja história se centrava na união de Deméter com Zeus e que tinha como protagonistas a sacerdotisa de Deméter e o hierofante. Não se sabe muito bem qual era o significado destes mistérios, mas supõe-se que estivessem ligados às revelações sobre o futuro e sobre a vida do além feitas por sacerdotisas em nome de Deméter, na sala de iniciação chamada Tlesterion. Os Mistérios foram famosos em toda a Grécia e o seu culto só foi proibido no ano de 396, após a invasão de Alarico, rei dos Godos (375-410), e com a introdução do Cristianismo. A lenda atribui a fundação dos Mistérios de Elêusis a Orfeu. Os mistérios no antigo Egito vem com o Hermetismo que é a prática da filosofia oculta e da magia associados a escritos atribuídos a Hermes Trimegisto. Continuamos nossa reflexão da Tradição dos Mistérios na parte III. Beijo. Davi.               

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