Bom dia Alfa. Estive sábado a
noite no Encontro na casa do Yod e Gama. Na nova casa que eles construíram
no Guanambi, por sinal muito bonita (requintada) de três pavimentos e projetada
para ter elevador. Cinco quartos, sete banheiros, closed, salão de festa, sala
enorme e outros. Mais de quinhentos metros quadrados de área construída,
apesar de ainda não está pronta. Segundo o Yod 70% do acabamento foi
concluído. As vezes me pergunto, uma residência tão grande para três pessoas? O
casal e seu filho Zayin. A filha está em adrianópolis - MG cursando graduação em
Medicina. Mas, o importante é que eles estão muito felizes e com um coração
aberto e cheio de amor para receber os amigos e irmão nos Encontros. Estávamos
num pequeno grupo (os irmãos anfitriões, mais Teta, Epsilon, Lâmed, Kapa e
eu) e tivemos uma conversa informal com um ótimo conteúdo. Na minha opinião o
tema central foi a humanidade de Jesus. Tentarei enumerar alguns pontos que
foram referidos. Teta contou duas experiências interessam. Primeiro
conhece um amigo professor que mora no Olímpia, já aposentado, com
um pomposo salário, tendo vários imóveis, mas percorre a cidade com
uma moto velha, morando numa casa original no Guanambi. Veste-se como um
maltrapilho e nunca teve vontade de casar. Outra amiga do Senado Federal (uma
moça) com 70 anos ganhando mais que o teto constitucional, morando num enorme
apartº no Sudoeste sozinha, e segundo ela é ainda virgem, e nem pensa em
casamento. Cogitamos nessas situações apresentadas e percebemos, que o egoísmo
humano se acentua a medida que a sociedade se distancia de princípios e valores
individuais e morais. A vida coletiva se restringe a grupos sociais
tradicionais fechados (igreja, família, escola, trabalho) obrigando as
pessoas em alguns casos a se isolarem para particularizarem seu modelo de vida.
Vimos também que isso tem haver com situações passadas, herdadas de suas
gerações que não foram devidamente resolvidas. Lembra das Escrituras quando
diz a respeito daquele cego: "quem pecou esse ou seus pais para
que nascesse cego". Em outra parte é dito: "visito a iniquidade dos
pais nos filhos até a terceira e quarta geração". Esses pressupostos
mostram que enquanto vivermos nessa terra precisamos resolver as situações
pendentes em nossa convivência com o próximo. Perdão, confissão,
arrependimento, vícios e pecados precisam ser reparados, pois do contrário essa
justa medida alcança nossos descendentes diretos. Percebeu que não completei o
texto sagrado que diz: "nem ele pecou nem seus pais, mas para que se
manifestasse nele a glória de Deus", e outro texto acrescenta: "faço
misericórdia até mil gerações daqueles que me amam". Mas, isso a meu ver
estar dentro do princípio revelado da retificação e ajuste de contas,
do contrário comprometemos aqueles que vêm depois da
nossa vida. Nesse aspecto alguns falaram que muitas pessoas
alimentam ainda aquele sonho do casamento perfeito, o encontrar a outra metade.
Mas, vimos no sábado que isso é uma utopia. Nos casamos com uma pessoa
inteira, e devemos aprender a lidar com as desigualdade e diferenças advindas
do parceiro completamente distinto de nós. Pois ele nasceu em família, cultura,
tradição, comportamento, herança genética e hábitos diversos do que
adquirimos. Gama falou que no sábado anterior no Dálet foi
"discutido" um importante assunto sobre incorreções e incoerências em
alguns textos das Escrituras Sagradas. Mostrou-se a dificuldade de se encontrar
a verossimilhança (razoável verdade) daquilo que é autêntico em alguns
texto que suscitam dúvida dos estudiosos. Como exemplo Jonas sendo engolido
pelo (baleia) grande peixe, “preparou, pois, o Senhor um grande peixe, que
tragasse a Jonas, e esteve Jonas três dias e três noites nas entranhas do
peixe”. Sendo aparentemente uma alegoria e não uma "verdade"
inquestionável. Dar a entender que essa história foi copiada de outras tradições, possivelmente Persas ou Babilônicas e adaptado as Escrituras para exemplificar a misericórdia e o amor dO Inefável quando temos um coração de humilhação e arrependimento. Assim seria difícil afirmar categoricamente que a Bíblia
é em todos os seus pormenores a "verdade". Pois das traduções da
Septuaginta de Alexandria, feita por setenta rabinos judeus no III século AC,
copiando o texto sagrado para a língua hebraica. Passando
pela tradução da Vulgata do latim para o grego popular, muita coisa
pode ter sido omitida ou acrescentada para a conveniência dos contextos sócios
culturais das tradições vigentes. Essa tradução foi realizado por São Jerônimo (347-420) um teólogo erudito e conhecedor das línguas originais: grego, hebraico e latim a pedido de um bispo do alto clero romano. Esse trabalho foi efetuado no século IV DC nos dez últimos anos de sua vida. A época os oitenta e dois livros apócrifos eram considerados canônico, fazendo parte do escopo dos inspirados pelo Espírito Santo. Depois eles passaram pelo crivo do Concílio de Calcedônia é apenas sete sobreviveram (Tobias, I e II Macabeus, Eclesiástico, Sabedoria, Baruc e Judith. Penso que logicamente há mais autenticidade acadêmica na tradução dos livros do Velho Testamento realizada por um grupo de pessoas, do que o Novo Testamento feita por um único indivíduo. Tendo um material maior para manuseio, e complexidade de temas que a filosofia gnóstica, impregnou nas epístolas Paulinas. Não que subestimemos a erudição de São Jerônimo, mas historicamente a Vulgata foi mais alterada em seus textos originais (omissão e acréscimo), pois havia a necessidade de adequar o texto sagrado aos novos conceitos que eram praticados pelo cristianismo emergente. Nossa Bíblia Sagrada era para ser bem mais volumosa que a atual. Mesmo que admitamos, e com certeza por
sermos cristãos concordamos com o texto sagrado que diz "Toda
Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça". Sem dúvida a Bíblia continua sendo
e sempre será o manancial de princípios éticos, morais e espirituais, que devem
nortear nossas vidas. Sua leitura é indispensável e essencial à todo o cristão.
Assim os irmãos disseram naquele noite no Paranoá que nós devemos ser a
Bíblia e escreve-la com nossa vida. Como é dito: "vós sóis a carta
aberta escrita e lida por todos os homens". Gama falou que alguns
saíram naquela noite sem entender realmente o que se estava
ponderando. Falamos sábado a noite (Guanambi) da humanidade de
Jesus, um assunto que quando ventilado acaba trazendo dúvidas e
questionamentos. Kapa reconheceu a simplicidade e simpatia de Jesus
para com as criança quando é dito: "deixai vir a mim as crianças
e não as impeçais, porque dos tais é o reino dos céus". Ela disse que o
Mestre Jesus tinha sensibilidade e carinho para com as pessoas. Falou
também que o Mestre Jesus deixava que seu discípulo amado recostasse sua cabeça em seu peito.. “Ora, um de seus discípulos, aquele a quem Jesus amava, estava
reclinado no seio de Jesus”. O Mestre em sua humanidade quebrou várias vezes as
regras sociais e morais do judaísmo para externar seu amor e carinho pelo
próximo. Epsilon nesse contexto trouxe uma passagem profunda baseada
em Levíticos quando fala: "os sacerdotes, um dos quais tomará dela um
punhado da flor de farinha, e do seu azeite com todo o seu incenso, e o
sacerdote queimará como memorial sobre o altar". Ela falou que essa fina
flor de farinha foi o processo pela qual a humanidade de Jesus foi
depurada se oferecendo como sacrifício à todos os homens. Gama lembrou
que Jesus tinha muitos amigos e gostava de chama-los mais assim que de irmãos.
Como Ele diz: já não vós chamo servo, mas sim de amigos, porque o servo não
sabe o que faz o seu senhor". Quando o Mestre ia na casa de seu amigo Lázaro,"Lázaro,
nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo do sono", tinha com ele e suas
irmãs uma convivência fraternal. Segundo Gama Ele queria comer uma gostosa
comida e conversar sobre as situações que enfrentava em seu ministério como: oposição,
dissidência, perseguição e a alegria de está servindo a humanidade com seus
queridos discípulos. Um livro que li esse ano do escritor português José Saramago (1922-2010) com o título O Evangelho Segundo Jesus Cristo (1991). O livro é um romance e conta uma história humanizada da vida de Jesus, aludindo a um eventual relacionamento com Maria Madalena. O livro diz: "foi com ela que Jesus conheceu o amor da carne e nele se reconheceu homem". Aqui é mostrada a ideia de que Jesus se relacionou sexualmente tendo uma vida ativa nessa questão como qualquer mortal, digno de viver nessa terra desfrutando um dos prazeres humanos, resultado de nossas paixões e desejos, num ambiente de normalidade e tradição familiar. Ao adaptar essa perspectiva histórica de Cristo, distante da representação tradicional do Evangelho, Saramago coloca que a propagada histórica crucificação de Jesus, "um repulsivo forte, qualquer coisa interminável de ferro e de sangue, de fogo e de cinzas, um mar infinito de sofrimento e de lágrimas". Como é um filósofo ateísta Saramago diz que de acordo com sua visão de mundo, segundo a qual "por causa e em nome de Deus é que se tem permitido e justificado tudo, principalmente o mais horrendo e cruel, e que, no fundo, o problema não é um Deus que não existe, mas a religião que o proclama". Ele denuncia as religiões, todas as religiões, por nocivas à humanidade. Foram palavras duras ditas nesse livro que suscitaram reação de diversos setores da comunidade católica, sendo perseguido em seu país Portugal. Foi obrigado a se exilar forçosamente fixando residência na ilha de Lanzarote - Ilhas Canárias. Algumas citações desse romance evangelho de Saramago. "O filho de José e Maria nasceu como todos os filhos dos homens, sujo do sangue de sua mãe, viscoso das suas mucosidades e sofrendo em silêncio. Chorou porque o fizeram chorar, e chorará por esse mesmo e único motivo". O argumento aqui não é contra a concepção virginal do filho de Deus sua encarnação por obra e graça do Espírito Santo, mas Saramago dar uma opção para o fato do nascimento de Jesus, sendo essa natural, resultado do relacionamento sexual entre Maria e José seus pais humanos. Teta ficou reticente quanto a esse assunto
preferindo pensar mais a deidade do Cristo que comporta sua plenitude e glória,
do que sua fragilidade e insegurança como um homem que tem medo e chora. Ela
acha que devemos viver mais a divindade de Cristo desfrutando de sua
plenitude e majestade junto ao Pai. É bom esse ambiente de diversidade
quando temos entendimento e compreensão do que falamos. Yod recordou que a Bíblia
não menciona tudo sobre a vida de Jesus, quando é dito: "a porém,
ainda muitas coisas que Jesus fez, e se cada uma das quais fosse escrita, cuido
que nem ainda o mundo inteiro poderia conter os livros que se
escrevessem". Esse texto mostra que podemos pensar e inferir a humanidade
de Jesus, como homem de carne e osso que teve todos os sentimentos e emoções
humanas. Temos dificuldade em imaginar essa possibilidade por achar
que o diminuamos como Deus comparando-o a um frágil mortal. Mas, argumentos nas
Sagradas Escrituras mostram que esse mistério pode ser aberto, por aqueles que
desejam conhecer a essência divina na humanidade de Jesus. Textos das
Escrituras como: "Chegando o tentador disse: Se és o Filho de Deus, manda
que essas pedras se tornem em pães". E "E disse-lhe: Se es o
Filho de Deus, lança-te aqui abaixo, porque está escrito que aos seus anjos
dará ordem a teu respeito". Mostram que os demônios e os seres dos
mundos invisíveis inferior não tinham problemas quanto a Divindade de Jesus,
mas quanto a sua humanidade desconheciam os mistérios de sua encarnação.
Estando-lhes velado até hoje, e infelizmente nós cristãos sabemos tão pouco
desse processo da humanização de Deus. A teologia tradicional com os pais da
Igreja desde tempos imemoráveis, não permitiu que muitos fatos relativos a vida de
Jesus viesse a público. A ignorância e o medo desses fatos castrou nosso
conhecimento da verdade. Enquanto não penetrarmos os portais desse mistério da humanidade de Jesus, seu lado que se identifica conosco, permanecerá inacessível e obscuro. Sinto que nossa ignorância e falta de ousadia espiritual é a grande responsável por desconhecermos esse importante legado (humanidade de Jesus) histórico e religioso referente a pessoalidade do Mestre. Temos a nosso desfavor a ortodoxia teológica que engessando nosso pensar, nos programou para racionalizarmos apenas a divindade de Cristo. Assim precisamos passar por uma reprogramação de nossas ideias com relação a esse tema. Adquirindo uma visão eclética (diversificada) desvinculada de crendices e dogmas exclusivistas, que nos capacitarão a uma abertura com vistas a novos horizontes nesse milenar conceito que fundamenta o cristianismo. Pena que o cristianismo viva de verdades absolutas, infelizmente uma viga de seu edifício sendo removida ou refeita pode derrubar toda a casa. Mas O Inefável sabe de todas as coisas e tudo está
debaixo de seu governo e senhorio. Todos acreditam no Jesus Deus, mas quando
mencionamos o Jesus Homem o mistério continua velado. Gama disse com
propriedade que quando conhecermos mais da humanidade de Jesus abriremos
caminho para conhecer melhor a natureza humana. Alfa, eu poderia falar
mais de nossos diálogos naquele sábado a noite, mas vou parar,
imaginando que deu para você alcançar os principais tópicos. Não sei se fui
fidedigno ao que falamos no sábado (13/09). Pelo menos ousei ser.. Se Iota
tiver feito prova de concurso (domingo) ontem, desejo que tenha tido
um ótimo rendimento. Uma excelente semana. Mais um pouco de José Saramago. "A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o visitante sentou na areia da praia e disse: "não há mais o que ver", saiba que não era assim. O fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se virá no verão, ver de dia o que se viu de noite, com o sol onde primeiramente a chuva caia, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre". Abraço, de
seu amigo. Davi.
Nenhum comentário:
Postar um comentário