sábado, 27 de setembro de 2014

Cristianismo Pagão. Liturgia. A Realidade das manhãs Dominicais. Parte I.

Do livro Cristianismo Pagão. Capítulo 1: Liturgia.  O cristão que frequenta a igreja moderna observa a mesma superficialidade litúrgica cada vez que vai à igreja. Não importa qual denominação protestante ele pertença - seja batista, metodista, reformada, presbiteriana, evangélica livre, igreja de Cristo, discípulos de Cristo, pentecostal, carismática ou não denominacional - o serviço da igreja nas manhãs de domingo é virtualmente o mesmo em todas as igrejas protestantes. Mesmo entre as denominações chamadas "vanguardistas" as variantes são mínimas. Algumas igrejas utilizam cânticos contemporâneos, outras usam hinos. Em algumas igrejas a congregação levanta as mãos. Em outras as mãos nunca se elevam da cintura. Algumas igrejas celebram a Ceia do Senhor (Eucaristia) semanalmente. Outras trimestralmente. Em algumas igrejas a liturgia (ou ordem de adoração) vem escrita em boletim. Em outras não há qualquer liturgia escrita, mas é tão mecânica e previsível como se tivesse. Apesar destas pequenas variações, a liturgia é essencialmente a mesma em todas as igrejas protestantes do mundo. A Liturgia Dominical. Desconsidere detalhes superficiais que distinguem os cultos e você encontrará a mesma prescrição litúrgica. Veja o que encontramos: O cumprimento: quando você entra no salão da igreja, você é abordado por um porteiro ou coisa que o valha - sorridente! Depois você recebe um boletim ou papel com anúncios. Note: se você é membro da denominação, você pode sentar, tomar café e comer bolachas, antes do início do culto. Leitura Bíblica ou Oração: Usualmente feita pelo pastor ou líder dos músicos. Cânticos: um músico profissional, coro, ou equipe de louvor dirige a congregação nos cânticos. Se você é membro de uma igreja do estilo carismático esta parte do culto dura de 30 a 40 minutos. Caso contrário, dura menos tempo. Anúncios: usualmente dados pelo pastor ou algum outro líder da igreja. Coleta: as vezes chamada "oferta", é usualmente acompanhada por um cântico especial entoado pelo coro, equipe de louvor, ou um solista. Sermão: normalmente é um discurso de 30 a 50 minutos proferido pelo pastor. Depois do Sermão segue-se uma ou mais das seguintes atividades: oração pastoral, convite para vir diante do altar, mais cânticos dirigidos pelo coro ou equipe de músicos. Ceia do Senhor, oração pelos enfermos e aflitos. Anúncios finais: geralmente pelo pastor ou algum afortunado "leigo" autorizado a dizer algo no culto. Benção: depois desta benção o culto termina. Os pastores apressam-se à porta de saída para cumprimentar a todos que estão indo embora. Com algumas pequenas modificações, esta é a férrea liturgia observada religiosamente semana após semana por cerca de 360 milhões de protestantes no mundo. Fato que nos últimos 500 anos ninguém parece questionar. olhe novamente para a liturgia dominical. Note que esta contém uma estrutura tripla: 1. cânticos, 2. sermão e 3. oração ou cântico final. esta liturgia é tida como sacrossanta aos olhos da maioria dos cristãos modernos. Mas por que? Simplesmente devido ao titânico poder da tradição. Herdamos esta liturgia através de uma consistente e envolvente tradição. Essa tradição petrificou a liturgia por cinco séculos ( ... ). E esta nunca mais mudou!. A Origem da Liturgia Protestante. Os pastores falam rotineiramente a suas congregações, "fazemos tudo conforme a Bíblia", contudo, praticam esta férrea liturgia. Eles não agem corretamente. Acredito que esta falta de veracidade deve-se mais à ignorância do que a má fé. Verifique sua Bíblia do começo ao fim, você não encontrará nada semelhante a isso. Os cristãos do século I nada sabiam sobre tais coisas. Na realidade, essa liturgia protestante tem tanto apoio bíblico quanto à Missa católica! Nenhuma das duas tem qualquer ponto de contato com o Novo Testamento. Em meu livro: Repensando o Odre, descrevo as reuniões da igreja primitiva. Estas reuniões eram marcadas pelo funcionamento de cada membro, numa espontânea, livre, vibrante e aberta participação. Era um encontro fluido, não um ritual estático. E era imprevisível, bem diferente do culto da igreja moderna. Ademais, a reunião da igreja do século I não foi adotada dos cultos da sinagoga judaica, como alguns autores têm recentemente sugerido. Pelo contrário, era totalmente inédita naquela cultura. Então, de onde vem a liturgia do culto protestante? Esta tem suas raízes principais na Missa Católica. A Missa não teve origem no Novo Testamento e isso é significativo. A Missa saiu do antigo Judaísmo e do "Paganismo". Segundo o famoso historiador Will Durant (1885-1981), a Missa Católica foi baseada em parte no culto do Templo Judaico, e em parte nos místicos rituais de purificação dos gregos, o sacrifício substituto, e a participação ( ... ). Gregório O Grande (540-604) é o homem mais responsável pela formação da Missa Medieval. Gregório foi um homem incrivelmente supersticioso, cujo pensamento foi influenciado pelos conceitos mágicos dos "pagãos". Ele personificou a mente Medieval, que era uma mistura de "paganismo", magia e cristianismo. Não é uma casualidade quando Durant descreve Gregório com o primeiro homem completamente Medieval. A Missa Medieval refletia a mente de seu padre, Gregório. Foi uma combinação de rituais pagãos e judaicos borrifados com teologia católica e vocabulário cristão. Durant destaca que a Missa estava profundamente mergulhada tanto no pensamento mágico "pagão" com no drama grego. Ele escreveu, "a mente grega, moribunda, teve uma sobrevida na teologia e liturgia da igreja, o idioma grego, após reinar por séculos sobre a filosofia, chegou a ser o veículo da literatura e do ritual cristão, o misticismo grego foi passado adiante pelo impressionante misticismo da Missa. Com efeito, a Missa Católica que se desenvolveu do século IV até o século VI foi essencialmente pagã. Os cristãos copiaram as vestimentas dos sacerdotes "pagãos", o uso do incenso e da água benta nos ritos de purificação, a queima de velas durante a adoração, a arquitetura da basílica romana em seus edifícios de igreja, a lei romana como base da "lei canônica", o título Pontifex Máximus (Sumo Pontífice) para o bispo principal, e os rituais "pagãos" para a Missa Católica. Quando as mais variadas demoninações protestantes nasceram, todas ajudaram a reformar a liturgia católica contribuindo com um único elemento. No que toca à crônica da reforma litúrgica, trata-se de uma vasta e complexa jornada. Aprofundar nesse tema requer um grosso volume. Neste capítulo, examinaremos a história básica. Depois que Gregório estabeleceu a Missa no século VI, esta permaneceu praticamente intacta, com poucas variações durante mais de mil anos. Mas essa água parada da liturgia experimentou sua primeira revisão quando Martinho Lutero (1483-1546) entrou em cena. A Contribuição de Lutero. No ano 1520, Lutero lançou uma violenta campanha contra a Missa Católica Romana. O ponto culminante da Missa sempre foi a Eucaristia, também conhecida como "Comunhão" ou "Ceia do Senhor". Tido é direcionado para o momento mágico quando o sacerdote parte o pão e o distribui para as pessoas. Da perspectiva da mente católica Medieval, oferecer a Eucaristia era Jesus Cristo se sacrificando novamente. Desde Gregório o Grande (540-604) a igreja católica ensinava que Jesus Cristo é novamente sacrificado através da Missa. Lutero repudiava (muitas vezes de uma maneira vulgar) as mitras e os báculos dos papistas, e seus ensinos sobre a Eucaristia. O erro cardeal da Missa, disse Lutero, era que esta foi uma obra humana baseada numa falsa compreensão do sacrifício de Cristo. Então, em 1523, Lutero enunciou sua própria revisão da Missa Católica. Esta revisão é o fundamento de toda adoração protestante. O núcleo dela é: Em vez de Eucaristia, Lutero colocou a pregação no centro da reunião. Por conseguinte, no culto de adoração dos protestantes modernos o púlpito é o elemento central e não a mesa do altar. A mesa do altar é onde se coloca a Eucaristia nas igrejas católicas. Lutero recebe o crédito por fazer com que o sermão seja o ponto culminante do culto protestante. Leia suas palavras Uma congregação cristã nunca deve reunir-se sem a pregação da Palavra de Deus e a oração, não importa quão exíguo seja o tempo da reunião. A pregação e o ensino da Palavra de Deus é a parte mais importante do culto divino. A crença de Lutero no que diz respeito à pregação como ponto culminante do culto de adoração permanece até nossos dias. Todavia tal crença não tem nenhuma procedência bíblica. Como disse um historiador, "o púlpito é o trono do pastor protestante". É por esta razão que os ministros protestantes ordenados são ordinariamente chamados de pregadores. Mas, considerando estas modificações, a liturgia de Lutero variava bem pouco da Missa Católica. Por conseguinte, se alguém comparar a liturgia de adoração elaborada por Lutero com a liturgia de Gregório, verá que é praticamente a mesma! Basicamente, Lutero reinterpretou muitos dos rituais da Missa. Mas, ele preservou o cerimonial, julgando-o apropriado. por exemplo, Lutero manteve o ato que marcava o ponto culminante da Missa Católica: quando o sacerdote levanta o pão e o cálice, elevando-os, teve início no século XIII. É uma prática construída principalmente com base na superstição. Contudo continua sendo observada por muitos pastores em nossos dias. Da mesma maneira, Lutero fez uma drástica cirurgia na oração Eucarística, mantendo apenas as "palavras sacramentais". Tais palavras são as de I Coríntios 11:23 em diante "O Senhor Jesus na noite em que foi traído, tomou o pão ( ... ) e disse: tomai e comei, este é o meu corpo ( ... )". Até hoje os pastores protestantes recitam religiosamente este texto antes de ministrar a comunhão. Enfim, a liturgia de Lutero era nada menos que uma versão truncada da Missa Católica. A Missa de Lutero detinha os mesmos problemas da Missa Católica. Os paroquianos continuaram sendo espectadores passivos (com a exceção de poderem cantar), e toda liturgia era dirigida por um clérigo ordenado (o pastor tomando o lugar do sacerdote). Segundo as próprias palavras de Lutero: "nunca foi nossa intenção eliminar completamente o culto litúrgico a Deus, mas purificar o que já está em suso dos vinculos que o corrompem ( ... )". Tragicamente, Lutero não se deu conta de que o vinho novo não pode ser guardado em odres velhos. Em nenhum momento Lutero (e nenhum outro dos principais reformadores) demonstrou desejo de voltar às práticas da igreja do século I. Estes homens meramente se dedicaram a reformar a teologia da igreja católica. Em suma, as maiores mudanças duradouras feitas por Lutero na Missa Católica foram as  seguintes: 1. Ele realizou a Missa na linguagem do povo. 2. Deu ao sermão uma posição central na reunião. 3. Ele introduziu a música na congregação 4. Ele eliminou a ideia de que a Missa era um sacrifício de Cristo. 5. Permitiu que a congregação participasse no pão e no vinho (em vez de limitá-lo exclusivamente ao sacerdote como faz a prática católica). A parte destas diferenças, Lutero manteve a mesma liturgia como se vê na Missa Católica! Pior que isso, embora Lutero falsse muito sobre "sacerdócio de todos os crentes", ele nunca abandonou a prática de ordenação do clero. De fato, sua crença era tão forte em um clero ordenado que escreveu, "o ministério público da Palavra deve ser estabelecido pela ordenação santa como a mais importante das funções da igreja". Sob a influência de Lutero, o pastor protestante simplesmente substituiu o sacerdote católico. Em sua maior parte, houve pouca diferença prática na maneira como funcionaram estas duas instituições. Isto não foi modificado por longa data como veremos mais adiante. Agora segue a ordem da adoração elaborada por Lutero. Você deve conhecer bem este resumo geral, por ser a principal raiz do culto dominical matutino: Música. Oração. Sermão. Anúncios à Congregação. Santa Ceia. Música. Oração depois da Comunhão. Despedida (Bênção). Contribuição de Ulrico Zwinglio (1484-1531). Com a invenção da imprensa por Johannes Gutenberg (1398-1468) por volta de 1450, o aumento na produção de livros litúrgicos acelerou as mudanças litúrgicas que os reformadores tentavam efetuar. Estas mudanças então foram implementadas através de tipos imóveis e impressas em quantidades massivas. Zwinglio, o reformador suíço, aos poucos introduziu sua própria reforma, que ajudou a desenhar a ordem de adoração de hoje. Ele substituiu a mesa do altar por algo chamado "mesa da comunhão", onde se ministrava o pão e vinho. Ele também ordenou que se levasse o pão e o vinho à congregação em seus bancos utilizando bandejas de madeira e taças. A maioria das igrejas protestantes tem tal mesa. Originalmente a mesa continha duas velas, um costume que veio diretamente da corte dos Imperadores Romanos! A maioria leva o pão e o vinho à congregação sentada em seu banco. Zwinglio também recomendou que a Santa Ceia fosse observada trimestralmente (quatro vezes por ano). Fez isso em oposição ao tomá-la semanalmente como outros reformadores haviam recomendado. Muitos protestantes imitam a observação trimestral da Santa Ceia hoje. Alguns a observam mensalmente. Zwinglio também é nominado como o paladino da abordagem da Santa Ceia enquanto "memorial". Este ponto de vista é apoiado pela corrente principal do protestantismo estadunidense. O pão e o vinho são meramente símbolos do corpo e do sangue de Cristo. Todavia, aparte destas novidades, a liturgia de Zwinglio não diferia muito da de Lutero. Como Lutero, Zwinglio enfatizou a centralidade do sermão. Tanto que ele e seus colegas pregavam tão frequentemente como um canal de notícias televisivo, catorze vezes por semana! A Contribuição de Calvino e Companhia. Os reformadores João Calvino da Alemanha (1509-1564), João Knox da Escócia (1513-1572) e Martin Bucer da Suíça (1491-1551) alongaram o formato litúrgico. Estes homens criaram suas próprias ordens de adoração ou liturgias entre os anos 1537 e 1562. Embora suas liturgias fossem seguidas em diferentes partes do mundo, elas eram praticamente idênticas. Eles simplesmente fizeram algumas modificações na liturgia de Lutero. A mais notável foi a coleta de dinheiro após o sermão. Como Lutero, João Calvino (1509-1564) enfatizou a centralidade da pregação durante o culto de adoração. Ele acreditava que cada crente tinha acesso a Deus através da Palavra pregada e não através da Eucaristia. Devido a seu gênio teológico, a pregação na igreja de Calvino em Gênova era intensamente teológica e acadêmica. Também foi altamente, uma característica que nunca foi eliminada no Protestantismo. A igreja de Calvino em Gênova foi o modelo para todas as igrejas reformadas. Portanto, suas ordens de adoração se estenderam por toda parte. Isto explica o caráter intelectual da maioria das igrejas protestantes hoje, especialmente a Reformada e a Presbiteriana. Pelo fato dos instrumentos musicais não serem mencionados explicitamente no Novo Testamento, Calvino eliminou o órgão e os coros. Todo cântico era entoado sem instrumentos (a capela). Alguns protestantes modernos como a igreja de Cristo, por exemplo, segue o rígido estilo de Calvino, sem instrumentos. Apesar disso, os Puritanos (seguidores de Calvino na Inglaterra) continuaram no espírito de Calvino, condenando a música instrumental e o uso de coros. Provavelmente, a característica mais nociva da liturgia de Calvino foi dirigir a maior parte do culto de cima do púlpito. O cristianismo nunca se recuperou disso. Hoje, o pastor atua como mestre de cerimônias e diretor executivo do culto dominical matutino, da mesma forma que o sacerdote da Missa Católica! Outra característica que Calvino acrescentou à ordem de adoração é a atitude sombria que se ensinava à congregação ao entrar no salão. Essa atmosfera carrega consigo um sentimento de auto degradação diante de um Deus soberano e austero. A Martin Bucer também se atribui ter promovido esta atitude. Ao início de cada culto, os Dez Mandamentos eram lidos para criar um sentido de veneração. Desta mentalidade saíram algumas práticas escandalosas. Um certo pastor Puritano inglês ficou famoso por multar as crianças que sorriam dentro da igreja! Agregue-se a isto a criação do "Homem Dízimo" que despertava com um grande bastão os paroquianos que dormiam no culto! Tal modo de pensar é um passo atrás mesmo diante do velho pietismo Medieval. Todavia isso foi aceito e mantido vivo por Calvino e Bucer. Um costume adicional que os reformadores copiaram da Missa foi a prática do clero caminhar em direção a seus assentos designados no princípio do culto enquanto a congregação ficava em pé, cantando. Esta prática teve início no século IV quando os bispos entravam em suas magníficas basílicas. Que por sua vez foi uma prática copiada diretamente do cerimonial da corte imperial "pagã". Quando os magistrados romanos entravam na sala da Corte, os presentes se colocavam em pé e cantavam. Esta prática ainda é observada em muitas igrejas protestantes. Todavia ninguém a questiona. Concluo com uma observação quanto a um termo do livro de Frank Viola sendo este "pagão ou paganismo" que é usado aparentemente com conotação negativa. Fiz questão de colocá-lo entre aspas ao transcreve-lo, para explicar que atualmente a historiografia sócio antropológica não mais usa o termo em sentido estereotipado, mas o insere num contexto de criação e formação cultural necessário na origem e no desenvolvimento das tradições filosófico religiosas antigas. Sigmund Freud (1856-1939) em obras como Totem e Tabu, e Moisés e o Monoteísmo já dava sentido positivado aos conceitos e elementos do paganismo. Sugerindo que sem eles as culturas e tradições ocidentais, seriam empobrecidas e vazias de formas e práticas. O antropólogo Levi Strauss (1908-2009) em uma celebre obra chamada O Pensamento Selvagem, também traz elementos do paganismo antigo onde vários povos europeus se serviram dele em sua formação sócio cultural. Como Frank Viola bem observa que as tradições espiritualistas ocidentais tiveram no paganismo uma rica fonte de conhecimento teórico e práticas espirituais que num certo sentido foram adaptadas ao modernismo espiritualista, e estão sendo usadas até os nossos dias. Continuamos na parte II. Abraço. Davi.    

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