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CHANUCÁ E A ETERNIDADE DO JUDAÍSMO. Chanucá comemora eventos que ocorreram há
mais de 2.200 anos. Essa festa celebra a vitória militar do Povo Judeu sobre os
gregos, que ocupavam a Terra de Israel e procuravam suplantar o Judaísmo ao
forçá-los a adotar o Helenismo - a cultura grega que prevalecia na época e
cujos princípios constituem a antítese da Torá. Desde os dias de Alexandre, o
Grande, a Terra de Israel era ocupada pelo império helênico. No século III
A.E.C., a Pátria Judaica estava sob o controle do Reino Ptolemaico - um antigo
estado helênico com base no Egito, fundado em 305 A.E.C. Durante o segundo
século A.E.C, a Terra de Israel ficou sob o domínio do Império Selêucida
(312-63 A.E.C.) - uma vasta entidade política estabelecida por Seleuco I
Nicátor, um dos generais de Alexandre, o Grande, que reivindicou parte de seu
império após sua morte. Os selêucidas constituíam a dinastia que governava a
Fenícia, a Ásia Menor, o norte da Síria e a Mesopotâmia. Como os ptolemeus
antes deles, os selêucidas respeitavam o Judaísmo e protegiam as instituições
judaicas. Mas essa política mudou drasticamente quando Antíoco IV, um rei
helênico do Império Selêucida, subiu ao poder, em 175 A.E.C. Proclamando-se uma
divindade, Antíoco forçou os judeus da Terra de Israel a abandonar o Judaísmo e
a abraçar o Helenismo. Entre seus decretos nefastos e provocativos, ele proibiu
a prática pública do Judaísmo, ergueu uma estátua de uma divindade grega no
Templo Sagrado de Jerusalém e ofereceu porcos como sacrifícios. Em reação à
campanha de Antíoco para erradicar o Judaísmo, um Cohen (sacerdote)
chamado Matityahu, e seus filhos e apoiadores, conhecidos como os Macabeus ou
os Hashmonayim, revoltaram-se. Eles travaram uma guerra de
guerrilhas contra as poderosas forças armadas selêucidas. Após três anos de
guerra, os Macabeus derrotaram as forças gregas na Terra de Israel - uma
superpotência militar na época - e trouxeram Jerusalém e o Templo Sagrado de
volta à soberania judaica. Enquanto ocupavam a Terra de Israel, os gregos
profanaram deliberadamente o Segundo Templo Sagrado de Jerusalém. Quando os
Macabeus o reconquistaram, eles o purificaram, reconstruíram o Altar e
retomaram os serviços religiosos. Uma parte fundamental dos serviços diários no
Templo Sagrado era o acender da Menorá - o candelabro de sete
braços localizado no Santuário (o Kodesh) - com azeite de oliva
ritualmente puro. Ao recuperar o Templo, os Macabeus encontraram um único jarro
de azeite que não havia sido profanado pelos gregos. Esse jarro continha a quantidade
de óleo suficiente para acender a Menorá por um dia apenas e
seriam necessários oito dias para produzir mais azeite ritualmente puro. Os
judeus foram em frente - acenderam a Menorá com o azeite desse
único jarro, que deveria ter durado um dia. Mas, milagrosamente, a Menorá se
manteve acesa por oito dias - o número exato de dias necessários para a
produção de mais azeite puro. Os judeus perceberam que esse fenômeno
sobrenatural constituía um sinal de D’us de que Sua Providência havia
intervindo a favor dos Macabeus na guerra contra o poderoso exército grego.
Para comemorar a vitória dos Macabeus e o subsequente milagre do óleo, nossos
Sábios instituíram a festa de Chanucá, que dura oito dias, e cujo
principal mandamento é o acendimento da Chanuquiá - o
candelabro de oito braços. O fenômeno do óleo foi milagroso, ao passo que a
vitória dos Macabeus, embora altamente improvável, foi desprovida de qualquer
aspecto sobrenatural. No entanto, o triunfo militar foi incomparavelmente mais
relevante do que o milagre do jarro de azeite que, inexplicavelmente, durou
oito dias. Na verdade, a guerra dos Macabeus foi um dos episódios mais
importantes em toda a história judaica, pois eles lutaram pela sobrevivência do
Judaísmo e, consequentemente, do Povo Judeu. Se os Macabeus não tivessem se
levantado contra os gregos - ou se não tivessem vencido a guerra -, é provável
que o Povo de Israel tivesse deixado de existir, engolido pelo Helenismo e pela
assimilação. A Guerra dos Macabeus constituiu o último bastião do Judaísmo na
Terra de Israel, especialmente porque eles estavam lutando duas guerras: uma
delas contra as forças de Antíoco, e a outra - que, de certa forma, era até
mais difícil e insidiosa - contra a assimilação judaica, uma vez que a maioria
dos judeus da época estavam voluntariamente adotando a cultura helenística e
abandonando o Judaísmo. Se os Macabeus tivessem perdido a guerra, as
consequências para o Povo Judeu teriam sido catastróficas e irreversíveis:
Antíoco teria realizado o sonho de Haman e Hitler - erradicar o Povo Judeu. E
ao contrário de Haman e Hitler, Antíoco o teria feito de uma forma “limpa” -
sem ter de derramar muito sangue judeu. Antíoco sabia que a aculturação e a
assimilação constituem os meios mais eficazes de eliminar o Povo de Israel. Não
fosse pela bravura dos Macabeus, é possível que Antíoco tivesse varrido do mapa
os Bnei Israel, Filhos de Israel. É importante saber que a vitória
militar dos Macabeus mudou a história, não apenas a história judaica. Pois se
os exércitos de Antíoco tivessem derrotado os Macabeus, o Judaísmo teria
deixado de existir. E, se isso tivesse ocorrido, as outras religiões
monoteístas do mundo, especialmente o Cristianismo e o Islamismo, que surgiram
a partir do Judaísmo, nunca teriam nascido. Talvez essa seja a razão por que
muitos não judeus se encantam com Chanucá e participam do
acendimento da Chanuquiá. Em todo o mundo - aqui no Brasil, na Casa
Branca e no Kremlin, e agora até em Dubai e Abu Dhabi - ministros, governadores
e presidentes participam do acendimento público das Chanuquiot. As
luzes de Chanucá encantam tantas pessoas, das mais diferentes
fés e nações, porque essa festa não celebra apenas uma vitória judaica, e sim,
eventos que impactaram quase toda a humanidade. Os Macabeus eram um pequeno
grupo de judeus, mas sua vitória na guerra contra os gregos impediu a
erradicação do monoteísmo da face da Terra. Comparado com a guerra travada
pelos Macabeus, o milagre do azeite aparenta ser trivial. Constituiu um
fenômeno sobrenatural - o que as pessoas chamam de milagre - mas,
diferentemente da vitória militar dos guerreiros judeus, não produziu
resultados práticos muito significativos. Isso porque de acordo com a Halachá,
a Lei Judaica, os judeus poderiam ter acendido a Menorá com
azeite de oliva que não fosse ritualmente puro. E, mesmo que a Lei Judaica não
o permitisse, o pior que teria acontecido na ausência do milagre do óleo é que
os judeus teriam de esperar mais uma semana antes de poder novamente acender
a Menorá. Por que, então, celebramos Chanucá acendendo
a Chanuquiá, que lembra o milagre do óleo, e não fazendo algo que
comemore a vitória militar dos judeus - como uma leitura pública do Livro dos
Macabeus? É verdade que em nossas orações durante a festa, mencionamos a
vitória dos Macabeus e não o milagre do óleo. No entanto, seu principal
mandamento é acender a Chanuquiá. O próprio motivo de Chanucá ser
uma festa de oito dias é o fato de o azeite ter ardido milagrosamente durante
oito dias. Além disso, o costume de comer alimentos fritos em Chanucá - sufganiyot (sonhos
recheados) ou latkes - uma tradição que é tão popular,
especialmente em Israel - lembra o milagre do azeite. A Luz da Torá. O milagre do óleo foi um sinal de D’us para o
Povo Judeu. Como mencionamos acima, o objetivo desse fenômeno sobrenatural foi
o de conscientizar os judeus de que a vitória dos Macabeus ocorreu graças à
Providência Divina, que os favoreceu. Mas esse milagre - esse sinal de D’us -
poderia ter assumido diferentes meios e formas. O fato de o milagre ter
ocorrido especificamente por meio do azeite da Menorá é
profundamente significativo, pois as luzes desse candelabro sagrado representam
a Torá. Como escreveu o Rei Salomão, o mais sábio dos homens: “Pois um
mandamento é a vela, e a Torá é luz” (Provérbios 6:23). Já que os Macabeus
haviam lutado em prol do Judaísmo - o objetivo de sua guerra era o de preservar
a Torá e seus mandamentos -, o sinal que D’us lhes enviou após a vitória foi
manifestado por meio da luz da Menorá. É significativo o fato
de que o azeite tenha ardido por exatos oito dias, pois no Judaísmo, o número
oito representa o sobrenatural1. O milagre envolvendo a Menorá e
sua luz pode não ter sido muito relevante na prática, mas foi profundamente
simbólico. A razão para que Chanucá seja observada por meio do
mandamento do acendimento da Chanuquiá é porque a Torá é o que
sustenta o Judaísmo e o Povo Judeu, isto é, tanto a fé quanto a nação judaica.
É verdade que não podemos ignorar a importância de hoje termos o Estado de
Israel - um país com uma máquina de guerra extremamente afinada - para defender
nosso povo. Quase dois milênios de sofrimentos indescritíveis, culminando com o
Holocausto, foram consequência direta do fato de os judeus não terem seu
próprio país ou exército. No entanto, as vitórias militares por si, por mais
vitais que sejam, não sustentam uma nação indefinidamente; o melhor que um
exército pode fazer é proteger o país e seu povo. É inegável que se o Estado de
Israel tivesse perdido a Guerra da Independência, a dos Seis Dias ou a de Yom
Kipur, o país teria sido destruído, assim como é verdade que se os Macabeus
tivessem sido derrotados, os judeus provavelmente teriam deixado de existir. No
entanto, uma enorme força militar por si só não perpetua uma civilização. O
império helênico era famoso por suas grandes conquistas e extraordinários
triunfos militares, mas não durou muito. Na verdade, pouco após os eventos da
história de Chanucá, esse império começou a declinar e Roma surgiu
para tomar seu lugar. E mesmo o Império Romano, famoso por suas legiões e
expansões territoriais, entrou em colapso e desapareceu. As forças armadas
romanas podem ter derrotado nossos exércitos, destruído nosso Templo Sagrado e
nos lançado para fora da Terra de Israel, mas nós, os judeus, estamos aqui,
hoje, enquanto os antigos romanos não mais se encontram na face da Terra. Toda
civilização que vincula seu destino à sua força bélica está fadada ao fracasso:
mais cedo ou mais tarde, entrará em colapso. No auge de seu poder, a União
Soviética ameaçou enterrar os Estados Unidos e aterrorizou o mundo com suas
ambições imperialistas e arsenais nucleares. Menos de três décadas mais tarde,
quando a Guerra Fria terminou, esse outrora poderoso império não conseguia
sequer alimentar seu povo e teve de depender de doações de alimentos trazidos
dos Estados Unidos. Quanto a este país, sua recente derrota no Afeganistão - um
fracasso militar e geopolítico apesar das vastas somas que o país dedica às
suas forças armadas - fez com que muitas pessoas se perguntassem se estaria
iminente o fim do império americano. Mark Twain, um dos maiores, senão o maior
autor americano de todos os tempos, escreveu um ensaio intitulado “Sobre os
Judeus” em que afirmou: “Os egípcios, babilônios e persas assumiram o poder,
encheram a terra com seu brilho, mas o som deles naufragou. Na sequência, os
gregos e romanos seguiram, fizeram muito barulho e desapareceram. O judeu viu a
todos, os venceu e hoje é aquilo que ele sempre foi; não apresenta decadência,
nem envelhecimento, nem fraquezas, nem diminuição de energia, nem deficiências
em sua vigilância e em seu espírito dinâmico. Todas as coisas são mortais,
menos os judeus; todas as forças se esvaem, mas eles permanecem. Qual é o
segredo de sua imortalidade?” A resposta a essa pergunta - o segredo da
imortalidade judaica - reside no fato de sermos uma nação focada não em
conquistas militares, e sim, religiosas e intelectuais. O Talmud nos conta que
no período que antecedeu a queda do Segundo Templo, um Sábio chamado Rabi
Yehoshua Ben Gamla fundou uma rede de escolas em toda a Terra de Israel. O
resultado disso foi que, a partir dos seis anos, todas as crianças do país
passaram a receber uma educação universal com financiamento público.
Constituiu, segundo o Rabino Lord Jonathan Sacks, ZT”L, o primeiro
sistema de educação desse tipo em qualquer lugar do mundo, e uma indicação
clara do compromisso judaico com a educação e com a garantia de que nossos
filhos aprendam sobre sua herança judaica. De acordo com o Talmud, a memória de
Rabi Yehoshua Ben Gamla é abençoada, pois seus esforços perpetuaram o estudo da
Torá, preservando-a de geração em geração. Durante dois mil anos, o Povo Judeu
pagou um alto preço pelo fato de não ter um exército para se defender. Contudo,
mesmo tendo sido expulso de sua Pátria e tendo sido perseguido e massacrado por
tantas nações, o Povo de Israel sobreviveu. Já os antigos gregos e romanos, que
construíram vastos impérios, foram extintos. A nação judaica sobreviveu porque
D’us prometeu que nunca deixaremos de existir como povo, mas também porque nosso
objetivo nunca foi construir um império. Somos um povo pequeno - há pouco mais
de 15 milhões de judeus no mundo - e o Estado de Israel é um país
geograficamente minúsculo - menor do que muitos estados brasileiros. Ademais,
independentemente do que antissemitas possam alegar, as forças armadas de
Israel nunca lutaram uma guerra que não fosse em defesa de sua população. Somos
o Povo do Livro - não o da Espada. O Rei David é celebrado não por seus êxitos
militares, mas pelo seu Livro dos Salmos. A civilização judaica está enraizada
nas obras sagradas do Judaísmo e em livros e textos, mestres e professores,
sinagogas, Casas de Estudo e escolas. Somos um povo cujos heróis são Profetas e
Sábios, cujas cidadelas são escolas e cuja paixão é o aprendizado e a elevação
do intelecto e da alma. O resultado disso é que mesmo sem um país próprio, a
civilização judaica sobreviveu ao longo dos milênios, enquanto os poderosos
impérios militares deixaram de existir. O Rabino Lord Jonathan Sacks ZT”L escreveu:
“Para defender um país fisicamente, precisa-se de um exército, mas para
defender uma civilização, é necessário que haja educação, educadores e escolas.
Essas são as coisas que mantiveram o espírito judaico vivo e a Menorá dos
valores judaicos brilhando ao longo dos séculos em uma luz eterna. Muitas vezes
uma vitória militar que, no momento merece todas as manchetes, em retrospecto é
secundária à verdadeira vitória cultural de transmitir valores à geração
seguinte”. O Povo Judeu sempre soube que as verdadeiras vitórias não são
travadas no campo de batalha, e sim, na alma, no coração e na mente das
gerações futuras. Celebramos Chanucá não como algum tipo de
cerimônia militar, mas em cumprimento a um mandamento Divino que envolve luz -
símbolo da Torá, da sabedoria, do aprendizado, da bondade, da generosidade e da
verdade. A mensagem central dessa festa não é que os judeus prevaleceram em uma
guerra militar - não importa o quão importante fosse na época -, porque as
guerras são vencidas e perdidas e um país que é militarmente forte hoje pode
ser fraco amanhã. A mensagem central de Chanucá é que o Povo
Judeu existe hoje porque não permitimos que a luz do Judaísmo jamais se
apagasse. www.morasha.com.br. Abraço.
Davi.
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