segunda-feira, 7 de março de 2022

LIVRO A CIÊNCIA DO YOGA - SAMADHI PADA II

 

Yoga. Livro A Ciência do Yoga. Autor I. K. Taimni. II. SAMADHI PADA. Yogas citta vritti nirodhah. 2. Yoga é a inibição das modificações da mente. Este é um dos mais importantes e conhecidos sutras deste tratado, não por tratar de algum princípio importante ou técnica de valor prático, mas por definir, usando apenas quatro palavras, a natureza essencial do Yoga. Há certos conceitos, em toda ciência que são de natureza básica e que devem ser entendidos corretamente caso o estudante pretenda ter um domínio satisfatório do tema como um todo. As ideias implícitas nas quatro palavras deste sutra são de natureza fundamental, e, portanto, o estudante deve tentar apreender, através de estudo e reflexões, seu significado real. Sem dúvida, o sentido dessas palavras somente estará suficientemente claro quando o livro tiver sido inteiramente estudado, e os vários aspectos do assunto considerados em sua relação mútua. A expectativa é de que palavras de importância tão fundamental sejam cuidadosamente definidas e tais inseridas onde quer que sejam necessárias. Mas, no caso do presente sutra, nenhuma dessas definições foi dada e podemos, portanto, concluir que o autor espera que o estudante adquira uma ideia clara da importância das palavras, estudando o livro inteiro. Mas, como é necessário que o estudante não comece seu estudo com ideia errôneas ou confusas, talvez valha a pena considerar-se, neste estágio inicial, a relevância das palavras e do sutra de maneira geral. Comecemos pela palavra Yoga. A palavra Yoga, em sânscrito, tem grande número de significados. Ela é derivada da raiz yuj, que quer dizer “unir”, e a ideia de união está presente em todos os significados. Quais são as duas coisas que se procura unir pela prática do Yoga? De acordo com as mais elevadas concepções da filosofia hindu, da qual a ciência do Yoga é uma parte integrante, a alma humana, ou jivatma. É uma faceta ou expressão parcial da super alma ou Paramatma, a Divina Realidade, fonte ou substrato do universo manifestado. Embora, em essência, os dois sejam o mesmo e sejam indivisíveis, ainda assim, ji vatma tornous-e subjetivamente separado de Paramatma e está destinado, depois de atravessar um ciclo evolutivo no universo manifestado, a unir-se outra vez com Ele, em consciência. Este estado de unificação dos dois, em consciência, bem como o processo mental e a disciplina através da qual esta união é atingida, são ambos chamados Yoga. Esta concepção é formulada de maneira diferente na filosofia samkhya, mas, numa análise mais acurada, verificar-se-á ser a ideia fundamental essencialmente a mesma. Chegamos, agora, à palavra citta. Esta palavra é derivada de cit ou citi (IV-34), um dos três aspectos do Paramatma, chamado sat-cit-ananda no Vedanta. Este é o aspecto em que se baseia o lado forma do universo e através do qual ele é criado. O reflexo deste aspecto na alma individual, que é um microcosmo, é chamado citta. Citta é, assim, aquele instrumento ou meio através do qual ji vatma materializa seu mundo individual, nele vive e evolui, até que se torne perfeito e unido com a Paramatma. Em termos gerais, por conseguinte, citta corresponde à “mente” da psicologia moderna, mas tem um alcance e um campo de atuação mais abrangente. Enquanto citta pode ser considerado um meio universal através do qual a consciência atua em todos os planos do universo manifestado. A “mente” da psicologia moderna é confinada tão somente à expressão do pensamento, volição e sentimento. Não devemos, entretanto, cometer o erro de imaginar citta como uma espécie de meio material moldado sob diferentes formas, quando diferentes tipos de imagens mentais são produzidos. Fundamentalmente, sua natureza é a da consciência, que é imaterial, mas afetada pela matéria. De fato, pode-se dizer que citta é um produto de ambos, consciência e matéria, ou purusa e prakti, sendo ambos necessários para seu funcionamento. É como uma tela intangível, que permite que a luz da consciência seja projetada no mundo manifestado. Mas o segredo real de sua natureza essencial subjaz na origem do universo manifestado e somente pode ser conhecido quando se atinge a Iluminação. De fato, a teoria da percepção, analisada na seção IV, dá uma indicação geral em relação à natureza de citta, mas não diz o que citta é essencialmente. A terceira palavra que temos de considerar neste sutra é vrtti. Ela é derivada da raiz vrt, que significa “existir”. Vrtti é, assim, uma maneira de existir. Considerando os modos nos quais alguma coisa existe, podemos levar em conta suas modificações, estados, atividades ou suas funções. Todas estas conotações estão contidas no significado de vrtti. Mas no presente contexto, este termo é mais bem traduzido, pelas palavras “modificações ou funcionamento”. Às vezes, a palavra é traduzida como “transformações”, o que não parece justificável, porque na transformação a ênfase está na mudança e não na condição. As transformações de citta podem ser interrompidas e, ainda assim, permanecer em uma modificação particular, como acontece em sabi já samadhi. Como o objetivo final do Yoga é a inibição de todas as modificações em nirbi já samadhi, pode-se constatar que a palavra “transformação” não expressará adequadamente o significado da palavra vrtti. Além do mais, a palavra “transformação” deve ser usada para os três parinamas tratados na primeira parte da seção III. Dado que citta tem uma existência funcional e vem à existência somente quando a consciência é afetada pela matéria, a palavra “funcionamento” talvez expresse ao máximo a importância de vritti no presente contexto. Mas a palavra “modificação” é também usada em geral e compreendida mais facilmente, podendo, portanto, ser utilizada. Ao tentar entender a natureza de citta-vritti, devemos precaver-nos contra algumas falsas concepções às vezes comuns entre aqueles que não estudaram o assunto profundamente. A primeira coisa a ser notada é que citta-vritti não é uma vibração. Já vimos que citta não é algo material e, portanto, não há nela qualquer vibração. Às vibrações somente ocorrem num veículo e podem produzir uma citta vritti. Os dois são diferentes, embora relacionados. O segundo ponto a ser destacado é que citta vritti não é uma imagem mental, embora possa ser, e geralmente o é associado a imagens mentais. A classificação quíntupla de citta-vritti, em I-5, mostra isso claramente. As imagens mentais podem ser de inúmeras espécies, mas o autor classificou citta-vrttis em cinco títulos somente. Isso mostra que citta vrttis tem um caráter mais fundamental e abrangente do que as meras imagens mentais com as quais estão associadas. Este não é o lugar para discussões detalhadas sobre a natureza essencial de citta-vrttis, já que a questão envolve a natureza essencial de citta. Mas, se o estudante analisar cuidadosamente os seis sutras (I,6-11), que tratam das cinco classes de vrttis, verá que eles representam os estados fundamentais ou tipos de modificações em que a mente pode existir. O autor mencionou cinco tipos de modificações da mente concreta inferior com as quais o homem comum está familiarizado. Mas o número e a natureza desses diferentes tipos destinam-se a ser diferentes nos reinos superiores de citta. A última palavra a ser considerada é nirodha. Derivada da palavra niruddhan, significa “restringido, controlado, inibido”. Todos estes significados são aplicáveis aos diferentes estágios do Yoga. Restrição está incluída nos estágios iniciais. Controle, nos estágios mais avançados. Inibição ou total supressão, no último. O tema nirodha foi tratado em III-9, e o estudante deve ler cuidadosamente o que foi escrito a esse respeito. Se o estudante tiver compreendido o significado das quatro palavras neste sutra, verá que ele define de modo magistral a natureza essencial do Yoga. A eficácia da definição está no fato de que ela cobre todos os estágios do progresso pelos quais passa o yogi, assim como todos os estágios de desenvolvimento da consciência resultante desse progresso. É igualmente aplicável ao estágio do Krya-Yoga, no qual ele aprende as lições preliminares, aos estágios de dharana e dhyana, nos quais ele traz a mente sob seu completo controle, para o estágio de sbija samadhi, no qual ele tem de suprimir as “sementes” de samprajnata samadhi, e ao último estágio de nirbija samadhi, em que ele inibe todas as modificações de citta e ultrapassa o domínio de prakrti, entrando no mundo da Realidade. O significado integral do sutra somente será compreendido quando o tema Yoga tiver sido estudado por completo, em todos os seus aspectos, sendo, assim, inútil dizer algo mais neste estágio. Livro A Ciência do Yoga. Abraço. Davi

 

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