Budismo. www.sotozencuritiba.org.br. Por
Ryotan Tokuda. GYOJI, A PRÁTICA INCESSANTE. Seshin de Rohatsu de 1986. "Os
rostos originais dos Buddhas e Patriarcas não podem ser vistos. O rosto
original, ossos e medula dos Buddhas e Patriarcas também, como também não
parecem ir ou vir. Devemos examinar a prática incessante de um só dia.
Portanto, cada dia é precioso. Se vivermos em vão durante 1.000 anos, acabamos
nos aborrecendo com os meses e os anos. Isto é um triste desperdício de tempo.
Mesmo 1.000 anos de escravidão dos sentidos são redimidos por um só dia de
prática incessante. Uma vida corporal de um só dia é a possessão mais valiosa
de todas. Portanto, se vivermos somente um dia e possuirmos a função de todos
os Buddhas, um dia é mais útil que reencarnar durante incontáveis vidas. Por
isto, se o problema da vida e morte não foi decisivamente resolvido, não devemos
desperdiçar um só dia sequer. Um só dia é um grande tesouro a ser altamente
cotado, é melhor, muito melhor que um pedaço de jade ou as jóias de um dragão.
Sábios do passado contavam um só dia mais que seus próprios corpos e mentes.
Devemos refletir calmamente sobre isto. E descobrimos algo de mais precioso que
a joia que concede todos os desejos ou riquezas. Mesmo um só dia em uma vida de
cem anos não pode ser devolvido ou tomado de volta. Existirá algo que possamos
fazer, alguma ação, algum método para que o recuperemos? Tal não existe. Se
desperdiçamos tempo, somos enredados como a pele enreda o corpo. Santos e
sábios davam mais valor a cada dia e a cada mês que às suas próprias vida e ao
seu país. Se o tempo for desperdiçado, seremos cativados pelo status e pela
fortuna do mundo impermanente. Se evitarmos, viveremos no Caminho. Se tivermos
determinação, não passaremos um só dia inutilmente. Pratiquemos e proclamemos o
Caminho! Portanto, tenha em mente que os Buddhas e Patriarcas não gastam um dia
sequer em prática inútil. Durante os dias tranqüilos de primavera, sentemos
perto de uma janela cheia de luz e reflitamos sobre tal. Em noi-tes de outono,
de chuva fina, fiquemos em um choupana simples de floresta e nos concentremos
na prática. Sentimos falta de tais tesouros porque não temos a prática. Como
pode a virtude da prática ser tempo roubado? Nada nos é roubado. A virtude de
muitos kalpas é roubada? O que causa o conflito entre o tempo e nós mesmos? O
ressentimento, porque a nossa prática é insuficiente. Não devemos nos permitir
sermos condescendentes demais conosco mesmos. Isto causa auto-ressentimento. Os
Buddhas e Patriarcas também têm ligações de gratidão e de amor. Eles, contudo,
as abandonam. Eles têm muitos relacionamentos, mas os abandonam. Mesmo que
lamentemos, não podemos nos aborrecer com nossas relações com os outros. Se não
cortarmos os liames de gratidão e de amor, os laços de gratidão e de amor nos
cortarão fora. Se temos apegos com a gratidão e com o amor, devemos assim
proceder. Ter apegos nos mostra que devemos cortar tais coisas. Esta é a
continuação do capítulo do Sobogenzo , capítulo Gyoji, a prática incessante.
Aqui, vamos passando rápido, ele está falando sobre a importância da prática.
Como se estivesse dizendo: falar sobre Zen, depois de algumas leituras, uma
pessoa inteligente consegue falar, por isto existem vários tipos de Zen. O
"Zen de salão" para os ocidentais. Às vezes leram alguns livros sobre
o assunto e gostaram muito. Parece piada, né? Koans, etc., estas coisas são
impressionantes! Fica-se impressionado e narra-se estas coisas num salão
qualquer de sociedade. Com as damas, tomando café, tomando chá, batendo papo, e
aí falando sobre Zen. "Isto é Zen!" Parece muito bonito, mas o fato é
que nada tem a ver com ele. Por isto, às vezes precisamos em vez de boca, falar
com o corpo. A boca pode mentir. Mas o que corpo está fazendo é que esclarece
as coisas completamente, ao invés da fala. Então, pratiquemos quietos, mas sem
cessar. O praticante Zen falante, principalmente durante o sesshin, guarda o
silêncio com aquela cara... Mas se começa a falar muito, então prejudica não
somente a si mas aos outros também. Depois do seshin pode-se falar, ao terminar
o retiro. Assim é o Mosteiro Zen e a prática com os colegas. Depois, aqui no texto,
fala-se sobre o tempo, sobre a impermanência; nós os sentimos muito pouco em
muito poucas ocasiões. Quando há jovens, eles não entendem o sofrimento dos
mais velhos. Quando se tem saúde, não se entende o sofrimento dos doentes.
Quando tem-se força, saúde e beleza, tem-se orgulho e vaidade e não se entende
o sentimento de outras pessoas. Mas estas coisas todas não dependem de si
mesmo. Apenas acontecem, mas isto não é algo que dure para sempre. Logo
depois... até ontem era um rapaz moço, mas hoje já está de barba branca. Isto
nunca mais se pode ter de volta. Todos sabem disso. Mas sentir na al-ma, poucos
podem. Mestre Dogen coloca os quatro tipos de cavalos: 1) O que vendo a sombra
do chicote, já começa a cavalgar; 2) O que o chicote tem que tocar a pele; 3) O
outro cavalo, o chicote tem que cortar até a carne; 4) O último, o chicote tem
que cortar a carne e chegar até o osso, senão, ele não sente. Isto significa
que quando a pessoa encon-tra a morte num jornal todos os dias, é um problema
dos outros. Mas se encontrar a morte de alguém mais próximo, lamenta-se:
"Ele era jovem, não deveria ainda ter morrido." Depois, quando é um
parente, pessoas mais íntimas, sente-se, sente-se muito e se chora. Mas depois
de algum tempo, se esquece novamente. Agora , ele é aquele cavalo que só sente
quando o chicote corta a carne ou o osso quando chega o seu momento. Tem que
morrer amanhã. Não adianta. E assim temos os quatro tipos de cavalos. Neste
caso, o Buddha Gautama era uma pessoa muito sensível. Apesar de ser um príncipe,
estava passando na ci-dade e vendo tudo. O Rei, seu pai, preocupado, lhe falou:
"Vá passear para se divertir." E passeando, ele encontrou um velho.
"Quem é este?" Um camarada respondeu: "É um velho!" Com as
costas curvadas, não conseguia andar, era um velho. "O que é velho?"
"Ah, todo mundo fica velho com a idade, ninguém disto escapa."
"E eu também vou ficar assim?" "Pois é claro que sim! Aqueles
que são nascidos, envelhecem." "Ahhh!" Sentido, ele voltou ao
palácio. No dia seguinte, passeando por um outro lado, se deparou com um doente
sendo carregado, suportando dores, e perguntou novamente: "O que vem a
ser?". "Isto é um doente". " O que é um doente?".
"Enquanto temos físico, ficamos do-entes". "Então eu também vou
ficar assim?". "É claro! Como todo mundo". Isto é muito
simbólico, mas ele, perfeito, com saúde, jovem, viu a doença e o envelhecimento
dentro de sua juventude. Encontrando com mortos sendo conduzidos ao cemitério:
"O que é isto?" "Isto é a morte." "O que é a morte?".
"O que é a morte? Todo mundo morre, nasce e morre." . "Eu
também?". "Claro, todo mundo morre". E a quarta vez, saindo do
castelo, encontrou-se com um monge, andando tranqüilamente. "Quem é
este?". "Este é um monge". "Ah, talvez este seja o meu
caminho". E assim o jovem príncipe estava traçando a direção de sua vida.
Abandonar, renunciar. Até um dia sair do castelo. Este relacionamento amoroso,
pessoal mais forte, pai e mãe, esposa, filho,etc., é uma coisa bonita, mas ao
mesmo tempo agarra e amarra. Existem leigos que vivem sozinhos, solteiros. Hoje
em dia monges também podem casar. Mas antigamente, realmente se dedicando ao
Caminho, todos pelo menos uma vez cortavam todas as relações. Este tipo de
coisa é muito difícil. Existem koans para isto: " o dedinho
mindinho". O dedinho está amarrado com uma linha de costura, uma linha
vermelha. Porque é que não se pode cortar a linha? O koan é este. "Porque
não se pode cortar uma linha vermelha?" Puxando um pouco se pode romper
esta linha. Aqui existe um relacionamento com as pessoas. Cortar requer for-ça.
Mas havendo sentimento, desligar-se é difícil. É realmente difícil. Mas o mundo
é assim. Na vida de monges, se renuncia. Abandona-se. Neste momento é a própria
força ou a força dos outros. Um fio vermelho significa a relação com a família,
a mulher; é realmente difícil cortar. Mas o tempo que é tão precioso é uma
coisa do mundo, mundana... Por isto, uma vez despertado surgirá esta
necessidade. E quando sentir, aí surgirá o impulso de tudo largar. O trabalho,
suas tarefas e funções; mas a barreira é sempre este relacionamento mais
íntimo... Esta questão é mais para monges... Hoje em dia, os monges casam, mas
eu digo que o casamento de um monge não é um casamento qualquer. Claro, todo
mundo é assim, principalmente monges, não é uma questão de casar por acaso.
Tendo-se uma certa idade, aí se deseja casar. Por que casar? Porque ficar
sozinho é muito chato. Fica-se solitário. Ou talvez para alguns seja uma
questão de confiança dada à sociedade. Isto é a resposta, o casamento. Mas não,
aqui se trata de um amor mais profundo. Depois disto, existe alguém mais além,
e isto não é por acaso. Aqui são poucos os monges, mas despertando, assustam-se
com alguma coisa mais profunda, talvez a impermanência. Quando se está
realmente com este sentimento, uma energia enorme leva-nos em frente. De certa
maneira, as pessoas se tornam enfim escravas dos cinco sentidos. Comida boa,
escutar música, ver coisas bonitas, ler livros preciosos, arte, teatro. Mas o
que acontece é que o tempo passa tão rápido que assusta. Se morrer aos setenta,
oitenta anos, até que tudo bem, mas às vezes morremos tão jovens, até os bebês
podem morrer. Neste momento nós realmente reagimos: "O que é isto?".
O monge Ikkyu, muito cínico, andava com um crânio na ponta do bastão de peregrinação
durante o Ano Novo. O ano Novo no Japão é como o Natal aqui. Aqui todo mundo
fala "Feliz Natal"; ou então, "Feliz Ano No-vo". Mas porque
razão "feliz"? Completando o ano, a morte está chegando mais perto.
"Ah, não fale isto sobre o Ano Novo! Ano Novo é uma coisa boa, você está
falando em morte? Por favor, fale uma coisa alegre, mais agradável." Então
ele disse: "Primeiro morre o avô, em seguida morre o pai e em terceiro
lugar morre o filho." "Ah, morre todo mundo?" . "Sim, mas
morrendo nesta ordem, avô, pai e filho, está muito bom. Se o filho morrer
primeiro do que o pai ou o avô, isto seria uma tristeza". Por isto, os
monges para sentirem a impermanência, faziam certos tipos de meditações no
cemitério, vendo cadáveres; quando vinham desejos sexuais, iam lá e olhavam.
Viam os corpos e os cadáveres. Na Índia jogavam-se os cadáveres no cemitério,
não enterravam, não faziam cremação. Aquela moça bonita morreu, ela ainda pode
despertar desejo, mas logo depois, um dia, quando está quente, não leva nem 24
horas, começa a correr líquido, um sangue meio aguado, e começa a inchar e a
mudar a cor, vermelho meio roxo, manchas; se morreu acidentalmente com água ou
com fogo é mais terrível. Como eu sou monge, já encontrei vários tipos de
mortes. Fui várias vezes ao Instituto Médico Legal. É uma coisa terrível. Os
corpos ficam nas gavetas, na geladeira. Totalmente nus. E geralmente todo mundo
está cortado de cima abaixo e mal costurado. Todos iremos para lá. Não importa
se ricos ou pobres. Nem se é inteligente, não importa, tem que passar por lá,
tirar todo a roupa e somente uma etiqueta no peito. Este corpo cheira, cheira,
e passa lá um dia, três dias, uma semana... com mau cheiro. Comendo depois
peixe assado, grelhado, a carne não entra mais na boca. É o mesmo cheiro, nós
nos lembramos. A carne, coisas inchando e começando a abrir, com bichos;
começam a vir moscas, aparece o osso, um cachorro vem e leva um pedaço. Daqui a
pouco vem o vento e leva tudo. Neste momento, com o que você está apegado? Este
é o outro lado da realidade. Aí vem aquele susto, a questão: "O que é a
vida e o que é a morte?". "O que é o amor?". "O que é a
eternidade?". "O que é o absoluto?". Estes tipos de perguntas,
quando uma vez surgem, não passam mais. Se não resolvemos este sofrimento
espiritual, não encontramos a paz. Mas raramente este tipo de questionamento
acontece, porque neste mundo há tanta coisa bonita, tanta coisa boa, tanta
coisa divertida. Um viajante encontrou com bichos, uma onça, um tigre, leões,
panteras; aí fugiu para dentro de um poço que ele por acaso descobriu. E se
segurou ali dentro em um cipó; quando olhou para baixo, havia um outro bicho,
uma serpente venenosa, esperando de boca aberta. Desesperado, segurava apenas a
corda. E aí apareceram dois ratos, um branco e um preto, e começaram a comer o
cipó. Quando acabaram de roer, ele caiu. E lá no fundo do poço encontrou uma
flor aberta, que deixava cair néctar; aí ele recebeu o mel com a língua:
"Ah, que doce!" E naquele momento o viajante esqueceu todos os
perigos. O que é isto? Estes quatro bichos são os pontos cardeais, são os
quatro sofrimentos: 1) a vida é sofrimento, 2) o envelhecimento é sofrimento,
3) a doença é um sofrimento, 4) e a morte é um sofrimento. E o cipó, ao qual
ele estava agarrado, é o tempo; o dia é o rato branco e a noite é rato negro.
Dia e noite. E os outros animais... A flor no poço o que é? A flor é a vida que
dá as sensações para satisfazer os desejos: comida, música, estes tipos de
desejos de bens materiais, sexo, etc, etc. Os jovens estão procurando alguma
coisa, mas não sabem o que. Não sabem onde encontrar. Sexo, suspense. Com estas
sensações instantâneas, estão esquecendo certas coisas e, inconscientemente,
estão querendo fechar os olhos para outras. Então, cada vez mais estas outras
coisas são mais fortes. Com isto eles querem esquecer a realidade. Mas quem
despertou não pode esquecer. Naturalmente, sozinho ele começa a se afastar das
pessoas e começa a meditar sozinho. Porque dentro dele aconteceu alguma coisa
errada. Alguma coisa errada. Com o que realmente se pode contar? Começa a
pensar: sobre seu pai, dinheiro, casa, carro, esposa, filho. Para certas
pessoas a resposta é positiva: "eu tenho dinheiro, eu tenho casa, eu
te-nho pai." Mas para alguém mais esclarecido, realmente com que se pode
contar? Nem a nós mesmos podemos conduzir livremente. Tudo despende uma força
enorme. A isto se chama impermanência. Nós batemos o han, o han é um tambor de
madeira, não sei se vocês notaram, primeiro bate-se sete vezes com o mesmo
distanciamento entre cada batida, depois carreira rápida, depois bate-se cinco
vezes, depois carreira, depois três vezes mais. E assim o nosso tempo é cada
vez menor: 7,5,3,1,0. Zero. Zero! Quando é zero é a hora do adeus. Aí se vai
embora. Falando desta maneira, as pessoas podem pensar: "O Budismo é tão
pessimista! Por isso que eu não gosto. Tem cheiro de morte". Mas não é.
Para realmente vivermos neste mundo, pelo menos uma vez ou outra, ou em alguma
ocasião, é bom pensar um pouco. Pensamos que temos muito tempo pela frente.
Não! Metade já se foi, passou. 2/3 já se passaram. Dentro da história japonesa,
dentro da literatura, há uma palavra, goavai, que significa: as coisas
lamentáveis deste mundo. Sentindo a impermanência, mais lamentável ainda. É um
sentimento. Mas esta filosofia quando chega a ser mais profunda, através dos monges
Zen, fica ainda mais acentuada. Como eu expressei, vendo as coisas que vi no
limite deste mundo, até onde se pode gozar? Ainda temos um pouco de tempo. Têm
perguntas, sobre este assunto?... É por isto, dentro da história do Zen, que os
monges abandonam suas famílias. Isto é perigoso. Este pensamento e esta
filosofia, são muito perigosas hoje em dia, para os jovens principalmente, que
tão facilmente se separam. Antigamente, o Sexto Patriarca cuidava de sua mãe
com muito amor e ainda assim abandonou tudo. Difícil de abandonar e abandonou.
É isto. Não é como hoje, que as pessoas estão tão pouco ligadas, tão
irresponsáveis. Não é neste senti-do. Por isto, se for uma pessoa qualquer,
então não deve brincar, "ah, eu agora sou monge!". "E agora
novamente vou voltar a ser leigo!". "Ah, não deu certo, então eu sou
monge novamente". É desta forma que as pessoas estão brincando, quando na
verdade isto é uma coisa muito séria. Por isto até agora, os grandes mestres
são realmente heróis. Cor-taram aquilo que não podia ser cortado. Por isto
naturalmente, o treinamento deles dentro do mosteiro é diferente dos demais
monges. Porque cobram de si mesmos e dos outros também as situações e as
mudanças bruscas. Tem que ser sério mesmo. É assim a teoria que diz que nós devemos
dedicar 99% ao treinamento; agora cortando, depois renunciando ao mundo. Amor
todo mundo tem, mas este amor é limitado, apenas à sua esposa, apenas ao seu
próprio filho; se o filho brigar com o filho do vizinho, em seguida começa a
briga dos pais. Falam muito também, especialmente os militares, em amor à
pátria, e o que é o amor à pátria? Amar a sua pátria... então começa a guerra,
e gritando no campo de batalha, os filhos se vão. Vejam o resultado da
Argentina: a guerra das Malvinas. É o amor limitado a si mesmo ou aos vizinhos,
pátrias, estados; mas o verdadeiro amor é muito mais, uma coisa universal. Os
monges, cortando estes amores particulares, penetram no amor universal ou
fraternidade, uma coisa maior, e vivem neste mundo mais amplo. Esta é a missão
dos mon-ges. Não é apenas fugir da responsabilidade deste mundo. Vem agora uma
outra espécie de responsabilidade de não acabar com este treinamento, a prática
incessante de todos os Buddhas e Patriarcas que chegou até nós. Neste caso,
isto se chama grande compaixão, já não é mais amor. É grande compaixão. É em
cima disto que monges vivem. Se os monges não a tiverem, apenas quiserem ganhar
uma iluminação particular, sabedoria, não terão verdadeira compaixão. No fundo,
no fundo, há que se ter esta grande compaixão. Neste caso, ela não tem limites
de espaço, ocidente ou oriente, sul ou norte, um país ou outro país. Não tem
esta diferença de país, distância, de espaço e não tem limite de tempo,
passado, presente e futuro. Aquele amor de Jesus Cristo, até agora vive.
Quantas pessoas foram salvas com isto? Buddha, Confúcio, Sócrates, estas
grandes figuras da humanidade, apareceram, sacrificando as suas vidas
particulares e se ofereceram a todos os seres e, com isto, estão numa outra
dimensão, num outro nível de pensamento, ajudando fora das coisas do mundo, em
outro mundo sagrado. Este é o mundo do Dharma, como nós o chamamos; neste caso,
a grande compaixão sem limites cobre tudo, todos os seres humanos, todos os
seres viventes, inclusive as plantas. Esta é a filosofia fundamental budista,
por isto este trabalho ecológico, com o meio ambiente, voltado para a natureza,
no fundo está baseado nesta filosofia; não somente seres humanos, mas o amor, a
compaixão, alcança até os bichinhos, até as plantas. Não matar, mas dar a vida
pelas coisas, até as coisas materiais, insensíveis, até os bens materiais. Até
isto: dar a vida até por estes objetos. Se maltratar, isto quebra, precisa
então consertar. Mas se tratar bem, este relógio funciona por anos e anos sem
quebrar. Então está se dando a vida, para o gravador, para o cobertor,
colchões, esteiras, tapetes, etc, tudo. Não matar, significa dar a vida para as
coisas. Então, deste jeito, mudam-se todos os conceitos e muito mais além
ainda, mais além. Então, este amor sem limites cobre tudo, passado, presente e
futuro e o espaço também, e ainda é incansável. Incansável, significa que
es-tamos querendo ajudar e salvar, mas não querem aceitar, porque estão bêbados
e estão adormecidos. Queremos ajudar, mas não aceitam, porque estão apegados às
coisas do mun-do, não escutam, não reconhecem. Não desanime, não pare, vá, vá,
mesmo com muito sa-crifício e muitas dores, mas não canse, vá, constantemente.
As pessoas não têm natureza de Buda? Como salvar este tipo de gente? Não quero
abandonar ninguém. Todo mundo tem que ser salvo. É a filosofia do Bodhisattva.
Esta filosofia do Bodhisattva é incansável. Co-rajosa. A qualquer tipo de
dificuldade pode-se fazer frente. Sozinho. Esta é a dignidade dos monges. Se
não a tiver, é melhor voltar para casa. Morar com sua família, lar, aquela
comida quentinha, música, aquele sorriso bonito, é bom. Depois daquela grande
negação, vem esta grande aceitação, a constatação de que o mundo é todo
maravilhoso. Tudo é maravilhoso. Depois de passar por isto, nós sentimos
claramente. Senão, com pouco treinamento, brigando sempre, vamos nos separar.
Deixemos de brincar com estas coisas agora. O Shobogenzo, a prática incessante,
é para isto, não é para saber de nada mais. Zen, aqueles koans interessantes,
isto não é Zen de salão, tomando chá, não, é algo que parece estar a-brindo a
sua barriga, saindo dos intestinos e andando, arrastando-se a dor. Senão é
melhor ficar parado e viver neste mundo. Tomar banho, ir para o cinema. Temos
um pouco mais de tempo. Têm perguntas? Não sei se entenderam, perguntem para
não haver mal entendidos nesta parte de renúncia ao mundo. Por favor, as
senhoras aqui ficam muito preocupadas, não é isto. O Budismo Mahayana é muito
amplo com a compreensão de suas famílias. Podem seguir o Caminho, não
necessariamente sozinhos. O caminho é muito amplo, muito amplo, pode-se ir com
2, com 3, com um grupo, todos juntos. Mas algumas pessoas, realmente poucas,
levaram aquele susto... estes homens não tem jeito, despertam. Se não houver
perguntas sobre este assunto muito sério... Desculpe, mas temos que encarar
esta seriedade, porque está no texto. Pergunta: Que diferença faz saber destas
coisas, se na hora de vivê-las dói para todo mundo? Resposta: Este treinamento
Zen é "para estes poucos" que levam a sério. Zen é uma coisa nova
aqui, mas aquele que o procura têm problemas, problemas psicológicos de certa
maneira, é um doente, apesar de ter saúde mental, física e intelectual, mas
mesmo assim é um doente. Doente de vida verdadeira. Querem viver realmente.
Assim, com a necessidade, começam a procurar várias coisas e por acaso alguns
chegam até o Zen. Por isto, dentro do Zen, há esta loucura, essa dureza, porque
o treinamento dói, é duro. Mas quem procura este Caminho, está escrito no
texto, os seus problemas doem mais ainda. Então estas dores não se comparam.
Por isto aguenta-se e vai-se muito mais além. Para frente. Este treinamento é
difícil. Mas realmente, a pessoa sabe o valor. As coisas verdadeiras não são
ganhas com tanta facilidade . São difíceis. Por isto o treinamento é
simbolizado por pérolas que estão no queixo do dragão. Se a pessoa precisa
ganhar estas pérolas, tem que lutar com este dragão. São Jorge, contra este
dragão ou demônio, é você mesmo. Se conseguir ganhar do dragão, se transforma em
um Deus, um Deus e guardião ao mesmo tempo. Este corpo pode fazer muita coisa.
Bobagens, besteiras com o karma, mas ao mesmo tempo com este corpo nós podemos
fazer muitos atos bons. Isto é transformação. Encontrando-nos com o Caminho,
com este ensinamento, começamos a mudar. As células, carnes, músculos, os
ossos, se transformam no corpo de Buddha. Nós temos o corpo do Buddha cósmico,
mas ainda é muito simples, precisa se transformar realmente, manifestar a
beleza de Buddha. Ainda fazemos muita besteira. Mas o treinamento é um passo
depois do outro. Pergunta: O que significa que nós termos que lutar contra o
dragão? Resposta: Esta luta é porque nós temos ignorâncias incontáveis.
Isto desde muito tempo atrás, e por isto estas raízes são muito fortes. Tem que
cortar . Esta é a luta. A-gora, o Budismo Mahayana, o Zen, vai muito mais além:
tenta sem cortar estas ignorâncias, vivendo neste mundo com família, com
mulheres, com filhos, com pai e mãe realizar a ilu-minação. Esta é que é a
libertação verdadeira. O Zen é assim. Dentro do Shingon esotérico é assim.
Aceitação. Se uma pessoa resolveu tudo e se iluminou, vem aquela exclamação do
Buda: "Que maravilhoso! Todas as coisas são douradas! Todos os seres têm a
natureza de Buddha. Céu, terra, todos os seres viventes realizaram a iluminação
comigo. Quem tem ouvido, escuta o meu sermão!" Como o orvalho do céu: quem
toma uma vez deste orvalho, nunca mais morrerá. Quem está sofrendo com esta
mortalidade, esta impermanência, quem encontra este ensinamento, é como tomar estas
gotas do céu. Este é o ensinamento do Buddha. Aí nunca se perderá a vida. Todo
mundo tem medo de doença, envelhecimento e morte. Então, para quem pode ter
esta pureza, esta tranquilidade absoluta, esta é a melhor coisa que existe. Não
são somente os bens materiais que contam, mas é dar segurança e vida, este é o
trabalho dos monges. Com esta missão, o egoísmo de seguir o Caminho sozinho
deve ser contrabalançado. Por isto, este é um trabalho de herói. Como um herói,
lutando contra milhões de inimigos, pode-se mais ganhar para si mesmo. É um
trabalho muito difícil. É isto. www.sotozencuritiba.org.br.
Abraço. Davi
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