Editor
do Mosaico. O SENTIMENTO UNIVERSAL DA PÁSCOA. Comemoramos no cristianismo em
(12/04/2020) o domingo de páscoa. Momento de confraternização familiar. Muitos
parentes reúnem-se para almoçarem juntos ou dependendo das circunstâncias
jantarem. Esse sentimento vêm com a tradição judaico-cristã, no caso de nosso
país, o Brasil, apesar de oficialmente laico tem arraigado em sua cultura a
religião católica, e quase igualando em números os protestantes - evangélicos - de várias
tendência e facções. Sendo um evento espiritual contido nas três religiões
monoteístas (cristianismo, judaísmo e islamismo) reveste-se de importância
fundamental, quando pensamos na integração de filosofias e espiritualidades do
mundo em que estamos incluídos. Essa é a proposta do Mosaico, valorizar todas
as correntes do pensamento religioso universal, reconhecendo em cada uma sua
peculiaridade e particularidade como motivos de complementariedade para ajustar
e reparar as diferenças, harmonizando e sintonizando a doutrina exotérica de
cada povo. Aparentemente uma sugestão ousada, mas a semente do entendimento humano
precisa ser lançada em todas as direções, assim, um dia, veremos os frutos
desse laborar universal, mesmo que seja em posteriores renascimentos. Três
palavras (pessach, ashura e páscoa) têm semelhantes significados, mas com
simbolismos e compreensões diferentes. Dentre as religiões aludidas acima, não
há dúvida que o judaísmo é a origem dessa tradição. Tudo começou com o
patriarca Jacó, que desceu para o Egito, segundo as escrituras com 70 almas,
por volta de 1300 AC. Os descendentes do primeiro patriarca hebreu, Abraão,
estiveram nesse país como escravos por aproximadamente 430 anos, saindo
posteriormente sob a liderança de Moisés. Conforme Êxodo 12 em quantidade estipulada de mais de 2 milhões
de pessoas (contando mulheres, crianças); sendo que o texto sagrado menciona
600 mil homens como visto em Êxodo 12,37 "Assim partiram os filhos de
Israel de Ramessés para Sucote, cerca de seiscentos mil a pé, somente de homem,
sem contar os meninos". Esse trecho bíblico narra a saída do povo de
Israel do cativeiro no Egito. Êxodo 12: 3. "Falai a toda a congregação de
Israel, dizendo: Aos dez desse mês tome cada um para si um cordeiro, segundo as
casa dos pais, um cordeiro para cada família. 4. "Mas se a família for
pequena para um cordeiro, então tome um só com seu vizinho perto de sua casa,
conforme o número dos almas: cada um conforme ao seu comer, fareis a conta
conforme o cordeiro.". 5. "O cordeiro, ou cabrito, será sem mácula,
um macho de um ano, o qual tomareis das ovelhas ou das cabras". 7. "E
tomarão do sangue, e colocarão em ambas as ombreiras, e na verga da porta, nas
casas em que o comerem". 8. "E naquela noite comerão a carne assada
no fogo, com pães ázimos com ervas amargas a comerão". 11. Assim
pois o comereis: Os vossos lombos cingidos, os vossos sapatos nos pés, e o
vosso cajado na mão; e o comereis apressadamente, está é a pessach do
Senhor". Os judeus têm toda uma tradição espiritual em relação a esse
evento. Sendo uma refeição ritualística preceituada no Talmud escrito e oral,
de igual modo, na Torá escrita e oral. Não detalharemos os pormenores, mas é
bom saber, que nas famílias o pai ou responsável, deve conhecer esse mandamento
para celebrar conforme está ordenado. Eles comem na pessach o cordeiro, as
ervas amargas e o pão sem fermento. Além de tomarem vinho, e outros ingrediente
usados hoje, relembrando tudo que D'us realizou por eles; como a milagrosa saída do Egito, o livramento de seus primogênitos que não pereceram pelas mãos
do anjo da morte, ao obedecerem a ordenança de mancharem, tingirem, com sangue
os umbrais das portas. Eles têm um sentimento, que individualmente todo judeu é
um servo de D'us durante sua vida. O cordeiro entre eles não é símbolo do
Messias, nem de Jesus, mas cada judeu, na condição de filho deve assumir com
seu Criador um pacto de vida e morte, colocando-se à disposição do Todo
Poderoso desde seu primeiro suspiro ao último. O sentido da pessach é passagem,
denotando que, os judeus seriam sempre peregrinos no mundo, sendo seu período
de vida na terra um intervalo de tempo intercalado entre cidades, nações e
continentes os mais diversos. Encontrariam convivências em diferentes culturas e
tradições, passando por momentos de cordeiro assado nas suas famílias, ervas
amargas em muitas situações (perseguições e mortes), tendo a restrição (fome) gustativa
do pão sem fermento em muitas ocasiões. Seriam bem recebidos em alguns lugares,
mas em outros discriminados. Os judeus têm um sentimento nacionalista de
autopreservação, e um "medo" coletivo, quando necessário haver fuga à
retirada eminente, indo pra outras Terras. A comunidade dos judeus messiânicos
celebram a pessach, páscoa, de maneira mais livre, sem um dogmatismo litúrgico e como os cristãos vendo no cordeiro a figura de Yeshua (Jesus), como um ser
divino, o Filho encarnado de Deus. Mas a grande maioria dos judeus
(conservadores, liberais, ortodoxos e ultra ortodoxos) não creem que Jesus é o
Cristo o filho do Deus Vivo. Tendo-o como um profeta, assim, como os demais
patriarcas (Abraão, Isaque, Jacó, José, Moisés, Josué, Ezequiel e outros) que formaram o povo
Judeus em seus primórdios. Os judeus celebram a pessach em 15 e 16 de Nissan
(15 e 16 do mês de abril), estando atualmente no ano religioso de 5781. Os
muçulmanos também tem sua páscoa, porém para eles, o evento tem um significado
diferente que o dos cristãos. Acontecendo em outra data, a comemoração é chamada
de Ashura. Celebra a libertação dos escravos israelitas do Egito, sendo feita
no 10º dia de Muharram, o primeiro mês do ano no calendário lunar, que será em
outubro. Segundo o professor universitário Said Mounsif, Iman da comunidade
muçulmana no Pará - Brasil, o Islã pregado pelo profeta Muhhamad (que a paz e o
amor de Alláh esteja sobre ele), em árabe mesmo, já que o nome
"Maomé" é considerado uma referência pejorativa, que surgiu no
período das cruzadas. Era a mesma religião pregada pelos profetas mencionados
na Torá e na Bíblia. Quando o Profeta Muhhamad (570-632) chegou em Medina -
Arábia Saudita, encontrou a comunidade judaica jejuando no pessach. Ele
perguntou: que festa é esta que o judaísmo está fazendo? e a resposta dos
companheiro foi, que era o dia da saída dos Hebreus do Egito. E a resposta foi,
vamos fazer deste dia nosso também. Porque o Islã honra o Profeta Moisés, e os
patriarcas, explica Mounsif. Para os fiéis do islamismo, porém, existe uma
divergência com o que aconteceu com Jesus. Enquanto os cristãos celebram sua
ressurreição como o principal milagre da igreja, os muçulmanos acreditam que
Cristo não morreu. Após a última ceia, o profeta Jesus teria sido arrebatado,
indo ao reino dos céus sem ser submetido ao calvário da crucificação. No
islã, que tem no Alcorão Sagrado, a revelação divina para a humanidade, Muhhamad e Jesus são profetas de Alláh. Mounsif continua explicando: para
nós, muçulmanos, os dias que antecedem a páscoa não trazem qualquer significado
especial espiritual, pois não cremos em sua morte. Por consequência em sua
ressurreição, uma vez que só ressuscita ou volta a vida, aquele que morreu.
pondera o Iman. Ainda assim, Mounsif incentiva muçulmanos convertidos a não
perderem o contato com suas famílias de outras religiões durante a comemoração
da páscoa cristã. Mesmo que não participem de missas e outros eventos
religiosos. Os muçulmanos tem parentes e famílias cristãs, evangélicas,
católicas. Então eles devem participar da festa da família que não pode ser
desprezada ou eliminada. A família, quando se reúne, é uma felicidade para a comunidade
muçulmana, ratifica Mounsif. Nós cristãos, pelo menos minimamente, em nossa
experiência, conhecemos o conceito da páscoa, advindo dos ensinos bíblicos
adquiridos desde criança nos catecismos, nas escolas dominicais ou retiros
infantil. Onde tomávamos lições das principais doutrinas das Escrituras
Cristãs. Aprendemos, que a última ceia que Jesus comemorou com seus discípulos
representava, em relação a ele ser judeu, a instituição de um novo mandamento. Não mais como o modelo antigo do cordeiro sendo a refeição principal à família
judaica, mas agora, os cristãos celebrariam a morte e ressurreição de Jesus prefigurando seu triunfo sobre a condição espiritual proveniente do velho
judaísmo. Desse modo, os discípulos e seguidores, também, após a conversão e batismo
nas águas, seriam, pós morte, introduzidos no reino do Pai Celestial.
Poderíamos entrar em questões teológicas que suscitariam longos argumentos para
explicarmos, e, penso, que não devemos enviesar nesse caminho, pra não
corrermos o risco de embaraços. Mas como cristãos temos inúmeros problemas
retóricos e dogmáticos. Como exemplo, algumas facções do cristianismo, não aceitam a
divindade de Jesus, os Testemunhas de Jeováh, inclusive tem uma hipótese,
que Jesus não morreu numa cruz, como recorrentemente é ensinado pela teologia
ortodoxa. Porém, foi pregado em uma estaca. Também, os Adventistas do Sétimo Dia
reconhecem em seus ensinos exotéricos, a ordenança do mandamento do sábado,
como requisito para fazer parte dos 144 mil que entrarão na Nova Jerusalém. A cidade celeste que inaugurará o reino milenar de Jesus Cristo sobre o planeta Terra. Será um grupo
especial de cristãos que estarão com Cristo, no plano espiritual
invisível, sendo os governantes de países, cidades e logradouros no mundo
inteiro. Os demais cristãos estarão incluídos, numa esfera visível, no milênio,
os mil anos em que Cristo reinará junto as nações da Terra. Temos costume nas
igrejas, principalmente protestantes, de diminuir a importância da páscoa
e aumentar o valor da Ceia do Senhor. Muitos cristãos dizem que a páscoa
representa a velha aliança realizada por Deus com seu povo no deserto. Mas hoje
temos a Nova Aliança simbolizada pelos sacramento (pão e vinho) místicos,
tipificando o corpo e o sangue de Jesus vertido na cruz do calvário para a
salvação da humanidade. Esse segundo aspecto sim, é prevalecente, em nossa experiência
com Deus. Devemos percebe que cada perspectiva da doutrina exotérica (exterior), nesse
particular, tem relevância específica num pormenor da experiência de cada
indivíduo em sua cultura espiritual. Não existe, penso, esse conceito de um
ensino sobrepor-se ao outro como melhor ou pior, pois é notório, que as
idiossincrasias devem ser mantidas representando aspectos da verdade de cada
tradição religiosa. Fica claro que o cristianismo das três religiões
mencionadas aqui, é a única que tenta ter primazia quando citamos os dogmas e
crenças relacionados a espiritualidade. Isso cria um entrave para podermos
compreender e aceitar outras proposições, que não sejam necessariamente,
concordante com aquilo que pensamos. Mateus 26: 26. "E, quando comiam,
tomou Jesus o pão, e abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos, e disse:
Tomai, comei, isso é o meu corpo". 27. "E, tomando o cálice, e dando
graças, deu-lhes, dizendo: Bebei dele todos". 28. "Por isto é o meu
sangue, o sangue do novo testamento, que é derramado por muitos, para remissão
dos pecados". 29. "E digo-vos que, desde agora, não beberei deste
fruto da vide, até aquele dia que o beba novo no reino de meu Pai".
Páscoa, um tema tão nobre e rico em simbolismo espiritual na tradição
judaico-cristã, passou hoje, no mundo ocidental, a fazer parte do racionalismo
materialista da pós-modernidade, reduzindo seu valor ao consumismo
capitalista. É espantoso que muitos cristãos assumiram a postura
comercial e utilitarista dum ensino tão precioso como este. Cooperamos com a
liberdade de mercado lucrativa ao adulterar com tipos das figuras de coelhos,
"ovos" de páscoa, presentear chocolates para amigos ocultos com
representações conscientemente nas reuniões familiares neste memorável dia estereotipando os verdadeiros símbolos místicos. Esses, são a família, o
cordeiro, os pães ázimos, as ervas amargas, a água e o fogo que o texto bíblico
nos faz ponderar. Nestes dias, suponho, ser recomendável voltarmos para uma
visão espiritual e interior do verdadeiro sentido cristão da páscoa. Tentarei
trazer luz nessa rica alegoria que precedeu a saída do povo hebreu (israelita) do Egito.
Usarei o texto acima de Êxodo 12:5,7-1. I. Lombos cingidos, sapatos nos pés e
cajado na mão. Entendo como nossa responsabilidade em percorrer a senda
espiritual. A ideia que nossa humanidade será testada ao extremo pelo
"caminho estreito e a porta apertada", em Mateus 7,14. As provações
nos virão, neste mundo tipificado pelo "deserto" com serpentes e
escorpiões. Montanhas, escassez d'água e alimento. Frio, calor, miragens,
desejo de retornar ao velho Egito. Desentendimentos, tocaia dos inimigos; por
incrível que pareça, todos, instrumentos para nos elevar ao Divino. II. O
cordeiro como representação do Cristo, deveria ser perfeito e imaculado. Sua
morte redentora e vicária, substitutiva, forneceria a satisfação e alegria dos
filhos de Deus como famílias da Terra. Ele (Jesus) foi sacrificado "a tarde"
no monte Gólgota ou Caveira, assumindo nossa culpa e inumeráveis pecados. Seu
sangue cobriu nossas transgressões, quitando nossa impagável dívida e nos
reconciliando com Deus. Isso é infinita incompreensível graça. III. A família reunida teria o cordeiro como o prato
principal, que promoveria uma solene refeição. Não era mais uma, mas a última
numa terra estranha na qual estiveram vivendo por mais de quatrocentos anos. Tendo
esperança de um dia partir para a Terra da Promessa. IV. O fogo lembra carne
assada, o doloroso e sofrido vitupério, vergonha, humilhação, insulto, ofensa e
injúria pela qual o Cristo passou para promover nossa salvação. Também a
purificação pela provação, muitas vezes nos tornando cinzas para ressurgirmos
do pó, tal como o pássaro mitológico phênix. V. A água traz a ideia da
purificação interior e a finalização de um processo para entrar num estágio
mais elevado de espiritualidade, ascensão. Seu batismo é exemplo desse
procedimento quando em Mateus 3.16 é dito "sendo Jesus batizado, saiu logo
d'água, e eis que se lhe abriram os céus e viu o Espírito de Deus descendo como
pomba, vindo sobre ele". Isso pode representar uma alusão a nossa iniciação
quando somos imersos nas águas, fazendo parte do mistério da vida cristã. VI.
Ervas amargas dizem respeito as vicissitudes retratadas nas doenças, angústias,
ansiedades, medos, tristezas que enfrentamos em nosso cotidiano. Noite e dia, é
o cálice que devemos estar prontos para tomarmos, sem murmuração e agradecendo
a Deus o privilégio de padecer por ele. VII. Pães ázimos, penso, o discernimento
que devemos estar capacitados a usar nas decisões, escolhas, sentimentos,
intuições que envolvem as mais variadas situações que enfrentamos. Aqui devemos
estar intimamente ligados ao Senhor, sendo um com ele em espírito. O
discernimento é um atributo do espírito humano. A comunhão com Deus produz está
sabedoria do alto. Nossa esperança está tipificada na travessia do rio Jordão,
entrando na Terra Prometida de Canaã. Deuteronômio 8,7 "Porque o Senhor
teu Deus te põe numa boa Terra, Terra de ribeiros de águas, de fontes, e de
mananciais, que saem dos vales e das montanhas. Terra de trigo e cevada, e de
vides e figueiras, e romeiras; Terra de oliveiras, de azeite e mel. Terra em
que comerás o pão sem escassez, e nada te faltará nela; Terra cujas pedras são
ferro, e de cujos montes tu cavarás o cobre". Essa Terra é a representação
de Cristo, crescendo em nosso espírito. Quero ter o prazer de ver na mesma
mesa, sentados, judeus, muçulmanos e cristãos celebrando a Ceia do Senhor
(Eucaristia) numa mesa ou igreja. De igual modo, o mesmo grupo, participando
das comemorações da Ashura muçulmana numa mesquita. Semelhantemente esses, também,
festejando a Pessach, numa sinagoga judaica. É possível esse fato? Creio que sim, se fizermos nossa parte, para que, esse sonho torne-se uma realidade. Páscoa
é comunhão fraternal com Deus - Família - Irmãos - Amigos. Feliz páscoa a
todos. Abraço. Davi.
Nenhum comentário:
Postar um comentário