Islamismo.
Texto de Samir El Hayek. O ALCORÃO SAGRADO. A leitura do Alcorão requer uma
iniciação e um preparo indispensáveis para uma melhor compreensão,
especialmente no caso do leitor não-muçulmano. Tentar compreender o Alcorão
baseando-se apenas na informação oral ou em passagens específicas e não em seu
texto como um todo, levará o leitor despreparado a um entendimento distorcido
do mesmo. Quando lemos o Alcorão, percebemos que muitos conceitos usados em nosso
dia-a-dia são citados e enfatizados frequentemente em seus versículos. É
importante lembrar que esses conceitos são decisivos para a boa compreensão do
Alcorão e assim, agirmos de acordo com os seus postulados. Entre estes
conceitos, encontramos sabedoria, paciência, lealdade, descrença, favores
especiais de Allah (swt). O alcorão foi a última palavra revelada por Allah
(swt) e a fonte básica para os ensinamentos islâmicos e suas leis. Trata-se de
moralidade, adoração, conhecimento, sabedoria e a relação Allah (swt) - homem e
as suas relações entre os seres humanos. Compreende ensinamentos sobre o
sistema de justiça social, política e relações internacionais, economia,
legislação, jurisprudência, e leis podem ser formadas através de partes
importantes do Alcorão. Apesar do Profeta Muhammad (saws) não haver tido uma
educação formal, o Alcorão assim que lhe revelado foi transcrito por seus
secretários. Desta forma, cada palavra foi escrita e preservada por seus
companheiros. O texto completo e original do Alcorão é em árabe. Tradução em
outros idiomas podem ser encontrados em bibliotecas e livrarias. De acordo
com o Alcorão, sabedoria é uma qualidade peculiar aos fiéis, o nível de
sabedoria pode aumentar ou diminuir com relação ao seu comportamento correto.
Sabedoria, o modo de compreensão, é uma orientação divina que capacita o homem
a mostrar o comportamento correto e a atitude com a qual ele espera agradar a
Allah (swt) e alcançar a sua justa estima. É a capacidade de julgar entre o
certo e o erro, atingir a mais elevada atitude moral, tomar as decisões certas
para cada citação, e agir, tendo sempre em mente, a vida após a morte.
INTRODUÇÃO AO ALCORÃO. Louvado seja Allah (swt), Senhor do Universo, e que a
paz e a misericórdia estejam com o Mensageiro e toda a sua estirpe, seus
companheiros e seus seguidores! Alcorão é a palavra de Allah (swt), revelada a
Muhammad (saws), desde a Surata da Abertura até a Surata dos Humanos,
constituindo o derradeiro dos livros revelados à humanidade. Ele encerra, em
sua totalidade, diversificadas nuanças, tais como: a felicidade, a reforma
entre os homens, a concórdia, no presente e no futuro; ele foi revelado,
versículo por versículo, surata por surata, de acordo com as situações e os
acontecimentos, no decorrer dos vinte e três últimos anos da vida do Profeta
Muhammad (saws). Uma parte foi revelada antes da Hégira, em Makka (Meca), e
outra depois, em Madina (Medina). Os versículos e as suratas revelados em Makka
abrangem as normas da crença em Allah (swt), em Seus anjos, em Seus livros, em
Seus mensageiros e no Dia do Juízo Final. Os versículos e as suratas revelados
em Madina dizem respeito aos rituais e à jurisprudência. Nele há narrativas sobre os nossos antecessores e
sobre os nossos sucessores, e é um árbitro entre nós. Há narrativas de povos
anteriores, de séculos passados; há histórias dos profetas, dos mensageiros,
dos povos, dos grupos, das pessoas, dos acontecimentos e do desenrolar da
história da civilização; nele há explicações e exemplos para aqueles que por
ele queiram pautar suas vidas, e exortação para quem tem coração e está
disposto a aceitá-la, e a prestar testemunho. Ele revela a Lei imutável de
Allah (swt), quer seja na perdição dos extraviados, quer seja na salvação dos
encaminhados. Ele ensina que o mundo dos homens, no decorrer dos séculos, só é
benéfico com a religião de Allah (swt); que a humanidade, o que quer que faça,
não alcançará a almejada felicidade se não se iluminar, guiando-se com a
Mensagem Divina. Nele há revelações do futuro sobre o dia da Ressurreição,
sobre a Vida Futura, no dia em que os homens se congregarão junto ao Senhor do
Universo. "Aquele que fizer um bem, quer seja do peso de um átomo,
vê-lo-á; e aquele que fizer um mal, quer seja do peso de um átomo,
vê-lo-á" (99ª Surata, versículos, 7 e 8). Nele há o julgamento dos
problemas e das questões onde é premente uma explicação e uma diretriz do
caminho a seguir, no que diz respeito às questões da crença e do pensamento, do
caráter e do comportamento, das relações econômicas, dos ramos doutrinários,
dos julgamentos pessoais ou não: "Ó humanos, já vos chegou uma prova
convincente de vosso Senhor e vos enviamos uma translúcida Luz" (4ª
Surata, versículo, 174). "Recorda-lhes o dia em que faremos surgir
uma testemunha de cada povo para testemunhar contra os seus, e te
apresentaremos por testemunha contra os teus. Temos-te revelado, pois, o Livro
que é uma explanação de tudo, é guia, misericórdia e auspício para os
muçulmanos" (16ª Surata, versículo, 89). Não há uma lei religiosa ou
um problema, no que diz respeito ao mundo e à vida dos homens, que não tenha no
Alcorão uma solução; ele é um auxílio inesgotável, guia, explicação e
orientação para todos, quer seja em partes ou no todo: "Já vos chegou de
Allah (swt) uma Luz e um Livro esclarecedor" (5ª Surata, versículo 15).
Sim, este fabuloso Alcorão é a luz orientadora para a humanidade. Ele
arrancou-a das trevas e transportou-a para a luz, para a verdade e para a
verdadeira senda. Foi o ponto de transformação na sua longa história, tirando-a
da vida atroz de corrupção e levando-a para a vida de liberdade, de religião e
de orientação, e instituiu, no mundo todo, o direito e a compreensão, tirando a
humanidade do mais baixo degrau, e elevando-a aos píncaros da perfeição, de
maneira sobranceira. As evidências e os significados que o Alcorão
abrange, já citados, só podem ser entendidos através de explicações do texto
alcorânico e de seus versículos. Tal explicação é uma pesquisa sobre a vontade
de Allah (swt), sobre o conhecimento dessa vontade através de Suas palavras no
Alcorão, de acordo com a capacidade humana. A ciência da exegese nasceu débil e
cresceu paulatinamente, até alcançar a maturidade e seguir formidavelmente
neste diapasão que conhecemos hoje. Na época da revelação do Alcorão, enquanto
o Profeta vivia, não havia necessidade para a explicação dos versículos, nem a
regulamentação dessa ciência, porque o texto, na sua totalidade, era claro,
compreensível para o Profeta e seus companheiros. Apesar
disso, o Profeta explicava alguns versículos e algumas pronúncias que podiam
causar ambiguidades; também os companheiros do Profeta e alguns adeptos assim o
fizeram. Isto porque poderia haver má interpretação, quaisquer que fossem as
razões que teriam de se desenrolar na alvorada de um povo progressista, em
formação, que iria expandir-se através de conquistas, enriquecendo sua
existência com acontecimentos históricos, discussões doutrinárias e pesquisas,
em jurisprudência e política. O Alcorão era e continua sendo o centro da
cultura islâmica, dos movimentos filosóficos e de todas as suas atividades
intelectuais; seus versículos estimulam a nele pensarmos. Disse o Altíssimo:
"Eis o Livro que te revelamos, para que os sensatos recordem seus
versículos e neles meditem (38ª Surata, versículo 29). Disse mais:
"Não meditam, acaso, no Alcorão? Se fosse de outra origem que não de Allah
(swt), haveria nele muitas discrepâncias" (4º Surata, versículo 82). E
disse ainda: "Não meditam, acaso, no Alcorão, ou é que seus corações são
insensíveis?" (47ª Surata, versículo 24). Sua
explicação nada mais é do que o resultado de meditação e deliberação. O ponto
de vista dos doutos na matéria, bem como seus métodos, são diversificados.
Alguns, levados pela simpatia doutrinária, apegaram-se à explicação dos
versículos, nesse sentido. Outros, levados pela simpatia linguística,
eloquente, estilística e literária, apegaram-se também a esse particular; o
mesmo aconteceu com os simpatizantes da jurisprudência. Outros, ainda,
apegaram-se à explicação das narrativas. Neste particular, houve aqueles que se
prolongaram na explicação, até a prolixidade estafante, e outros
restringiram-na à suscites chocante, e outros, ainda, quedaram-se no
meio-termo. Deles, houve quem tendesse para a explicação pessoal;
e outros ainda houve que introduziram na explicação muitos outros
conhecimentos. Alguns fizeram-no em estilo esdrúxulo; outros em estilo claro.
De tudo isso resultou uma grande riqueza científica e um movimento intelectual
considerável, que elevam e glorificam um povo que serve ao Livro de seu Senhor,
quer seja em decorá-lo, preservá-lo e explicá-lo, quer seja em examiná-lo,
elevá-lo e consagrá-lo, ao longo de catorze séculos, que serão seguidos por
muitos outros, até que tudo que há no universo compareça perante o Criador:
"Nós revelamos a Mensagem e somos Seu Preservador" (15ª Surata,
versículo 9). "Este é o Livro (o Alcorão) veraz por excelência. A
falsidade não se aproxima dele nem pela frente, nem por trás, porque é a
revelação do Prudente, Laudabilíssimo." (41ª Surata, versículo 41-42). Todas
as importantes religiões do mundo são baseadas nos seus Livros Sagrados, os
quais são frequentemente atribuídos a revelações divinas. Seria patético se,
por algum infortúnio, uma delas viesse a perder o texto original da revelação;
a substituição jamais poderia estar em inteira conformidade com o que fora
perdido. Os brâmanes, os budistas, os judeus, os masdeístas e os cristãos podem
comparar o método empregado para a preservação dos ensinamentos básicos de suas
respectivas religiões com o método dos muçulmanos. Quem lhes escreveu os
livros? Quem lhes transmitiu de geração a geração? Será a transmissão provinda
de textos originais ou apenas tradução? Não haveriam as guerras fratricidas
danosas às cópias dos textos? Não haverá contradições internas ou lacunas cujas
referências são encontradas em outro lugar? Estas são algumas das questões que
poderão ser aventadas, e isso requer respostas satisfatórias. No tempo em que
emergiram o que nós chamamos de as Grandes Religiões, os homens não apenas
confiaram em suas memórias, mas também inventaram a arte de escrever, para
preservarem seus pensamentos, assentando tudo por escrito, de modo mais
premente do que fariam as memórias individuais dos seres humanos que, afinal de
contas, têm um limitado ciclo de vida. Mesmo assim, nenhum destes dois meios é
infalível quando tomados separadamente. É uma questão de experiência cotidiana
o ato de que, quando se escreve algo e então se o revisa, encontram-se mais ou
menos erros inadvertidos, omissão de letras ou mesmo de palavras, repetição de
relatos, uso de palavras contrárias àquelas pretendidas, erros gramaticais,
etc., sem falar nas mudanças de opinião do escritor, que também corrige seu
estilo, seus pensamentos, seus argumentos e, às vezes, reescreve todo o
documento. O mesmo acontece quanto à faculdade da memória. Aqueles que têm
obrigação de ou habilidade em aprender de cor algum texto, para recitá-lo mais
tarde, especialmente quando isso envolve longuíssimas passagens, sabem que às
vezes suas memórias falham durante a recitação: pulam passagens, misturam umas
com as outras, ou não se lembram de toda a sequência; às vezes o texto correto
permanece na subconsciência e é relembrado no último momento, ou no
rebuscamento da memória por indicação de outrem, ou ao ser consultado o texto
em documento escrito. O Profeta do Islam, Muhammad (saws), de memória
privilegiada, empregava ambos os métodos simultaneamente, um ajudando o outro,
reforçando a integridade do texto e diminuindo ao mínimo as possibilidades de
erro. Os ensinamentos islâmicos são baseados no que o Profeta Muhammad (saws)
disse ou fez. Ele próprio ditou certos textos a seus escribas, o que chamamos
de Alcorão; outros textos foram compilados por seus companheiros, na maioria
das vezes por iniciativa própria; e a esses escritos damos o nome de Tradição.
A palavra Alcorão literalmente significa "leitura por excelência" ou
"recitação". Enquanto o ditava a seus companheiros, o Profeta lhes
assegurava que era a Revelação Divina que ele havia recebido. Ele não ditou
tudo de uma só vez: as revelações chegavam-lhe em fragmentos, de tempos em
tempos. Tão logo ele recebia uma, costumava comunicá-la a seus companheiros e
pedir-lhes não somente que a aprendessem de cor - para que a recitassem durante
a prática das orações -, mas também que a escrevessem e que multiplicassem as
cópias. Em tais ocasiões, ele indicava o lugar preciso da nova revelação no
texto; não era dele a compilação cronológica. Não é de admirar a precaução e o
cuidado tomados para a precisão, levando-se em consideração o padrão da cultura
dos árabes daquele tempo. É razoável acreditarmos que as primeiríssimas
revelações recebidas pelo Profeta não foram imediatamente submetidas à escrita,
pela simples razão de que não havia, ainda, companheiro algum ou aderentes.
Estas primeiras partes não eram nem longas, nem numerosas. Não havia risco de
que o Profeta pudesse esquecê-las, uma vez que ele as recitava frequentemente
em suas orações e em conversas proselíticas. Alguns fatos da história
dão-nos a ideia do que aconteceu. Ômar Ibn al Khattab (579-644) é considerado a
quadragésima pessoa a abraçar o Islam. Isso se refere ao ano quinto da Missão
(oito antes da Hégira). Mesmo em uma data primordial existiram cópias escritas
de certas Suratas do Alcorão e, como Ibn Hicham, falecido em 833, relata, foi
devido ao profundo efeito produzido pela leitura acurada de alguns versículos
da vigésima Surata que Ômar abraçou o Islam. Não sabemos precisamente o tempo
em que a prática de escrever o Alcorão começou; contudo, há informações
precisas de que durante os remanescentes dezoito anos da vida do Profeta, o
número dos muçulmanos, como também das cópias do texto Sagrado, continuou
aumentando dia a dia. Como o Profeta recebia as revelações em fragmentos, era
natural que o texto revelado se referisse aos problemas do dia. Se acontecesse
o fato de um de seus companheiros morrer, a revelação consistiria em promulgar
a lei da herança; não seria a de lei penal, tratando de roubo, por exemplo, a
ser revelada no momento. As revelações continuaram durante a inteira vida
missionária de Muhammad (saws), treze anos em Makka e dez em Madina. Uma
revelação consistia às vezes de uma inteira Surata, curta ou longa, e às vezes
de apenas uns poucos versículos. A natureza das revelações impunha ao Profeta
repeti-las constantemente em suas recitações, e revisar continuamente a forma
que as coleções dos fragmentos teria que tomar. Todos os doutos afirmam, com
autoridade, que o Profeta recitava todos os anos, no mês de Ramadan, perante o
anjo Gabriel, a parte do Alcorão até então revelada, e que no último ano de sua
vida Gabriel pediu-lhe que o recitasse por inteiro duas vezes. O Profeta
concluiu, desde então, que iria, em breve, despedir-se da vida. O Profeta
costumava revisar, nos meses do jejum, os versículos e as Suratas, e colocá-las
em sua seqüência adequada. Isto era necessário por causa da continuidade das
novas revelações. É também sabido que o Profeta tinha o hábito de celebrar uma
prática adicional de oração durante os meses do jejum, todas as noites, às
vezes mesmo em congregação, na qual ele recitava o Alcorão do princípio ao fim,
tarefa esta que era completada ao cabo de um mês. Esta prática, chamada de
tarawih, continua a ser observada com grande devoção até a estes nossos
dias. Quando o Profeta deu seu último suspiro, uma rebelião estava tomando
vulto em certas partes do país. Tentando debelá-la, várias pessoas que
conheciam o Alcorão de cor tombaram. O Califa Abu Bakr sentiu a urgência da
codificação do Alcorão, e a tarefa foi cumprida um mês depois da morte do
Profeta. Durante seus últimos anos de vida, o Profeta costumava usar Zaid
Ibn Sábet (615-665) como principal amanuense, para tomar em ditado as
revelações recentemente recebidas. Abu Bakr encarregou a mesma pessoa da tarefa
da preparação de uma cópia condizente de todo o texto, em forma de livro. Havia
então em Madina vários Huffaz (aqueles que sabiam todo o Alcorão de cor), e
Zaid era um deles. Sob a direção do Califa, Zaid transcreveu o texto escrito em
pergaminhos ou pedaços de couro, nas omoplatas das reses, nos ossos, nas pedras
polidas e mesmo em pedaços de porcelana. A cópia condizente, assim preparada,
foi chamada de Musshaf (encadernação). Esta foi conservada sob a própria
custódia do Califa Abu Bakr e, depois dele, por seu sucessor, Ômar Ibn al
Khattab. Nesse meio tempo o estudo do Alcorão foi encorajado em toda parte do
Império Muçulmano. O Califa Ômar sentiu a necessidade de enviar cópias do texto
autêntico aos centros provincianos, a fim de evitar as divergências; mas foi
deixado a seu sucessor, Otman, continuar com a tarefa. Um de seus comandantes,
Huzaifa Al Yaman, havendo voltado de uma viagem pelas vastas terras
conquistadas pelos muçulmanos, relatou que havia encontrado divergentes cópias
do Alcorão e que havia, às vezes, desentendimento entre os diferentes mestres
do Livro, concernente a isso. Otman fez imediatamente com que a cópia preparada
para Abu Bakr fosse confiada a uma comissão presidida pelo acima mencionado
Zaid Ibn Sábet para a reprodução de sete cópias; ele autorizou-lhes a revisão
da pronúncia, se necessário. Quando a tarefa foi concluída, o Califa efetuou
uma recitação pública da nova edição perante os doutos presentes na capital,
perante os companheiros do Profeta, e então enviou estas cópias aos diferentes
centros do vasto Mundo Islâmico, ordenando que dali por diante todas as cópias
fossem baseadas na edição autêntica. Ele ordenou a destruição das cópias que,
de algum modo, se desviassem do texto assim oficialmente estabelecido. É
concebível que as grandes conquistas militares dos primeiros muçulmanos
induzissem alguns espíritos hipócritas a proclamarem sua impulsiva conversão ao
Islam por motivos materiais, e para tentar danificá-lo de maneira clandestina.
Eles fabricaram versões do Alcorão com interpolações. As "lágrimas de
crocodilo", que foram derramadas pela destruição das cópias não
autenticadas do Alcorão, por ordem do Califa Otman somente poderiam ter sido de
tais hipócritas. É sabido que o Profeta às vezes ab-rogava certos versículos
que haviam sido comunicados previamente ao povo, e isso era feito para
fortificar as novas Revelações Divinas. Houve Companheiros que aprenderam a
primeira versão, sem contudo estarem cientes das últimas modificações, tanto
por causa da morte do Profeta como por suas residências fora de Madina. Eles
devem ter deixado cópias a seus descendentes, as quais, embora autênticas,
estavam ultrapassadas. Ainda, alguns muçulmanos tinham o hábito de pedir ao
Profeta que explicasse certos termos empregados no texto sagrado e anotar tais explicações
nas margens de suas cópias do Alcorão, a fim de não se esquecerem delas. As
cópias feitas mais tarde, com base nesses textos anotados, iriam causar
confusões na questão do texto e do glossário. A despeito da ordem do Califa
Otman, para que se destruíssem os textos inexatos, existia, nos séculos III e
IV da Hégira, assunto bastante para a compilação de volumosas obras,
constituindo as "variações do Alcorão." Estas chegaram até nós, mas
um apurado estudo mostra-nos que tais variantes eram devidas tanto à aparência
falsa, como aos enganos no decifrar-se a velha escrita arábica, que não possuía
vogais, nem se podia distinguir entre as letras semelhantes, nem davam ideia
das mesmas, sendo meros pontos, como é feito agora. Além disso existiam diferentes
dialetos em diferentes regiões, e o Profeta havia permitido aos muçulmanos de
tais regiões recitarem de acordo com suas algaravias, e mesmo substituir as
palavras que estavam além de sua argúcia, por sinônimos que conhecessem melhor.
Esta foi uma medida imergente de graça e clemência. No tempo do Califa Otman,
contudo, a instrução pública havia-se desenvolvido suficientemente, e fez-se
necessário que aquelas concessões não fossem mais toleradas, pois o Texto
Sagrado seria afetado, e as variantes da leitura se radicariam. As cópias
do Alcorão enviadas por Otman aos chefes das províncias gradualmente
desapareceram, nos séculos subsequentes; apenas uma delas, que presentemente se
encontra em Tashkent, chegou até nós. O governo czarista da Rússia havia-a
publicado em uma reprodução fac-símile; constata-se haver uma completa
identidade entre essa cópia e o texto em uso noutras ocasiões. A mesma é cópia
fiel do manuscrito existente do Alcorão, tanto completo como fragmentado,
datando do primeiro século da Hégira. O Alcorão é dirigido a toda a
humanidade, sem distinção de raça, cor, região ou tempo. Ainda mais, ele
procura guiar a humanidade em todas as sendas da vida: espirituais, materiais,
individuais e coletivas. Ele contém diretrizes para a conduta do chefe de
Estado, bem como do homem comum; do rico, bem como do pobre; diretrizes para a
paz, bem como para a guerra; tanto para a cultura espiritual como para o
comércio e bem-estar material. O Alcorão busca principalmente desenvolver a
personalidade do indivíduo: Cada ser será pessoalmente responsável perante seu
Criador. Para tal propósito, o Alcorão não somente fornece ordens, porém tenta
ainda convencer. Ele apela para a razão do homem e relata histórias, parábolas
e metáforas. Descreve os atributos de Allah (swt), que é Um, Criador de tudo,
Onisciente, Onipotente, Ressuscitador dos mortos e Observador de nosso
comportamento terreno; é Justo, Clemente (Vide nota da 7ª Surata, versículo
180). O Alcorão indica ainda o modo de aprazermos a Allah (swt), apontando quais
as melhores orações, quais os deveres do homem com respeito a Ele, a seus
semelhantes e a seu próprio ser; ele dá destaque ao fato de que não nos
pertencemos, outrossim, pertencemos a Allah (swt). O Alcorão fala das melhores
normas relacionadas com a vida social, comercial, matrimonial, como a herança,
o direito penal, o direito internacional, e assim por diante. Todavia, o
Alcorão não é um livro, no senso comum; é a coleção das palavras de Allah
(swt), reveladas de tempos em tempos, durante vinte e três anos, a Seu
Mensageiro, escolhido entre os seres humanos. O Soberano dá Suas instruções a
Seu vassalo; portanto, há certas nuanças compreendidas e implícitas; há
repetições, e mesmo mudanças nas formas de expressão. Deste modo, Allah (swt)
fala às vezes na primeira pessoa e às vezes na terceira. Ele diz
"Eu", bem como "Nós" e "Ele", porém, jamais
"Eles". É uma coleção de revelações enviadas de ocasiões em ocasiões;
e devemos, por isso, lê-lo mais e mais, a fim de melhor avaliarmos os seus
significados. Ele possui diretrizes para todos, em todos os lugares e para
todos os tempos. O estilo e a dicção do Alcorão são magníficos e
apropriados para a sua qualidade Divina. Sua recitação comove o espírito até
daqueles que apenas o ouvem sem entendê-lo. Com o passar do tempo, o Alcorão
tem, em virtude de sua reivindicação de origem divina, desafiado a todos a
criarem, conjuntamente, mesmo uns poucos versículos iguais aos que ele contém.
Tal desafio porém tem permanecido sem resposta até aos nossos dias. Há algumas
diferenças intrínsecas entre o Alcorão e os livros precedentes. Tais diferenças
podem ser sucintamente estipuladas, como se segue: 1. Os textos originais da
maior parte dos primitivos Livros Divinos foram em sua quase totalidade
perdidos, sendo que somente as suas traduções existem hoje. O Alcorão, por
outro lado, existe hoje exatamente como foi revelado ao Profeta; nem uma
palavra - mais ainda, nem uma letra sequer - foi trocada. Encontra-se à
disposição, em seu texto original, fazendo com que a Palavra de Allah (swt)
seja preservada agora, bem como por todo o porvir. 2. Nos primitivos Livros Divinos os homens mesclaram
suas palavras com as palavras de Allah (swt); porém, no Alcorão encontram-se
apenas as palavras de Allah (swt) - em suas prístinas purezas. Isto é admitido,
mesmo pelos oponentes ao Islam. 3. Não se pode dizer, com base na
autêntica evidência histórica, em relação a nenhum outro Livro Sagrado,
possuído por diferentes povos, que ele realmente pertence ao mesmo profeta a
quem é atribuído. No caso de alguns deles, mesmo isto não é sabido. Em que
época e a que profeta eles foram revelados? Quanto ao Alcorão, as evidências
que existem de que foi revelado a Muhammad (saws)são tão vultosas, tão
convincentes, tão sólidas e completivas, que mesmo o mais ferrenho crítico do
Islam não pode lançar dúvidas sobre isso. Tais evidências são tão vastas e
detalhadas, que sobre muitos versículos do Alcorão, mesmo a ocasião e o local
de suas revelações, podem ser conhecidos com exatidão. 4. Os primitivos
Livros Divinos foram revelados em línguas que estão mortas desde há muito
tempo. Na era presente, nação ou comunidade alguma fala tais línguas e há
apenas umas poucas pessoas que se jactam de compreendê-las. Destarte, mesmo que
tais Livros existissem hoje em suas formas originais e não adulteradas, seria
virtualmente impossível, em nossa era, compreendermos e interpretarmos
corretamente suas injunções, bem como pormos em prática em sua forma requerida.
A língua do Alcorão, por outro lado, é uma língua viva; milhões de pessoas
falam-na e outro tanto a compreende. Ela está sendo ensinada e aprendida em
quase todas as universidades do mundo; todas as pessoas podem aprendê-la, e
aquele que não tem tempo para isso pode, em qualquer parte, deparar com quem
conheça a língua, que lhe explique o significado do Alcorão. 5. Cada um
dos Livros Sagrados existentes, encontrados entre as diferentes nações do
mundo, foi dirigido a um povo em particular. Cada um deles contém um número de
ditames que parece ter sido dirigido a um período da história em particular e
que supria apenas as necessidades daquela era. Tais necessidades não são
válidas hoje, nem tampouco podem ser aplainadas e propiciamente vertidas para a
prática. Depreende-se disto que tais livros eram dirigidos àqueles povos em
particular e nenhum deles para o mundo. Ademais, eles não foram revelados para
serem seguidos permanentemente, mesmo pelo povo para o qual foram revelados;
restringiam-se a influenciar somente sobre um certo período. Em contraste a
isso, o Alcorão é dirigido a toda a humanidade; não se pode suspeitar que
injunção alguma tenha sido dirigida a um povo em especial. Do mesmo modo, todos
os ditames e injunções no Alcorão são os mesmos que podem ser aplicados em
todos os lugares e em todas as épocas. Este fato vem provar que o Alcorão é
dirigido ao mundo inteiro, constituindo-se em eterno código para a vida
humana. 6. Não há negar o fato de que os precedentes Livros Divinos
cultuavam o bem e a virtude, ensinavam também os princípios da moralidade e da
veracidade, e apresentavam uma maneira de viver consentânea com a vontade de
Allah (swt). Contudo, nenhum deles era suficientemente compreensivo para
englobar tudo quanto fosse necessário para uma vida humana virtuosa, sem nada
supérfluo, sem nada carente. Alguns deles excediam-se em um aspecto, alguns em
outros. É o Alcorão, e apenas o Alcorão, que cultua não apenas tudo o que havia
de magnífico nos livros precedentes, mas, ainda, aperfeiçoa os desígnios de
Allah (swt) e os apresenta em sua totalidade, delineando uma norma de vida que
compreende tudo o que é necessário para o homem, nesta terra. Os pensamentos se
renovam e as culturas se proliferam; a vida evolui e a colheita intelectual da
humanidade aumenta a cada dia; e quanto mais a humanidade evolui, mais unida e
mais mesclada fica. Os veículos de comunicação em muito ajudam nisso, como se
quisessem corroborar as palavras do Alcorão: "Ó humanos, em verdade, Nós
vos criamos de macho e fêmea e vos dividimos em povos e tribos para
reconhecerdes uns aos outros." (49ª Surata, versículo 13). www.ccib.org.br. Abraço. Davi
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