Editor do
Mosaico. No dia 20 de abril na Sociedade Teosófica foi apresentado o filme da
biografia de Jiddu Krishnamurti. Ele nasceu em 1895 e morreu em 1986. Autor de
mais de 40 livros destacando-se dentre eles: O mundo somos nós. Liberte-se do
passado. Diário sobre a visão intuitiva. Aos Pés do Mestre. O futuro é agora. A
essência da maturidade. O despertar da sensibilidade. De família pobre desde a
infância mostrou ter uma capacidade intelectual, intuitiva e argumentativa
acima do comum. O contexto histórico em que Krishnamurti nasceu era acentuado
pela dominação inglesa (o Império Britânico que perdurou de 1788 a 1914) e uma
Índia mergulha numa brutal desigualdade social e econômica. Pouco antes do
final do século XIX alguns movimentos nacionalistas de libertação começavam a
surgir. O povo hindu juntamente com algumas irmandades (inclusive alguns
ingleses piedosos que por lá foram residir) conscientes da fraternidade e
filantropia ao outro se mobilizavam para romper aquele aprisionamento cultural,
social e histórico. A paixão por liberdade de expressão e valorização das
tradições nacionais tomou conta da intelectualidade nativa. Ilustres
personalidades como Annie Besant (1847-1933) e Mahatma Gandhi (1833-1944) foram
fundamentais neste processo da independência. Annie Besant liderou movimentos
feministas organizando greves de operárias femininas nas fábricas, questionando
a rígida sociedade de castas. Trabalhava pelas minorias famintas e
desfavorecidas da Índia. Foi indicada para assumir o governo local, todavia
sendo inglesa e devido as suas posições políticas liberais (foi perseguida)
teve que voltar para o Reino Unido. Pouco depois retornaria para a Índia.
Gandhi tornou-se o grande herói da independência Hindu. Com sua voz
conciliadora e seu carisma impecável assumiu a responsabilidade de tornar em
realidade o sonho de uma Índia livre e soberana. Sem organizar movimentos
armados e nem milícias guerrilheiras, soube pela refinada diplomacia da
compreensão e tolerância dialogar com os obtusos ingleses. Além de arrebanhar a
fileiras nacionais patriotas comprometidos com o diálogo e a paz. Aprendeu a
fazer concessões sem comprometer seus párias. Abriu mão da posição de
superioridade entre seu povo, "encarnando" sua pobreza e seu espírito
de coragem e determinação. Certa vez Gandhi encontrou-se com Helena P.
Blavatsky (1831-1891) em Londres. Conta-se que foi presenteado com um exemplar
do livro Cartas dos Mahatmas. Ele praticou com maestria e devoção a
fraternidade universal. Essa foi sua principal "arma" para libertar
seu país do colonizador europeu inglês. Gandhi foi assassinado em (13 de janeiro)
1948. Seu nome de batismo era Mohandas Karamchand Gandhi. O homem que recebeu o
nome de Mahatma, que significa – grande alma – foi assassinado por um
extremista hindu. Gandhi estava de passagem por Nova Deli, quando foi cercado
por um grupo de seguidores enquanto rezava. Da multidão, saíram três tiros que
acabaram com a vida do líder. O assassino era Nathuram Godse (1910-1949), um
hindu radical que acusava Gandhi de enfraquecer o governo indiano. Também que
os seus ideais eram parte de uma conspiração que permitiria que os hindus
fossem massacrados pelos muçulmanos. Apesar da luta de toda uma vida contra a
violência, e de suas últimas palavras, que foram de não retaliação contra o seu
algoz. Godse foi julgado e condenação ao enforcamento. A morte de Gandhi
comoveu o mundo inteiro. Annie Besant foi importantíssima na vida de
Krishnamurti. Ela era alguém de refinada cultura (graduou-se na Universidade de
Oxford) e teve acesso a todos os clássicos da literatura universal. Educada na
rígida burguesia inglesa. Como teosofista adepta colaborou com o trabalho da
Senhora Helena Blavatsky desde o início da Sociedade Teosófica. Ela (Annie
Besant) percebeu junto com outros da Sociedade os dons especiais do adolescente
Krishnamurti e resolveu patrocinar a educação e sustento dele, até o final dos
estudos universitários. Nas primeiras décadas do século XIX surgiu na Sociedade
Teosófica um "sentimento" inspirado no “messianismo”. Pensou-se que o
menino poderia ser um "oráculo" para a humanidade. Havia uma forte
impressão que um novo Buda poderia estar surgindo ou quem sabe um novo Messias.
O tempo mostrou que a tentativa de enfatizar um "carisma",
particularizado em conceitos cristãos não alcançaria uma consistência
duradoura. Krishnamurti concluiu seus estudos no Reino Unido e (contrariando
todas as expectativas) tomou seu próprio caminho para a decepção da Sociedade.
Uma situação que causou mal-estar entre os teosofistas da época. Reuniões foram
feitas para entre os membros decidir sobre o caso. Cogitou-se a expulsão de
Krishnamurti da Sociedade. Mas Krishnamurti veio ao mundo para fazer exatamente
aquilo que fez. Como livre pensador criticou todo tipo de religiosidade,
ressaltando em suas apologias que o homem era o seu próprio mestre. São
dispensáveis todos os gurus, mestres e líderes espirituais. A adoração é feita
sem nenhum ritual ou cerimonial religioso. Nada é suficiente para mediar minha
relação com a divindade. Krishnamurti conceituava uma metafísica ceticista que
esvaziava qualquer sistema religioso. Quase um ateísmo que desagradava a
maioria dos espiritualistas. Krishnamurti passou pelas duas (1914-1918 a
1939-1945) Grandes Guerras Mundiais, incluindo a Guerra Fria (1947-1991), entre
as duas superpotências da época USA e URSS. Contudo não mudou sua opinião sobre
o mundo e os homens. Por outro lado realizou uma memorável obra de Fraternidade
Universal. Desenvolveu métodos inovadores de ensino e aprendizado. Fundou
escolas no Reino Unido e nos Estados Unidos da América baseadas nas
virtudes (ética, moral) humanas. Foi um investigador do psiquismo humano e amou
a natureza e todos os seus mistérios. Um filósofo inquietante e surpreendente
em muitas de suas apologias. Sua obra literária é vasta, e mensura o homem como
um microcosmo e a natureza (incluindo o universo) como um macrocosmo. Segundo
consta foi readmitido na Sociedade Teosófica antes de sua morte. Um gesto que
merece louvor e consideração. O perdão é tão nobre e digno quanto a reconciliação,
principalmente vindo de um coração compungido e contrito. Como diz um aforismo
oriental. "O homem que olha para traz pode furar um olho, mas o que não
olha pode furar os dois". O passado sempre nos ensina lições para vivermos
melhor o nosso presente. A memória do "messianismo" serviu de alerta
(entre os teosofistas) para que não se repita o mesmo erro. A ideia hoje é a
daquele que leva a "tocha" em suas mãos. Parece que é uma
"mão" sobreposta em outras. Uma responsabilidade compartilhada não
apenas por um, mas por milhares de pessoas. A "tocha" é o símbolo da
centelha divina. O fogo místico que ilumina toda escuridão produzindo a
claridade suficiente para perscrutar todos os mistérios do homem e da natureza.
Abraço. Davi.
Nenhum comentário:
Postar um comentário