Editor do Mosaico.
Cristianismo. É bom conversarmos novamente, refletindo sobre algumas questões
da vida. Este dom maravilhoso que o Eterno Pai nos concedeu. Nas Escrituras
Sagradas Cristã no livro de Jeremias 8,22 há um interessante texto que se segue
“Porventura não há bálsamo em Gileade? Ou não há médico? Porque, pois, não se
realizou a cura da filha do meu povo?”. É importante situarmos o contexto
histórico em que o profeta Jeremias está incluído. “O profeta Jeremias, que era
de uma família de sacerdotes judeus, começou a anunciar mensagens de Deus no
ano 627 AC e morreu por volta de 580, provavelmente no Egito. Ele anunciou que
Deus ia fazer uma terrível desgraça sobre os israelitas como castigo pelos seus
pecados. Jeremias ainda vivia quando suas profecias se cumpriram. Ele estava
presente quando o rei Nabucodonosor II (604 AC 562) destruiu a cidade de
Jerusalém, incendiou o Templo e levou como prisioneiro para a Babilônia o rei
de Judá e grande parte do povo. Mas Jeremias disse que um dia os israelitas iam
voltar e que seriam de novo uma nação. Jeremias amava profundamente seu povo.
Não era por prazer, mas por obrigação que ele anunciava que Deus ia castigar os
israelitas. Mas a palavra de Deus era como um fogo no seu coração, e ele não
podia ficar calado. Por outro lado, as autoridades e o povo não recebiam bem a
mensagem de Jeremias. Ele foi rejeitado, perseguido, preso e jogado dentro de
um poço”. O povo Judeu vivia uma “depravação” espiritual à décadas. Todas as
instituições (civil, política, social e religiosa) estavam corrompidas. Os
sucessivos reinados, seus soberanos e administradores. mantinham-se a custas de
pesados impostos; pagos principalmente pela população pobre, como costumeiro.
Os ricos como sempre tinham seus privilégios e regalias. A cidade onde o
profeta passou a maior parte de seu ministério foi Jerusalém. A maior cidade do
reino de Israel e sua respectiva capital. Ela era o centro de adoração a D’us.
De todos os lugares vinham judeus para as festas prescritas na (toráh), os
cinco primeiros livros do Antigo Testamento. O grande templo erigido pelo rei
Salomão estava lá. Era um símbolo de união nacional, remetendo aos tempos de
prosperidade. Ele trazia também a ideia de uma aliança, celebrada com D’us em
tempos “distantes”. Aqui especificamente se desenvolve o falar do profeta
Jeremias. Ele não era um “emissário” das questões sociais - pobreza e riqueza.
Nem se envolvia em situações políticas - igualdade social e distribuição de
renda. Não tinha interesse de discutir sobre - propriedade privada. Seu
chamamento estava centrado numa situação espiritual. O templo do Senhor que
devia ser um ambiente de comunhão e aproximação com Deus, era usado como um
amuleto ou talismã. Os Judeus imaginavam que a presença dele (templo) entre
eles, os protegeriam de qualquer maldição e, enquanto ele estivesse de pé, a
felicidade os acompanhariam de perto e todos os inimigos seriam derrotados.
Infelizmente a maldição já estava instalada em todos os repartimentos daquilo
que consideravam a “presença divina” entre eles. Os sacerdotes, em muitos
casos, recebiam suborno (propina) para oficiarem os ritos sagrados. Até os
pobres pagavam esse escandaloso “pedágio”. Haviam outros “deuses” sendo adorado
no templo. Animais “defeituosos” eram sacrificados fora do altar. Tinham
prostitutas cultuais nos compartimentos do santuário, praticando licenciosidade.
Uma contaminação e promiscuidade acentuadas. Uma condição de “miséria e
podridão” humana. Bem, vamos tentar falar alguma coisa do versículo proposto.
Espero que o que vou falar, revele alguma luz para trilharmos a Senda
espiritual. Jeremias lutou corajosamente contra todos estes desmandos
espirituais em sua época. Falou desmascarando a farsa que havia. Expôs rei,
sacerdotes e a classe dominante à época que era conivente com a situação.
Mostrou seus corações perversos e suas mentes egoístas e mesquinhas. Profetizou
a destruição do templo que ocorreu no ano de 587 AC. Este é o primeiro
templo como se sabe, construído pelo rei Salomão. O segundo foi destruído no
ano 70. O texto bíblico mencionado parece um clamor (oração) do profeta. Um
desespero que vem de seu íntimo. Ele ousa procurar uma explicação para uma
situação tão medonha como àquela em que vivia e, ressente-se de resposta. A
maioria dos Judeus tinham um coração endurecido como uma pedra, entretanto ele
sabia que havia esperança. Deduzo que no trecho citado há uma ideia de que Jeremias
percebia que a natureza humana era “deformada e desregrada”. Ele próprio tentou
fugir do chamamento do Eterno. Aqui é a questão do mito; sempre o herói se
sente incapaz, e até vacila indeciso quanto a sua missão. Contudo, após uma
profunda investigação ponderativa, acaba assumindo corajosamente sua
incumbência. Foi assim com o Cristo, que em agonia orou intensamente, correndo
em seu rosto lágrimas de sangue. Clamando ao Pai, que se possível passasse dele
aquele cálice. Concluiu depois de horas no jardim do Getsêmani, que não se
fizesse a sua vontade, mas a do Pai. Outra questão em relação ao herói, é a
prova ante de iniciar sua incumbência. O Cristo humano histórico foi provado,
levado pelo Espírito Santo ao deserto, em jejum, para ser avaliado através de
vários testes. O diabo o tentou à que renegasse sua missão. Disse por três
vezes: Se és filho de Deus precipita-se abaixo, que os anjos darão ordens a teu
respeito para te guardarem. Levou-o ao pináculo do templo, dizendo que todo o reino
do mundo o daria se prostrado o adorasse. Incitou-o a que transformasse pedras
em pães. O Cristo heroicamente rejeitou todas as interpolações do maligno. Após
esses acontecimentos o diabo o deixou e vieram os anjos para o servir. O herói
grego Hércules também foi provado – antes de assumir sua missão em doze
trabalhos. 1. Matar o leão de Neméia. 2. Matar a hidra de Lerna. 3. Capturar o
javali de Erimanto. 4. Capturar a corça de Cirinéia. 5. Expulsar as aves do
lago de Estínfale. 6. Limpar os estábulos do rei Augias. 7. Capturar o touro de
Creta. 8. Capturar os cavalos de Diomedes. 9. Obter o cinto de Hipólita. 10.
Capturar os bois de Gerião. 11. Obter as maças de ouro do jardim das
Hespérides. 12. Capturar Cérbero, o cão do inferno. O profeta Muhamad também
foi provado para poder assumir seu especial lugar na história do Islã como o
fundador dessa importante tradição espiritual. “Para os muçulmanos Muhamad
(Maomé) foi precedido em seu papel de profeta, por Jesus, Moisés, Davi, Jacó,
Isaque, Ismael e Abraão. Como figura política, ele unificou várias tribos
árabes, o que permitiu as conquistas daquilo que viria ser um império islâmico
que se estendeu da Pérsia até a Península Ibérica. O Profeta Muhamad não é
considerado pelos muçulmanos como um ser divino, mas sim um ser humano;
contudo, entre os fieis, ele é visto como um dos mais perfeito ser humano. Nascido em Meca, Maomé (Muhamad) foi durante a
primeira parte da sua vida um mercador, que realizou extensas viagens no
contexto de seu trabalho. Tinha por hábito retirar-se para orar e meditar nos
montes perto de Meca – Arábia Saudita. Os muçulmanos acreditam que em 610,
quando Maomé tinha quarenta anos, enquanto realiza um destes retiros
espirituais, numa caverna do monte Hira, foi visitado pelo anjo Gabriel que lhe
ordenou recitasse uns versos enviados por Deus. Comunicando que Deus o havia
escolhido como o último Profeta enviado à humanidade. Muhamad deu ouvido a
mensagem do anjo, e após sua morte, esses versos foram reunidos e integrados ao
Sagrado Alcorão, durante o califado de Abu Bakr (573-634). Maomé não rejeitou
completamente o cristianismo e o judaísmo, duas religiões monoteístas já
conhecidas pelos árabes. Em vez disso, informou que tinha sido enviado por Deus
para, restaurar os ensinamentos originais das religiões, que tinham sido
corrompidos e esquecidos. Muitos habitantes de Meca rejeitaram sua mensagem e
começaram a persegui-lo, bem como aos seus seguidores. Parecido com o que
acontecerá com o profeta Jesus e seus discípulos, perseguido pela seita dos fariseus,
saduceus e herodianos. Em 622 Maomé (Muhamad) foi obrigado a abandonar Meca,
numa migração conhecida como Hégira, tendo se mudado para Yatrib, atual Medina.
Nessa cidade Maomé tornou-se o chefe da primeira comunidade muçulmana.
Seguiram-se uns anos de batalha entre os habitantes de Meca e Medina, que se
saldaram em geral na vitória de Maomé e seus seguidores. A organização militar
criada durante estas batalhas foi usada para derrotar as tribos da Arábia. Por
altura da sua morte, Maomé (Profeta Muhamad) tinha unificado praticamente o
território sob o signo de uma nova religião o Islam”. Jeremias teve sua crise existêncial antes do
início de seu ministério. Apresentou obstáculo quanto ao seu chamamento dizendo
ser – criança, indefesa e que não sabia falar. No filme chamado Jeremias, é
mostrado que o profeta, amou profundamente uma jovem, que não era israelita.
Contudo para sua desolação ela, mesmo como pastora de ovelha e prendado no
campo, foi capturado por uma tribo nômade em sua propriedade e brutalmente
morta pelos vândalos. Jeremias desesperado com esta situação foge para o
deserto, vagueando sem destino, até que depois de dias em meditação e oração -
retorna a sua cidade com o sentimento fortalecido a cumprir seu desígnio
divino. Uma questão difícil de compreender é que parece que o profeta faz tudo
sozinho. Um engano, o argumento que estamos analisando mostra que, existiam
outros servos de Deus que também lutaram contra as “imundícies” espirituais
vigentes em Jerusalém. Apenas não são mencionados com destaque, exemplo os
nomes de Baruque (aquele que transcrevia e lia os textos do profeta) e Obede
Meleque (o etíope negro) que resgatou o profeta dum poço de lama. Esses
ajudaram o profeta em seu ministério. Jeremias reconhece que também precisava
do bálsamo de Gileade, assim como os demais do seu povo. A terra de Israel
estava desolada, tudo em ruínas. Grande parte do povo foi levado cativo,
juntamente com a corte pelo rei Nabucodonosor. Eles começariam um trabalho de
recuperação de tudo o que foi destruído. O sentimento nacional foi ferido, e
precisariam de um milagre para ajudar numa hora tão decisiva. Ele percebe que
se os seus patrícios estão enfermo, assim, de igual modo ele. Todos estão
debilitados precisando de cura interior. O amor se expressa em tomarmos o lugar
do outro. Tendo por ele compaixão e atitude positiva. A cura aqui é um processo
subjetivo. Deveria ser realizada numa mudança de mente e numa transformação interior.
Uma questão moral e espiritual que precisava ser reparada e corrigida. Uma
alteração do percurso de vida. Mas a dura cerviz impediu o povo Judeu de tocar
no amor e na misericórdia do Eterno. Colheram exatamente aquilo que plantaram.
A disciplina veio por causa de seus próprios erros. Isso acontece conosco em
nossa cotidianidade. Não assumimos nossos fracassos e culpamos Deus ou o diabo
por eles. Essa ideia ocidentalizada racional materialista surgiu do dualismo
polarizado entre o bem e o mal. A tradição oriental não têm esse “estereótipo”
da culpa em outro ou outra situação. Como concebem bem e mal, lados opostos duma
mesma substância, são dispostos a assumir o próprio erro e incoerência.
Entendendo que absolutamente o indivíduo é o único responsável pelo seu ato. Nossos
“ídolos” são interiores e, geralmente não abrimos mãos deles. Essa foi uma
questão que envolvia a depravação espiritual dos judeus naqueles dias. Uma
advertência I João 5,21 “Filhinhos guardai-vos dos ídolos”. A questão da imagem
como representação é tremendamente mal compreendido no mundo cristão. No
oriente, ela não tem esse paradigma espiritualizado como no ocidente,
notadamente entre os protestantes evangélicos. Também o sentido negativo de
blasfêmia ou idolatria visto no judaísmo e islamismo. Na linguagem da
psicologia, as imagens funcionam como um arquétipo de nosso inconsciente,
reportando o observador para aquilo que foi o personagem aludido em sua
virtuosidade moral e atitudes éticas que devem ser imitadas. Além de
comportamento e personalidade fundamentados na pureza e santidade, digna dos
grandes seres que deixam marcas, bem visíveis, neste mundo onde os exemplos são
a melhor maneira para nos espelharmos à viver em integridade e justiça. Após a
destruição do templo e a subordinação do povo Judeus aos seus conquistadores os
Babilônios. Jeremias seus amigos e os anônimos que Deus usou em todo aquele
processo agora eram “médicos” de almas e terapeutas de “plantão”. Passavam o
bálsamo curador nas “feridas” dos que ficaram. Não apenas ouviam o choro e angústia
dos seus compatriotas, mas escutavam com um terceiro “ouvido”, aquele da
reflexão, do sentimento, da emoção, da entrega. Tomando o sofrimento do outro
como sendo o seu sofrimento. Penso que podemos transportar a experiência de
Gileade para nossos dias. Apliquemos este bálsamo uns nos outros quando
necessário. Romanos 12,14-15 “Abençoai os que vos perseguem, abençoai e não
amaldiçoeis. Alegrai-vos com os que se alegram, chorai com os que choram. Vivei
em concórdia entre vós. Não sejais arrogantes, mas adotai um comportamento
humilde para com todos. Não sejais sábios aos vossos próprios olhos (...)”.
Fraternal abraço. Davi.
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