quinta-feira, 19 de outubro de 2017

OS TRÊS GIROS DA RODA DO DHARMA

Budismo. Texto de Kenchen Thrangu Rinpoche (1933-  ). BUDHA, o sublime, apresentou a VISÃO DO CAMINHO DO MEIO muitas vezes, de maneiras diferentes, as quais se acham sumarizadas nos TRÊS GIROS DA RODA DO DHARMA. Ele ensinou primeiramente em Sarnath - Índia, pouco após sua iluminação, à um grupo de seres que não tinham nem grande energia, nem mentes expansivas. Ministrou-lhes as QUATRO NOBRES VERDADES: ensinou que toda existência comum é sofrimento, que tal sofrimento resulta de nosso próprio carma e que este carma é gerado através do condicionamento degradado de nossas próprias mentes. A mente degradada, afirmou, provém de nosso apego à noção de uma individualidade ou ego. Assim, o Budha demonstrou a natureza sofredora da existência no mundo e suas causas. Em seguida, mostrou a possibilidade da liberação do sofrimento ao alcançarmos o Nirvana. Para se alcançar o NIRVANA (estado de libertação atingido pelo ser humano ao percorrer sua busca espiritual), não é suficiente ter inclinação moral, ou o sentimento de poder alcançá-lo: deve-se estar compelido a praticar o caminho a fim de atingir a completa cessação das degradações e do consequente sofrimento; cessação esta que é o Nirvana. Nesse contexto, O CAMINHO significa contra agir ao apego à noção de ego e auto existência. Assim procedendo, podemos nos livrar das degradações de nossas mentes, da necessidade de gerar carma, e dessa forma, sermos dispensados da necessidade de continuadas passagens (renascimentos) pelo mundo. No PRIMEIRO GIRO da Roda do Dharma", Buddha Shakyamuni, NÃO ENSINOU ESPECIFICAMENTE A VACUIDADE, embora tenha MENCIONADO INDIRETAMENTE. VACUIDADE é uma tradução aproximada do termo sânscrito Shunyata e do termo tibetano Tongpa nyi. O significado básico da palavra Shunyata é zero, enquanto a palavra Tongpa em tibetano é vazio, não no sentido de um vácuo ou espaço vazio, mas sim no sentido de que a base da experiência está além da capacidade de perceber com nossos sentidos ou de ser capturada em um belo e bem arranjado conceito. Talvez uma melhor compreensão do sentido profundo da palavra pode ser "inconcebível ou inominável". Assim, quando os budistas falam da Vacuidade com base em nosso ser, não querem dizer que quem ou o que somos não é nada, é um zero, esse é um ponto de vista que pode dar lugar a um cinismo (ato daquele que demonstra descaso pelas normas sociais ou por uma moral pré estabelecida, ausência de prudência). Os verdadeiros ensinamentos sobre a Vacuidade implicam em um espaço infinitamente aberto, que permite a qualquer coisa aparecer, mudar, desaparecer e reaparecer. O significado básico de Vacuidade, em outras palavras,  é a abertura, ou potencial. No nível básico de nosso ser, nós somos "vazios" de características definidas. Ngawang Tsoknyi Gyatso Rinpoche (1966-   ). A ausência de ego que BUDHA proclamou naquela oportunidade não era a ausência de individualidade num sentido último, mas no sentido mais simples de que não existe nenhum ego, ou auto natureza, permanente e solidamente individual. Posteriormente, em Rajgir, cidade na Índia, ele transmitiu o SEGUNDO GIRO da Roda do Dharma, os ensinamentos a respeito da AUSÊNCIA DE CARACTERES FUNDAMENTAIS. Ensinou as dezesseis modalidades de Vacuidade: as aparências externas são vazias, o mundo interior dos pensamentos é vazio; tanto as coisas externas quanto internas, em conjunto, são vazias; e, assim por diante, em dezesseis estágios. Desta maneira, ele demonstrou que não existe nenhum ego, não apenas no sentido comum, mas também, que nenhuma realidade inerente pode ser encontrada em coisa alguma, seja lá onde investiguemos. Mais tarde, em Sravasti (cidade Hindu onde Sakkiamuni BUDHA passou a maior parte de sua vida monástica) ensinou o TERCEIRO GIRO da Roda, no qual revela que a VACUIDADE NÃO É MERAMENTE VAZIA, mas dá origem a todos os fenômenos e é continuamente expressiva. Este terceiro giro inclui lições sobre a "Fonte dos Tathágatas – um termo impreciso, talvez de maneira intencional, entre assim ido, ou assim vindo, referindo-se ao estado iluminado do BUDHA. Aquele que transcendeu a existência em samsara – é o termo sânscrito e em pali para movimento contínuo ou fluxo contínuo, referindo-se no budismo ao conceito de nascimento, velhice, doença, decrepitude e morte. No qual todos os seres no Universo participam, e do qual só se pode escapar através da iluminação. Tathágata Garba, o ensinamento básico sobre o qual a filosofia da Escola "Mente Única" ou Escola "Somente Consciência", conhecida como (Vijnanavada), nome pela qual foi fundada. A distinção entre o segundo e o terceiro giros é que, nos ensinamentos de Rajgir, o BUDHA pregou a Vacuidade como sendo uma função da aparência,  isto é, a mais alta qualidade da aparência (a sua falta de verdadeira existência), enquanto que, em Sravasti, ensinou-nos a Vacuidade como uma espécie de fundamento a partir da qual tudo é expresso. Os TRÊS GIROS, então, compõem o ensinamento da VISÃO CORRETA. Esse NOBRE CAMINHO há que ser percorrido EM OITO PONTOS, sem se descuidar de um único, SÓ ASSIM É POSSÍVEL SE CONVERTER EM UM BUDHA. 1. VISÃO CORRETA.  É ver de acordo com a realidade de que existe o sofrimento, a sua causa, o seu fim é o caminho que conduz a esse fim. 2. PENSAMENTO CORRETO. Pensamento livre de sensualidade, má vontade e crueldade. 3. LINGUAGEM CORRETA. Linguagem livre de engano, insulta, malícia e estupidez. 4. AÇÃO CORRETA. Ação livre de assassinato, roubo, adultério, mentira e entorpecentes. 5. VIDA CORRETA. Quando o discípulo evita um comércio perverso (adivinhação, usuras, armas, seres vivos, carne, narcóticos e veneno) ganhando a vida por meio retos e honoráveis. 6. ESFORÇO CORRETO. Com os esforços corretos se impedem os pensamentos negativos, desenvolvendo-se os positivos. 7. ATENÇÃO CORRETA. Quando o devoto fica atento e sabe que o corpo, os sentimentos, a mente e os pensamentos são impermanentes estando submetidos à decadência. 8. CONCENTRAÇÃO CORRETA. É a unidirecionalidade da MENTE mediante EXERCÍCIOS RESPIRATÓRIOS e MEDITAÇÕES especiais.  BUDHA ensinou também, muitos métodos para o reconhecimento da Natureza Fundamental e para a prática do caminho segundo os ensinamentos do Mahamudra (SUPREMO GESTO) e as lições sobre Maha Sandhi, ou Dzogchen (A GRANDE PERFEIÇÃO), métodos para a prática e alcance da realização, os quais não diferem do enfoque da VISÃO DO CAMINHO DO MEIO (Madhyamaka). O PRIMEIRO GIRO da roda do Dharma, o primeiro ensinamento sobre AS QUATRO NOBRES VERDADES, e outros aspectos, geralmente diz respeito ao Hinayana. A PRIMEIRA NOBRE VERDADE É QUE HÁ SOFRIMENTO. A DOENÇA é sofrimento, o NASCER é sofrimento, a VELHICE é sofrimento, a MORTE é sofrimento, a DOR e o DESESPERO são sofrimento, o contato com o DESAGRADÁVEL é sofrimento, o DESEJO INSATISFEITO é sofrimento, OS CINCO AGREGADOS da MENTE E DO CORPO que produzem os desejos são sofrimentos. A SEGUNDA NOBRE VERDADE É QUE O SOFRIMENTO SE ORIGINA NOS DESEJOS, que causa o renascimento estando acompanhado pelo prazer sensual, buscando a satisfação nessa plano físico. Estando também além, ou seja, a ânsia de prazeres, a ânsia de nascer de novo, a ânsia de ser aniquilado. A TERCEIRA NOBRE VERDADE É QUE A EXTINÇÃO DO SOFRIMENTO É A VERDADEIRA AUSÊNCIA DA PAIXÃO, a destruição completa dessa ânsia de prazeres, dessa ânsia de nascer, e dessa ânsia de ser aniquilado. O não mais albergar essa ânsia provoca a extinção do sofrimento. A QUARTA NOBRE VERDADE É O CAMINHO QUE CONDUZ A EXTINÇÃO E SUPRESSÃO DA DOR, é a via que leva à eliminação de MARA (é o oposto de BUDHA, ou seja, uma vez que BUDHA é a iluminação, MARA é a ilusão. Isso é personificado com o demônio MARA, que teria tentado impedir SIDHARTA GAUTAMA de alcançar a iluminação, e também vive no interior de cada pessoa procurando mantê-la adormecida na ilusão MAYA do mundo) e à contemplação da verdade única do Ser, e portanto, a suprema felicidade. Ao refletir sobre as quatro nobres verdades e o CAMINHO QUE CONDUZ A EXTINÇÃO DO SOFRIMENTO, BUDHA NOS DIZ  SOBRE AS DOZE CAUSAS DO ETERNO RETORNO, A ORIGEM DO SOFRIMENTO OU A EXPLICAÇÃO DO POR QUE VOLTAMOS A NASCER UMA E OUTRA VEZ, nesse reino humano ou em outro. 1. EXISTE A IGNORÂNCIA. 2. A IGNORÂNCIA CONDICIONA AS FORMAÇÕES MENTAIS. 3. AS FORMAÇÕES MENTAIS condicionam a consciência. 4. A CONSCIÊNCIA condiciona a mente e o corpo. 5. A MENTE E O CORPO condicionam os sentidos. 6. OS SENTIDOS condicionam os contatos. 7. O CONTATO CONDICIONA a sensação. 8. O SENTIMENTO condiciona o desejo. 9. A ÂNSIA condiciona o apego. 10. O APEGO condiciona o processo de chegar a ser. 11. O PROCESSO DE CHEGAR A SER condiciona o renascimento. 12. O RENASCIMENTO condiciona a decadência e a morte, e também a pena, lamentação, dor e desespero". www.vopus.org.  Hinayana é o veículo menor, modesto e Mahayana é o veículo maior, vasto NO BUDISMO. Os dois termos aparecem pela primeira vez no Sutra Prajnaparamita; também chamado o Sutra do Longo Alcance da Consciência Discriminativa, ou Sutra da Perfeição da Sabedoria; surgidos aproximadamente no século II (101-200) de nossa era. Os ensinamentos do "Segundo Giro", sobre os dezesseis aspectos da Vacuidade, foram desdobrados por Nagarjuna no seu Prajna Nama Mula Madhyamaka Karika e, mais tarde, por Chandrakirti no Madhyamaka Vatara, por Shantirakshita no Madhyamaka Lankara e por Aryadeva nas Quatrocentas Estrofes Sobre a Madhyamaka. Estes quatro comentários (Shastras) clarearam a visão da Vacuidade, bem como da Verdadeira Natureza da fenomenalidade. Maitreinatha deu a Asanga cinco comentários em versos sobre o "Terceiro Giro da Roda do Dharma", referentes à "Fonte dos Tathágatas" e  Asanga fez comentários sobre tais versos. A partir dessas explicações, se deriva a linhagem de visão do "Terceiro Giro". A explicação da Vacuidade de acordo com o "Segundo Giro", os ensinamentos de Nagarjuna e Aryadeva,  são chamados em tibetano de Rangtong, o que, basicamente, significa que toda aparência é vazia. A explicação da Vacuidade de acordo com o "Terceiro Giro", o ensinamento de Asanga, é conhecido como Shentong, que significa que a Vacuidade em si mesma não é meramente vazia, mas expressa as qualidades búdicas. Os verdadeiros meios para se chegar ao reconhecimento da Natureza Fundamental não são diferentes nos dois sistemas. A única distinção diz respeito apenas à maneira pela qual a Vacuidade é explicada. Livro A porta aberta à vacuidade. Abraço. Davi.

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