1.
Kutadanta Sutta. Assim ouvi. Em certa ocasião, o Abençoado, Budha, estava
perambulando pela região de Magadha com uma grande Sangha de Bhikkhus,
com quinhentos Bhikkhus, até que por fim ele acabou chegando num
vilarejo Brâmane denominado Khanumata. Em Khanumata ele ficou no Parque
Ambalatthika.[1] Agora,
naquela ocasião, o Brâmane Kutadanta vivia em Khanumata, uma
propriedade real com muitos habitantes, rica em pastagens, árvores, rios
e grãos, uma concessão real, uma doação sagrada que lhe foi dada pelo
rei Seniya Bimbisara de Magadha.
Justamente
nessa ocasião Kutadanta planejava fazer um grande sacrifício:
setecentos touros, setecentos bois, setecentos novilhos, setecentos
bodes e setecentos carneiros estavam todos amarrados nos postes de
sacrifício.
2.
Os Brâmanes chefes de família de Khanumata ouviram: “Gautama Budha o
contemplativo, o filho dos Sakyas, que adotou a vida santa deixando o
clã dos Sakyas, estava perambulando pela região de Magadha
com uma grande Sangha de Bhikkhus, com quinhentos Bhikkhus, chegou em
Khanumata e está no Parque Ambalatthika. E acerca desse mestre Gautama
existe essa boa reputação: Esse Abençoado é um arahant, perfeitamente
iluminado, consumado no verdadeiro conhecimento e conduta,
bem-aventurado, conhecedor dos mundos, um líder insuperável de pessoas
preparadas para serem treinadas, mestre de devas e humanos, desperto,
sublime. Ele declara, tendo realizado por si próprio com o conhecimento
direto, este mundo com os seus Devas, Maras e Brahmas, esta população
com seus contemplativos e Brâmanes, seus príncipes e povo. Ele ensina o
Dhamma, com o significado e fraseado corretos, que é admirável no
início, admirável no meio, admirável no final; e ele revela uma vida
santa que é completamente perfeita e imaculada. É bom poder encontrar
alguém tão nobre. Assim, os Brâmanes chefes de família de Khanumata
saíram de Khanumata em grupos e bandos e se dirigiram para o Parque
Ambalatthika.
3.
Agora, naquela ocasião, o Brâmane Kutadanta havia se retirado para o
andar superior do seu palácio para a sesta (sono após uma refeição). Então ele viu os Brâmanes
chefes de família de Khanumata saindo de Khanumata em grupos e bandos e
se dirigindo para o Parque Ambalatthika. Ao vê-los perguntou ao seu
ministro: Estimado ministro,
porque os Brâmanes chefes de família de Khanumata estão saindo de
Khanumata em grupos e bandos e se dirigindo para o Parque Ambalatthika?
Senhor,
ali se encontra Gatama Budha o contemplativo, o filho dos Sakyas, que adotou a
vida santa deixando o clã dos Sakyas, que estava perambulando pela
região de Magadha (...). Igual ao verso 2. (...). Eles estão indo ver esse Mestre Gautama.
4.
Então, Kutadanta pensou: “Eu ouvi que o contemplativo Gautama sabe como
realizar da forma correta o sacrifício de três modos com os seus
dezesseis instrumentos. Agora, eu não sei isso, mas quero fazer um
grande sacrifício. E se eu fosse até o contemplativo Gatama Budha e
perguntasse sobre esse assunto. E assim ele mandou o seu ministro até
os Brâmanes e chefes de família de Khanumata para pedir-lhes que
esperassem por ele.[2]
5. E naquela ocasião muitas centenas de Brâmanes estavam em Khanumata com a intenção de tomar parte no sacrifício de Kutadanta.
Ouvindo que a intenção dele era de visitar o contemplativo Gautama, eles
foram até onde ele estava para perguntar se aquilo era verdade. Assim
é, senhores, eu irei visitar o contemplativo Gautama.
6. Senhor, não vá ver o contemplativo Gotama (...). Igual ao DN 4.5 (...). Sendo assim, Mestre Kutadanta, não é apropriado que você vá ver o
contemplativo Gautama; ao invés disso, é apropriado que o contemplativo
Gautama venha vê-lo.
7.
Quando isso foi dito, o Brâmane Kutadanta disse para aqueles Brâmanes: Agora, senhores, ouçam de mim porque é apropriado que eu vá ver o
contemplativo Gautama e porque não é apropriado que o Mestre Gautama venha
me ver. Igual ao DN 4.6, (...). Visto que o contemplativo Gautama chegou em Khanumata, ele é nosso
hóspede e como nosso hóspede ele deve ser honrado, respeitado,
reverenciado e venerado por nós. Sendo assim, senhores não é apropriado
que o Mestre Gautama venha me ver; ao invés disso, é apropriado que eu vá
ver o Mestre Gautama
8.
Ao ouvir isso, os Brâmanes disseram para Kutadanta: Senhor, visto que
você elogia tanto o contemplativo Gautama, então mesmo estando a uma
distância de cem yojanas daqui, seria apropriado que aqueles que têm fé
fossem visitá-lo. Portanto, senhor, iremos visitar o contemplativo
Gautama.
E
assim, Kutadanta foi com uma grande comitiva de Brâmanes para o Parque
Ambalatthika. Ele foi até o Abençoado Budha e ambos se cumprimentaram. Quando a
conversa cortês e amigável havia terminado ele sentou a um lado. Alguns Brâmanes e chefes de família homenagearam o Abençoado e sentaram a um
lado; alguns trocaram saudações corteses com ele e após a troca de
saudações sentaram a um lado; alguns juntaram as mãos em respeitosa
saudação e sentaram a um lado.
9.
Kutadanta disse para o Abençoado: Venerável Gautama, eu ouvi que você
sabe como realizar da forma correta o sacrifício de três modos com os
seus dezesseis instrumentos. Agora, eu não sei isso, mas quero fazer um
grande sacrifício. Seria bom se o contemplativo Gautama pudesse me
explicar isso. Então, Brâmane, ouça e preste muita atenção àquilo
que eu vou dizer. Sim senhor, Kutadanta respondeu. O Abençoado
disse o seguinte:
10. Brâmane, certa vez houve um rei chamado Mahavijita. Ele possuía grande
riqueza e posses, uma grande quantidade de barras de ouro, uma grande
quantidade de celeiros, uma grande quantidade de campos, uma grande
extensão de terras, inúmeras esposas e uma grande quantidade de escravos
e escravas. Certa ocasião, quando o Rei Mahavijita refletia em
particular, o seguinte pensamento lhe ocorreu: Eu adquiri grande
riqueza em termos humanos, eu ocupo uma ampla extensão de terra que
conquistei. E se agora eu fizesse um grande sacrifício que trouxesse
proveito e felicidade por muito tempo? E chamando o seu sacerdote, ele
disse a ele o que havia pensado. Eu quero fazer um grande sacrifício.
Instrua-me, venerável senhor, como devo fazer um grande sacrifício que
traga proveito e felicidade por muito tempo.
11. O sacerdote respondeu: O reino de vossa Majestade está assediado por
ladrões, vilarejos e cidades são pilhados, o campo está infestado por
bandidos. Se vossa Majestade impusesse um novo imposto nessa região,
essa seria uma atitude incorreta. Suponha que vossa Majestade pensasse: Eu irei me livrar dessa praga de ladrões através de aprisionamentos e
execuções, ou através de multas, intimidação e banimento, assim não
seria dado um fim apropriado a essa praga. Aqueles que sobrevivessem,
mais tarde causariam dano ao reino de vossa Majestade. No entanto, com
este outro plano vossa Majestade poderá eliminar por completo essa
praga. Para aqueles que no reino se dedicam ao cultivo e ao pastoreio,
que vossa Majestade lhes distribua grãos e ração; para aqueles que se
dedicam ao comércio, conceda capital; para aqueles no serviço público,
pague salários adequados. Então, essas pessoas, estando concentradas nas
suas ocupações, não irão causar dano ao reino. As receitas de vossa
Majestade irão se incrementar, o reino estará tranqüilo e não assediado
por ladrões, e as pessoas, com alegria nos seus corações, irão se
entreter com os seus filhos e manter as suas casas com as portas
abertas.
Dizendo: Assim seja!, o rei aceitou o conselho do sacerdote: ele deu grãos e
ração, (...) capital para o comércio, (...) salários adequados (...) e as
pessoas com alegria nos seus corações (...) mantinham as suas casas com as
portas abertas.
12. Então, o Rei Mahavijita mandou buscar o sacerdote e disse: Eu me
livrei da praga dos ladrões; seguindo o seu plano a minha renda cresceu,
o reino está tranqüilo e não assediado por
ladrões, e as pessoas, com alegria nos seus corações, se entretêm com
os seus filhos e mantêm as suas casas com as portas abertas. Agora eu
gostaria de fazer um grande sacrifício. Instrua-me como isso deve ser
feito para que traga proveito e felicidade por muito tempo.
Quanto
a isso, Senhor, vossa Majestade deveria chamar os Khattiyas das cidades
e do campo, os conselheiros e ministros, os Brâmanes mais influentes e
os ricos chefes de família do reino, e dizer: Eu gostaria de fazer um grande sacrifício. Ajudem-me nisso, senhores, para que traga proveito e felicidade por muito tempo.
O Rei concordou e assim fez. Senhor, que o sacrifício tenha início, agora é o momento, Majestade. Esses quatro grupos [3] que ofereceram aprovação serão os instrumentos para o sacrifício.
13. O Rei Mahavijita estava dotado com oito qualidades. Ele era bem nascido pelos dois lados igual ao DN 4.5 (...) impecável
com respeito ao nascimento. Ele era belo (...) digno de ser contemplado.
Ele era rico, com grande riqueza e posses. Ele era poderoso, possuindo
um exército com quatro divisões, [4] que
era leal, confiável, fazendo luzir a sua reputação entre os seus
inimigos. Ele era um doador fiel e um anfitrião, que não fechava a porta
para os contemplativos, Brâmanes e errantes, pedintes e necessitados, uma fonte de bondade. Ele era bem estudado naquilo que deve ser
estudado. Ele sabia o significado daquilo que tinha sido dito,
explicando: Esse é o significado disso que foi dito. Ele era
inteligente, erudito, sábio, capaz de perceber a vantagem no passado, no
futuro ou no presente. [5] O Rei Mahavijita estava dotado com essas oito qualidades. Elas constituíam os instrumentos para o sacrifício.
14. O sacerdote estava dotado com quatro qualidades. Ele era bem nascido (...). Ele era sábio, versado nos mantras (...). Ele era virtuoso, com a
virtude madura, possuindo virtude amadurecida. Ele era inteligente,
erudito, sábio, o primeiro ou segundo a segurar a concha do sacrifício.
Ele estava dotado com essas quatro qualidades. Elas constituíam os
instrumentos para o sacrifício.
15. Então, antes do sacrifício começar, o sacerdote orientou o Rei quanto
aos três modos: Pode ser que vossa Majestade sinta algum arrependimento
com relação ao sacrifício planejado: Eu irei perder muita riqueza, ou
durante o sacrifício: Eu estou perdendo muita riqueza, ou depois do
sacrifício: Eu perdi muita riqueza. Nesses casos, vossa Majestade não
deve dar atenção a esse tipo de pensamento.
16. Então, antes do sacrifício começar, o sacerdote dissipou os dez tipos
de receio do Rei com relação aos participantes: Majestade, ao
sacrifício virão aqueles que matam seres vivos e aqueles que se abstêm
de matar seres vivos. Aqueles que matam seres vivos, que assim
permaneçam; mas aqueles que se abstêm de matar seres vivos terão um
sacrifício bem sucedido e se regozijarão com isso, e os seus corações
estarão em paz. Virão aqueles que tomam o que não lhes é dado e aqueles
que se abstêm (...) aqueles que praticam o comportamento sexual impróprio e
aqueles que se abstêm (...) aqueles que mentem (...) aqueles que empregam a
linguagem maliciosa, grosseira e frívola (...) aqueles que são cobiçosos e
aqueles que não são, aqueles que têm má vontade e aqueles que não têm,
aqueles que têm o entendimento incorreto e aqueles que têm o
entendimento correto. Aqueles que têm o entendimento incorreto, que
assim permaneçam; mas aqueles que têm o entendimento correto terão um
sacrifício bem sucedido e se regozijarão com isso, e os seus corações
estarão em paz. Assim o sacerdote dissipou os dez tipos de receio do
Rei com relação aos participantes.
17. Então, enquanto o Rei realizava o sacrifício, o sacerdote instruiu,
estimulou, motivou e alegrou o coração do Rei com relação aos dezesseis
instrumentos. Alguém poderia dizer: O Rei Mahavijita está fazendo um
grande sacrifício, mas ele não convidou os Khattiyas (...) os seus
conselheiros e ministros (...) os Brâmanes mais influentes (...) os ricos
chefes de família (...). Mas essas
palavras não estariam de acordo com a verdade visto que o Rei convidou a
todos como assistentes. Assim o Rei deve saber que terá um sacrifício
bem sucedido e regozijar-se com isso, e o seu coração estará em paz. Ou
alguém poderia dizer: O Rei Mahavijita está fazendo um grande
sacrifício, mas ele não é bem nascido pelos dois lados (...). Mas essas
palavras não estariam de acordo com a verdade (...). Ou alguém poderia
dizer: O sacerdote não é bem nascido. Mas essas palavras não
estariam de acordo com a verdade. Assim o sacerdote instruiu,
estimulou, motivou e alegrou o coração do Rei com relação aos dezesseis
instrumentos.
18. Nesse sacrifício, Brâmane, não foram mortos touros, nem bois ou
novilhos, nem bodes ou carneiros, nem vários outros tipos de seres
vivos, tampouco árvores foram cortadas para os postes de sacrifício, nem
o capim foi cortado para o capim de sacrifício, e os escravos,
mensageiros e serviçais não realizaram as suas tarefas com os rostos
cobertos de lágrimas, incitados pelas ameaças de punição e pelo medo.
Mas aqueles que queriam fazer algo, assim fizeram; aqueles que nada
queriam fazer, assim fizeram: eles fizeram aquilo que queriam e não
aquilo que não queriam. O sacrifício foi feito com manteiga líquida,
azeite, manteiga, coalhada, mel e melaço.
19. Então, Brâmane, os Khattiyas das cidades e do campo, os conselheiros e
ministros, os Brâmanes mais influentes e os ricos chefes de família do
reino, tendo ganho muita riqueza foram até o Rei Mahavijita e disseram: Nós trouxemos muita riqueza, Majestade, por favor aceite. Mas
senhores, eu já acumulei riqueza suficiente, produto de impostos
equitativos. Mantenham aquilo que é de vocês e levem algo mais.
Dada
a recusa do Rei, eles se afastaram para conversar: Não é correto que
levemos esta riqueza de volta para as nossas casas. O Rei está fazendo
um grande sacrifício. Sigamos o seu exemplo.
20. Então os Khattiyas colocaram as suas oferendas do lado leste da cova
de sacrifício, os conselheiros e ministros colocaram as suas do lado
sul, os Brâmanes do lado oeste e os ricos chefes de família do lado
norte. E nesse sacrifício não foram mortos touros, (...) nem vários outros
tipos de seres vivos (...) aqueles que queriam fazer algo, assim fizeram;
aqueles que nada queriam fazer, assim fizeram (...) O sacrifício foi
feito com manteiga líquida, azeite, manteiga, coalhada, mel e melaço.
Desse modo houve a cooperação quádrupla com o Rei Mahavijita dotado com
oito qualidades pessoais e o sacerdote com quatro. O sacrifício foi
realizado de três modos. Isto, Brâmane, é chamado a celebração de um
sacrifício de três modos com os seus dezesseis instrumentos.
21. Quando isso foi dito os Brâmanes ergueram as vozes em tumulto e
disseram: Que sacrifício esplêndido! Que modo magnífico de realizar um
sacrifício! Mas Kutadanta ficou sentado em silêncio. E os Brâmanes
perguntaram porque ele não aprovava as boas palavras do contemplativo
Gotama. Ele respondeu: Não é que eu não as aprove. Minha cabeça
partiria se eu assim não o fizesse. [6] Mas
me ocorreu que o contemplativo Gatama Budha não disse: Eu ouvi isso, ou deve ter sido assim, mas ele diz: Naquela época foi assim ou assado.
E portanto, senhores, parece-me que naquela época o contemplativo
Gautama devia ser o Rei Mahavijita, o senhor do sacrifício, ou então o
sacerdote que celebrou a cerimônia de sacrifício. O Venerável Gautama
confirma que ele realizou ou fez com que se realizasse esse sacrifício e
como conseqüência disso, com a dissolução do corpo, após a morte, ele
renasceu em uma boa destinação, nos planos celestiais? Eu confirmo,
Brâmane. Eu era o sacerdote que celebrou a cerimônia de sacrifício.
22. Venerável Gautama, há algum outro sacrifício que seja mais simples,
menos complicado, mais frutífero e benéfico que esse sacrifício de três
modos com os seus dezesseis instrumentos? Há, Brâmane.
Que
sacrifício é esse, Venerável Gautama? Brâmane, sempre que as
oferendas usuais das famílias são dadas para contemplativos virtuosos,
estas se constituem num sacrifício mais frutífero e benéfico que
aquele.
23. Qual a razão, Venerável Gotama, porque este sacrifício é melhor?
Brâmane,
nenhum Arahant ou aqueles que realizaram o caminho do Arahant, irão
participar daquele primeiro sacrifício. Porque? Porque nesses
sacrifícios eles testemunham surras e violência e por isso eles não
participam. [7] Mas
eles irão participar dos sacrifícios nos quais as oferendas usuais das
famílias são dadas para contemplativos virtuosos, porque nesse caso não
há surras ou violência. Essa é a razão porque esse sacrifício é mais
frutífero e benéfico.
24. Mas Venerável Gautama, há algum outro sacrifício que seja mais frutífero e benéfico que esses dois? Há, Brâmane.
Que
sacrifício é esse, Venerável Gautama? Brâmane, qualquer um que
proporcione abrigo para a Sangha vinda dos quatro quadrantes, isso se
constitui num sacrifício mais frutífero e benéfico.
25. Mas Venerável Gautama, há algum outro sacrifício que seja mais frutífero e benéfico que esses três? Há, Brâmane.
Que
sacrifício é esse, Venerável Gautama? Brâmane, qualquer um que com o
coração puro busque refúgio no Budha, no Dhamma e na Sangha, isso se
constitui num sacrifício mais frutífero e benéfico do que qualquer um
dos outros três.
26. Mas Venerável Gautama, há algum outro sacrifício que seja mais frutífero e benéfico que esses quatro? Há, Brâmane.
Que
sacrifício é esse, Venerável Gotama? Brâmane, qualquer um que com o
coração puro adote os preceitos de virtude, abster-se de matar seres
vivos, de tomar aquilo que não é dado, da conduta sexual imprópria, da
mentira e do vinho, álcool e outros embriagantes, isso se constitui num
sacrifício mais frutífero e benéfico do que qualquer um dos outros
quatro.
27. Mas, Venerável Gautama, há algum outro sacrifício que seja mais frutífero e benéfico que esses quatro? Há, Brâmane.
Que
sacrifício é esse, Venerável Gautama? Brâmane, um Tathagata surge no
mundo, um arahant, perfeitamente iluminado, consumado no verdadeiro
conhecimento e conduta, bem-aventurado, conhecedor dos mundos, um líder
insuperável de pessoas preparadas para serem treinadas, mestre de devas e
humanos, desperto, sublime. Ele declara, tendo realizado por si
próprio com o conhecimento direto, este mundo com os seus Devas, Maras e Brahmas, esta população com seus contemplativos e Brâmanes, seus
príncipes e povo. Ele ensina o Dhamma, com o significado e fraseado
corretos, que é admirável no início, admirável no meio, admirável no
final; e ele revela uma vida santa que é completamente perfeita e
imaculada. Um discípulo segue a vida santa e pratica a virtude, (DN 2.41- 74). Assim um Bhikkhu tem a virtude perfeita. Ele alcança os quatro jhanas, (DN 2.75-82). Isso, Brâmane, se constitui num sacrifício mais frutífero e benéfico. Ele realiza vários insights, (DN 2.83-95), e a destruição das impurezas, (DN 2.97).
Ele sabe: ‘Não há mais nada neste mundo. Isso, Brâmane, se constitui
num sacrifício mais simples, menos complicado, mais frutífero e benéfico
que todos os outros. E além disso não há nenhum outro sacrifício que
seja superior ou mais perfeito.”
28. Magnífico, Mestre Gotama! Magnífico, Mestre Gotama! Mestre Gotama
esclareceu o Dhamma de várias formas, como se tivesse colocado em pé o
que estava de cabeça para baixo, revelasse o que estava escondido,
mostrasse o caminho para alguém que estivesse perdido ou segurasse uma
lâmpada no escuro para aqueles que possuem visão pudessem ver as formas.
Eu busco refúgio no Mestre Gotama, no Dhamma e na Sangha dos bhikkhus.
Que o Mestre Gotama me aceite como discípulo leigo que buscou refúgio
para o resto da vida! E, Venerável Gotama, eu libertarei os setecentos
touros, setecentos bois, setecentos novilhos, setecentos bodes e
setecentos carneiros. Eu lhes concedo a vida, que eles sejam alimentados
com capim fresco, com água fresca para beber e que a brisa fresca os
enleve.
29.
Então, o Abençoado transmitiu o ensino gradual ao Brâmane Kutadanta,
isto é, ele falou sobre a generosidade, sobre a virtude, sobre o
paraíso; ele explicou o perigo, a degradação e as contaminações dos
prazeres sensuais e as vantagens da renúncia. Quando ele percebeu que a
mente do Brâmane Kutadanta estava pronta, receptiva, livre de
obstáculos, satisfeita, clara, com serena confiança, ele explicou o
ensinamento particular dos Budas: o sofrimento, a sua origem, a sua
cessação e o caminho. Tal qual um pano limpo, com todas as manchas
removidas, irá absorver um corante de modo adequado, assim também,
enquanto o Brâmane Kutadanta estava ali sentado, a visão imaculada do
Dhamma surgiu nele: Tudo que está sujeito ao surgimento está sujeito à
cessação.
30.
Kutadanta, tendo visto o Dhamma, realizado o Dhamma, compreendido o
Dhamma, examinado a fundo o Dhamma, superado a dúvida, eliminado a
perplexidade, obtido a intrepidez e se tornado independente dos outros
na Revelação do Mestre, disse: Que o Venerável Gotama concorde em
aceitar a refeição de amanhã junto com a Sangha dos bhikkhus! E o
Abençoado concordou em silêncio. Então, sabendo que o Abençoado havia
concordado, Kutadanta levantou do seu assento, e depois de homenagear o
Abençoado, mantendo-o à sua direita, partiu. Então, quando havia
terminado a noite, ele fez com que se preparasse vários tipos de boa
comida no seu lugar de sacrifício e depois fez com que se anunciasse a
hora para o Abençoado: É hora, Mestre Gautama Budha, a refeição está pronta.
Então,
ao amanhecer, o Abençoado carregando a sua tigela e o manto externo,
foi com a Sangha dos bhikkhus até o lugar de sacrifício de Kutadanta e
sentou num assento que havia sido preparado. Então, com as próprias
mãos, Kutadanta serviu e satisfez o Abençoado e os Bhikkhus com os
vários tipos de boa comida. Em seguida, quando o Abençoado havia
terminado de comer e retirado a mão da sua tigela, Kutadanta sentou a um
lado, num assento mais baixo.
Então,
o Abençoado tendo instruído, estimulado, motivado e encorajado
Kutadanta com um discurso do Dhamma, levantou do seu assento e partiu. http://www.acessoaoinsight.net/. Abraço. Davi.
Notas:
[1] De acordo com DA este não é o mesmo local mencionado no DN 1.1.2 que ficava a meio caminho entre Rajagaha e Nalanda. [Retorna]
[2]
Kutadanta significa ‘dentes afiados.’ Há razões para desconfiar desta
história pois não é concebível que um Brâmane fosse consultar o Buda
sobre como realizar um sacrifício, que supostamente era a especialidade
dos Brâmanes. [Retorna]
[3] Os Khattiyas (nobres), conselheiros e ministros, Brâmanes e chefes de família. [Retorna]
[4] Elefantes, cavalaria, carruagens e infantaria. [Retorna]
[5]
DA: Por compreender o funcionamento de kamma: a boa fortuna agora é
devida ao kamma passado, e as boas ações realizadas agora trarão
resultados semelhantes no futuro. [Retorna]
[7] DA: os seguranças nesse tipo de sacrifício empurram os participantes e empregam a violência para manter a ordem. [Retorna]. Comentário da editor do Mosaico. Infelizmente pra nossa tristeza, nas páginas da Bíblia Sagrada não encontramos nenhum texto comparativo a esta misericórdia e condescendência aos animais e seres não humanos. Pelo contrários os animais (ovelhas, bois, aves dentre outros) eram mortos aos milhares pra satisfazer a vontade de HWYH. Um versículo fundamenta esta prática de mortandade, está em Hebreus 9:22 "E quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e sem derramamento de sangue não há remissão". A ideia da salvação advinda de um só homem, Christo, que se ofereceu como sacrifício pelo pecado da humanidade, pagando o preço de sangue para redimir os nossos pecados, nos reconciliando com YHWH, tenta justificar esse obituário de animais. É trágico pensar que os judeus ortodoxos, ainda hoje, ao aspirarem a reconstrução do Novo Templo pra adoração a YHWH, em Jerusalém. Diga-se de passagem, segundo estudiosos do assunto, ele já está sendo preparado, e confeccionado de modo a ter uma rápida montagem. Traz o inusitado projeto teológico, de reviver entre os judeus ortodoxos, sendo que segundo recentes pesquisas, já cultivam em áreas previamente preparadas as chamadas vacas vermelhas pra servirem de sacrifício continuo à YHWH além de outros animais. Como entender razoavelmente essa situação? Por que o D us por judeus necessita ser agradado, satisfeito, com tanta morte e derramamento de sangue? Sou propenso a imaginar, que essa loucura por realização de holocaustos vêm da natureza demoníaca do homem, não tendo nada haver com sua divindade suprema. Parece que seu desejo egoísta de contemplar o sofrimento e agonia dos seres senscientes, satisfaz seu narcisismo e masoquismo. Tudo criado pela tradição e cultura espiritual do judeu cristianismo, que desde os primórdios das Sagradas Escrituras em Gênesis é dito 1:26 " E disse Deus: Façamos o homem a nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e dominai sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra". Assim o judeu cristão têm dificuldade de enxergar que a criação humana, fauna, flora. minerais; mundos visíveis e invisíveis estão conectados e interligados. Somos uma partícula substancial de cada ser existente em nosso planeta, mundo. Quando ofendemos ou maltratamos alguns dos seres existentes (humanos ou não humanos) fazemos isso a nós mesmos. Na verdade uma parte de nós morre com eles, sendo que a natureza geme e sofre "dores de parto" ao ser praticado tal ato de atrocidade. Desse modo, seres que evoluiriam em suas encarnações e que renasceram pra reparar ou retificar carmas de vidas passadas, inclusive de humanos, são "abortados" bruscamente sem cumprirem seu Dharma, por irresponsabilidade e crueldade de alguns, que por ignorância ou excesso de crendice ou dogmatismo, cegamente têm tal atitude. Fatalmente tudo o que plantamos colhemos, como é dito em Mateus 5:26 "Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairá dali, enquanto não pagar o último centavo". Assim nossas atitudes de maldade pra com os seres existente, serão cobradas com rigor pela lei da causa e efeito. Aquilo que não pagarmos nessa vidas, com certeza em nossos futuros renascimentos quitaremos o débito, e isso em muitos casos produzirá em nossa existência "choro e ranger de dentes". Desse modo amemos a todos os seres em todos os mundos e em todos os universos. Dispensemos a eles nossa gratidão, compaixão e beatitude, tendo em mente que um dia fomos, talvez, uma vaca, um cordeiro, um pombinho, ou quem sabe um réptil que rasteja pelas matas. Abraço. Davi.
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