Nesse oitavo capítulo do
Bhagavad Gita,
percebemos que Deus está sempre presente em tudo, vivificando ou
iluminando todos os seres. Quem se deixa iluminar pelos raios da
Sabedoria, torna-se sábio. A Sabedoria Divina nele é uma
força viva que o conduz ao conhecimento da Imortalidade. Então dirigiu
Arjuna ao Mestre Divino as seguintes perguntas: Dize-me, Oh! Imortal:
Que é Brahma? Que é
Adhyatman? Que é Karma? Que é
Adhibhuta e Adhidaiva? Como pode, Oh! Fortíssimo Herói!
Adhiyajna? (o Supremo Sacrifício) estar
neste corpo, e como podem conhecer-te na hora da morte aqueles que a Ti
se dedicaram? Explica o Verbo Divino: Brahma, o Criador, é o Ser
Supremo, o Ser Indiviso, simples e eterno. A sua essência
chama-se Adhyatman, a Alma das Almas. Eu mesmo sou Brahma. De Mim emana a Alma das Almas, a vida Universal, a vida Una do Universo.
Karma, a Lei da causalidade, e que chamam
também Essência da ação, é aquele princípio da minha emanação que faz
com que os seres vivos nasçam, se movam e ajam.
Ahibhuta, o princípio Universal da vida, não é senão a minha vontade manifesta nas leis naturais do Universo.
Adhidaiva, a suprema deidade, é o Espírito, cuja atividade perpétua produz a geração dos seres e das formas.
Adhiyjna, o Supremo Sacrifício, é o meu
aparecimento em corpo: este mistério torna-se claro só àqueles que são
capazes de compreendes os ensinos superiores (1). (1). Deus que em sua
Essência, é
imanifesto, invisível, imaterial, assume
forma humana; como a Luz penetra as trevas e as transmuta em luz, assim a
Divindade penetra a humanidade, para torna-la divina. Este é o Supremo
Sacrifício. Quem na hora da morte, em Mim fixa
o pensamento, entre, depois de ter deixado o corpo, diretamente em
minha Divina Essência. Aquele, porém, que na hora da morte, não pensou
em Mim, mas dirigiu todos os pensamentos a um outro ser (2), depois da
morte a este ser se une. Porque cada um chega a
ser o que desejou ser; o semelhante atrai o semelhante. (2). Há seres
de natureza espiritual (devas ou deuses) que, para nós, são invisíveis; o
espírito humano pode entrar em relação com eles, se a eles dirige
firmemente a sua vontade e o seu pensar. Dirige,
pois, a Mim todos os teus pensamentos e luta. Se a tua mente e o teu
coração em Mim firmemente fixares, com certeza, enfim, a Mim chegarás.
Quem abandonando todos os desejos pessoais, não tem a mente concentrada
em nenhum outro ser, mas no Espírito Eterno,
praticando o Reto Pensar e a Reta Ação, ao Espírito Eterno virá. Quem
com a mente elevada e cheia de fé e amor, pensa em Mim, o Eterno, o
Onipresente, Onisciente e Todo Poderoso; quem sabe que Eu Sou, ao mesmo
tempo, infinitamente pequeno e infinitamente grande,
impalpável, o Senhor e sustentador de tudo. Quem com a visão
espiritual, percebeu a majestade da minha face, eternamente velada ao
olho material, e mais resplandecente do que o sol ao meio dia. Esse
participa da vida verdadeira, e na morte se torna imortal;
porque o seu espírito, tendo rompido todos os vínculos, entra em minha
Vida, em minha Paz e em minha Essência. Quero descrever-te, em poucas
palavras, o caminho ao Espírito Eterno, a que as Escrituras Sagradas
chamam o caminho para a imortalidade. Este caminho
é seguido por todos os que dominaram a si mesmos e se libertaram das
paixões, e é escolhido por aqueles que se dedicam a uma vida santa, de
continência, ascetismo, estudo das verdades divinas e meditação. Ouve as
instruções. Fecha bem as portas dos teus sentidos
corporais. Domina o teu coração, concentra a tua mente sobre o teu Eu
interior, e não a deixes vaguear no exterior, nem ocupar-se com os
pensamentos estranhos. Se constante e firme em teu propósito, e repete
silenciosamente a mística palavra AUM, cujos três
sons ou letras são símbolos do Ser Supremo, como Criador, Conservador e
Destruidor. Se assim te comportares, quando chegar a hora de deixares o
teu invólucro corpóreo, entraras no caminho da Suprema Ventura. O iogue
que pensa em Mim incessante e fixamente,
Oh! Príncipe, e nunca se apega com os seus pensamentos a qualquer outro
objeto, com facilidade Me achará (3). (3). Isto não quer dizer que não
devamos ocupar-nos com os negócios e objetos exteriores, mas que
devemos, qualquer que seja a nossa ocupação, fazer
tudo com boas intenções e sem nunca nos esquecermos da divina origem e
do divino alvo da nossa vida. Todos os nobres
e elevados espíritos que se uniram comigo, não precisam mais
renascer na terra, neste lugar de sofrimentos e limitações. Não, eles
não tem mais necessidade de voltar a esta escola da vida, porque já
atingiram a esfera da Perfeita Sabedoria, Suprema Ventura
e Vida imperecível. Todos os mundos e universos (4), mesmo o mundo de
Brahma, onde um dia é igual a mil
yugas (5), e a noite da mesma extensão,
todos hão de passar. Mas ainda que passem e se renovem e de novo passem,
não há necessidade de volta para a alma do sábio que se uniu a Mim.
(4). Os hindus distinguem sete mundos (lokas)
ou planos espirituais, a saber 1. Bhurloka (o mundo físico). 2.
Antariskshaloka (o mundo astral) 3.
Swarloka ou devachan (o céu). 4.
Maharloka (o mundo das almas elevadas). 5. Janaloka. 6.
Tapasloka. 7. Satyaloka. Estes três últimos chamam-se
Brahmalokas os mundos divinos. O sétimo é o munda da Realidade; a Verdade Absoluta (Satya). (5). Um
Maha Yuga dura 4.320.000 anos solares. Aos dias de
brahma sucedem as noites de Brahma; a sua
duração é enorme, pois conta-se em milhares de séculos. No princípio de
cada dia bramânico, emergem todas as coisas da invisibilidade e fazem-se
visíveis; quando, porém, começa a note bramânica,
todas as coisas visíveis dissolvem-se e tornam a ser invisíveis. Esta
multidão de seres, tendo existido antes, manifesta-se com o despontar do
novo dia, e desaparece necessariamente ao chegar a noite, para
ressurgir com o alvorecer do novo dia seguinte. Pois
acima desta natureza visível e invisível existe o que se chama o
Imanifesto, o Imperecível. Neste supremo caminho, Oh! Príncipe! Chega-se ao Brahma, que é o
Imanifesto e Indestrutível; e quem o
atingiu, não o perderá nunca mais; esta é a minha morada suprema. A
suprema Essência, em que todas as coisas tem o seu ser, e pela qual
todo este Universo foi criado, pode ser encontrada só pelo
espírito purificado, submisso à vontade Suprema, desapegado de tudo o
que não é divino. Agora vou esclarecer-te sobre as condições que
determinam se os que passaram pela porta da morte não hão
de renascer, ou se não voltam mais à terra. Aqueles que se desencarnam
quando neles arde o fogo do amor divino, iluminados pela luz do
verdadeiro conhecimento que distribui o sol da sabedoria, conhecem o
Espírito Supremo e com Ele se unem; esses não são obrigados
a renascer. Aqueles, porém, que se desencarnam no meio da fumaça dos
erros, na noite da ignorância, não podem ultrapassar a região da Lua (6)
e hão de voltar à esfera da mortalidade e ir renascendo até que
adquiram o grau necessário de amor e de saber (6).
Isto é, a região astro mental ou de Kama Manas.
Estes dois caminhos são denominados os caminhos eternos do mundo; um é
claro, o outro é escuro. Pelo primeiro chega-se à esfera donde não volta
mais; o segundo vai até a certa altura e
dá volta para trás. O verdadeiro iogue, o homem que se dedica todo à
Divindade, sabe isto e não tem medo. Aperfeiçoa-te, pois em ioga e
esforça-te por atingir o Saber Perfeito. Os frutos deste Saber, OH!
Arjuna! São superiores a tudo o que se pode
alcançar pelo estudo das Escrituras Sagradas, pelos ritos e sacrifícios,
pelas austeridades e pela distribuição de esmolas. O iogue que possui o
Saber Perfeito, alcançou o Alvo Supremo.
Abraço. Davi.
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