Neste sétimo capítulo e nos cinco seguintes, expõe-se a doutrina de
Krishna e a melhor maneira de praticar Raja
Yoga. Esta parte trata do conhecimento espiritual, isto é, do despertar
da consciência da Divindade no homem. Deus é Amor e, por conseguinte,
pode-se obter a consciência da Divindade só
pela força do Amor Divino. Krishna, o Verbo Divino, continua: Escuta as minhas palavras, Oh!
Arjuna, para saberes como verdadeiramente e
sem dúvida Me conhecerás, se fixares em Mim a tua mente e em Mim
descansares o teu coração. Eu te instruirei na sabedoria maravilhosa dos
homens e dos deuses, sem reserva nem restrição;
aprendendo estes ensinos, adquiriras o saber perfeito, e saberás tudo o
que pode ser sabido por um homem. Poucos são os homens que, no meio dos
milhares da raça, têm suficiente discernimento para desejar chegar à
Perfeição. E, destes poucos, tão raros são
os que a procuram com sucesso, que se acha apenas, cá e lá, alguém que
Me conhece em minha natureza essencial. Em minha natureza, há oito
elementais, conhecidas como: terra, água,
fogo, ar, éter, mente, razão e consciência essencial. Mas além destas
formas da minha natureza material, possuo uma natureza espiritual,
superior e mais nobre: é o Princípio que vivifica
e sustenta o Universo. Sabe que os elementos de que falei são a matriz
de toda a criação. Eu, porém, sou a fonte de que toda a criação provém e
à qual tudo volta: Eu Sou o Princípio da criação e da dissolução do
Universo. Acima de Mim, não há nada. Todos os
objetos do Universo dependem de Mim e por Mim são sustentados, assim
como as pérolas dependem do fio que passa por elas todas, unindo-as e
sustentando-as. Eu Sou o líquido da água; Eu Sou a luz do sol e da lua;
Eu Sou a sílaba sagrada AUM (1). Eu Sou o cântico
dos livros sagrados. Eu Sou a harmonia dos sons que vibram no éter; Eu
Sou a virilidade dos homens. (1). AUM é o símbolo sagrado do Ser
Supremo. A, simboliza o Criador ou Pai. U, o Conservador, Salvador ou
Filho. M, o Destruidor, Renovador ou Espírito Santo.
Eu Sou o perfume da terra e o esplendor do fogo; Eu Sou a vida de todos
os vivos; Eu Sou yoga dos iogue, a santidade dos santos. Eu Sou a
semente eterna e imortal de todos os seres. Eu Sou a sabedoria dos
sábios, a razão dos racionais, a glória dos gloriosos,
a nobreza dos nobres. Eu Sou a força dos fortes, livres de toda avidez e
paixão. Eu Sou o amor puro em todos os seres, que não pode ser proibido
por lei alguma. As três qualidades da minha natureza: a harmonia, a
atividade e a inatividade, as quais também
se manifestam como a luz da verdade, o desejo da paixão e as trevas da
ignorância, em Mim tem o princípio e estão em Mim, mas Eu não dependo
delas (2). (2). Deus é superior à natureza; a natureza não é Deus, mas é
uma manifestação da força Divina. Deus está
na natureza, mas não se limita a ela. O mundo dos homens, achando-se
sob o domínio da ilusão dessas três qualidades da natureza, não
compreende que Eu Sou superior a elas, e conservo-me intacto e imutável
no meio dos inúmeros acontecimentos e mudanças. Esta
ilusão é muito forte, e tão denso é o seu véu que é difícil aos olhos
humanos penetrá-lo. Só aqueles que a Mim se dirigem e se deixam iluminar
pela chama que está detrás da fumaça, vencem a ilusão e chegam até Mim.
Malfeitores e tolos não Me procuram, nem
aqueles que nutrem pensamentos baixos; nem aqueles que vêm, no vasto
espetáculo da natureza, somente o jogo das forças, sem diretor. Nem
aqueles que extinguiram em si a centelha da vida espiritual e se
tornaram plenamente materiais. Há quatro classes de gente
que a Mim se dirigem: os infelizes, os que investigam a verdade, os
bondosos e os sábios. De todos eles, Oh!
Arjuna! Os sábios são os melhores, porque Me
reconhecem como o Ser Uno, e incessantemente, a Mim dedicando a sua
vida, amam-Me sobre tudo, e Eu os amo com o mais intenso amor. Todos os
que Me adoram são bons e todos a Mim chegarão;
mas o sábio que se Me entrega todo, sujeitando-se em tudo à minha
vontade, é como o meu próprio Eu, repousando em Mim, que sou o seu alvo
final. Depois de muitas vidas, em que acumulou sabedoria, vem o Sábio a
Mim e, realizando a sua União comigo, compreende
que o homem perfeito é idêntico ao Universo (3). Poucos há que chegaram
a este grau de adiantamento. (3). O homem perfeito é chamado nas
Escrituras Sagradas.
Vasudeva. Filho do Homem. Os outros, por
falta de conhecimento, impelidos a esta ou aquela deidade, com vários
ritos e cerimoniais, vão a outros deuses. Todos acham o que procuram, de
acordo com a sua natureza. Hás de saber, entretanto,
Oh! Arjuna!, que a verdade, apesar de ser
desconhecida pelos fanáticos e intolerantes, é esta: Que ainda que os
homens adorem vários deuses e várias imagens, e tenham diferentes
concepções da deidade adorada, e até pareçam as suas
ideias ser contraditórias entre si, toda a sua fé se inspira em mim. A
sua fé em seus deuses e imagens não é senão o alvorecer da fé em Mim;
adorando essas formas e concepções, eles querem adorar a Mim, sem o
saberem. E, em verdade te digo, eu aceito e recompenso
essa fé e adoração, uma vez que seja honesta e conscienciosa. Esses
homens fazem o melhor que podem, conforme o estado de seu
desenvolvimento, e receberão os benefícios que procuram, conforme a sua
fé; todo benefício, porém, emana de Mim. Tal é o meu Amor,
a minha Razão e a minha Justiça. Mas lembra-te,
Oh! Príncipe, que as recompensas desses desejos momentâneos, finitos,
perecíveis, são igualmente de pouca duração. Os homens que adoram os
deuses inferiores, as caricaturas e sombras imperfeitas
da Divindade, vão aos mundos da sombra, governados por esses deuses
sombras. Mas aqueles que são sábios e capazes de Me conhecer como Sou,
Um e Tudo, vêm a Mim, ao meu mundo de realidade, onde não há sombras.
Onde tudo é real, até mesmo a chama que faz a sombra
desaparecer. Entre os homens, há muitos que, faltando-lhes o
discernimento, pensam de Mim (o
Imanifesto em Essência), como se Eu fosse manifesto e visível a seus olhos. Sabe, porém, Oh!
Arjuna, que em minha essência, não sou manifesto ou visível aos homens. Detrás das minhas formas emanadas, Eu permaneço
indescoberto e invisível ao ignorante. Inato
e imortal Sou Eu, mas o mundo obscurecido pela ilusão, não o discerne,
pensando que a sombra é a substância. Eu bem conheço todo os inumeráveis
seres que existiram no vasto Universo, em
todas as épocas passadas; igualmente conheço todos os que existem
presentemente; e, além disso, grande mistério para os homens, Oh!
Príncipe, conheço todo os que, no futuro, hão de aparecer no campo da
existência. Mas de todos os seres, passados, presentes
ou futuros, nenhum Me conhece plenamente. Eu os tenho todos em minha
mente, mas as suas mentes não podem conter-Me em minha essência. Os seus
olhos vivem enganados pela dualidade dos contrastes, Oh!
Arjuna e, em vez da Unidade, vêm as formas
opostas e de gosto e desgosto, simpatia e antipatia, desejo e
aborrecimento. Porém, não são todos assim; há um pequeno número de
homens que se libertaram dessa ilusão da dualidade dos contrastes,
vencendo o egoísmo e os pecados. Estes Me conhecem como Um e Tudo e,
firmes em sua vontade, constantes sem eu amor e sua devoção, comigo se
unem e a Mim pertencem. Os que em Mim se refugiam e a Mim pertencem,
repousando em Mim como a criança no seio da mão,
esforçam-se por se libertarem dos vínculos da mortalidade e
reconhecem-Me com Brahma, como o Eu Rela, o Infinito, O Eterno, o
Absoluto. Eles sabem que Eu Sou
Arkyatmam (a alma das almas), Karma (a lei da causalidade),
Adhibhuta (Princípio Universal da Vida),
Adhidaiva ( Deus dos Deus, a Deidade Suprema) e Adhiyajna
( o Supremo Sacrifício). Quem assim Me conhece, e com o coração cheio
de amor e com a mente firme em Mim pensa, na hora da morte comigo se
unirá para sempre.
Bhagavad Gita. A Mensagem do Mestre. Tradução Francisco Valdomiro Lorenzo. Abraço. Davi.
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