segunda-feira, 27 de julho de 2015

A Bem Aventurança em Abrir Mão.

Texto de Ajaan Brahmavamso. No mundo Budista de hoje há muita discussão entre os meditadores sobre a relevância de Jhana (1). A primeira pergunta geralmente feita: "É necessário primeiro experimentar Jhana para tornar-se plenamente iluminado (Arahant), ou será possível realizar o objetivo supremo, sem qualquer experiência de Jhana?" Quem faz essa pergunta geralmente são aqueles que ainda não experimentaram Jhana. É difícil fazer aquilo que é necessário para experimentar Jhana; por isso a maioria das pessoas fazem essa pergunta querendo ouvir que Jhana não é essencial. Elas querem ouvir que a sua inabilidade não é um obstáculo. Elas querem um acesso rápido e fácil a Nibbana (2). Essas pessoas ficarão satisfeitas, e até mesmo inspiradas, por algum professor que lhes diga o que elas querem ouvir de qualquer jeito, que esses estados de Jhana são desnecessários, e elas irão seguir esses ensinamentos, porque é conveniente. Infelizmente, a verdade raramente é conveniente, e raramente está de acordo com o que queremos ouvir. Por outro lado, um meditador que tenha familiaridade com os Jhanas irá reconhecê-los como estados de Bem Aventurança originários de abrir mão, e é nesse ponto mesmo, na experiência de abrir mão, do abandono, que a relevância de Jhana é compreendida. O primeiro Jhana é o resultado natural do abandono da preocupação com o prazer dos sentidos (Kama Sukha), pelo qual se entende toda a preocupação com o mundo dos cinco sentidos externos (visão, audição, olfato, paladar e toque), e até mesmo com o mero conforto. No primeiro Jhana, através da remoção completa e sustentada de todo o interesse pelos cinco sentidos, o praticante perde toda a noção do corpo, e os cinco sentidos externos desaparecem. Ele permanece por completo no sexto sentido que é a mente pura, na quietude, no prazer e felicidade do silêncio interior. O Budha chamou isso de "o prazer da renúncia", ou a felicidade em abrir mão. O segundo Jhana é o resultado natural do abandono do movimento muito sutil da atenção na direção, e o apego, ao objeto mental prazeroso. Quando esta "oscilação" da atenção é finalmente abandonada, o praticante experimenta ainda mais prazer e felicidade originário da completa quietude interior (Samadhi), em que a mente está absolutamente unificada e imóvel. O terceiro Jhana é o resultado natural do abandono da excitação sutil do prazer, e o quarto Jhana é o resultado natural do abandono da própria felicidade, desfrutando então a mais profunda e imóvel equanimidade mental. No Budismo, há experiência, não há especulação, e muito menos há crença cega, sendo o critério o entendimento. Um meditador simplesmente não compreende o significado completo de quietude, prazer, felicidade ou equanimidade, até que tenha se familiarizado com os Jhanas. Mas a experiência dos Jhanas, esses estágios de abrir mão, proporcionam o entendimento direto, com base na experiência, desses fenômenos mentais, em especial a felicidade (Sukha) e o sofrimento (Dukkha). É semelhante a um girino que passou toda a sua vida na água, mas que não é capaz de entender a água, porque ele não conhece nada além disso. Então, ao tornar-se um sapo, ele deixa a água e vai para a terra seca, e assim compreende tanto a natureza da água como a forma de superá-la. Nesta comparação, a água equivale a Dukkha, a terra seca a Jhana, não Nibbana, pois o sapo ainda leva à terra seca um pouco de água na sua pele, e a forma de superá-la significa abir mão.
Desta forma, a prática de Jhana revela o caminho para a completa extinção de Dukkha. O meditador que experimenta Jhana eventualmente irá se perguntar: "Por que esses Jhanas são tão profundamente prazerosos?" Ele irá descobrir por si mesmo a resposta óbvia. Porque são estágios de abandono daquilo que ele agora vê como formas sutis de sofrimento! Quando alguém está familiarizado com os Jhanas e compreende a origem da felicidade neles, irá ver por si mesmo que todos os prazeres mundanos, ou seja, dos cinco sentidos externos (que incluem a sexualidade), são simplesmente Dukkha. O apego ao corpo e às suas aventuras sensoriais começará a desaparecer. Ele irá entender com clareza porque todos os Seres Iluminados são celibatários. Então, na medida em que progredir para os Jhanas mais elevados e contemplar porque cada um é ainda mais prazeroso, ele compreende que é devido ao abandono de apegos mentais muito sutis, tais como o apego ao prazer, à felicidade e à equanimidade. Fica evidente que mesmo esses estados mentais mais sublimes são apenas formas refinadas de sofrimento, porque ao abrir mão deles, em seguida, mais sofrimento também é abandonado. Quanto mais longe for o praticante, mais Dukkha é abandonado, e através deste processo ocorre a compreensão de Dukkha. Não é possível conhecer por completo a Verdade do Sofrimento, e por conseguinte as Quatro Nobres Verdades do Budha, exceto abrindo mão do sofrimento através da experiência de Jhana. É muito estranho, portanto, que algumas pessoas sugerem que a prática de Jhana conduz ao apego. Como é possível que a prática de abrir mão, do abandono, conduza ao apego? Na verdade, o Budha disse repetidamente que esses Jhanas não devem ser temidos, mas devem ser desenvolvidos, e que quando alguém se entrega aos Jhanas regularmente, estes conduzem aos estados de Sotapanna, Sakadagami, Anagami, e Arahant, os quatro estágios da Iluminação, (veja o Pasadika Sutta). Uma vez que a completa iluminação seja atingida e que todos os apegos tenham sido removidos, então o processo de abrir mão e penetrar os Jhanas se torna tão natural como uma folha que cai de uma árvore até o chão. Na verdade, a habilidade que alguém tenha para o abandono e experimentar Jhana, é uma medida de sua verdadeira compreensão do Dhamma, e da conseqüente ausência de apego. 

(1). Jhana. Poucas são as práticas que desempenham um papel tão central no caminho Budista e que são tão pouco conhecidas e praticadas no Ocidente como os Jhanas. Jhana é a palavra em Pali para absorção mental ou meditativa e se refere a estados profundos de concentração da mente. Nos suttas em Pali, o Budha em geral se refere a quatro jhanas, sendo que cada um que segue é mais profundo e sutil que o anterior. Depois do quarto Jhana, há um outro conjunto de quatro estados de concentração, ainda mais profundos, mencionados com menos frequência nos Suttas e referidos como realizações imaterias. Nos comentários esses estados são mencionados como Jhanas imateriais. A Concentração Correta, (Samma Samadhi), do Nobre Caminho Óctuplo é sinônimo de Jhana e de acordo com o Budha, a maestria na concentração é chave para a iluminação. O próprio Budha os praticou na noite da sua iluminação. Os jhanas lhe proporcionaram uma “mente concentrada, purificada, luminosa, pura, imaculada, livre de defeitos, flexível, maleável, estável, atingindo a imperturbabilidade”, a mente que é capaz de penetrar a verdadeira natureza da realidade. Jhana em pali é o mesmo que Dhyana em sânscrito, Cha’n em chinês e Zen em japonês. Todas essas palavras se referem à mesma absorção meditativa descrita pelo Budha. Nos Nikayas há um vasto número de Suttas que mencionam a prática dos Jhanas. Apesar disso, a prática dos Jhanas ainda é objeto de controvérsia no Budismo Theravada como poderá ser observado em alguns dos textos abaixo. O objetivo deste guia é direcionar os leitores para os textos disponíveis no Acesso ao Insight que tratam dos Jhanas.

(2). Nibbana, a libertação última de toda delusão (engano), possui muitos aspectos e com frequência é mal compreendido; algumas vezes tido por aniquilação, outras, por felicidade suprema, raramente como a cessação da ignorância através do insight, e ainda mais raramente como o fim de todo o esforço, como a solução de um problema através da dissolução do mesmo. Não é através do pensamento que o insight faz surgir o despertar do entendimento, se a mente finita, com as suas limitações de pensamento, pudesse compreender Nibbana, então Nibbana também seria limitado e finito, relativo e condicionado. Não seria Nibbana. O insight ocorre através da compreensão de que todos os problemas e conflitos surgem de um mal entendido quanto à origem de toda ação, o “eu”. Só com a experiência da cessação de todo o pensamento volitivo (determinado pela vontade) é que uma negação poderá ser entendida, sem a busca de uma resposta para um problema que será sempre no interesse de um “eu”. Aspectos do Nibbana. Primeiro, o aspecto ético. Nibbana implica a destruição de todas as impurezas mentais, (Asava), a remoção definitiva de todos os obstáculos, (Nivarana), e a libertação de todos os grilhões, (Samyojana). Em vista de todas essas remoções, Nibbana é chamado libertação, (Vimutti). Nibbana não pode ser mirado como um ideal positivo, pois “o fim do mundo não pode ser conhecido, visto ou alcançado viajando” (se esforçando). A remoção temporária dos obstáculos, no entanto, depende do esforço. Segundo, o aspecto mental, que é a culminação de uma evolução no processo de entendimento. É o desenvolvimento gradual através dos quatro estágios da iluminação. Finalmente, o aspecto filosófico e metafísico, que proporciona ao conceito de Nibbana certo caráter positivo, muito embora a maioria dos seus sinônimos seja negativa. Nesse sentido, Nibbana é visto como o imortal, (Amata), o incondicionado, (Asankhata), o summum bonum, sumo bem (Parama Sukha). É o absoluto por não haver relatividade, não havendo assim, distinção entre eu e não eu, nenhuma oposição e nenhum conflito. Como tal, é não fabricado, não causado, não criado, não condicionado. Não há um eu que realiza Nibbana. Apesar de inconcebível, ele pode ser experimentado, não através do esforço e prática, mas com o entendimento, experimentando e vivendo de acordo com a verdade. Uma vez que a verdade seja vista, não mais ocorrerá nenhuma alucinação, porque as fontes, que produzem esses mal-entendidos, que são o desejo e a fabricação do eu, foram esgotadas. http://www.acessoaoinsight.net/. abraço. Davi.



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