Texto escrito por Ted
Morino. Budismo da Escola Nitiren
Daishonin. Essencialmente o budismo é o ensino que nos capacita a manifestar nosso inato estado de
Budha. E o objetivo da prática budista é estabelecer o estado de
Budha como nossa condição de vida básica. O
princípio que torna esta realidade possível, é conhecido como Lei.
Enquanto, as formalidades budistas são meios para que possamos alcançar
tal realidade e possamos expressar nossa gratidão
por ter descoberto a forma de alcançá-lo.
Embora
a Lei não seja uma criação humana, as formalidades são. Assim, podemos
dizer que a Lei foi descoberta, enquanto as formalidades foram criadas
no decorrer da história
do budismo. Por esta razão, podemos seguir como diretrizes o tema
formalidades no Budismo com as seguintes passagens do
Gosho de Nitiren
Daishonin, "O mais importante é o coração" e "A fé é o que realmente importa".
Em toda a história budista, as mentes e corações das pessoas são expressas através do comportamento em oferecer em prol do
Budha e do budismo. Com este sentimento, devemos lembrar estes pontos chaves quando realizamos oferecimentos ao
Gohonzon. Água. O ato de oferecer um copo de água fresca ao
Gohonzon (supremo objeto de adoração do
Verdadeiro Budismo) tem origem na valorização que a antiga sociedade
indiana tinha em relação a água, pois devido ao clima quente, as
qualidades da água em purificar e refrescar eram apreciadas.
Como forma de expressar nossa sinceridade na fé, oferecemos ao
Gohonzon um copo de água fresca todas as manhãs, e no decorrer dos anos, o costume de remover e jogar a água, geralmente antes do
gongyo (recitação do Sutra) da noite, foi se estabelecendo.
Folhas Verdes.
Uma folhagem chamada
shikimi tem sido oferecida tradicionalmente ao
Gohonzon no Japão. Sendo originária da Índia, foi trazido ao Japão por Chin
Chien chan (688-763), um
bonzon da dinastia chinesa Tang e fundador da Escola Budista
Ritsu. O shikimi tem sido valorizado
como a mais perfumada árvore no Japão e tem sido utilizada para
oferecimentos diante de estátuas budistas. Diz a tradição que este
costume teve origem devido ao seu formato, que lembra
a flor de lótus azul. Historicamente, o shikimi simboliza a vibrante força vital e a pureza eterna. Entretanto, esta descrição não é encontrada em nenhum dos escritos de
Nitiren Daishonin e a formalidade em oferecer ao
Gohonzon o shikimi, somente foi estabelecida após muitos anos da morte de
Nitiren.
Como o
shikimi não é disponível no Ocidente, outros
tipos de folhagens, incluindo as artificiais, tem sido utilizadas pelos
membros da SGI. O oferecimento de folhagem tem sido feito com o
espírito de seguir as palavras de
Daishonin: "Caso se recite o nome do
budha, o sutra ou meramente se ofereça flores ou incenso, todos
os seus atos virtuosos irão implantar benefícios em sua vida. Como esta
convicção, deve-se transformar sua fé, em prática". Além disso, consta
no Sutra de Lótus: "Os reis Brahma, levaram
as flores celestiais e jogaram-nas sobre o Budha".
O Sutra de Lótus também narra sobre os monumentos erigidos com a
perfumada madeira de sândalo e outras plantas em homenagem ao
Budha, após o seu falecimento.
O presidente Ikeda escreveu: "Há um conceito no Budismo conhecido como
zuiho bini, que enquanto não se desvia dos ensinos básicos do budismo de
Daishonin, é adequado seguir as formalidades budistas de acordo com os costumes e maneiras de cada região e de acordo com a época.
Em qualquer caso, é importante manter a convicção que nossos sinceros oferecimentos ao
Gohonzon constituem em atos virtuosos que
irão implantar benefícios e boa fortuna em nossas vidas. O presidente
Ikeda acrescenta: "No caso aonde o
shikimi não é disponível, poderá ser feito o
oferecimento de outras folhagens. Mesmo folhas artificiais podem ser
oferecidas, pois o que importa é a sinceridade". Embora muitas Escolas
Budistas ofereçam flores, a tradição da SGI,
adotada pela tradição provinda da Nitiren
Shoshu, não as utiliza. Este ato surgiu pelo simbolismo das
folhagens verdes, que sugerem permanência e vitalidade, o eterno aspecto
da vida que buscamos desenvolver através da prática budista. De outro
lado, as flores, com o seu rápido murchar, simboliza
a transitoriedade da vida. Nos escritos de Nitiren,
não existe nenhuma rejeição ao oferecimento de flores, o que podemos
assumir como um costume estabelecido posteriormente. Assim, não existe
nenhuma razão doutrinária que proíba
o oferecimento de flores.
Velas.
As
escrituras budistas relacionam o oferecimento de luz, como
a sabedoria que dispersa a escuridão provinda da ignorância. Assim, as
velas são um oferecimento de luz. Entretanto, na época de
Nitiren Daishonin,
as velas ainda não existiam no Japão e a principal fonte de luz, eram
as lamparinas à óleo. De fato, há passagens nas escrituras de
Nitiren que comprovam esta teoria: "uma lamparina brilha quando óleo é adicionado".
O
significado de oferecimentos de luz é ilustrado por atos como o da
mulher pobre que vendeu os seus próprios cabelos para comprar óleo,
(para o
Budha) sendo que as chamas produzidas pelo seu oferecimento não foram apagadas, mesmo pelos ventos vindos do Monte
Sumeru.
Tradicionalmente,
velas brancas têm sido utilizadas, mas não há nenhuma doutrina que
proíba o uso de outras cores. Esta é uma escolha pessoal. Embora, em
locais aonde são
realizadas reuniões, é aconselhável o uso do bom senso, para que seja
utilizado uma cor de preferência da maioria. Geralmente, velas muito
coloridas podem distrair as pessoas deixando que elas não concentrem-se
no
Gohonzon.
Além
disso, em locais aonde haja perigo de incêndio, é desaconselhável o uso
de velas. Atualmente, muitos membros utilizam velas elétricas. Em suma,
o que importa é o nosso
sentimento em iluminar em honrar a área diante do Gohonzon.
Incenso.
O incenso representa um oferecimento de fragrância. Como fragrância, o
incenso era utilizado em ambientes quentes e úmidos
com o objetivo de dispersar o odor e proporcionar uma atmosfera
agradável. Assim como todos os oferecimentos, o incenso é uma expressão
de agradecimento, não uma regra. Se uma pessoa é alérgica ou não aprecia
o cheiro de incenso, não é necessário acendê-lo.
Para aqueles que estão preocupados com os efeitos nocivos à saúde ao
inalar fumaça em excesso, é aconselhável evitar acender velas e incensos
em ambientes confinados ou com pouca ventilação.
Algumas
Escolas Budistas acendem incensos de pé. Nossa tradição tem sido de
queimá-los na horizontal. Esta também, não é uma questão doutrinária,
embora algumas explicações
tenham sido acrescentadas no decorrer dos séculos pelos clérigos.
Em
ocasiões especiais e missas para falecidos, há o oferecimento de três
pitadas de incenso em pó sobre uma brasa. Embora, em certas ocasiões,
somente uma pitada é oferecida.
Elas simbolizam as três formas na qual o carma é criado, pensamentos,
palavras e ações.
Sino.
O
sino representa o oferecimento de som. Por esta razão, é melhor buscar
um som agradável ao tocar o sino. Assim, é aconselhável evitar tocar o
sino muito forte. Não existe
nos escritos de Nitiren Daishonin,
uma descrição sobre a maneira específica de tocar os sinos, embora este
assunto tenha sido enfatizado pelo clérigo. O presidente
Todda declarou: "Tocar o sino durante o
gongyo é um ato de proporcionar o bem estar ao Budha.
Assim, o sino não deve ser tocado de forma leviana. Nós também usamos o
sino como um sinal para os outros, quando recitamos com um grupo de
pessoas."
Grou.
O grou com as asas em forma de círculo foi adotados pelo
Nitiren Shoshu
durante o período Edo (aproximadamente 300 anos atrás) como um símbolo
desta escola a ser utilizado nos documentos oficiais do regime
Tokugawa. Recentemente, dois acessórios em forma do grou são posicionados diante do
Gohonzon, mas não simbolizam nenhum oferecimentos. Como uma expressão de rejeição ao clero da
Nitiren Shoshu, alguns membros utilizam um acessório em forma de lótus com oito pétalas, que é o símbolo da
Soka Gakkai. Em
nenhum dos casos, há um significado doutrinário e são utilizados somente
para decorar e dignificar o oratório. Não é essencial ser usado.
Alimentos e Bebidas.
No Japão, uma taça com arroz cozido é geralmente oferecida diante do
Gohonzon durante a refeição e bolinhos de arroz (mochi) são oferecidos no dia do Ano Novo. Na carta de Ano Novo de
Nitiren Daishonin
há menção sobre o oferecimento de bolinhos de arroz, pois este tem sido
o alimento básico de muitos países asiáticos, e por esta razão, é
natural que tenha sido usado como um oferecimento
budista.
Frutas
também tem sido um oferecimento comum em muitos países, talvez porque
não seja um alimento que pereça rapidamente. No dia do Ano Novo e outras
datas significativas,
é comum no Japão oferecer duas garrafas de sake (destilado feito à base de arroz). Como declarou o 28th Sumo Prelado,
Nichiu, no seu "Sobre as formalidades": "Desde que a sinceridade é expressa através do ato de oferecer
sake dentro da sociedade secular neste país, a sinceridade no Budismo também pode ser expressa através do oferecimento de
sake".
Como
mencionado acima, o oferecimento de alimentos e bebidas são
significativos quando feitos com sinceridade. A escolha do alimento pode
ser uma questão de preferência cultural
e pessoal. Como temos visto, as formalidades budistas são derivadas das
culturas indiana, chinesa e japonesa e desta maneira, irá envolver
outras culturas locais no decorrer dos tempos.
Oratório.
Com o objetivo de manter nossa concentração no
Gohonzon, é adequado manter o ambiente ao
redor do andar sempre limpo e não colocar inúmeros itens desnecessários
dentro do altar. Embora, seja compreensível que se deseje colocar algo
íntimo, como a foto de algum familiar, perto
do oratório, como forma de sempre nos lembrar desta pessoa em nossas
orações.
Juzu (rosário budista).
O rosário budista é um acessório budista tradicional. Não é conhecido que tipo de rosário era utilizado por
Nitiren Daishonin.
Embora, um grande número de significados tenham sido posteriormente
adicionados. Essencialmente, o rosário é somente um instrumento que nos
auxilia em nossa prática budista.
A respeito do ato de esfregá-lo ou não em nossas orações, não há uma clara explicação sobre este ponto. Devido ao budismo de
Nitiren Daishonin
não ser restringido por rígidas formalidade, é incorreto dizer que não
se deve esfregá-los, mas devemos ter em mente que o ato de esfregar
continua e vigorosamente pode demonstrar um
hábito gerado pelo nervosismo, que poderá atrapalhar a nossa
concentração e daqueles que estão ao nosso redor. No último capítulo do
Sutra de Lótus, consta a passagem: "Sente-se ereto e pondere sobre a
realidade última". Assim, com o objetivo de alcançar a
mais plena satisfação em nossas orações, é melhor sentar-se de forma
calma e sem emoções excessivas enquanto oramos.
Desde
que utilizamos o rosário como parte de nossa prática budista, é
aconselhável tratá-lo com respeito. Caso ele se quebre, não há problema
em jogá-los fora, o mesmo pode
ser dito em relação aos sutras antigos que não iremos usar mais.
Outras formalidades.
Existe um princípio budista chamado
zuiho bini , ou seja, a prática do budismo de acordo com a condição e cultura do local. Assim, o budismo de
Nitiren Daishonin
foi introduzido no Ocidente por praticantes que imigraram do Japão.
Este ponto deve ser sempre lembrado. Entretanto, é importante reconhecer
que estes pioneiros trouxeram consigo algumas
formalidades que eram natural dentro do contexto da cultura japonesa,
mas não podem ser estritamente aplicados em outras culturas.
Por
outro lado, não é possível simplesmente rejeitar as formalidades, mas
sim, devemos observá-las como uma expressão de sinceridade. Pois, caso
as rejeitarmos totalmente,
poderemos enfraquecer nossa própria fé e prática e consequentemente,
nosso crescimento. Em outro extremo, se insistirmos sob a égide de uma
rígida formalidade não haverá espaço para ações espontâneas que irão
desenvolver nossa prática.
Em qualquer caso, a essência do budismo reside sempre em desafiar a si mesmo e fazer emergir o nosso estado de
Budha, não de adotarmos um ritual religioso
cheio de cerimoniais. Naturalmente, o elevado estado de vida que
alcançamos através da prática budista pode ser refletido nos atos de
sinceridade expressos no comportamento individual.
Neste sentido, a qualidade de nossos oferecimentos e a prova real em
nossas vidas, são um claro espelho da condição de nossa fé.
Conclusão
O presidente Ikeda referiu-se sobre a relação dos ensinos budistas e as formalidades: "O ensino essencial no budismo de
Nitiren Daishonin é recitar o Nam
myoho rengue
kyo ao Gohonzon. Estudá-lo e
propagá-lo são de significado ímpar no âmbito da prática da fé. Todas as
outras questões pertencer ao campo da formalidade, na qual varia de
acordo com a condição da época.
O budismo de
Nitiren Daishonin é seu correto caminho de prática é uma filosofia convincente para qualquer pessoa nos dias de hoje. Desde, que
Nitiren Daishonin será sempre o
Budha dos Últimos Dias da Lei, ele não iria propor um ensino que não fizesse senso para gerações futuras".
Por esta razão, as formalidades concernentes ao ato de oferecimento ao
Gohonzon devem ser facilmente compreensíveis para aqueles que vivem no local onde o budismo está sendo propagado.
http://www.maisbelashistoriasbudistas.com.br. Abraço. Davi.
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