Neste
quinto capítulo do Bhagavad Gita, se expõe como o homem exterior e terreno não
pode, de própria vontade e própria força, fazer qualquer coisa boa ou santa,
porque todo o bem procede de Deus. Para poder-se agir sabiamente, é necessário
possuir sabedoria; e quem possui sabedoria, não age por si mesmo, mas serve
apenas de instrumento à Vontade Divina. “Então falou Arjuna, o príncipe de
Pându, a Krishna, o Senhor Bem Aventurado, dizendo: Oh! Senhor, ora louvas a
renúncia das obras, ora a prática das obras. Dize-me, de ambas qual é a
superior? Fala-me claramente, para que em mim não haja mais dúvida nem
confusão. O Verbo Divino: Oh! Arjuna, tanto a renúncia como a prática das obras
têm grande mérito; ambos conduzem ao alvo supremo. Entretanto, é preferível a
prática das obras à sua renúncia; a reta ação é muito melhor do que a inação.
Para não caíres em confusão, discerne bem o uso destes termos. Só se abstém
verdadeiramente, aquele que não odeia a ação, nem por ela se apaixona; assim é
que ele pratica a renunciação, nada odiando e nada desejando. Quem está acima
dos contrastes e conserva-se calmo e contente, sempre pronto a cumprir a sua
tarefa e, contudo, sem apegar-se à obra, facilmente se liberta dos vínculos da
ilusão. Os inexperientes que principiam
a estudar a Verdade, costumam designar o conhecimento e as obras, ou a
abstenção da ação e a prática da reta ação como duas coisas diferentes; mas os
sábios as reconhecem como uma coisa só. Pois quem tem o conhecimento, há de ter
também as obras, e quem tem as obras, terá igualmente o conhecimento. Ambos
estes caminhos conduzem ao mesmo fim, e os que seguem um deles, chegam ao mesmo
ponto que os que vão pelo outro. Quem tem a reta percepção, vê que o
conhecimento e a atividade, ou, por outras palavras, a renúncia e a prática são
uma coisa só, em sua essência. Abster-se e renunciar é muito difícil para quem
não tem experiência das ações; abençoado, porém, é aquele que sabe harmonizar
os dois caminhos; o seu espírito dirige-se ao Eterno e une-se com Deus, entrando
na Paz do Nirvana. Quem é firme na prática da Reta Ação e, ao mesmo tempo,
domina a si mesmo, subjugando à Vontade Divina os seus sentidos e desejos,
sente-se uno com tudo o que existe e não é influenciado pelas obras que
pratica. Ele conhece a Vida Universal e o que dela procede, e sabe que não é
ele, como espírito, quem age, mas é a sua natureza que vê, cheira, sente, come,
caminha e respira. Em verdade, pode ele dizer: Os sentidos fazem a sua parte no
mundo sensual, deixemo-lo agir, eu não sou vinculado nem iludido por eles,
porque sei qual é o seu fim. Quem encara suas ações como obra dos sentidos, e
as executa sem apego, não é maculado pelo egoísmo, tal qual a flor de lótus,
que não é poluída pelas águas que a rodeiam. O iogue, tendo-se libertado de todo
o apego, executa as ações do corpo, da mente e do intelecto, até dos sentidos,
sempre com o fim de purificar a mente, sem qualquer motivo egoísta. Vivendo em
harmonia com a Natureza, tendo abandonado o desejo e a esperança de recompensa
pelas ações, alcança a Paz. Ao contrário, o homem que não vive em tal harmonia
e que nutre desejos de recompensa por suas ações, é turbado, inquieto e
descontente. A alma do sábio que, no fundo de sua vontade, renunciou a toda
ação e inação própria, e não procura recompensa, habita o corpo, que é o Templo
do Espírito (1), conserva-se quieta em paz, sem desejo de agir ou sem causar
ação, e, entretanto, está sempre pronta a executar a sua parte da ação, quando
o dever o chama. Porque o sábio sabe que ainda que o seu corpo, essa cidade com
as nove portas, se ocupe de ações, o Eu Real permanece imperturbado. (1). I
Coríntios 6:19,20 “Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito
Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmo?
Porque fostes comprado por bom preço, glorificai, pois a Deus no vosso corpo, e
no vosso espírito, os quais pertencem a Deus”. O Senhor do Mundo, o Eu Real,
não engendra nem a atividade, nem as ações, nem as relações entre a causa e o
efeito. Em tudo isto age apenas a natureza dos seres. O Senhor do Mundo não
interfere nem nos pecados nem nas boas ações de ninguém. A luz da sabedoria,
está obscurecida pela fumaça da ignorância, e o homem ilude-se com isso e pensa
que a fumaça é a chama, não podendo enxergar esta detrás daquela. Mas aqueles
que são capazes de transpor a fumaça, percebem a clara luz do Espírito que
brilha, como uma infinidade de sóis, livre e sem o véu da fumaça que a esconde
às vistas da maior parte dos homens. Meditando sobre o Altíssimo, que é o Eu Real,
unindo-se a file, conhecendo-o e amando-o, passa o sábio aos estados
superiores, aos planos mais altos, dos quais não volta mais para os degraus
inferiores da existência. O conhecimento da Verdade consumiu todos os seus
pecado, os erros. E o elo entra no reino
da Bem aventurança. A sua vista, sondo livro da fumaça do erro e da ilusão,
reconhecendo um Ser em tudo; igual sentimento e respeito tem ele para os homens
eruditos, reverendos, nobres e iluminados; com para os pobres, ignorantes e
desprezados. E até para as vacas, os elefantes e os cães. Porque, tendo vencido
as ilusões, vê que as personalidades de todas as formas de vida são irreais,
comparadas com o Eu Real, de maneira que, contempladas do alto, desaparecem até
as maiores distinções mundanas. Os que conservam a equanimidade
(imparcialidade, modo de julgar neutro), já neste mundo se unem com Brahma, o
Deus Criador, porque Ele é imutável e eternamente o mesmo. Não te deixes
arrebatar, quando te acontece algo desagradável, nem percas o ânimo, quando tens
má sorte. Levanta o teu pensamento â claridade limpa da esfera divina,
imerge-te em Deus e Nele vive. Em delícias eternas vive a alma que em si mesma
encontra a fonte da felicidade, sendo unida com Deus e desapegada dos objetos
do mundo exterior. Os prazeres nascidos do contato dos sentidos externos, e a
que chamam satisfação, são fontes de sofrimentos, porque têm princípio e fim. O
sábio não procura neles a sua felicidade. Feliz é aquele que, nesta terra,
ainda antes de deixar o corpo, pode resistir aos impulsos do desejo e da ira.
Quem em si mesmo encontra o céu, quem em si mesmo encontra a luz da iluminação,
é um iogue, um arhant, um santo; a sua vida conflui com a vida de Brahma, e são
lhe abertas as portas do Nirvana. Assim os Rishis (2), tendo-se libertado dos
pecados, tendo vencido toda ideia de dualismo e separação; e vendo que toda a
vida é uma, que toda ela emana de Um, e sentindo que o bem estar de todos é o
bem estar de cada um, unificaram-se com o Todo e entraram no Nirvana (3). (2).
Sábios. Santos e “videntes”. (3). Estado de verdadeira paz no qual o praticante
alcança a cessação do sofrimento e da
insatisfação, e o fim dos renascimentos no Samsara, que é a existência cíclica.
Assim todos os homens que seguem o seu exemplo, vivendo em humildade e na luz
da fé, controlando as ações e dominando o eu inferior, aproximam-se da Paz
Divina. O verdadeiro iogue, deixando os objetos exteriores influenciar só o seu
exterior e não a sua alma, abre as vistas interiores à Luz Eterna e une o sua
respiração com a interior, em ritmo de harmonia. Todos os seus sentidos
obedecem à vontade Espiritual, todo o
seu pensar tem as raízes em Deus; nada para si deseja, nada receia; a ele não
tem acesso nem ódio nem ira; a sua salvação está realizada. Ele Me conhece como
Sou, sabe que Me agrada o domínio de si mesmo, reconhece-Me como Senhor do
Universo, e amante de todas as almas, e une-se comigo. Pois Eu Sou o amparo de
todos os que em Mim se refugiam. Bhagavad Gita. A Mensagem do Mestre. Tradução
Francisco Valdomiro Lorenzo. Abraço. Davi.
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