terça-feira, 16 de junho de 2015

O Budismo e o Homossexualismo.


Há algum tipo de prática sexual rejeitada pelo Budismo? Em primeiro lugar é necessário fazer a distinção entre os praticantes Budistas que adotam o monasticismo e aqueles que seguem a vida leiga. O código de disciplina monástica prescreve o celibato para os monges e monjas. Para os leigos há um conjunto de cinco preceitos éticos que devem ser observados, sendo que o terceiro preceito determina que a pessoa deve evitar o comportamento sexual impróprio. Portanto, no caso dos monges (as) qualquer tipo de prática sexual é proibida e estará sujeita a algum tipo de censura e punição que depende da gravidade do ato, sendo que os casos extremos resultam na expulsão da comunidade monástica. No caso dos leigos, determinar se o terceiro preceito está sendo observado ou não é uma situação um pouco mais complexa visto que depende da interpretação do que seria um comportamento sexual impróprio. O que é um comportamento sexual impróprio? Para entender se um determinado comportamento sexual é impróprio, é necessário entender o critério empregado no Budismo para fazer julgamentos éticos. O Budha recomendou três critérios para fazer julgamentos morais. O primeiro podemos chamar de princípio da universalidade, agir em relação aos outros do mesmo modo que gostaríamos que eles agissem conosco. O segundo podemos chamar de princípio consequencial, para determinar se um comportamento é benéfico ou prejudicial é necessário avaliar as consequências tanto no agente como no paciente, ou seja um comportamento que cause algum tipo de dano quer seja no agente ou no paciente deve ser evitado. O terceiro podemos chamar de princípio instrumental, um comportamento é benéfico ou prejudicial se respectivamente conduz para mais perto ou afasta do objetivo. O objetivo último no Budismo é nibbana, um estado de pureza e paz mental, e tudo que conduz a esse objetivo será benéfico. Essa abordagem utilitária em relação à ética fica ainda mais clara ao observarmos que o Budha usava com muito mais frequência os termos benéfico ou hábil e o seu oposto prejudicial ou inábil no lugar de bom ou mal. Outro elemento importante na avaliação do comportamento é a intenção. Se uma ação está fundamentada em boas intenções por exemplo na generosidade e na compaixão, então, ela será considerada hábil. Portanto, avaliar o comportamento no Budismo requer mais do que simplesmente obedecer certas regras ou mandamentos, exige que tenhamos plena consciência dos nossos pensamentos, palavras e ações bem como dos nossos objetivos e aspirações. Após examinarmos rapidamente os fundamentos racionais da ética Budista podemos melhor compreender que tipo de comportamento sexual o Budha considerava como impróprio ou inábil e porque. Nos discursos o Budha menciona particularmente alguns tipos de comportamento sexual impróprio, como por exemplo o adultério. O adultério é inábil porque requer o subterfúgio e o engano, significa que promessas feitas são rompidas e a confiança é traída. O homossexualismo não é mencionado de forma explícita em nenhum dos discursos do Budha levando à conclusão de que a homossexualidade deve ser avaliada do mesmo modo que a heterossexualidade. No caso de duas pessoas leigas que agem com base no consentimento mútuo, onde não há adultério, e onde o ato sexual é uma expressão de amor, respeito, lealdade e calor humano, esse seria um comportamento sexual hábil. E o mesmo critério vale se as duas pessoas forem do mesmo sexo. Do mesmo modo, a promiscuidade, libertinagem e a desconsideração dos sentimentos dos outros fazem com que um ato sexual seja inábil quer seja heterossexual ou homossexual. Todos os princípios empregados para avaliar uma relação heterossexual também são válidos para avaliar uma relação homossexual. No Budismo podemos dizer que não é o objeto do desejo sexual que determina se um ato sexual é inábil ou não, mas na verdade, a qualidade das emoções e intenções envolvidas.  Há alguma objeção do Budha com relação ao casamento do mesmo sexo? A resposta é "Não”. Na coleção de discursos do Budha não há nenhuma objeção desse tipo. Para ser mais exato, o Budha nem apoiava e tampouco se opunha ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. Isso então quer dizer que o Budismo é mais tolerante em relação aos homossexuais? A realidade prática nas sociedades tradicionais Budistas é que não há muito apoio para ideias liberais e os estudos filosóficos das escrituras Budistas têm influencia reduzida na cultura popular. Os direitos humanos nesses países sempre receberam pouca atenção e a cultura está enraizada na interpretação popular da Lei do Karma que tende a ver karma como um processo linear, próximo do fatalismo. É comum os monges instruírem os discípulos leigos a enxergar o mundo sob uma ótica fatalista, isto é, que cada pessoa nasce para pagar os seus pecados. Explicações adicionais sobre o fatalismo. De acordo com essa interpretação o homossexualismo, bem como as demais práticas sexuais consideradas como depravadas, têm origem no desrespeito ao terceiro preceito em vidas passadas e por isso as pessoas têm de pagar nesta vida por essas ofensas cometidas em vidas passadas. E sendo assim, elas merecem o tratamento que recebem da sociedade. Esse tipo de crença gera um sistema de valores extremamente conservador. Algumas vezes o Budha aconselhava evitar um certo tipo de comportamento não porque fosse inábil do ponto de vista ético, mas porque colocaria a pessoa em divergência com as normas sociais ou porque poderiam sujeitá-la a sanções legais. Nesses casos, o Budha dizia que evitar esse tipo de comportamento livraria a pessoa da ansiedade e embaraço causado pela desaprovação social e o medo de ações punitivas. Em determinadas situações sociais, esse seria o caso em relação à homossexualidade. Nesses casos, o homossexual tem que decidir se irá se submeter àquilo que a sociedade espera ou se irá tentar mudar os valores sociais.http://www.nossacasa.net.shunya/. Comentários do editor do Mosaico. É claramente percebido, nesse texto, que em relação ao tema do homossexualismo e derivações consideradas aceita como comportamento sexual, o budismo têm uma orientação de tolerância e implícita contemporização. Isso pensando num contexto de generalização cultural e tradicional. Também parece estar subentendido que uma coisa é o que concebe o budismo em relação ao tema abordado, outra é o convencionado pela cultura popular de qualquer país. Evidentemente um assunto como esse, não poderíamos esperar definições e conceitos de valores, como regras ou orientação de comportamento. Mas aqui está alguns importantes princípios, que acumulados ao longo de milhares de anos fazem do budismo, uma das religião mais condescendentes com a problemática humana em todos os seus importantes aspectos. Buscando por caminhos fraternos, dentro da coerência e bom senso, para que possamos dialogar com os que consideramos desiguais e viver harmonicamente com os que pressupomos diferentes em seus comportamentos e personalidades. Celibato para os monges e monjas. O budismo tem como um de seus princípios particulares a santidade e pureza do corpo, da mente e da alma, e a vida monástica budista é extremamente rígida, pois inclui mais de 200 itens que devem ser observados, por ambos os sexos, pelos religiosos vocacionados em sua vida de reclusão e cotidiano social. Assim pra esses o celibato é obrigatório. Mas quanto aos leigos é orientado evitar os comportamentos sociais impróprios. Os leigos budistas também devem ter um viver condizente com a ética prescritos nos ensinamentos do Budha, bem como, dar testemunho de conduta moral sexual irrepreensível e correta no seu proceder pessoal. Há uma clara tendência de sofrimento naqueles que forçosamente tentam se situar no “estereótipo” homossexual, consequentemente produzindo desconforto no agente (neles) e no paciente (outro).  Essa conduta segundo o budismo dever ser evitada, pois o princípio é agir com o outro do mesmo modo que gostaríamos que agissem conosco. A santidade no budismo é evocada no Nibbana um estado de pureza e paz mental. Apesar do homossexualismo não ser mencionado explicitamente nos ensinamentos do Budha, o adultério é considerado um comportamento impróprio que macula a honra e denegri a moral daquele que o pratica. Esse ato é contrário a compaixão e generosidade, pressupondo irresponsabilidade quanto aos pensamentos, palavras e ações. No raciocínio considerado lógico, em termos sexuais, se duas pessoas do mesmo sexo usassem sua afeição como expressão de amor e respeito mútuo seria uma condição hábil e aceita dentro da perspectiva do budismo. Mas a motivação homo ou hetero em promiscuidade e libertinagem desconsiderando o sentimento do outro é uma atitude imprópria e inadequada. A visão budista se inclina pela qualidade e intenção envolvidas na sexualidade, muito mais, que prejulgar o comportamento taxando-o certo ou errado, como o cristianismo costuma fazer. Subentendesse do ensinamento budista que não há um apoio formal e nem uma oposição consistente quanto ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. Tanto que, algumas cerimônias conjugais de homo afetivos são celebradas por monges ou monjas budistas. “A união civil entre pessoas do mesmo sexo é contestada pelos líderes das principais confissões religiosas em Portugal. Aos católicos juntam-se muçulmanos, judeus e evangélicos que vêm na união entre homossexuais uma altercação do conceito de família. A exceção são os seguidores do budismo. Católicos, muçulmanos, judeus, evangélicos e hindus encaram com desagrado a intenção política de alterar os contornos jurídicos do casamento, alargando-os aos homossexuais. A exceção são os budistas que defendem essa opção se ela tornar alguém mais feliz. A posição do presidente da União Budista Nacional de Portugal, Paulo Borges, contrasta com a dos diferentes líderes religiosos ouvidos pelo diário de Portugal. De acordo com os princípios do budismo de pretender libertar a mente de tudo o que faz sofrer, nessa perspectiva, se o casamento entre pessoas do mesmo sexo contribuir para tornar alguém mais feliz, então, somos a favor, ele afirma. O presidente desta confissão em Portugal diz que embora exista uma posição dos budistas tibetanos, que refere a relação sexual entre pessoas do mesmo sexo não é aconselhada para uma evolução espiritual, a questão não é moral: é apenas quanto à progressão espiritual, ao nível energético. Para a maioria das confissões, o casamento é um compromisso duradouro entre duas pessoas de sexo diferentes, destinado a constituir família e um projeto de vida. Na base desta posição, garantem, não está uma atitude homofóbica. Apenas a preocupação com o impacto social negativo que, acreditam, decorrerá da alteração do conceito de família. Essa alteração afetará a visão que a sociedade tem do casamento. É óbvio que os movimentos políticos influenciam a cultura e a percepção da sociedade, afirmou ao diário de Portugal o rabino Eliezer Shi di Marino. Por isso, defende o líder religioso da comunidade judaica, somos contra. Os judeus consideram que não tem que impor a sua opinião nem a sua fé, nem vão tomar posição. Mas dada a sensibilidade do tema, diz o rabino, seria desejável um debate alargado, que pode passar pela consulta popular”. http://dn.pt. Desse modo, a sociedade budista apesar de sua posição tolerante e compreensiva em relação a homossexualidade, tem pouca influência na cultura popular que tem pressupostos de crendices e superstições, envolvendo o assunto como dogma exclusivista, não abrindo espaço ao diálogo e debate, criando um perigoso antagonismo e anacronismo cultural expresso no preconceito exorbitante e na discriminação “generalizada” de segmentos homo afetivos. Infelizmente as minorias em todos os países, são desassistidas de direitos humanos responsáveis. Um outro aspecto que funciona como entrave  à aceitação da homo afetividade é: como encaixá-la na lei do carma que  na filosofia espiritualista de algumas Escolas budistas mais conservadoras chegam próximo ao fatalismo. Entendendo assim que cada renascimento é pra pagar os pecados de vidas passadas, sendo que, esses supostos “desvios de comportamentos” representam o carma negativo que o indivíduo precisa quitar pra na próxima encarnação assumir postura socialmente aceita pelos padrões convencionados de “normalidade” cultural. O Budha na sua sabedoria iluminada diz que evitar um comportamento destoante no comumente aceito, livraria a pessoa da ansiedade e embaraço causado pela desaprovação social, bem como, medo de punições. A questão parece cair num paradoxo ou o homossexualismo se submete ao que a sociedade espera ou tentará mudar os valores sociais. Esse é o impasse que, até agora, está longe de ser resolvido. Assim os extremos se distanciam e a homossexualidade, atada e amarrada, não consegue juntar as partes divergentes pra assumir seu lugar no contexto social. Essa reflexão mostra que o caminho está aberto para o entendimento e a compreensão da sexualidade na cultura sócio familiar, e os rumos que serão tomados no futuro dependem do entendimento que as partes envolvidas alcançarem nesse difícil processo de conciliação e harmonização. Mas uma coisa parece certa, os alicerces da tradicional familiaridade cristã estão sendo questionados, e as mudanças a médio e longo prazo estão a caminho. Abraço. Davi.

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