Certa
vez, na floresta Simsapa do Kosambi perto de Allahabad, Índia, o Budha pegando
algumas folhas na mão, perguntou aos discípulos:
—
Que pensais, bhikkhus? Quais as mais numerosas? Essas poucas
folhas na minha mão, ou as que estão na floresta?
—
Oh! Senhor, certamente as folhas da floresta são muito mais numerosas!
—
Da mesma forma, bhikkhus, do que sei não disse tudo, e o que não
divulguei é muito mais ainda. E por que eu não lhes disse? Porque isto não é
útil e não conduz ao Nirvana. Samyutta Nikaya.
O
Budha comparava o número das coisas por ele ensinadas ao número das folhas de
uma só árvore, e o número das coisas que lhe foram reveladas ao sem número
imenso das folhas de toda a floresta. Da mesma forma, Budha não discutia
questões metafísicas, pois são puramente especulativas e só criam problemas
imaginários. Ele as considerava "um deserto de opiniões".
Malunkyaputra,
um de seus discípulos, não se conformando com essa atitude, fez ao Mestre as
clássicas perguntas sobre problemas metafísicos, entre as quais as seguintes:
—
Senhor, quando estava meditando, veio-me este pensamento: o universo é eterno
ou não é eterno? O universo é finito ou infinito? A alma é uma coisa e o corpo
outra coisa? Existe o após a morte ou não existe o após a morte, ou ambas as
coisas simultaneamente existem ou não após a morte? O Sublime e Perfeito não me
explicou esses problemas; se o Senhor sabe que o universo é eterno,
explique-me, mas se não sabe, seja franco em dizer: "Não sei, ou não
vejo." A resposta dada é de grande utilidade para muitos, que até hoje
perdem um tempo precioso em questões metafísicas dessa natureza, perturbando
inutilmente a paz de suas mentes.
—
O Budha respondeu: Disse eu alguma vez: "Vem, Malunkyaputra, leva uma vida
pura sob minha direção, que eu te explicarei todas essas questões?" Ou
você mesmo me perguntou: "Se eu levar uma vida pura sob sua direção, terei
as respostas às minhas perguntas?"
—
Não, Senhor!
—
Malunkyaputra, se alguém disser: "Não levarei uma vida santa sob a direção
do Sublime, até que ele me elucide essas questões", morrerá certamente
antes de receber a resposta desejada do Tathagata.
Prosseguindo,
Budha deu o seguinte exemplo: se um indivíduo, ferido por uma flecha
envenenada, fosse levado por seus amigos e parentes a um cirurgião e dissesse:
"Não deixarei extrair esta flecha antes de saber quem a disparou, se um ksatrya,
casta dos guerreiros, ou um brahmana, casta dos sacerdotes, um vaisya,
casta de mercadores, ou sudra, casta inferior dos camponeses; qual
seu nome, qual o nome de sua família, se é alto, baixo ou de estatura mediana,
qual a cor de sua tez, de que aldeia ou cidade veio. Não permitirei extrair
esta flecha antes de saber com que espécie de arco foi disparada, antes de
saber que corda foi empregada nesse arco, antes de saber que penas foram
utilizadas na flecha, antes de saber de que material foi feita a ponta da
flecha", como terminaria isto, monges? Esse homem morreria certamente sem
saber todas essas coisas. Assim também, Malunkyaputra, quem disser: "Não
levarei a vida pura sob a direção do Sublime e Perfeito até que ele me explique
se o universo é ou não eterno (...),etc. Certamente morrerá sem que o
Budha lhe tenha explicado essas questões.
Budha
explicou a Malunkyaputra que a vida espiritual não depende de opiniões
metafísicas. Qualquer que seja a opinião sobre esses problemas, existe sempre o
nascimento, a velhice, a decrepitude, a morte, a desgraça, as lamentações, a
dor, a angústia. "Logo, declaro: a cessação de tudo isto é o Nirvana ainda
nesta vida."
—
Por conseguinte, Malunkyaputra, considere explicado o que expliquei, e o que
não expliquei, como não explicado. Não esclareci se o universo é eterno, ou não
é, (...) etc., porque não é útil e não está fundamentalmente relacionado com a
vida espiritual, não conduzindo ao desapego, à cessação, à tranquilidade, à
penetração profunda, à realização, ao Nirvana. Estes são os motivos pelos quais
não falei. Que foi que expliquei? Expliquei a existência do sofrimento, o
aparecimento ou origem do sofrimento, a cessação do sofrimento e o caminho que
conduz à cessação do sofrimento. E por que expliquei isto? Porque é útil e está
fundamentalmente relacionado à vida espiritual que conduz ao desapego, à
cessação, à tranquilidade, à penetração profunda, à libertação, ao Nirvana.
Budha
não ensinava o objeto do Conhecimento, mas os meios para chegar a ele. Só a
Iluminação Total poderia responder as perguntas; os ensinamentos de Gautama
Budha, como vimos e veremos no decorrer deste estudo, são pura ciência, moral,
psicologia e filosofia de vida, e nada têm a ver com conceitos religiosos. É
uma doutrina que leva o indivíduo à Correta Compreensão pela análise e
meditação. http://www.nossacasa.net.shunya/.
Abraço. Davi.
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