Como as mulheres contribuem para a
formação do budismo contemporâneo? E
de que forma contribuíram no passado? Poderíamos dizer que se não fosse uma
simples menina camponesa indiana, não haveria Budha e nem o Budismo? O príncipe
Sidharta, que mais tarde ficou conhecido como o Budha, em alguma parte de
seu caminho à iluminação, se tornou um asceta muito rigoroso, praticando jejum
entre outras privações. Fala-se em 80 dias sem comer nem beber nada. Os relatos
dão conta de que o jovem asceta era pele e osso e que seus olhos afundaram em
suas órbitas. Já sem nenhuma força, por tanto tempo em jejum, caído ao chão,
quase morrendo, Sidharta foi socorrido por uma menina camponesa, que ao vê-lo
naquela situação, derramou leite com mel em sua boca. Talvez isso tenha
acontecido por mais alguns dias e o homem quase morto ressurgiu para uma nova
etapa da sua caminhada que o levou à iluminação, o caminho do meio, além dos
extremos do prazer e da negligência com o corpo. A menina camponesa que salvou
o Budha não recebeu a devida importância nessa história muito rica. Muitas
mulheres trilharam esse caminho sem serem notadas. A presença da mulher no
Budismo merece ser revista e resgatada. De Mahaprajapati, a tia de Sidharta,
que o criou e se tornou a primeira monja, passando por Yeshe Tsogyal (777-837),
Magig Labdron (1055-1149) e Alexandra David
Neel (1868-1969), Anne Pema Chödron (1936- ) e Tenzin Palmo
(1943- ), entre outras grandes mestras
do passado e do presente, do Ocidente e do Oriente. O
budismo no Ocidente ainda é recente. O
renomado historiador britânico Arnold Toynbee (1889-1975), afirmou que a
chegada do Budismo no ocidente foi o maior evento do século XX. Junto com esse
fenômeno, acontece também uma maior inserção da mulher dentro de um novo
contexto e paisagem. A presença da mulher é muito bem vinda, areja e amplia as
perspectivas. Um fenômeno do Budismo ocidental é a forte presença feminina, há
monjas, mestras e alunas, em igual ou maior número que homens. Nos Estados
Unidos muitas mestras. No
Brasil, estamos no tempo de Chagdud Khadro (1946- ), das lamas Tsering Wangdu (1939- ), Sherab Gyatsen (1931- ) e Thubten Yeshe (1935- ), das Monjas Coen (1957- ), Isshin Havens, Reverenda Yvonette
Gonçalves, Ani Zamba, Jetsunma Tenzin Palmo, Khenchen Namdrol Rinpoche
(1953- ), Jigme Singye Wangchuck
(1955- ) Choedzin. Também Tiffani
Gyatso, com a sua arte tibetana, de Melissa Flores, cineasta que filmou “Yatra” nos locais sagrados de Budha,
de Maria Theresa Barros, psicanalista, que da sua tese de doutorado fez o livro
O Despertar do Budismo no Ocidente, de Isabelas, Marianas, Marias e Anas que
com um colo maternal cantam para despertar o Budha que está em cada ser. Essa
presença no Budismo pode nos ajudar na construção de uma sociedade mais
feminina, na medida que o Budismo começa a dialogar com os diversos setores da
sociedade, educação, ciência, medicina, psicologia, nos lembrando as qualidades
de uma mãe que acolhe e protege sem impor condições. A
verdadeira presença feminina deve se dar tanto na construção ativa da sociedade
como na manifestação das qualidades como compaixão, cuidado, acolhimento,
proteção e amor. Embora essas qualidades não sejam restritas ao gênero
feminino, as mulheres podem ajudar a construir um mundo mais justo e equânime. Sua Santidade o Dalai Lama, Tenzin
Gyatso (1935- ) diz que de fato o que
rege o mundo não é a economia e sim a compaixão. Se não houvesse alguém para
nos acolher, alimentar e aquecer quando nascemos, ninguém estaria aqui. Para
que os valores femininos tenham a devida importância precisamos olhar para
eles, dar atenção, empoderá-los, se não eles passarão desapercebidos e não
avançaremos enquanto civilização. Sua Santidade também afirmou em um
encontro pela paz, em Vancouver, Canadá, em 2009: “O mundo será salvo
pela mulher ocidental”. Um novo paradigma passa pela valorização do
princípio feminino. Texto Miguel Berredo e Liane Alves. http://www.bodisatva.com.br. Abraço. Davi.
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