terça-feira, 9 de junho de 2015

A Face Feminina do Budha.



Como as mulheres contribuem para a formação do budismo contemporâneo? E de que forma contribuíram no passado? Poderíamos dizer que se não fosse uma simples menina camponesa indiana, não haveria Budha e nem o Budismo? O príncipe Sidharta, que mais tarde  ficou conhecido como o Budha, em alguma parte de seu caminho à iluminação, se tornou um asceta muito rigoroso, praticando jejum entre outras privações. Fala-se em 80 dias sem comer nem beber nada. Os relatos dão conta de que o jovem asceta era pele e osso e que seus olhos afundaram em suas órbitas. Já sem nenhuma força, por tanto tempo em jejum, caído ao chão, quase morrendo, Sidharta foi socorrido por uma menina camponesa, que ao vê-lo naquela situação, derramou leite com mel em sua boca. Talvez isso tenha acontecido por mais alguns dias e o homem quase morto ressurgiu para uma nova etapa da sua caminhada que o levou à iluminação, o caminho do meio, além dos extremos do prazer e da negligência com o corpo. A menina camponesa que salvou o Budha não recebeu a devida importância nessa história muito rica. Muitas mulheres trilharam esse caminho sem serem notadas. A presença da mulher no Budismo merece ser revista e resgatada. De Mahaprajapati, a tia de Sidharta, que o criou e se tornou a primeira monja, passando por Yeshe Tsogyal (777-837), Magig Labdron (1055-1149) e Alexandra David Neel (1868-1969), Anne Pema Chödron (1936-   ) e Tenzin Palmo (1943-   ), entre outras grandes mestras do passado e do presente, do Ocidente e do Oriente. O budismo no Ocidente ainda é recente. O renomado historiador britânico Arnold Toynbee (1889-1975), afirmou que a chegada do Budismo no ocidente foi o maior evento do século XX. Junto com esse fenômeno, acontece também uma maior inserção da mulher dentro de um novo contexto e paisagem. A presença da mulher é muito bem vinda, areja e amplia as perspectivas. Um fenômeno do Budismo ocidental é a forte presença feminina, há monjas, mestras e alunas, em igual ou maior número que homens. Nos Estados Unidos muitas mestras. No Brasil, estamos no tempo de Chagdud Khadro (1946-   ), das lamas Tsering Wangdu (1939-   ), Sherab Gyatsen (1931-   ) e Thubten Yeshe (1935-   ), das Monjas Coen (1957-   ), Isshin Havens, Reverenda Yvonette Gonçalves, Ani Zamba, Jetsunma Tenzin Palmo, Khenchen Namdrol Rinpoche (1953-   ), Jigme Singye Wangchuck (1955-   ) Choedzin. Também Tiffani Gyatso, com a sua arte tibetana, de Melissa Flores, cineasta que filmou “Yatra” nos locais sagrados de Budha, de Maria Theresa Barros, psicanalista, que da sua tese de doutorado fez o livro O Despertar do Budismo no Ocidente, de Isabelas, Marianas, Marias e Anas que com um colo maternal cantam para despertar o Budha que está em cada ser. Essa presença no Budismo pode nos ajudar na construção de uma sociedade mais feminina, na medida que o Budismo começa a dialogar com os diversos setores da sociedade, educação, ciência, medicina, psicologia, nos lembrando as qualidades de uma mãe que acolhe e protege sem impor condições. A verdadeira presença feminina deve se dar tanto na construção ativa da sociedade como na manifestação das qualidades como compaixão, cuidado, acolhimento, proteção e amor. Embora essas qualidades não sejam restritas ao gênero feminino, as mulheres podem ajudar a construir um mundo mais justo e equânime. Sua Santidade o Dalai Lama, Tenzin Gyatso (1935-   ) diz que de fato o que rege o mundo não é a economia e sim a compaixão. Se não houvesse alguém para nos acolher, alimentar e aquecer quando nascemos, ninguém estaria aqui. Para que os valores femininos tenham a devida importância precisamos olhar para eles, dar atenção, empoderá-los, se não eles passarão desapercebidos e não avançaremos enquanto civilização. Sua Santidade também afirmou em um encontro pela paz, em Vancouver, Canadá, em 2009: “O mundo será salvo pela mulher ocidental”. Um novo paradigma passa pela valorização do princípio feminino. Texto Miguel Berredo e Liane Alves. http://www.bodisatva.com.br. Abraço. Davi.

Nenhum comentário:

Postar um comentário