sábado, 8 de novembro de 2014

O Espiritismo Kardecista. Parte II.

O Espiritismo pretende  chegar à compreensão da realidade mediante a integração entre as três formas clássicas de conhecimento, que seriam a ciência (já vimos na parte I que o termo ciência aqui não tem a conotação matemático tecnicista, e nem averiguação estimativa ou comprovação lógica, fugindo assim da precisão do conceito na modernidade), a filosofia e a religião. A doutrina espírita se propõe, assim, a estabelecer um diálogo entre as três, visando à obtenção de uma forma original que, a um só tempo, fosse mais abrangente e mais profunda, para desta forma melhor compreender a realidade. Allan Kardec (1804-1869) sintetiza o conceito com a célebre frase: "Fé inabalável só a tem quem pode encarar frente a frente a razão em todas as épocas da humanidade". Segundo o filósofo Herculano Pires (1914-1979). "Filosofia Espírita, como disse Kardec, pertence genericamente ao que costumamos chamar Filosofia Espiritualista, porque a sua visão do universo não se prende à Matéria, mas vai até o espírito, que considera como causa de tudo o que percebemos no plano material. Englobando na sua interpretação cosmológica a "ciência" espírita (aqui fica claro que esse vocábulo é aplicado especificamente no contexto da doutrina espírita sem nenhuma ligação com o cientificismo, que é a doutrina filosófica que considera definitivo os conhecimentos científicos. Filosofia que nega a importância dos problemas que estão fora do alcance da investigação científica), e tendo como consequência a Religião Espírita, a filosofia espírita encerra em si mesma toda a doutrina. É importante  ressaltar ainda que, quem quer que acredite haver em si alguma coisa mais do que os elementos  integrantes do universo natural (matéria e radiação), acreditando assim em quaisquer entidades transcendentes ao universo tangível é, por definição, espiritualista, independente de sua religião, sendo, portanto, o espiritualismo enquanto oposição ao materialismo, o pilar fundamental da maioria das doutrinas religiosas. No caso do Espiritismo, a principal diferença entre esta doutrina e a maioria das demais religiões é sua crença na possibilidade de comunicação entre o mundo corporal e o mundo espiritual, contudo, a fé nesta contingência de comunicação gera grande confusão por parte dos leigos entre a doutrina espírita e as religiões Afro Brasileiras, entretanto, cada uma delas possui origens completamente distintas uma das outras. Allan Kardec, em Obras Póstumas, propõe que o espiritismo seja uma doutrina natural, passível de ser interpretada ou não como religião pelos homens, isto é, capaz de colocar o homem, ou o espírito, diretamente em relação com Deus. A doutrina espírita, de modo geral, fundamenta-se nos seguintes pontos ou princípios: 1. Existência e unicidade de Deus, rejeitando o dogma da Santíssima Trindade, isto está conforme a primeira questão de O Livro dos Espíritos, pois, nesta obra é dito: "Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas". Também é algo e não alguém (Pessoa). Os espíritas são simpatizantes do heteromorfismo de Deus e não do seu antropomorfismo com visto na maioria das religiões monoteístas. 2. O universo é criação de Deus, incluindo todos os seres racionais e irracionais, animados e inanimados, materiais e imateriais, que por sua vez, todos estão destinados a lei do progresso. 3. Existência e imortalidade do espírito, compreendido como individualidade inteligente da Criação Divina que está ligado ao corpo físico através de um conectivo semi material denominado de Perispírito. O Perispírito segundo a doutrina espírita é o elemento intermediário entre o corpo e o espírito. O termo foi cunhado por Allan Kardec e encontra seu primeiro uso no item IV da introdução de O Livro dos Espíritos. "O laço ou perispírito que une o corpo ao espírito, é uma espécie de envoltório semi material. A morte é a destruição do envoltório mais grosseiro. O espírito conserva o segundo, que constitui para ele um corpo etéreo, invisível para nós num estado normal, mas que pode se tornar acidentalmente visível e mesmo tangível, como sucede nas aparições". 4. Volta do espírito à matéria (reencarnação), tantas vezes quanto necessário, como o mecanismo natural para se alcançar o aperfeiçoamento material e moral. No entanto, para a doutrina, a perfeição qua a Humanidade é suscetível atingir é relativa, pois apenas Deus possui a perfeição absoluta, infinita em todas as coisas. Os espíritas rejeitam a crença na metempsicose (aqui temos uma divergência em relação as Escolas de Mistério Antigas e Atuais, pois todas elas vêm a metempsicose como realidade espiritual e um dos processo lógicos de elevação da evolução espiritual do homem. Detalhando esse conceito a Metempsicose é o pressuposto da transmigração da alma, de um corpo para outro, seja este do mesmo tipo de ser vivo ou não. Essa teoria não se restringe à reencarnação humana, mas abrange a possibilidade da alma humana encarnar em animais, vegetais e minerais. Esse conceito é corroborado pela Cabala Judaica que quanto a essa aspecto assim se manifestam também. A metempsicose era uma crença amplamente difundida na Pré História e na Antiguidade, sendo encontrada entre os egípcios, gregos, romanos, chineses e hindus. Entre os Budistas Tibetanos essa migração é possível, embora muito rara. Os Budistas descrevem vários formas de reencarnação, sob diferentes contextos. Os esquimós e outros povos antigos mantêm a mesma convicção. Segundo a doutrina espírita a teoria da Metempsicose é falsa, pois a transmigração da alma do homem para o animal implicaria na ideia da retro gradação evolutiva, o que entra em desacordo com um dos principais pontos da doutrina, que diz que o espírito apenas progride nunca involui. Algumas Escolas Modernas de Mistérios têm também esse conceito da não involução da alma, onde o carma funcionaria como o processo de retenção dessa involução. Havendo na encarnação atual ou nas posteriores as reparações ou retificações dos débitos ou dívidas contraídas na viagem feita pela alma através dos renascimentos da personalidade. A alma é a substância eterna e indestrutível, a centelha divina que progride, desenvolvendo-se pelos reino natural (mineral, vegetal e animal), alcançando o reino humano, posteriormente o reino espiritual e finalizando no reino da Divindade Eterna; retornando para sua origem. O termo é encontrado em Pitágoras e Platão. Acredita-se que Pitágoras aprendeu seu significado com os egípcios, que por sua vez aprendeu com os hindus. 5. Conceito de Criação Igualitária de todos os espíritos, simples e ignorantes em sua origem, e destinados invariavelmente à perfeição, com aptidões idênticas para o bem ou para o mal, dado o livre arbítrio. 6. Possibilidade de comunicação entre os espíritos encarnados (vivos) e os espíritos desencarnados (mortos), por meio da mediunidade, também denominada comunicabilidade dos espíritos. Essa comunicação é realizada com o auxílio de pessoas com determinadas capacidades, os médiuns como, por exemplo, na chamada escrita automática ou psicografia. A questão da mediunidade é bastante controversa, e em alguns aspectos inconsistente. As Escolas de Mistérios Antigas e Atuais incluindo a Cabala, Sufismo e Gnosticismo discordam dos processo mediúnicos aplicados pelos espíritas em suas sessões. Pois os supostos espíritos desencarnados são aparentemente de procedência duvidosa, talvez até hierarquias de mundos inferiores (demônios), que para repararem ou retificarem seus carmas em encarnações passadas assumem os corpos dos médiuns. Sendo esse fato a meu ver, caracterizado como forma de coação e subversão da materialidade humana.   Toda essa intervenção desses seres dos mundos inferiores é inverossímil, pois a reação é totalmente passiva, sem um controle do reagido, que não tem voz ativa, vontade ou emoção no ato da possessão. A psicografia seria uma das múltiplas possibilidades da expressão mediúnica existente. Allan Kardec  classificou-a como um tipo de manifestação inteligente, por consistir na comunicação discursiva de uma suposta entidade incorpórea, ou espírito por intermédio de um homem. O mecanismo de funcionamento da psicografia, segundo Allan kardec pode ser consciente, semi mecânico ou mecânico, a depender do grau de consciência do médium durante o processo da escrita. 6. Lei da Causa e do Efeito, compreendida como mecanismo de retribuição ética universal a todos os espíritos, segundo a qual nossa condição atual é resultado de nossos atos passados e nossos pensamentos, palavras e atos constroem diariamente nosso futuro. "Quem semeia o bem colhe o bem. Quem semeia o mal, colhe o mal". 7. Pluralidade dos mundos habitados materiais e espirituais. A Terra não é o único planeta com vida inteligente no universo, bem como os planetas possuem mundos espirituais habitados, por exemplo, umbral, colônias espirituais e os planos espirituais superiores. 8. Jesus, criado por Deus, é o guia e modelo para toda a humanidade. Segundo o Espiritismo, a moral cristã contida nos Evangelhos Canônicos é o maior roteiro ético moral de que o homem possui, e a sua prática é a solução para todos os problemas humanos e o objetivo a ser atingido pela humanidade. 9. Fora da caridade não há salvação. Para o Espiritismo a caridade consiste em benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros e perdão das ofensas. Além disso podem-se citar como características secundárias: I. A noção de continuidade da responsabilidade individual por toda a existência do espírito. II. Progressividade do princípio espiritual dentro do evolutivo em todos os níveis da natureza. III. Ausência total de hierarquia sacerdotal. IV. Abnegação na prática do bem, ou seja, não se deve cobrar pela prática da caridade, nem o fazer visando a segundas intenções. Toda a prática espírita é gratuita, como orienta o princípio moral do evangelho: "Dai de graça o que de graça recebestes". V. Uso de terminologia e conceitos próprios, como, por exemplo, perispírito, mediunidade, centro espírita, psicografia. VI. Total ausência de exorcismo, formulas, palavras sacramentais, horóscopos, cartomancia, pirâmides, cristais, amuletos, talismãs, culto ou oferenda a imagens ou altares, danças, procissões ou atos semelhantes, paramentos, andores, bebidas alcoólicas ou alucinógenas, incenso e fumo, práticas exteriores ou quaisquer sinais materiais. VI. Ausência de rituais institucionalizados, a exemplo de batismo, culto ou cerimônia para oficializar casamento. VII. Incentivo ao respeito para com todas as religiões e opiniões. VIII. Ter uma fé raciocinada, rejeitando a fé cega que não utiliza o raciocínio lógico em suas crenças. As principais obras básicas de Allan Kardec são; O que é o Espiritismo de 1868 publicado em Paris - França. O Livro dos Espíritos, publicado em 1857, nele estão contidos os princípios fundamentais da doutrina Espírita. O Livro dos Médiuns, ou Guia dos Médiuns e os Evocadores, foi publicado em 1861 e versa sobre o caráter experimental e investigativo do Espiritismo, visto como ferramenta teórico metodológica para se compreender uma nova ordem de fenômenos, até então jamais considerada pelo conhecimento científico: os fenômenos ditos espíritas ou mediúnicos, que teriam como causa a intervenção de espíritos na realidade física. O Evangelho Segundo o Espiritismo, publicado em 1864, avalia os Evangelhos Canônicos (Mateus, Marcos, Lucas e João) sob a óptica da doutrina espírita, tratando com atenção especial a aplicação dos princípios da moral cristã e de questões de ordem religiosa como a prática da adoração, da prece e da caridade. O Livro O Céu e o Inferno, ou A Justiça Divina segundo o Espiritismo, foi publicado em 1865 e compõe-se de duas parte: na primeira, Kardec realiza um exame crítico da doutrina católica sobre a transcendência, procurando apontar contradições filosóficas e incoerências com o suposto conhecimento científico superáveis, segundo ele, mediante o paradigma espírita da fé raciocinada. Na segunda, constam dezenas de diálogos que teriam sido estabelecidos entre Kardec e diversos espíritos, nos quais estes narram as impressões que trazem do além túmulo. O livro A Gênese, ou Milagres e as Predições segundo o Espiritismo, foi publicado em 1868 e aborda diversas questões de ordem filosófica e científica, como a criação do universo, a formação dos mundos, o surgimento do espírito e a natureza dos ditos milagres, segundo do paradigma espírita de compreensão da realidade. Há também algumas obras ditas complementares como: O livro O que é o Espiritismo, publicado em 1859, sendo uma introdução didática sobre o Espiritismo. O Periódico Revue Spirite, voltado exclusivamente a assuntos relacionados ao Espiritismo, foi fundado por Kardec e dirigido por ele até a data de seu falecimento (1869). Já teve a participação de várias personalidades expoentes da doutrina e atualmente sua publicação é trimestral. O livro Obras Póstumas, publicado em janeiro de 1890, pelos dirigentes da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, trata-se de uma compilação de escritos inéditos do codificador da doutrina espírita, Allan Kardec, com anotações sobre os bastidores da criação da doutrina e que auxiliam a sua compreensão. Poderia abordar outros assuntos correlatos ao tema Espiritismo Kardecista, mas acho que o que foi dito é o suficiente para uma compreensão e definição de opinião quanto a doutrina espírita, tão controversa no meio das filosofias e religiosidades monoteístas ocidentais e politeístas orientais. O leitor tire suas conclusões; lembrando que o propósito do Mosaico é a tolerância. resignação, abnegação, resiliência e fraternidade humana e espiritual com todas as tendência que expressam diferentemente da nossa, sua maneira de perceber e vivenciar os mundos visíveis e invisíveis. É patente que os espíritas fazem um excelente trabalho de filantropia e humanitarismo principalmente com os pobres e necessitados. Louvável a dedicação de seus adeptos em centro comunitários de assistência social, médico e psicológica para tratamento dos mais variados tipos de necessidades humanas. Uma solidariedade gratuita mantida por eles, onde se vêm crianças, jovens, adultos e velhos sendo cuidados com amor e carinho. Um exemplo que precisamos seguir em nossa caminhada pela Senda Espiritual. Abraço. Davi.

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