quinta-feira, 13 de novembro de 2014

3º Sermão Alemão. Mestre Eckhart.

O título da mensagem está em latim, e sua tradução é o primeiro período subsequente. Videte Qualem Charitatem Dedit Nobis Pater, Ut Filii Dei Nominemur Et Simus. I João 3:1 "Vede quão grande amor nos tem concedido o Pai, que fôssemos chamados filhos de Deus. Por isso o mundo não nos conhece; porque não o conhece a Ele". Segue a íntegra do Sermão do Mestre Eckhart (1260-1328). Devemos saber que a raiz destas coisas é só uma: conhecer Deus, e ser conhecido por Deus, ver Deus, e ser visto por Deus. Vendo e conhecendo Deus, vemos e conhecemos que Ele nos faz ver e conhecer. É como o ar luminoso, que não é diferente da luz, pois se encontra luminoso justamente por ali estar a luz. Da mesma forma conhecemos sendo conhecidos, e porque Ele nos faz conhecer. Logo, o Cristo diz: "Novamente Me rejubilará", isto é, na visão e conhecimento de Mim, e "Ninguém te roubará na alegria". João 16:22. São João diz: "Veja que grande amor o Pai nos evidencia, que somos chamados e de fato somos, filhos de Deus", I João 3:1. Eu digo também que assim um homem não pode ser sábio sem que tenha sabedoria, também ele não pode ser filho sem a natureza filial daquele que é Filho de Deus, como não há sábio que não tenha sabedoria. Logo, a pessoa só é Filho de Deus se possuir tudo aquilo que Deus e Seu Filho possuem. Mas isto no momento está "oculto de nós". Em seguida, nós temos: "Bem amado, nós somos Filhos de Deus". E em que consiste nosso conhecimento? Foi acrescentado aqui, "E nós seremos o mesmo que Ele", I João 3:2, isto significando: o mesmo ser, tanto experimentando, quanto compreendendo, tudo que Ele é, quando vemos Deus. Logo, Deus não poderia ter me feito filho de Deus, se em mim não houvesse a natureza filial de Deus, nem poderia Deus ter me feito sábio, se eu já não tivesse sabedoria. Como somos filhos de Deus? Ainda não sabemos. Ainda não nos foi revelado; tudo que podemos saber é que como Ele seremos. Existem certas coisas que velam este conhecimento de nossas almas, e as ocultam de nós. A alma tem algo em si, uma fagulha do intelecto, que é imperecível; e nesta fagulha, como oposto mais excelso do intelecto, nós colocamos uma imagem da alma. Mas também existe em nossas almas um conhecimento dirigido para coisas externas, a percepção sensível e racional, que opera através de imagens e com palavras, e que nos veda o conhecimento desta fagulha do intelecto. Como então somos filhos de Deus? Partilhando Sua natureza. Mas para chegarmos ao entendimento disto é necessário distinguir entre a compreensão interna e externa. A compreensão interna nos vem intelectualmente, através de um conhecimento da natureza de nossa alma. E, contudo, isto não é a essência da alma, mas esta enraizado ali, como a vida da alma. Ao dizemos que a compreensão é a vida da alma, queremos dizer sua vida intelectiva, e é nesta vida que o homem nasce como filho de Deus, e na vida externa. Esta compreensão se situa além do tempo, sem um lugar, sem um aqui e agora. Nesta vida tudo é uno e comum, todas as coisas estão em todas, e todas se encontram em uma só. Eu vou ilustrar isto através de um exemplo. No corpo, todos seus membros estão unificados, de tal forma que o olho pertence ao pé, e o pé pertence ao olho. Se pudesse o pé falar, diria que o olho, situado na cabeça, pertence mais a si mesmo do que se estivesse situado no próprio pé e o olho diria o mesmo do pé. Da mesma forma, toda graça que Maria tem, pertence mais a um anjo, e está localizada mais nele próprio, do que se fosse dele mesmo, ou dos santos; a graça de Maria  é mais deste anjo, e ele pode dela fruir mais, que se estivesse em si próprio. Mas sei que esta interpretação se encontra um pouco grosseira e carnal, pois é feita de imagens externas. Vou mostrá-la num sentido mais sutil. Eu afirmo que, no reino celeste, tudo está em tudo, e tudo ali é uno, e ali tudo nos pertence. A graça de Nossa Senhora pertence a mim (se eu estivesse nesse reino), não como transbordando de Maria, mas dentro de mim mesmo, como se oriunda de mim, e não de fonte externa. Neste reino, o que um possui, o outro também possui, não como coisa alheia, mas própria, como a graça fque em alguém se encontra, também no outro se encontra, como se do outro fosse. Assim se encontra o espírito no espírito. Por isto digo que eu não posso ser filho de Deus, a menos que tenha natureza idêntica ao filho de Deus: possuindo esta natureza idêntica nos torna aquilo que Ele é, e nós O vemos como Ele é: Deus". Mas ainda não apareceu ante a nós o que somos. Neste sentido, pois, não é uma questão de semelhança ou de diferença, mas de identidade exata, em essência e substância e natureza, como Ele é em Si mesmo. Mas isto não está  ainda revelado, se revelará e aparecerá. Quando O virmos como Ele é: Deus. Deus se torna conhecido de nós em Seu ser, e em Seu conhecimento, e este Seu se tornar conhecido é idêntico ao meu conhecer; desta forma Seu conhecer é meu assim como o que o mestre ensina, é o mesmo que discípulo aprende. E já que Seu conhecimento é meu, e que Sua substância e Sua natureza são apropriadas por mim. E se sua substância, Seu conhecimento e Sua natureza são minhas, então eu sou o Filho de Deus. Vejam, irmãos, com que amor Deus nos amou, que somos chamados e somos de fato os Filhos de Deus!. Notem como somos os Filhos de Deus; tendo exatamente a mesma essência que o Filho tem. Como a pessoa pode ser Filho de Deus, ou como se tornar consciente disto, já que Deus não é parecido a ninguém? Com efeito, isto é a pura verdade, pois como Isaías 40:18 disse: "Com quem fizeste que Ele se parecesse, ou qual imagem lhe outorgastes? Já que é a natureza de Deus com ninguém se parece, temos que nos tornar nada, para entrarmos na mesma natureza que Ele é. Logo, quando eu consigo me estabelecer no nada, e o nada em mim, extirpando e jogando fora aquilo que em mim se encontra, então eu posso passar ao ser nu de Deus, que é, ao mesmo tempo, o ser nu do espírito. Tudo aquilo que cheira a semelhança deve ser eliminado, para que eu possa ser transplantado para Deus e com Ele me unificar uma só substância, um só ser, uma natureza e o filho de Deus. Uma vez tendo isto se passado, nada existe de oculto em Deus, que não seja meu, e que não se encontre revelado. Então eu vou ser sábio e poderoso, e tudo mais que Ele é, e uma só coisa idêntica com Ele. Então Sion se tornará de fato o ato de ver e o verdadeiro Israel, um homem que vê a Deus e do qual nada existe na natureza de Deus, que lhe esteja oculto. Então o homem fica direcionado por Deus. Mas para que nada esteja oculto em Deus, que não seja revelado a mim, nada deve aparecer em mim semelhantemente, ou seja, nenhuma imagem deve aparecer, pois nenhuma imagem nos pode revelar a essência de Deus, ou Sua natureza. Se qualquer imagem ou semelhança permanecer em nós, não seremos jamais Unos com Deus. Para nos unificar a Deus nada deve existir em nós de imaginário, ou gerador de imagens, para que em nós nada fique coberto, que não seja descoberto ou jogado fora. Observem a natureza do defeito. Ele advém do nada. Desta forma, aquilo que de nada veio, deve ser retirado da alma; pois enquanto existir em nós tal defeito, ainda não conseguiremos ser Filhos de Deus. A pessoa enquanto existir em nós tal defeito, ainda não conseguiremos ser Filhos de Deus. A pessoa fica se lamentando e triste, somente por causa de deficiência. Logo para que a pessoa se torne Filho de Deus, tudo isto deve ser expulso e removido da alma, para que não mais exista lamentação e tristeza. A pessoa não é feita de pedra ou de madeira, e assim tudo aquilo que for deficiência deve ser evitado. Não seremos como Ele, até que este nada seja expulso, para que nos tomemos tudo no tudo, da mesma forma que Deus é tudo no tudo. A pessoa experimenta um duplo nascimento; um que é para o mundo, e outro que é para fora do mundo, para Deus, espiritual. Se quisemos saber se nossa criança nasceu, e se se encontra nu, se de fato se tornou Filho de Deus, então se nos lamentarmos no coração pelo que seja, até mesmo por causa do pecado, então nossa criança ainda não nasceu. Se nosso coração ainda experimenta dores, ainda não nos tornamos mães; mas estaremos nas dores do parto, e nossa hora se encontrará próxima. Então não fiquemos desalentados, se lamentarmos por nós, ou por nosso amigo, apesar de ainda não haver nascido, nossa hora estará quiçás (que pode ou não acontecer, de uma maneira possível; mas que não se tem certeza, talvez ou porventura) próximas. Mas a criança nasceu completamente quando o coração da pessoa por nada se lamenta; então a pessoa possui essência, natureza, substância, sabedoria, alegria, e tudo aquilo que Deus tem. Então o ser mesmo do Filho de Deus é nosso próprio, e dentro de nós se encontra, e nós alcançamos aquilo que Deus é em essência. Cristo disse: Mateus 16:24, Marcos 8:34 "Quem quiser me seguir, que negue a si mesmo, tome sua cruz e me siga". Isto é, atirar fora toda lamentação para que a alegria perpétua reine em nosso coração. É desta forma que a criança nasce. E se então a criança nasceu em mim, a visão de meus pais, e de todos meus amigos mortos bem em frente a mim, deixariam meu coração impassível. Pois se eu ficasse tocado com isto, a criança ainda não teria nascido em mim, apesar do nascimento poder se encontrar próximo. Eu digo que Deus e os anjos se alegram de tal forma em toda ação da pessoa boa, que não há alegria em toda boa ação que seja feita no mundo, que esta alegria se tornará permanente, e nunca mais mudará. Assim Ele diz: João 16:22 "Ninguém te tirará tua alegria". Se eu estiver de fato estabelecido na essência divina, então Deus, e tudo aquilo que ele tem, se tornarão meus. Portanto Ele diz: Êxodo 20:2 "Eu sou o Senhor teu Deus". Isto é, quando eu possuo a verdadeira alegria, quando nem a dor nem a tristeza podem tirar isto de mim, pois então eu me encontro estabelecido na essência divina, onde a tristeza não pode penetrar. Pois constatamos que em Deus não existe nem tristeza nem raiva, mas apenas amor e alegria. Apesar Dele parecer às vezes estar zangado com os pecadores, não se trata na verdade de zanga, mas de amor, pois que se origina no grande amor divino: aqueles que Ele ama Ele não poupa, pois Ele é amor, ou o Espírito Santo. E assim a zanga de Deus se origina no amor, pois Sua zanga é sem paixão. Desta forma quando você chegou a este ponto onde nada te cause lamentação, ou lhe seja duro, e onde a dor não é mais dor para você, onde tudo lhe seja alegria perfeita, então sua criança de fato nasceu. Lute pois para se assegurar que sua criança não seja apenas uma promessa, mas que nasça de fato, assim como em Deus o Filho está sempre nascendo e sendo concebido. Para que tal ocorra conosco, a tal nos ajude Deus. Amém." Beijo. Davi.

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