quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Não sendo Exteriorizado um Credo Específico ou Dogma.

Amigos leitores segue um exemplo que como estamos nos reunindo atualmente como cristãos. Essa é minha visão pessoal, não falo em nome dos demais que convivemos em nossos Encontros. Sendo essa digressão observações (hipótesse e teorias) feitas despretensiosamente, apenas para que vocês tenham uma ideia do ambiente espiritual em que estou inserido, e na prática como tenho coletivizado minha experiência dO Inefável. Os Encontros são sempre surpreendentes. Não dar pra saber o que vai acontecer e muito menos precisar os que estarão presentes. Isso aguça nossa curiosidade e aumenta a expectativa dos temas que serão examinados. Na minha opinião essa diversidade de formas (sem um modelo fixo) nos humaniza em nossa individualidade intelectual, tendo um ambiente mais adequado para expressarmos autenticamente o que pensamos sobre determinado assunto. Poderia surgir a pergunta: Essa idiossincrasia (particularidade de um indivíduo ou grupo de pessoas) é espiritualmente saudável? Uns diriam que não, aqueles que já estão metodicamente padronizados num esquemas de liturgia formal onde adoração, pregação, apelo e bênção apostólicas são elementos imprescindíveis no ritual cerimonial (dos cultos cristãos) para entrar em contato com o Deus dos teólogos institucionais. Outros falariam que é algo pouco convencional, até mesmo estranho quando se sabe que é praticado por um grupo de cristãos. Não sendo exteriorizado um credo específico ou dogma que fundamente os que estão inseridos no grupo. Essa característica confunde os que não tem costume de vivenciar situações como essa que fogem do rotineiro e habitual. Na verdade somos pessoas constantes quando mensurado padrões de comportamentos e relações sociais, sendo resistentes a modelos alternativos de convivências espirituais. Até nós que estamos participando dos Encontros, nos pegamos em pleno calor dos diálogos e experiências contatas pelos irmãos pensando: o que nossas reuniões tem haver com a adoração a Deus? Será que nosso "modernismo" espiritual ultrapassou o bom senso? Estamos num ambiente em que Deus realmente está presente? Outras perguntas talvez sejam levantadas pela fertilidade de nossa mente. Assim tentarei responder essas três indagações.. A primeira tem origem em nossa covardia e descomprometimento com o Mestre Interior que está representado pela nossa consciência. "E vós dentes a unção dos santos, e sabeis todas as coisas. E a unção que vós recebestes Dele, fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine, mas, como a sua unção vos ensina a respeito de todas as coisas, e é verdadeira, e não mentira, como ela vos ensinou, assim nele permanecereis". A unção dos santos, entendo como a Sabedoria Divina trazida pelos antigos sábios e Mestres Espirituais, perpetuadas nas correntes do pensamento antigo, medieval, moderno e contemporâneo. Essa unção de tradição mística formada nas civilização antigas chega a nós quando resolvemos pensar autonomamente, sem a interferência do "outro" que deseja nos influenciar, discipulando ou praticando o proselitismo com nossas opiniões e conceitos. Esse "outro" referido a pouco não é o nosso amigo e companheiro que caminha junto conosco na Senda Espiritual, participando de nossas vitórias e derrotas pelo percurso da vida, para alcançarmos a maioridade espiritual como é dito nas Escrituras: "Sede perfeito como é perfeito vosso Pai Celestial". Aqui não é dito para não ouvirmos o "outro" e nem recebermos sua fala através de suas experiências, mas singularizar o que você pensa sobre o determinado assunto que está sendo comentado. No bom senso usando seu tribunal (consciência) de argumentação você terá equilíbrio para balancear os conceitos mostrados tirando suas próprias conclusões sobre o tema. "Mas como a unção vos ensina a respeito de todas as coisas". Nosso dever para com a unção (Mestre Interior) é fazer a nossa parte, não nos enganando achando que os Mistérios dO Inefável nos virão sem um preço a pagar. Nada no mundo espiritual é casual ou acidental, tudo tem um objetivo e ocorre para alcançar resultados práticos a curto, médio ou longo prazo. Essa informidade (sem forma) dos Encontros é muito mais exigente que a formalidade dos rituais cerimoniais dos cultos tradicionais nas igrejas cristãs. Assim a unção só se manifestará se adquirirmos uma atitude positiva em relação ao ambiente de diálogo e conversação dos Encontros. Positiva aqui não necessariamente tomando a palavra em todos os Encontro, pois notório é que muitas vezes calado estamos mais compenetrados e atentos que falando. Também ocorre que nosso cotidiano é fortuitamente imprevisível, sendo que em determinadas situações não estamos bem psicologicamente. Na prática precisamos buscar em nossa interioridade a abertura com O Inefável, recebendo dele a instrução e modo de disciplinar nossa conduta. Recolhendo seu trabalhar na caminhada, "e porque estreita é a porta, e apertado o caminho que conduz à vida, e poucos há que o encontrem", cristã para uma completude de santidade e pureza reveladas na pessoa do Mestre de Sabedoria Jesus. Aqui percebemos um operar individual e consistente do discípulo que procura pelos seus meios e suas próprias características se modelar ao Mestre Interior (unção ou consciência) se agarrando as suas experiências particulares que constroem sua história pessoal e diferenciada. A segunda pergunta que fala do "modernismo" espiritual, revela o estereótipo padronizado, ainda presente em nossa consciência coletiva, formada nos tempos em que estávamos cercados e enredados em dogmas e ortodoxias. Presos as teias da teologia tradicional com seus princípios corporativos, desclassificando a individualidade humana e estreitando nossa busca pessoal pela espiritualidade transcendente. As "novidades" serão sempre mal vistas pelos preservadores do tradicionalismo histórico. Vivemos num secularismo de comodidades nos vários setores da sociedade. Na educação superior temos cursos alternativos de curta duração (dois anos) para conseguir rapidamente a graduação. Os fast food representam ignorantemente o ganhar tempo para as tarefas ordinárias do cotidiano. Outro exemplo vêm dos curso de idiomas, com tempos recordes de aprendizagem. Os que estão em sobre peso fazem dietas mirabolantes para emagrecer. Os exemplos acima ao final sabemos que não trarão nenhum benefício profissional ou fisiológico aqueles que se utilizam desses tipos de artifícios. Comparativamente o cristianismo ortodoxo (conservador) tem esse propósito, segundo entendo hoje de apressar a espiritualidade humana em seus conceitos e pressupostos. Como somos carentes física, psicológica e espiritualmente, não enxergamos que esse desenvolvimento coletivo forçado, com doutrinas exotéricas (ensinamentos públicos) incutem em nossa mente a transcendência do ser para um imaginário distante, e visivelmente ilusório. Ficamos impossibilitados de humanizarmos nosso cotidiano, modelando-o a uma espiritualidade forjada em dogmas doutrinários exclusivistas e intolerantes. Somos retirados das paisagens e dramas humanos para vivenciar mais o além futurista e impalpável. Essa ideia do milenarismo futurista nasceu numa famosa obra de Santo Agostinho (354-430) chamada Cidade de Deus. "Santo Agostinho nos fala sobre as duas cidades, a de Deus e a do homem. Na de Deus fundada sobre o amor de Deus levado ao desprezo de si próprio, e a dos homens, fundada sobre o amor próprio levado ao desprezo de Deus. Essas cidades foram embasadas no livro do Gênesis por Caim e Abel. Caim criando uma cidade na Terra, e Abel, que não criou nenhuma cidade na Terra mas fundou a celeste. Para Santo Agostinho, a primeira cidade está destinada a sofrer a pena eterna com o diabo e a segunda a reinar eternamente com Deus. Temos então dois personagens: o cidadão do mundo e o peregrino do céu. Encontramos portanto na cidade terrena duas formas, uma que ostenta sua presença, outra que é com a sua presença, imagem da cidade celeste. A natureza pervertida pelo pecado gera os cidadãos da cidade terrestre, e a graça, que liberta do pecado, gera os cidadãos da cidade celeste" Santo Agostinho é veemente em seu argumento inicial nessa obra. Com um tom incomplacente e assumindo sua erudição como autoridade, decreta que os que vivem no mundo sem Cristo são filhos do diabo. E nessa condição irão arder nas chamas do inferno pois são descendência de Caim, o primeiro homicida. Os que se converteram a fé cristã são de Deus descendentes de Abel, estando debaixo da misericórdia divina, destinados à pátria celestial. O conceito da morada eterna foi pensado pelo teólogo filósofo para fundamentar um dos pilares do cristianismo onde os bons terão delícias e gozo, os pecadores terão sofrimentos sem fim. Na perspectiva que vivo hoje essas palavras soam muito estranhas, desacredito que um Deus cheio de amor e graça seja capaz de lançar no inferno eterno aqueles que com atitudes morais virtuosas e capacidade de amar, só porque não tiveram um encontro com Cristo serão penalizados tão terrivelmente. Se existe inferno, coisa que não tenho certeza mais, o homem irá pra lá pelos seus próprios deméritos e vícios e não pela obrigação de receber a Cristo com seu Salvador. Caso o inferno seja verossimilhante, penso que não é eterno, sendo um lugar temporário onde  se pagarão dívidas (pecados) que não foram quitadas em nosso processo de vivencia humana. Terminado esse período de disciplina todos os que estão nessas "chamas infernais" retornarão à Casa Pai como é dito nas Sagradas Escrituras em Lucas 15: "Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai, e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e perante ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; faze-me como um dos teus jornaleiros. E, levantando-se, foi para seu pai; e, quando ainda estava longe, viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou. E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e perante ti, e já não sou digno de ser chamado teu filho. Mas o pai disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa; e vesti-lho, e ponde-lhe um anel no dedo, e alparcas nos pés. E trazei o bezerro cevado, e matai-o, e comamos, e alegremo-nos. Porque este meu filho estava morto, e reviveu, tinha-se perdido, e foi achado. E começaram a alegrar-se". Creio sim nesse pai cheio de amor e infinita compaixão e misericórdia para com todos os filhos que ele gerou. "Examinai tudo. Retende o bem. Abstende-vos de toda aparência do mal". Acho que nesse texto bíblico podemos inserir o bom senso, uma particularidade do discípulo onde ele soberanamente faz sua escolha, tomando sua decisão. Assumindo o risco do certo ou errado, julgando com sobriedade os prós e contras para efetuar o melhor que corresponderá a sua quietude interior e uma paz advinda do mesclar da alma humana com a alma divina. A terceira pergunta fala da presença de Deus. Um assunto que abordaremos sucintamente, pois daria uma digressão como tema. O cristianismo com seu modelo da pessoalidade de Deus, o confinou a limites no tempo e espaço. Imaginando que comparando Deus a atributos humanos facilitaria sua confirmação existencial, onde desde os mais simples do povo aos mais cultos, teriam acesso a essa informação com simplicidade em crer sem duvidar. Acontece que O Inefável é temporal e atemporal, incluído no espaço e fora dele. Enfim não temos como definir seu estado de Ser ou de Existir, pois ultrapassa nossa finitude racional e psicológica. Digamos que o princípio da pessoalidade divina seria um lado da verdade, o outro é que Ele, "Que chegou a vós, como está em todo o mundo, e já vai frutificando, como também entre vós, desde o dia em que ouvistes e conhecestes a graça de Deus em verdade", está em todo o mundo, se manifestando de várias formas e maneiras. A pessoalidade divina traz o inconveniente  da restrição passada para nós pelo ensinamento monoteísta mencionado na doutrina da Trindade Divina. Essa palavra é tão controversa no Cristianismo que as próprias religiões que a professam (as demais Judaísmo e Islamismo) não se entendem quanto a esse conceito. Por sinal uma noção "fantasma", pois nos dois (Antigo e Novo) Testamentos das Sagradas Escrituras não se encontram referido com todas as letras a palavra TRINDADE. Falo da etimologia do termo e não das evidências indutivas e dedutivas visivelmente reconhecido nas Escrituras, onde o ensino se fundamentou. Assim não é de se estranhar tanta confusão e incorreções quanto a essa doutrina exotérica. Mas é fato que as antigas tradições religiosas da humanidade têm suas trindades divinas, exemplo temos o Egito com Osíris, Ísis e Horús. Os Hindus com Bhrama, Vishnu e Shiva. Os Babilônios com Ninrod, Semirames e Tammuz e outros povos. Nesse contexto os estudiosos do esoterismo pensam que as tradições cristãs e judaicas copiaram muitos de seus ensinos sobre a trindade divina das tradições antigas orientais. "Cristo é tudo e em todos". Esse texto adjunto fala do princípio Crístico, a matéria viva e indestrutível manifesta em todas os seres dos vários reinos da natureza. O mistério da encarnação de Deus acoplado na humanidade de Jesus. Essa chispa divina, o Logos Eterno está presente em tudo desde uma pedra até um ser humano. Assim a ideia de Deus sendo o Criador e a Criação a meu ver seria mais coerente e melhor aplicável em nosso mundo físico e espiritual. Não O limitaríamos para tentar compreendê-lo, mas o aceitaríamos para continuar buscando penetrar nesse portal secreto, aberto aqueles que desejam contemplar O Inominado e O Insofismável. Portanto aqueles que pensam Deus expresso de vários modos e diferentes maneiras alcançam uma melhor compreensão do mistério de sua existência. Isso possibilita uma racionalidade dO Inefável individual e particularizada pelo discípulo, contrapondo ao conceito pré fixado e rotulado pela tradição teológica ocidental visto erroneamente  mais apropriado e indicado como método pela maioria dos cristãos. Concluo dizendo que nossos Encontros estão dentro daquilo que minha pessoalidade consegue experimentar e compreender, dando-me capacidade para ser eu, respeitando meus irmãos como eles são, independente de condição social, conhecimento intelectual ou vivência espiritual. Nessa perspectiva temos um ambiente de crescimento diferenciado onde esse trabalhar da Divindade Perene em todos, converge para nossa completude coletiva. Abraço. Davi.

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