quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Cristianismo Pagão. Liturgia. A Realidade das Manhãs Dominicais. Parte II.

Continuamos transcrevendo o livro Cristianismo Pagão. A Realidade das Manhãs Dominicais. Na medida em que o Calvinismo se espalhou por toda Europa, a liturgia de Calvino passou a ser adotada na maioria das maioria das igrejas protestantes. Foi transplantada e adotada em vários países. Ficou assim: Oração. Anúncio. Música (Salmos). Oração (pedir ajuda do Espírito para abençoar a pregação). Sermão. Coleta de dinheiro. Oração geral. Comunhão (em dias específicos) enquanto se canta. Salmos. Benção final (Despedida). Percebe-se que Calvino buscou modelar sua liturgia seguindo o modelo dos pais da Igreja Primitiva, especialmente os que viveram entre os séculos III VII. Isto explica sua falta de clareza sobre o caráter das reuniões da igreja do século I. Os pais da igreja entre os séculos III e VII foram bem litúrgicos, impetuosos e ritualistas. Não tinham a simplicidade do cristianismo do século I. Eram mais teóricos do que praticantes. Em outras palavras, os pais da igreja daquele período representaram o nascente catolicismo (atual). Foi de lá que Calvino retirou seu principal modelo para restabelecer uma nova liturgia! Não é por acaso que a chamada "Reforma" produziu bem pouca reforma em termos da prática da Igreja. Esse também foi o caso de Lutero no que diz respeito à sua ordem de adoração, a liturgia da igreja reformada "não intentou mudar as estruturas da liturgia oficial (católica), ela procurou manter a velha liturgia enquanto cultivava devoções extra litúrgicas. A contribuição dos Puritanos. Os Puritanos foram os Calvinistas da Inglaterra. Eles adotaram um rigoroso biblicismo e aderiram a uma estrita liturgia do Novo Testamento. Os Puritanos sentiram que a ordem de adoração de Calvino não era suficientemente bíblica. Por conseguinte, quando os pastores proclamam coisas como "fazer tudo conforme a Palavra de Deus", eles ecoam sentimentos puritanos. Mas o esforço puritano em restaurar a reunião neo testamentária da igreja fracassou dramaticamente. O abandono das vestes clericais, ídolos, ornamentos e o clero escrevendo seus próprios sermões (em vez de ler homilias) foi uma contribuição positiva que os puritanos nos legaram. Não obstante, por sua ênfase à oração espontânea, os puritanos também nos legaram a extensa "oração pastoral" que precede ao sermão. Uma oração pastoral do culto dominical matutino poderia durar facilmente uma hora ou mais! O sermão alcançou seu apogeu com os Puritanos Americanos. Eles sentiram que era algo quase sobrenatural. Eles chegavam a castigar os membros da congregação que faltavam ao sermão dominical matutino! Os residentes da Nova Inglaterra que faltavam ao culto dominical eram multados ou presos no tronco! Na próxima vez que seu pastor lhe ameaçar com a ira desenfreada de Deus por faltar ao culto, (não se esqueça de agradecer aos puritanos). Vale a pena notar que em algumas igrejas dos Puritanos, aos leigos era permitido falar ao final do culto. Imediatamente depois do sermão, o pastor se sentava e passava a responder perguntas da congregação. À congregação também era permitido dar testemunhos. Mas, com a vinda do Evangelismo Fronteiriço, esta prática se desvaneceu, e nunca mais foi adotada pelas principais correntes do cristianismo. Em suma, a contribuição Puritana na formação da liturgia protestante não resultou em libertar o povo de Deus para que este funcionasse sob a direção de Cristo. Como as reformas litúrgicas anteriores, a ordem Puritana de adoração era altamente previsível. Era escrita em seus mínimos detalhes e seguida uniformemente em cada igreja. Veja a liturgia Puritana abaixo. Compare-a com as liturgias de Lutero e Calvino, note como as características principais não mudaram: Chamado à adoração. Oração de abertura. Leitura bíblica. Cantar Salmos. Oração antes do Sermão. Sermão. Oração depois do Sermão. (Quando se observa a comunhão, o ministro exorta à congregação, abençoa o pão e o vinho, e os distribui à congregação). Com o tempo os Puritanos engendraram suas próprias "denominações". Algumas fizeram parte da tradição da "Igreja Livre". As igrejas livres criaram o que se chamava "hinos sandwiche". Veja como ficou: Hinos. Leitura bíblica. Música coral. Orações em uníssono. Oração pastoral. Sermão. Oferenda. Benção (despedida). Vê algo familiar? Asseguro-lhe, que não encontrará nada disso no Novo Testamento. As contribuições dos Metodistas e do Evangelismo Fronteiriço. Os Metodistas do século XVIII proporcionaram uma dimensão emocional à ordem de adoração protestante. A congregação foi convidada a cantar com força, vigor e fervor. Desta maneira, os Metodistas foram os precursores dos Pentecostais. Os Metodistas seguiram os Puritanos no que se refere a incluir a oração pastoral antes do sermão dominical. As orações dos clérigos metodistas eram dolorosamente extensas e universais em seu alcance. Incluíam todo tipo de oração, que iam desde a confissão, intercessão, até o agradecimento. Tudo isso era oferecido em inglês elisabetano, ou seja: Thee, Thou, Thy, etc. Ainda hoje, no século XXI, a oração pastoral elisabetana continua vivendo e respirando. Em nossos dias, grande quantidade de pastores ainda ora com aquela linguagem articulada, afetada, embora tal dialeto tenha morrido a mais de 400 anos"Por quê? Pelo poder irrefletido da tradição. Os Metodistas também popularizaram o culto de adoração aos domingos pela noite. O descobrimento da Lâmpada  a gás permitiu a João Wesley (1703-1791). tornar esta inovação popular. Hoje, muitas igrejas protestantes têm um culto dominical pela noite, embora a assistência seja geralmente baixa. Os séculos XVIII e XIX trouxeram novidades para o protestantismo americano. Foi quando surgiram os populares cultos do Evangelismo Fronteiriço estadunidenses. Durante estes séculos, estes cultos influenciaram grandemente a ordem de adoração em muitas igrejas. Eventualmente, estes foram injetados nas principais correntes do Protestantismo estadunidense. Vejamos as mudanças resultantes dos Revivalistas Fronteiriços. Primeiramente, os evangelistas fronteiriços alteraram a meta da pregação. Sua meta exclusiva era a conversão de almas. Dentro da cabeça do evangelista, não havia outra coisa no plano de Deus a não ser a salvação. Esta ênfase teve sua origem na pregação inovadora de George Whitefield (1714-1770). Whitefield foi o primeiro evangelista moderno a pregar ao povo ao ar livre. Ele deslocou a ênfase da pregação do plano de Deus para a Igreja, para a pregação do plano de Deus para o indivíduo. A noção popular de que "Deus ama você e tem um plano maravilhoso para sua vida" foi introduzida por Whiterfield. Em segundo lugar, a música do evangelho fronteiriço falava à alma e visava propiciar uma resposta emocional à mensagem da salvação. Todos os evangelistas famosos tinham músicos em sua equipe justamente para este propósito. A adoração passou a ser um espetáculo. Esta mudança de ênfase foi adotada pelos Metodistas, e começou a penetrar em muitas outras subculturas protestantes. Seguindo a trilha dos revivalistas, o culto metodista passou a ser o meio para obter o fim. A finalidade do culto já não era mais a simples adoração a Deus, os crentes foram instruídos a ganhar novos crentes individuais. Os sermões abandonaram a temática da "vida real" para proclamar o evangelho ao perdido. Toda humanidade foi dividida em dois desesperados campos polarizados: perdido ou salvo, convertido ou incrédulo, regenerado ou condenado. A teologia do revivalismo não demonstrava uma compreensão do propósito eterno de Deus nem de seu Plano para com a Igreja. Os cânticos metodistas foram desenhados para amolecer os corações duros dos pecadores. A poesia começou a refletir tanto a experiência individual de salvação como o testemunho pessoal. Charles Wesley (1707-1788) é tido como o primeiro a escrever hinos de apelo. Os pastores que dirigem seus sermões dominicais pela manhã exclusivamente para ganhar os perdidos refletem a influência revivaliesta. Esta influência penetrou na maioria dos evangelistas da televisão e do rádio. Muitas igrejas protestantes (não somente Pentecostal, e Carismática) iniciam seus cultos com calorosos cânticos para preparar as pessoas para o sermão emocional dirigido aos perdidos. Mas poucos sabem que esta tradição começou com os evangelistas fronteiriços há pouco mais de um século. Em terceiro lugar, os Metodistas e os Evangelistas Fronteiriços deram luz ao "apelo". Esta novidade começou com os Metodistas no século XVIII. Esta prática de convidar pessoas que desejam orações a colocar-se de pé e vir à frente para recebe-las surgiu de um evangelista Metodista chamado Lorenzo Dow Baker. Mais tarde, em 1807 na Inglaterra, os metodistas criaram o "banco de penitentes". Agora, os pecadores ansiosos tinham um local para confessar seus pecados ao serem convidados para vir à frente. Este método chegou aos Estados Unidos dentro de poucos anos. Carlos Finney (1792-1872) nomeou este banco de "banco de penitentes" O "banco de penitentes" localiza-se defronte ao lugar onde os pregadores se postavam na plataforma. Ali tanto pecadores como santos carentes eram convidados a ir à frente para receber as orações do ministro. Finney elevou o "apelo ao altar" ao nível de uma obra de arte. Seu método consistia em pedir àqueles que queriam ser salvos para que se levantassem e fossem à frente. Finney tomou esse método tão popular que após 1835, chegou a ser um elemento indispensável no moderno reavivamento. Mais tarde Finney abandonou o banco de penitentes e passou simplesmente a convidar o pecador para ir a frente e ajoelhar-se diante da plataforma para receber a Cristo. Além da popularização do apelo, também se atribui a Finney a invenção da prática de orar nominalmente pelas pessoas e mobilizar grupos de obreiros para fazer visitas nas casas. Além dos cultos rotineiros da igreja ele efetuava outros cultos especiais à noite durante todos os dias da semana. Com o tempo, esse "banco de penitentes" dos encontros nos acampamentos foi substituído pelo "altar" no salão da igreja. O "caminho de serragem" usado nos acampamentos deu lugar ao corredor da igreja. Assim, pois, surgiu o famoso "apelo ao altar". Talvez o elemento mais dominante proporcionado por Finney ao moderno cristianismo foi o pragmatismo. Por pragmatismo quero dizer a crença de que se algo funciona ou dá resultados, então deve ser apoiado ou aceito. Finney acreditava que o Novo Testamento não ensinava nenhuma forma determinada de adoração. Ele ensinava que o único propósito da pregação é ganhar almas. Qualquer mecanismo que ajudasse atingir esta meta poderia ser aceito. Sob Finney, o evangelismo do século XVIII se converteu em uma ciència e foi integrado à corrente principal das igrejas. O cristianismo moderno nunca se recuperou desta ideologia anti espiritual. É o pragmatismo, não a Bíblia ou a espiritualidade, que governa as atividades da maioria das igrejas modernas, (posteriormente as igrejas atentas aos seus "índices de audiência" foram além de Finney). O pragnatismo é daninho porque ensina que "os fins justificam os meios". Se o fim é considerado "santo", qualquer "meio" é válido. Por estas razões Charles Finney é aclamado como "o reformador litúrgico mais influente na história dos Estados Unidos". Do ponto de vista protestante, é necessário que a doutrina esteja rigorosamente de acordo com as Escrituras para poder ser aceita. Mas pela prática da igreja, tudo é válido desde que resulte em novas conversões! Em todos os aspectos, o Evangelismo Fronteiriço Americano converteu a igreja em um ponto de pregação. Restringindo a experiência da ekklesia a uma missão evangelística. Isto normatizou os métodos revivalísticos de Finney e criou personalidades do púlpito como a atração dominante. A igreja passou a ser uma questão de preferência individual em vez de ser uma questão coletiva. Em outras palavras, a meta dos Evangelismo Fronteiriço era levar pecadores individualmente a uma decisão individual por uma fé individualista. Como resultado, a meta da Igreja Primitiva, a edificação mútua e o funcionamento de cada membro manifestando Jesus Cristo coletivamente diante dos principados e potestades, perdeu-se completamente. Ironicamente, João Wesley, um dos primeiros reavivalistas, compreendeu os perigos do movimento reavivalista. Ele escreveu que "o cristianismo é essencialmente uma religião social ( ... ) transformá-lo em uma religião solitária é certamente sua destruição". O último tempero que o Revivalismo Fronteiriço agregou à liturgia protestante foi fazer o "apelo ao altar" após um hino. Esta é a liturgia que domina o protestantismo estadunidense hoje. Surpreendentemente, a liturgia pouco mudou desde a invenção da Missa Alemã por Lutero há quatro séculos atrás. Com a invenção do clichê multicopista de Alberto Blake Dick (1856-1934), a liturgia passou a ser impressa em boletins. Foi assim que nasceu o famoso "Boletim Matinal Dominical!". Continuamos na parte III. Abraço. Davi.

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