sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Cristianismo Pagão. Liturgia. A Realidade das Manhãs Dominicais. Parte III.

A Tremenda Influência de D. L. Moody. As sementes do "evangelho revivalista" foram espalhadas através do mundo ocidental pela gigantesca influência de D. L. Moody (1837-1899). O evangelho de Moody, como de Whitefield tinha apenas um ponto central, a salvação do pecador. Todos os demais fins eram secundários. A técnica da pregação de Moody foi centrada neste único interesse. Ele inventou o solo após o sermão do pastor. O cântico do apelo era entoado por um solista até que George Beverly Shea (1909-2013) sugeriu que fosse cantado pelo coral. Shea encorajou Billy Graham (1918-    ) de utilizar um coral para cantar hinos como "Eu venho como estou" enquanto as pessoas iam à frente para aceitar a Cristo. Moody nos deu o testemunho porta em porta, anúncios e campanhas evangelísticas. Ele deu-nos o cântico de evangelização ou hino evangelístico. Ele também popularizou o cartão de decisão, uma invençao de Absalom B. Earle (1812-1895). Adicionalmente, Moody foi o primeiro a pedir ao que queria ser salvo para colocar-se em pé e deixar-se conduzir em uma "Oração do Pecador". Cinquenta anos depois, Billy Graham melhorou a técnica de Moody introduzindo a prática de pedir ao ouvinte para baixar a cabeça, fechar os olhos (sem olhar nada em volta), e levantar as mãos como resposta à mensagem salvadora. (Todos estes métodos têm enfrentado uma furiosa oposição por parte daqueles que acreditam que tais procedimentos são psicologicamente manipuladores). Para Moody, a igreja era simplesmente uma associação voluntária para os salvos. A influência exercida por Moody foi tão assombrosa que em 1874 poder-se-ia dizer que a igreja não era "um grande organismo coletivo", mas apenas uma "agremiação de indivíduos". Esta ênfase foi adotada por todos os revivalistas que o seguiram. Isto eventualmente entrou na medula e nos ossos do cristianismo evangélico. Também vale notar que Moody foi grandemente influenciado pelo ensino dos Irmãos de Plymouth quanto à escatologia (final dos tempos). Esta tratava da iminente vinda de Cristo antes da grande tribulação. (Este ensino também é chamado de "tempos decretados divinamente" e conhecido como pré tribulação. O tempo da pré tribulação deu origem à ideia de que os cristãos necessitam salvar muitas almas o mais rápido possível, antes do fim do mundo. Com a fundação do Movimento Estudantil voluntário por João Mott (1865-1955) em 1888, surgiu uma ideia correlata: "evangelizar o mundo dentro de uma geração". A consigna "dentro de uma geração" ainda vive e respira hoje na igreja moderna. Contudo, isso não se encaixa bem com a mentalidade dos cristãos do século I. A contribuição Pentecostal. Inaugurado por volta de 1906, o movimento Pentecostal deu-nos uma expressão mais emotiva através dos cânticos entoados pela congregação. Estes incluíam mãos levantadas, danças entre os bancos, bater palmas, falar em línguas estranhas e o uso de pandeiros. A expressão Pentecostal soava bem com sua ênfase sobre a função extasiante do Espírito Santo. O que poucas pessoas sabem é que suprimidas as características emotivas do culto Pentecostal, surge algo idêntico à liturgia batista. Assim, pois, não importa quão fortemente o Pentecostal afirme que ele está seguindo o modelo do Novo Testamento, o Pentecostal e o Carismatismo seguem a mesma liturgia como fazem os demais protestantes. Um Pentecostal meramente tem mais espaço para mover-se ao derredor de seu assento! Outra característica interessante da adoração Pentecostal ocorre durante o tempo da música. Às vezes a música é pontuada por uma ocasional expressão em línguas, uma interpretação de línguas, ou uma palavra de "profecia". Mas tais expressões não duram mais que um ou dois minutos. O fato é que tal forma comprimida de participação aberta não pode receber o nome de "ministério coletivo". A tradição Pentecostal também nos deu a música do solista e a música coral (muitas vezes descrita como "música especial" que acompanha a oferta. Como em todas as igrejas protestantes, o sermão é o ponto culminante da reunião Pentecostal. Todavia, na diversidade da igreja Pentecostal, o pastor às vezes sentirá "o movimento do Espírito". Nesse caso, ele adia seu sermão para o próximo domingo. Então, a congregação cantará e orará durante o resto do culto. Para o Pentcostal, isto representa o auge de um grande culto na igreja. A maneira como reportam os cultos especiais é fascinante. Os membros tipicamente descrevem esta ruptura da liturgia normal dizendo: "o Espírito Santo  dirigiu nossa reunião esta semana. O Pastor buxman não teve a oportunidade de pregar". É interessante que ninguém ousa perguntar: "mas o Espírito Santo não precisa dirigir todas nossas reuniões?". Mesmo assim, pelo fato de haver nascido no resplendor crepuscular do Evangelismo Fronteiriço, a adoração Pentecostal é altamente subjetiva e individualista. Na mente do Pentecostal, a adoração a Deus não é um assunto coletivo (o corpo da igreja), mas uma experiência individual (o membro da igreja). Com a penetrante influência do movimento carismático, esta obsessão de adoração individualista infiltrou-se na grande maioria das tradições protestantes. Muitos Ajustes, Nenhuma Mudança vital. Nosso estudo da história litúrgica dos Luteranos, Reformadores e Puritanos (século XVI), Metodistas (século XVIII e XIX), e  o Pentecostalismo (século XX) descobre um ponto indiscutível. Durante os últimos 500 anos, a ordem de adoração (liturgia) protestante permaneceu quase que praticamente inalterada. No fundo, todas as tradições  protestantes partilham as mesmas características trágicas em sua liturgia: elas são celebradas e dirigidas por um clérigo, o sermão é a parte central, os membros são passivos e não tem permissão para ministrar. Os reformadores fizeram muitas alterações na teologia do Catolicismo Romano. Mas, em termos de prática real, eles fizeram quase nada com relação ao aspecto litúrgico. Apesar dos muitos tipos de igrejas protestantes surgidos no contexto da história da igreja, a ordem de adoração dominical continua a ser gravada na pedra. Resultado: o povo de Deus nunca consegue se livrar da camisa de força herdada do Catolicismo Romano! A Reforma executou bem poucas mudanças na estrutura da Missa Católica. Como disse um autor, "os reformadores aceitaram substancialmente, o antigo modelo de adoração católica. As estruturas básicas de seus cultos foram praticamente adotadas da ordem Medieval. Os Reformadores produziram uma tímida reforma da liturgia católica. Sua principal contribuição foi a mudança do enfoque central. Nas palavras de um erudito: "o Catolicismo seguiu o caminho dos cultos "pagãos". tomando o ritual como elemento central de suas atividades, enquanto que o protestantismo seguiu o caminho da sinagoga ao colocar  o livro (a Bíblia) no centro de seus cultos". Lamentavelmente, nem o Catolicismo nem o Protestantismo tiveram êxito em colocar Jesus Cristo no centro de suas reuniões. Sim, o livro, substituiu a Eucaristia, e o pastor substituiu o sacerdote. Portanto, em ambos os casos há um homem dirigindo o povo de Deus, deixando-o na condição de espectador mudo. A centralidade do Autor do livro nunca foi tampouco reposta em seu devido lugar. Assim, os reformadores falharam dramaticamente em assinalar o ponto nevrálgico do problema original: uma adoração dirigida pelo clero e assistida pelo leigo passivo. Então, não é surpreendente o reformador ver a si mesmo como católico reformado. Que Há de Errado Nesse Quadro? Naturalmente, é lastimoso que a liturgia protestante não tenha se originado como o Senhor Jesus, os Apóstolos, nem com as Escrituras do Novo Testamento. Esse fato, por si só, não significa que tal ordem esteja equivocada. Simplesmente significa que não tem base bíblica. O uso de cadeiras e grossos tapetes tampouco têm apoio bíblico. Ambos foram inventados pelos "pagãos". Mas quem disse que sentar em uma cadeira ou utilizar grossos tapetes é "ruim" pelo simples fato de ser uma invenção pós bíblica dos "pagãos"? A realidade é que muitas coisas que fazemos em nossa cultura trem raízes "pagãs". Considere  nosso calendário. Os nomes dias da semana e dos meses do ano são homenagens a deuses "pagãos". Mas o uso do calendário não torna ninguém "pagão". Todavia, a liturgia dominical é uma questão distinta. Aparte de ser anti bíblica e altamente influenciada pelo "paganismo" (o oposto do que se prega de cima do púlpito), ela é espiritualmente daninha. Primeiramente, a liturgia protestante reprime a participação mútua e o crescimento da comunidade cristã. Isto provoca um estrangulamento no funcionamento do Corpo de Cristo por calar seus membros. Em absoluto, não há espaço para que você dê uma palavra de exortação, compatilhe uma descoberta, inicie ou introduza um cântico, ou dirija uma oração espontaneamente. Você é obrigado a ser um dono de assento, mudo e sério! Como qualquer miserável "leigo", você pode abrir sua boca durante os cânticos da congregação. (Caso você seja Pentecostal ou Carismático, você pode deixar fluir uma expressão de êxtase por um minuto. Mas depois tem que se sentar e ficar calado). Embora seja bíblico compartilhar abertamente de uma reunião da igreja, você estaria rompendo a liturgia caso tentasse fazer algo tão ultrajante! Logo seria considerado "fora da ordem" e lhe diram, comporte-se ou fora! Em segundo lugar, a ordem protestante de adoração estrangula a direção de Jesus Cristo! O culto inteiro é dirigido por um homem. Onde está a liberdade para que nosso Senhor Jesus fale através de Seu Corpo a qualquer momento? De que forma, na liturgia, Deus poderá dar a um irmão ou irmã uma palavra para compartilhar com toda congregação? A ordem de adoração não permite tal coisa. Jesus Cristo não tem a liberdade de expressar, através de Seu Corpo, Sua Direção. Ele é mantido cativo por nossa liturgia! Ele também é transformado em um espectador passivo! Naturalmente, talvez Cristo possa expressar-se através de um ou dos dois membros da igreja, usualmente o pastor e o músico principal. Mas esta é uma expressão bem limitada. O Senhor está impedido de manifestar-se através dos outros membros do Corpo. Por conseguinte, a liturgia protestante deforma o Corpo de Cristo tornando-o monstruoso. O Corpo de Cristo fica com uma  língua gigantesca (o pastor) e um montão de pequeninos ouvidos (a congregação)! Isto viola a visão de Paulo do Corpo de Cristo onde cada membro funciona na reunião da igreja pelo bem comum. Terceiro, para muitos cristãos, o culto dominical é extremamente chato. É sempre a mesma ladainha sem nenhuma espontaneidade. É altamente previsível, bem superficial, e completamente mecânico. Há pouco ar fresco ou inovação. A ordem da adoração dominical é um violino de apenas uma corda que permanec congelado pela imobilidade por cinco séculos. É o mesmo "espetáculo" a cada semana. Dito sem rodeios, a liturgia personifica o poder ambíguo da rotina. E a rotina se degrada em hábito. O qual se converte  em cansaço. Enfim, algo insalubre e sem sentido. Igrejas atentas ao seu "índice de audiência" tem reconhecido a natureza estéril do culto moderno. Como resposta, elas incorporaram uma grande quantidade de media e modernizações teatrais na liturgia. O argumento que utilizam é que estão promovendo a adoração aos que não são membros. Utilizando o que há de mais moderno em tecnologia eletrônica, tais igrejas têm obtido êxito em inflar a massa. Como resultado, elas acabaram angariando a maior parcela do mercado (da fé) mais que toda tradição protestante na América do Norte. Contudo, apesar do entretenimento, até mesmo o movimento das igrejas que atuam em função de seus "indicadores" não conseguiu livrar-se da pró - forma litúrgica protestante, imóvel, sem imaginação, sem criatividade, inflexível, ritualista, sem sentido. O culto, portanto, continua cativo  pelo pastor, o tripé (sermão, hino e apelo) permanece intacto, e a congregação prossegue na condição de espectadora muda (só que agora está mais entretida nesta condição). Quarto , a liturgia protestante, que você observa (ou aguenta) a cada domingo, ano após ano, na realidade dificulta a transformação espiritual. Isto se deve a três fatores: 1) estimula a passividade, 2) limita o funcionamento, e 3) implica que investir uma hora por semana é o segredo da vida cristã vitoriosa. Cada domingo você assiste ao culto para ser atendido, enfaicado e reconduzido, como todos os demais soldados náufragos. Todavia, isso nunca se realiza. A razão é bem simples. O Novo Testamento nunca relata esse tempo que cada um de nós passa sentado em um ritual calcificado, que nós mal etiquetamos como "igreja", como algo que tenha algo a ver com transformação espiritual. Crescemos quando funcionamos não quando olhamos e escutamos sentados passivamente. O fato é que a liturgia protestante é anti bíblica, impraticável e anti espiritual. Não há nada semelhante a isso no Novo Testamento. Contudo, suas raízes são encontradas na cultua do homem decaído. Esta liturgia dilacera o coração do cristianismo primitivo que era informal e livre de rituais. Cinco séculos depois da Reforma, a ordem de adoração protestante pouco difere da Missa Católica, um ritual religioso composto pela fusão de elementos "pagãos" com elementos judaicos. Como disse um perito: "a história da adoração cristã é a história de concessões mútuas entre culto e cultura. Na medida em que o evangelho era pregado em diferentes tempos e lugares, os missionários trouxeram consigo formas e estilos de adoração que aprenderam e com os quais estavam familiarizados. Como resultado, as práticas dos populares cultos místicos às vezes acabaram sendo adotadas pela igreja. Em meu livro Repensando o Odre, descrevo uma reunião da igreja ao estilo do século I. Não sou nenhum liturgista estrategista de café. O que escrevo concernente às reuniões abertas sob a direção de Cristo não é uma teoria imaginária. Tenho participado em tais reuniões nos últimos quinze ano. Tais reuniões são marcadas por uma incrível variedade. Estas não são ligadas a um homem, em a um modelo de adoração dominada pelo púlpito. Há ma grande quantidade de espontaneidade, criatividade, e frescor. A chancela mais notável destas reuniões é a direção visível de Cristo e o funcionamento livre e ordenado do Corpo de Cristo. Em suma, o Novo Testamento não silencia com respeito a como nós, cristãos, devemos nos reunir. Devemos, portanto, optar pela tradição do homem quando esta é claramente contrária à vontade de Deus para sua Igreja? Devemos continuar a arruinar o funcionamento da Direção de Cristo defendendo as tradições do homem? Ficar dramaticamente longe deste ritual dominical matutino é a única maneira de descongelar o povo de Deus. A outra opção seria submeter-se à terrível condenação: "vocês abandonaram o mandamento de Deus para seguir as tradições dos homens". Finalizo com alguns comentários quanto a esse assunto, mas deixo claro que os leitores são responsáveis pela sua decisão de permanecerem onde estão, ou tomarem seus próprios caminhos na busca da evolução espiritual, considerando seu percurso histórico até o presente e julgando os prós e contras de uma determinação desse tipo. Parece ser este o argumento (chamada a um novo alvorecer) usado por Frank Viola em seus capítulos iniciais do livro, Cristianismo Pagão. Em nenhum Frank Viola prega uma cruzada (Jihad) contra o modus operandis do cristianismo atual e nem sugere sua ruína, mas propõe um caminho alternativo, aberto e livre para se viver a nossa espiritualidade. Confesso a vocês que não me reúno numa instituição religiosa faz aproximadamente quatro anos. E tenho inclusive a data de quando isso sucedeu (minha saída) sendo no dia 10 de outubro de 2010. Talvez futuramente faça uma narrativa de  como isso ocorreu e as implicações causadas dessa decisão. Acho que no momento é só isso que posso falar, pois do contrário os influenciaria com meu testemunho (inoportuno) fora de tempo. Apenas para ilustrar, esse livro teve uma importância fundamental no processo de minha trajetória pós sistematização religiosa. Também outras experiência nortearam essa determinação que a princípio é um radicalismo, evidentemente necessário, para assumirmos um compromisso com a individualização de nossa capacidade de desenvolvermos uma busca espiritual criando nossos próprios paradigma de fé. Abandonando o dogmatismo e as crendices espirituais, firmando nossa fé na razão e valorizando nossas opiniões como ponto de partida para sermos humanizados e "desespiritualizados". Aprendemos com a teologia tradicional a viver com os olhos voltados para um futuro distantes e anatingível. Investimos grande parte de nossa vida nesse projeto, esquecendo-nos que precisamos singular o presente, o aqui e o agora. Penso que chegou o momento de invertermos esse processo pela humanização de nossos conceitos, dando nova forma à nossa espiritualidade num cotidiano presente, onde sejamos a "centralidade" com a indestrutível e irremovível substância Crística Deificada que se manifesta em nossa individualidade. Assim teremos condições de expressar a Divindade Universal que estar presente em seu elemento primordial em todos os homens, todos os seres e em todos os reinos da natureza. Abraço. Davi.

Nenhum comentário:

Postar um comentário