sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Cristianismo Pagão. Sermão a Vaca Mais Sagrada do Protestantismo.


Agora chegamos ao Sermão, uma das práticas mais sacrossantas. Elimine o sermão, e a liturgia protestante chega a ser nada mais que um show musical. Elimine o sermão e a assistência do culto dominical matutino cai para um dígito. O sermão é a base da liturgia protestante. Por 500 anos, vem funcionando como um relógio. Cada domingo pela manhã, o pastor sobe ao púlpito e profere uma inspiradora pregação a uma audiência passiva que esquenta os bancos. A razão pela qual a maioria dos cristãos vai à igreja é pela importância do sermão. De fato, o culto como um todo é tipicamente julgado pela importância do sermão. Pergunte a alguém como foi o culto do domingo e quase sempre receberá uma descrição do sermão. Soa algo como o seguinte: Pergunta: “Como foi o culto do domingo passado?” Resposta: “Foi maravilhoso. O Pastor Peckman falou-nos da importância de plantarmos‘sementes da fé’ para aumentar nossa renda; foi tremendo. Me motivou a dar todo meu salário no domingo próximo”. Em suma, o conceito do cristianismo moderno relaciona o sermão ao culto dominical matutino. Mas isso não para por aí. A maioria dos cristãos é simpatizante do sermão. Eles vão à igreja como baldes vazios esperando que os pregadores os encham com mensagens de ânimo. Para o cristão típico, o sermão é a principal provisão de sustento espiritual. É mais importante que a oração, a leitura bíblica e a confraternização entre os irmãos. E, sejamos honestos, é ainda mais importante que a comunhão com Jesus Cristo (pelo menos na prática!). Elimine o sermão e você eliminará a fonte mais importante de nutrição espiritual para a maioria dos crentes. Todavia, a surpreendente realidade é que o sermão não tem raiz nas Escrituras! Melhor dizendo, oriundo da cultura pagã, ele foi adotado e nutrido pela fé cristã. Esta é uma declaração alarmante. É verdade? Mas há mais. O sermão, que tem pouco a ver com o genuíno crescimento espiritual, na realidade elimina o propósito que Deus desenhou com relação à reunião da Igreja. Comprovarei estas palavras dentro deste capítulo. Às vezes a frequência cai por causa do sermão... caso ele seja enfadonho. “Nada é mais característico no protestantismo do que a importância atribuída à pregação”. H. Richard Niebuhr and Daniel D.Williams, The Ministry in Historical Perspectives (San Francisco: Harper and Row Publishers, 1956). O serviço da Igreja Protestante na França é chamado de aller! a sermon (Protestant Worship: Traditions in Transition (Louisville: Westminster/John Knox Press, 1989). O Sermão e a Bíblia. Alguém que acompanha o que acabo de escrever responderá sem duvidar: “Há pessoas pregando ao longo de toda Bíblia. Portanto, o sermão é bíblico!”.  As Escrituras registram homens e mulheres pregando. Todavia, há uma grande diferença entre a pregação inspirada pelo Espírito, descrita na Bíblia, e o moderno sermão. Esta diferença quase sempre passa por alto porque fomos condicionados a não nos importarmos. Em vez de ajustarmos nossas práticas à Bíblia, lemos a Bíblia visando ajustá-la às nossas práticas. Então, equivocadamente, aceitamos o púlpito como algo bíblico. Vamos analisar isso mais de perto. O moderno sermão cristão tem as seguintes características: É uma ocorrência regular, proferido de cima do púlpito, pelo menos uma vez por semana. É proferido quase sempre pela mesma pessoa, tipicamente pelo pastor.
É ministrado a uma audiência passiva; é essencialmente um monólogo.
É uma forma de falar culta, que possui uma estrutura específica. Tipicamente, contem uma introdução, de três a cinco pontos e uma conclusão. Contraste isto com o tipo de prédica mencionada na Bíblia. No AT, os homens de Deus pregavam e ensinavam. Mas sua falação não se encaixa com o sermão moderno. Aqui vão as características das pregações e ensinos do Antigo Testamento:
Uma participação ativa e interrupções por parte da audiência eram comuns.
Eles falavam coisas que incomodavam os ouvintes abordando uma temática atual, em vez de
apresentar um documento ou anotações rabiscadas em um papel. Não há indicação que os profetas ou sacerdotes do Antigo Testamento proferissem discursos ou mensagens regulares para o povo de Deus. Além disso, a natureza das pregações do Antigo Testamento era esporádica, fluida e aberta à participação da audiência. A pregação da sinagoga antiga seguiu um modelo similar. Vamos agora ao Novo Testamento. O Senhor Jesus não pregava um sermão regular à mesma audiência. Sua prédica e ensino consistiam de muitos formatos. Ele passava suas mensagens a muitas e diferentes audiências. (Certamente Ele compartilhou a maior parte de seus ensinos com os discípulos. Todavia, as mensagens que Ele compartilhou com eles foram consistentemente espontâneas e informais). Seguindo o mesmo modelo, a pregação apostólica  registrada em Atos dos Apóstolos possui as seguintes características: Foi esporádica. Foi proferida em ocasiões especiais para tratar de problemas específicos. Foi extemporânea e sem estrutura retórica. Foi na maioria dos casos um diálogo (incluía debates e interrupções por parte da audiência) em vez de um mero monólogo (apenas um sentido).
Ocasionalmente, o pastor convida outros oradores que são normalmente outros ministros profissionais.  David C. Norrington, To Preach or Not to Preach? The Church’s Urgent Question (Carlisle: Paternoster Press, 1996). A única diferença da pregação da sinagoga é que uma mensagem proferida com base em um texto bíblico era uma ocorrência regular. Mesmo assim algumas sinagogas permitiam que qualquer membro que desejasse pregar ao povo pudesse fazê-lo. Naturalmente, isto é diametralmente oposto ao moderno sermão onde apenas “especialistas” em religião podem falar à
congregação. O chamado “Sermão do Monte” do Senhor recebeu este nome durante o período pós-apostólico. Santo Agostinho (354-430) foi o primeiro a chamar Mat. 5-7 por este nome em seu livro The Lord’s Sermon the Mount in d.C. 395. Mas a passagem, geralmente, não era
designada como “Sermão do Monte” até o século XVI (Dictionary of Jesus and the Gospels, Downer’s Grove: Inter Varsity Press, 1992, p. 736; J.D. Douglas, Who’s Who in Christian History, Wheaton: Tyndale House Publishers, 1992, p. 48). Mesmo assim o chamado “Sermão do Monte” é uma construção pobre comparado com o moderno sermão em termos de retórica.
Norrington analisa as falas dentro do Novo Testamento e as contrasta com o sermão de hoje.
O caráter espontâneo e não retórico das mensagens Apostólicas proferidas em Atos é evidente após uma cuidadosa análise. Veja por exemplo Atos 2:14-35; 7:1-52; 17:22-34, etc.
Jeremy Thomson, Preaching as Dialogue: Is the Sermon a Sacred Cow? (Cambridge: Grove Books.  A palavra grega utilizada muitas vezes para descrever a pregação e o ensino do século I é dialegomai (Atos 17:2,17; 18:4,19;19:8,9; 20:7,9; 24:25). Esta palavra significa uma via com dois sentidos no que diz respeito à comunicação. Da mesma forma, as cartas do Novo Testamento mostram que o ministério da Palavra de Deus incorporava a igreja como um todo em suas reuniões regulares. Reuniões onde “cada membro”funcionava. Um estilo conversacional e marcado por interrupções. De igual maneira, as exortações dos anciãos locais normalmente eram de forma improvisada.
Em poucas palavras, o moderno sermão proferido aos cristãos é algo alheio a toda Bíblia. Não
há absolutamente nada nas Escrituras que indique sua existência nas reuniões da Igreja Primitiva.
De onde vieram os Sermões Cristãos? O mais antigo registro cristão relacionado à pregação de sermões refere-se ao final do século. Clemente de Alexandria (150-215) lamentava o fato dos sermões exercerem pouca influência nos cristãos. Todavia, apesar de seu reconhecido fracasso, o sermão chegou a ser uma prática normal entre os crentes no princípio do século IV.
Isto sugere uma questão interessante. Se os cristãos do século I não se destacavam por seus
sermões, de onde os cristãos pós-apostólicos adquiriram o costume de proferir sermões? A resposta
é contundente: O sermão cristão foi adotado diretamente da fonte pagã da cultura grega!
Para compreender o nascedouro do sermão, temos que voltar ao século V a.C. e analisar um
grupo de mestres peregrinos chamados sofistas. Atribui-se aos sofistas a invenção da retórica (a
arte de falar persuadindo o outro). Eles recrutavam discípulos e exigiam pagamento dos interessados
em ouvir seus discursos. Os sofistas eram polemistas experientes (a arte de debater). Eles eram mestres no uso de apelos emocionais, aparência física e linguagem, para “vender” seus argumentos. Com o tempo, o estilo, a forma e a destreza da oratória dos sofistas chegou a ser mais estimada que sua exatidão. Engendrou uma classe de homens que chegaram a ser mestres na arte de falar, “cultivando o estilo pelo estilo”. As verdades que eles pregavam eram verdades abstratas e não verdades que eram postas em prática em suas próprias vidas. Eles eram peritos em imitar a forma no lugar da substância. Os sofistas se tornaram conhecidos pelas roupas especiais que usavam. Alguns tinham uma residência fixa onde proferiam seus sermões regularmente à mesma audiência. Outros viajavam para proferir seus polidos discursos. (Eles ganhavam bastante dinheiro nesta atividade). Às deriva dessa palavra. Em suma, o ministério apostólico era mais diálogo que monólogo (William Barclay, Communicating the Gospel, Sterling: The Drummond Press, 1968, pp. 34-35). 1 Cor. 14:26, 31; Rom. 12:4ff.; Efésios 4:11ff.; Heb. 10:25. Alan Kreider, Worship and Evangelism in Pre-Christendom (Oxford: Alain/GROW Liturgical Study, 1995), p. 37.
O primeiro sermão Cristão registrado está contido dentro da chamada Segunda Carta de Clemente datada entre d.C. 100 e 150 d.C.. Yngve Brilioth, A Brief History of Preaching Philadelphia.
Nós tiramos a palavra “sofisticado” dos sofistas. Sofisticado refere-se a algum arrazoamento especioso ou falacioso usado para persuadir (Archetypes of Wisdom, p. 57). Os gregos celebraram este estilo e a forma de falar mais que a exatidão do conteúdo de seu sermão. Assim, o bom orador poderia usar seu sermão para levar sua audiência a aceitar como verdadeiro aquilo que ela supunha ser falso. Para a mente grega, ganhar no argumento era uma virtude maior do que destilar a verdade.As vezes, o orador grego entrava em seu foro de discurso “já vestido em sua batina de púlpito”. Depois subia os degraus para ir ao seu assento profissional onde sentava antes de proferir seu sermão. Para chamar a atenção sobre um ponto, o sofista citava versos de Homero. Alguns oradores estudaram Homero tão bem que memorizaram muitos de seus textos). O sofista era tão
arrebatador que incitava muitas vezes sua audiência a aplaudi-lo durante o discurso. Se sua
mensagem era bem recebida, alguns diziam que seu sermão fora “inspirado”. Os sofistas foram os homens mais distintos de seu tempo. Tanto que eles viviam por conta própria. Outros tiveram estátuas públicas erigidas em sua homenagem.(Isto não lembra muitos de nossos modernos pregadores?).
Quase um século mais tarde, o filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.) fez uma modificação na
retórica ao agregar três pontos à mensagem. “O todo”, disse Aristóteles, “necessita um princípio,
um meio e um fim”.35[35] Com o tempo, os oradores gregos implementaram o princípio dos três
pontos de Aristóteles em seus discursos. Os gregos se intoxicaram da retórica.36[36] Assim, pois, os sofistas se deram muito bem. Quando Roma conquistou a Grécia, os romanos ficaram encantados com respeito à retórica. Por conseguinte, a cultura greco-romana desenvolveu uma cobiça insaciável por escutar alguém proferir um discurso eloqüente. Isso ficou tão em moda que depois de cada cena nos teatros se entretinha as pessoas com um filósofo profissional que proferia um pequeno sermão.
Os gregos e romanos antigos viram a retórica como uma das mais elevadas formas de arte.
Consequentemente, os oradores do Império Romano foram honrados com o mesmo grau de encanto
com que os estadunidenses homenageiam astros de cinema e atletas profissionais. Eles foram os
astros mais brilhantes de seu tempo. Os oradores conseguiam deixar uma multidão frenética simplesmente por sua poderosa destreza retórica. Os mestres da retórica, a fachada científica daquele tempo, eram o orgulho de cada cidade importante. Não demorou muito para que os romanos aprendessem dos gregos e se tornassem afeiçoarem do sermão pagão — como ocorre com muitos cristãos modernos fanatizados do sermão “cristão”. A Chegada de uma Corrente Contaminada.
Como é que o sermão grego foi parar dentro da igreja cristã? Por volta do século III, foi criado
um vácuo quando o ministério mútuo do Corpo de Cristo se desvaneceu. Durante este tempo, o
trabalhador itinerante que falava de uma forma espontânea deixou as páginas da história da
igreja. Para substituí-lo, começou a surgir uma casta clerical. As reuniões abertas começaram a
desaparecer, e as reuniões da igreja passaram a ser mais e mais litúrgicas.
Durante o século III, a distinção entre o clero e o leigo se disseminou rapidamente. Uma
estrutura hierárquica começou a arraigar -  se, e surgiu a ideia do “especialista em religião”.  Em
virtude destas mudanças, o cristão funcional teve problemas para ajustar-se a esta estrutura
eclesiástica tão diferente do que era antes. Não havia nenhum lugar para exercer seus dons. Pelo
século IV, a igreja tornou-se completamente institucionalizada e o funcionamento do povo de Deus
congelou. Nesse meio tempo muitos oradores pagãos se tornaram cristãos. Como resultado, idéias
filosóficas pagãs foram inadvertidamente sendo introduzidas na comunidade cristã. Isso
resultou em que alguns dos novos crentes durante este tempo eram, antes da conversão, oradores e
filósofos pagãos. Lamentavelmente, muitos destes homens foram os primeiros teólogos da
igreja Cristã. São conhecidos como “pais da igreja”, contudo algumas de suas obras estão
conosco. Assim, a ideia pagã de um orador profissional treinado para proferir discursos ou sermões
mediante pagamento passou diretamente ao sangue do cristianismo. Note que o conceito de “mestre
especialista assalariado” não veio do Judaísmo. Veio da Grécia. Era costume dos rabinos judaicos
dedicar-se a um trabalho ou profissão para não ter que cobrar pelos seus ensinamentos.
Estes ex-oradores pagãos (agora cristãos) começaram a utilizar integralmente suas destrezas
oratórias para fins cristãos. Eles se sentiam em seu cargo oficial e expondo o sagrado texto
bíblico, como um sofista ao proferir uma exegese do texto quase sagrado de Homero...” Se você
comparar um sermão pagão do século III com um proferido pelos pais da igreja, você encontrará a
estrutura e a fraseologia de ambos bem similares. Então, um novo estilo de comunicação passou a tomar forma na igreja cristã, um estilo marcado por uma polida retórica, uma gramática sofisticada, uma eloqüência descritiva, e um monólogo. Era um estilo desenhado para entreter e chamar a atenção sobre a destreza oratória do orador. Era a retórica greco-romana. Apenas aqueles que eram treinados podiam dirigir-se à assembleia! (Isso lembra algo?). Um erudito descreve isso da seguinte maneira: proclamação original da mensagem cristã era uma conversação de duplo sentido, mas quando as escolas oratórias do mundo ocidental aderiram à mensagem cristã, a pregação cristã transformou-se em algo bem diferente. A oratória tendia a substituir a conversação. A se sobrepor à conversação. A grandeza do orador tomou o lugar do assombroso evento de Jesus Cristo. O diálogo entre o orador e o ouvinte se desvaneceu em um monólogo. Em suma, o sermão greco-romano substituiu a profecia, a mútua partilha e o ensino inspirado pelo Espírito. O sermão chegou a ser privilégio elitista de líderes da igreja. Um estudante de retórica completava seus estudos quando conseguia falar de improviso sobre qualquer tema que lhe fosse apresentado. A logia da forma do debate era comum no estudo da retórica. Cada estudante aprendia como raciocinar e arrazoar bem. A lógica era algo natural à mente grega. Mas era uma lógica divorciada da prática e construída sobre argumentos teóricos.
Toda esta ideologia contaminou a fé cristã após o século I. (The Influence of Greek Ideas, pp. 32-33). Hatch escreve “... com o crescimento da organização eles também cresceram, não apenas misturando ensino e exortação, mas também restringindo gradualmente a uma classe especial a liberdade de dirigir-se à comunidade”. Tais cargos requeriam treinamento em escolas da retórica para aprender como falar. Sem tal educação, um cristão era impedido de falar ao povo de Deus.
Já no século III, os cristãos passaram a descrever seus sermões como homilias, o mesmo termo
usado pelos oradores gregos ao fazerem seus discursos. Hoje, os seminaristas fazem um curso
chamado homilética para aprender a pregar. A homilética é considerada uma “ciência que aplica as
regras da retórica, tal qual na Grécia e Roma, onde teve origem”. Em outras palavras, nem a homilia (sermões) nem a homilética (a arte de pregar o sermão) tem origem cristã. Foram roubadas dos pagãos. Uma corrente contaminada se misturou com a fé cristã e envenenou suas águas. Essa corrente flui tão fortemente hoje como no século IV. Crisóstomo e Agostinho. João Crisóstomo (347-407 d.C.) foi um dos mais destacados oradores cristãos de seu tempo. (Crisóstomo quer dizer “boca dourada”)  Constantinopla nunca escutara "sermões tão poderosos, brilhantes e sinceros” como os pregados por Crisóstomo. A prédica de Crisóstomo foi tão estimulante que, eventualmente, as pessoas tinham que se espremer na frente para melhor escutá-lo. Com o dom natural para a oratória, Crisóstomo foi aluno do sofista mais destacado do século IV, Libanius (314-394). A eloquência de Crisóstomo no púlpito foi insuperável. Seus sermões foram tão poderosos que eram muitas vezes interrompidos pelo aplauso da congregação. Crisóstomo certa vez proferiu um sermão condenando o aplauso como algo impróprio para a casa de Deus. Mas, após concluir o sermão, a congregação apreciou tanto aquela pregação que o aplaudiu. Esta história ilustra o poder indomável da retórica grega.
Podemos creditar a Crisóstomo e Agostinho (354-430 d.C.), um ex-professor de retórica,
como responsáveis por incorporarem a oratória do púlpito como parte integrante da fé cristã.
Com Crisóstomo o sermão grego alcança seu apogeu. O estilo do sermão grego foi enriquecido pela
brilhante retórica, citando poesias e visando impressionar a audiência. Crisóstomo enfatizou que “o
pregador necessita passar um longo tempo elaborando seus sermões para lograr o poder da
eloquência”. Com Santo Agostinho (354-430), o sermão latino alcançou as alturas. O estilo do sermão latino era mais prosaico que o estilo grego. Este enfocava o “homem comum” e era dirigido a um ponto moral mais simples. Ulrico Zwinglio (1484-1531) adotou João Crisóstomo como seu modelo de pregador. Em seu leito de morte, Libanius (o tutor pagão de Crisóstomo) disse que Crisóstomo seria seu mais meritório sucessor “se os cristãos não o tivessem roubado.
Crisóstomo se empanturrou com a retórica de Libanius, mas ele também foi estudante da filosofia e literatura pagã (The Age of Faith, p. 63).O aplauso intusiástico da audiência dirigido a uma homilia sofista era um costume grego. Agostinho adotou Crisóstomo como seu modelo. Ambos estilos, latino e grego, incluíram uma forma de comentário verso a verso e uma forma parafrásica.
Mesmo assim, Crisóstomo e Agostinho se enquadram na linhagem dos sofistas gregos.Formulando
uma polida retórica cristã. Dando-nos o sermão “cristão”. Bíblico no conteúdo, mas grego no
estilo. Os Reformadores, os Puritanos e o Grande Despertar. Durante a era Medieval, a Eucaristia dominava a Missa Católica Romana, e a pregação ficou para traz. Mas, com o surgimento de Martinho Lutero (1483-1546), o sermão recuperou sua proeminência no culto de adoração. Lutero concebeu erradamente que a igreja servia para convocar pessoas para escutar a Palavra de Deus. Por esta razão, certa vez ele chamou o edifício da igreja de Mundhaus (boca ou casa de oratória)!
Seguindo as normas de Lutero, João Calvino (1509-1564) arrazoou que o pregador é a “boca de
Deus”. (Ironicamente, tanto um como o outro, com veemência, rechaçaram a idéia de que o
Papa era o Vigário de Cristo.) Não é surpreendente que muitos dos Reformadores houvessem
estudado retórica, sendo fortemente influenciados pelos sermões greco-romanos de Agostinho,
Crisóstomo, Origen e Gregório o Grande. Dessa forma, o equívoco dos pais da igreja foi repetido pelos reformadores e pelas subculturas protestantes criadas por eles, especialmente a dos Puritanos.79[79] De fato, a tradição moderna da pregação evangélica encontra suas raízes recentes no movimento Puritano do século XVII e do Grande Despertar do século XVIII.
Os Puritanos adotaram o estilo de pregar usado por Calvino. Qual era esse estilo? Era a
exposição das Escrituras de forma sistemática. Um estilo adotado dos pais da igreja, o qual chegou
a ser bem popular durante a Renascença. Os eruditos dessa época proviam comentários de textos da
Antigüidade clássica, oração por oração. Calvino era um especialista nessa área. Antes de sua
conversão ele empregava este estilo comentando o autor pagão, Sêneca. Ao se converter passou a
pregar sermões, ele aplicou o mesmo estilo analítico à Bíblia.
Seguindo o caminho de seu pai João Calvino, os Puritanos centraram todos seus cultos
eclesiásticos em torno do ensino sistemático da Bíblia. Pretendendo evangelizar a Inglaterra
(purificá-la dos equívocos Anglicanos), os Puritanos centraram todos seus cultos em torno de
exposições bíblicas, versículo a versículo, estruturadas, metódicas e lógicas. Sua ênfase sugeria o
Protestantismo como a religião do “Livro”.81[81] (Ironicamente, o “Livro” nada sabe sobre sermão!).
Os Puritanos também inventaram uma forma de prédica chamada “estilo simples”.
A evolução do conteúdo do sermão da Reforma aos nossos dias é uma longa história que vai além dos objetivos deste livro. Basta dizer que o sermão durante o Grande Despertar degenerou em estéreis discursos morais. Eles se tornaram instrumentais para melhorar a sociedade humana. Os Puritanos retomaram o método expositivo da pregação verso-a-verso usado pelos pais de
igreja. Alguns pastores Puritanos explicavam cada verso da Bíblia. Temas ligados à justiça social foram proeminentes no Metodismo do século XIX. E com o advento do Revivalismo Fronteiriço, a pregação nas igrejas evangélicas foi dominada por uma chamada à salvação. Os Puritanos também deram contribuições a moderna retórica sermonística. O sermão Puritano era
escrito com base em um esboço de quatro partes com uma estrutura organizacional detalhada. O esboço de quatro partes que todos os pastores Puritanos usavam consistia de texto (leitura da Bíblia), doutrina (declaração teológica), usos (provando e ilustrando a doutrina), e aplicação (Protestant Worship, pp. 53, 121, 126, 166, 183; Christian History, Volume XIII, No. 1, Issue
Este estilo estava ligado à memorização das notas do sermão. As divisões, subdivisões e
análises do texto bíblico elevaram o sermão ao nível de uma fina ciência. Esta forma ainda é
utilizada por inúmeros pastores. Além disso, os puritanos nos legaram o sermão de uma hora, a
prática da congregação de anotar o sermão, o esboço do sermão de quatro partes, e o hábito do
pastor usar anotações enquanto desenvolve sua pregação. O Grande Despertar foi outra influência responsável pelo tipo de pregação comum às primeiras igrejas Metodistas, o qual está em uso atualmente nas igrejas Pentecostais. Fortes ímpetos emocionais, gritos, saltos desde a plataforma até o público, tudo isso são vestígios dessa tradição. Resumindo a origem do sermão moderno, podemos dizer o seguinte: O cristianismo adotou a retórica greco-romana, batizando-a e forrando-a com fraldas. A homilia grega encontrou o caminho da igreja cristã por volta do século II, e alcançou seu apogeu com os oradores de púlpito do século IV, a saber, Crisóstomo e Agostinho.
O sermão cristão calou-se do século V até a Reforma, quando chegou a ser encaixotado em um
relicário como principal enfoque do culto de adoração protestante. Todavia, durante cerca de 400
anos a maioria dos cristãos nunca questionou sua origem e eficácia. Como a Prédica do Sermão degrada a Igreja. Embora venerado por cinco séculos, o sermão convencional tem contribuído das mais variadas ormas para a degradação da igreja.
Primeiramente, o sermão faz com que o pregador seja uma virtuose artística do culto
eclesiástico. Como resultado, a participação da congregação fica obstaculizada (na melhor hipótese)
e excluída (na pior hipótese). O sermão transforma a igreja em um auditório. A congregação
degenera em um grupo de espectadores apagados presenciando um evento. Não há espaço para
interromper ou questionar o pregador enquanto ele profere seu discurso. O sermão congela e trava o
funcionamento do Corpo de Cristo. O sermão promove um sacerdócio dócil por permitir que os
homens do púlpito com suas mãos agitadas88[88] dominem a reunião da igreja semana após semana.
Em segundo lugar, o sermão estanca o crescimento espiritual. Pelo fato de ser uma estrada de
uma só mão, o sermão embota a curiosidade e produz passividade. O sermão debilita a igreja no que
toca ao seu funcionamento. O sermão sufoca o mútuo ministério. Abafa a participação aberta.
Estanca o crescimento espiritual do povo de Deus.
Como cristãos, necessitamos funcionar, exercitar, caminhar para poder crescer. Podemos
crescer sentados como uma estátua de sal ouvindo um homem pregar de lá de cima do púlpito
semana após semana? De fato, uma das metas do estilo da pregação e ensino do NT é incentivar
você a funcionar.91[91] Isto encoraja você a falar na reunião da igreja. O sermão convencional
obstaculiza este processo. Em terceiro lugar, o sermão conserva a mentalidade do clero antibíblico. Cria uma excessiva e patológica dependência do clero. O sermão faz do pregador um especialista em religião. O Único que tem a "autorização" para manusear publicamente os escritos Sagrados.
O historiador Edwin Hatch, século XIX, foi um dos primeiros a desafiar o sermão.
O termo “mãos-agitadas” deriva-se do cenário da magia. O mágico acena suas mãos e faz com que um coelho surja do nada. Da mesma maneira, o sermão é vendido como o principal facilitador do crescimento cristão. Esta idéia é falsa e enganosa. Efésios 4:11-16. Esta passagem também mostra que o funcionamento é necessário à maturidade espiritual. Veja 1 Cor. 12-14. A reunião descrita nesta passagem é claramente um encontro da igreja. e todos  os que estão envolvidos nesse conjunto tem algo de valor a compartilhar. O sermão chega ao absurdo de trata todos os demais como cristãos de segunda categoria, como se não fossem necessários para atuarem como protagonistas nos cultos, apenas coadjuvantes esquentadores de banco (Embora isso não expresse o geral, é a realidade).
Como pode o pastor aprender dos demais membros do Corpo de Cristo quando eles estão
mudos? Como pode a igreja aprender do pastor quando seus membros não podem fazer perguntas
durante sua prédica? Como podem os irmãos e irmãs aprenderem uns dos outros se eles estão
amordaçados e não podem falar nas reuniões? O sermão torna a “igreja” distante e impessoal.95[95] O sermão priva o pastor de receber o sustento espiritual da igreja. O sermão priva a igreja de receber nutriente espiritual mútuo. Por estas razões, o sermão é uma das maiores barricadas que impedem o sacerdócio funcional! Em quarto lugar, em vez de equipar os santos, o sermão remove suas habilidades. Não importa quão forte e extensamente o ministro fale acerca de “equipar os santos para a obra do ministério”, a verdade é que a pregação de sermões não equipa ninguém para o serviço espiritual. Na realidade, o povo de Deus acostumou-se tanto a ouvir sermões que os pastores acostumaram-se a pregá-los. (Sei que alguns cristãos não gostam de pregações a cada semana, mas parece que a maioria as desfruta). Em contraste com a pregação, o ensinamento do estilo neo testamentário equipa a igreja para que funcione sem a presença do clero.
Em quinto lugar, o moderno sermão é totalmente contraproducente. A maioria dos pregadores é
especialista em coisas que nunca experimentou. Por ser abstrato e teórico, piedoso e inspirador,
demandante e obrigatório, entretido e ruidoso, o sermão não coloca os ouvintes em uma experiência
direta e prática daquilo que é pregado. Assim, pois, o sermão típico é uma lição de natação em terra
seca! Falta todo valor prático. Prega-se muito no ar, mas ninguém aterriza. A maioria das pregações
é dirigida ao lóbulo frontal. A moderna pregação do púlpito falha em ir além da mera disseminação
de informações sobre equipar crentes a experimentar e utilizar aquilo que escutam.
O sermão reflete seu verdadeiro pai — a retórica greco-romana. A retórica greco-romana estava
mergulhada em abstrações. Esta “envolvia formulas desenhadas para entreter e revelar o
artista orador em vez de instruir ou desenvolver talentos em outras pessoas”. O moderno
sermão polido pode acalentar o coração, inspirar a vontade e estimular a mente. Mas raramente, ou
nunca, indica como se retirar da conferencia! De qualquer forma, o sermão não promove crescimento espiritual. Mais que isso, ele agrava o empobrecimento da igreja. Os sermões atuam como um mero e momentâneo estimulante. Seus efeitos são extremamente efêmeros.
Sejamos honestos. Há multidões de cristãos sendo “sermonizados” há décadas, todavia,
continuam na condição de bebês em Cristo. Nós cristãos não somos transformados por escutar
sermões. Somos transformados por um encontro regular com o Senhor Jesus Cristo.104[104] Os que
93[93] Alguns pastores ficaram famosos por disseminarem a idéia errônea de que “tudo aquilo que ovelhas fazem é dizer 'beeee' e comer grama”. Embora muitos pastores falem coisas como “equipar os santos” e “libertar os leigos”, tais promessas de libertar os leigos
flácidos e equipar a igreja para ministrar, em termos práticos, nunca são cumpridas. O pastor domina o culto da igreja através de seus sermões, o povo de Deus não é livre para funcionar. Portanto, “equipar os santos” tipicamente não passa de uma retórica vazia.
Aqueles que, como nós, consideram o sermão exoticamente enfadonho, sabe o significado de “morrer ouvindo sermões”. A citação de Sydney Smith captura o sentimento: “Ele merece morrer ouvindo sermões de sacerdotes malucos!" Considere o método utilizado por Paulo com relação a uma igreja recém criada. Ele a deixava andar pelos próprios pés por
longos períodos de tempo. Para detalhes, veja Gene Edwards’ How to Meet in Homes.
As pessoas podem encontrar Cristo tanto na glória como no sofrimento (2 Cor. 3:18; Heb. 12:1ff.).
Os pastores usam a pregação, pois são chamados a assegurar que seu ministério seja intensamente prático. São chamados não apenas para revelar a Cristo, mas para mostrar a seus ouvintes como experimentá-lo, conhecê-lo, segui-lo e servi-lo. Se um pregador não consegue levar seus ouvintes àquela experiência viva e espiritual que ministra, os resultados da mensagem serão efêmeros. Portanto, a igreja necessita menos gente no púlpito e mais facilitador espiritual. Há uma necessidade urgente de pessoas proclamando Cristo e sabendo como levar o povo de Deus a experimentar esse mesmo Cristo proclamado. Necessitamos restaurar a prática do século I da exortação mútua e do ministério mútuo. No Novo Testamento, a transformação espiritual depende destas duas coisas. Naturalmente, o dom do ensino está presente na igreja. Mas o ensino deve fluir de todos os crentes tanto quanto flui dos que possuem dons especiais para ensinar. Nós deixamos a Bíblia de lado quando permitimos que o ensino tome a forma de um sermão convencional e relegamos a uma classe de oradores profissionais.
Concluindo o sermão do púlpito não é o equivalente à pregação encontrada nas Escrituras. A prática do sermão não é encontrada no Judaísmo do AT. Não é encontrada no ministério de Jesus, nem na vida da Igreja Primitiva. Além disso, Paulo disse aos gregos convertidos que ele próprio
recusou ser influenciado pelas formas de comunicação utilizadas pelos pagãos de seu tempo.
O sermão é uma “vaca sagrada” concebida no ventre da retórica grega. Nasceu na comunidade
cristã quando os ex-pagãos (agora cristãos) começaram a levar seus estilos de oratória para a igreja.
No século III era comum o líder cristão proferir sermões. No século IV virou norma.
O cristianismo absorveu sua cultura circundante. Quando o pastor sobe ao púlpito
exibindo sua veste clerical e proferindo seu sermão sagrado, ele exerce o papel do antigo orador
grego. Todavia, apesar do fato do sermão não possuir nenhum mérito de fragmento bíblico que
justifique sua existência, este continua sendo admirado e isento de crítica nos olhos da maioria dos
cristãos modernos. O sermão entrincheirou-se de tal forma na mente cristã que a maioria dos
pastores e “leigos” que crêem na Bíblia falham em ver que por pura tradição afirmam e perpetuam
uma prática antibíblica. O sermão chegou a ser permanentemente embutido em uma estrutura
organizacional complicada, bem longe da vida eclesiástica do século I.
Diante de tudo que descobrimos sobre o sermão moderno, considere estas questões penetrantes: Como pode um homem pregar um sermão sobre “ser fiel à Palavra de Deus” se a prática do sermão não é bíblica? Como pode um cristão sentar-se passivamente em um banco de igreja e
Atos 3:20; 5:42; 8:5; 9:20; Gal 1:6; Col. 1:27-28. Não importa se alguém está pregando (kerygma) a descrentes ou ensinando (didache) a crentes, a mensagem tanto ao descrente como ao crente é uma só: Jesus Cristo (C.H. Dodd, The Apostolic Preaching and Its Developments, London: Hodder and Stoughton, 1963, p. 7ff). Referindo-se à Igreja Primitiva, Michael Green
escreve, “Eles pregaram uma pessoa. Sua mensagem foi francamente Cristocêntrica. Certamente o evangelho para eles não era outra coisa senão Jesus Cristo: ‘Ele pregou Jesus para eles...’. Jesus homem, Jesus crucificado, Jesus ressurreto, Jesus exaltado
a um lugar de poder no universo... Jesus que estava, portanto, presente no meio de Seu povo em Espírito... O Cristo ressuscitado era absolutamente central na mensagem deles” (Evangelism in the Early Church, Houder and Stoughton, 1970, p. 150).
Para uma discussão detalhada sobre a natureza antibíblica da estrutura organizacional da moderna Igreja Protestante, veja meu livro, Who is Your Covering? Capítulos 1-3. Veja também o Capítulo 4 deste livro. Passivamente afirmar o sacerdócio de todos os crentes, onde a maioria esmagadora está sentada nos banco exercitando apenas o dom de ouvir, com uma super orelhão coletiva é bem estranho. Para personalizar um pouco mais. Como é que você, querido cristão, pode pretender defender a doutrina protestante de base puramente bíblica ao mesmo tempo em que apóia o sermão do púlpito? Como disse eloqüentemente certo autor, “o sermão é inquestionável em termos práticos. Passou a ser um fim em si mesmo, sagrado, subproduto de uma reverência distorcida pela tradição dos anciãos...”. Parece estranhamente inconsistente que aqueles que estão mais dispostos a defender a
Bíblia como a Palavra de Deus, “supremo guia em todos assuntos de fé e prática” se encontrem
entre os primeiros a rechaçar os métodos bíblicos em favor das “cisternas quebradas” de seus pais
(Jeremias 2:13). Em outras palavras, não há espaço no curral da igreja para vacas sagradas como o
sermão! Minhas conversas e pregações não foram com palavras sedutoras da sabedoria
humana, desprovidas da demonstração do poder [de Deus] e do Espírito. Que sua fé
não repouse na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus. Paulo de Tarso. Abraço. Davi.

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