sábado, 9 de agosto de 2014

Auto Conhecimento e a Integração do Ser.

(C.038) Transcrevo a seguir trecho do livro A Morte de Sócrates de autoria de Jacques Louis David (1748-1825) para pensarmos o tema (Auto Conhecimento e a Integração do Ser) que estamos abordando. Minha fala se dará ao final da narrativa do autor. "Conheça-se a si mesmo. A exortação desafio inscrita no portal do principal templo do mundo grego, o Oráculo de Apolo situado em Delfos, não é um preceito cunhado por Sócrates mas expressa admiravelmente a essência de sua filosofia. O empreendimento socrático nasce de uma rejeição aberta ao reducionismo pré-socrático e propõe uma reorientação fundamental no objetivo, na estratégia e no propósito de busca do conhecimento. Enquanto seus predecessores, como Demócrito (460 AC 370) e Anaxágoras (500 AC 428), buscavam essencialmente investigar a constituição e os princípios que regem a natureza externa, propondo explicações objetivas para o que é permanente e transitório no cósmos, Sócrates (469 AC 399) proporá que o estudo do mundo natural e do homem enquanto ente natural é de importância menor diante da verdadeira missão da filosofia que é conhecer e transformar o ser humano enquanto ser moral. Por que o Auto Conhecimento? “A vida irrefletida não vale a pena ser vivida” (Apologia, 38 a). Sócrates vê um mundo equivocado ao seu redor e vislumbra um mundo de possibilidades à sua frente. À vida cega, febril e desorientada de seus concidadãos, ele opõe o ideal de uma outra vida – de um viver movido não pelo brilho efêmero de falsos valores como o poder, o prestígio, o amor carnal e a riqueza, mas pela ambição de ser melhor do que se é e pela busca sem tréguas do aperfeiçoamento da alma. O Auto Conhecimento é o caminho que leva de um viver ao outro. Se a vida errada e irrefletida é a consequência inevitável do Auto Desconhecimento satisfeito consigo mesmo, a vida ética pressupõe o empenho e a capacidade do homem de buscar de forma contínua e incessante a verdade sobre si. O vínculo interno entre o imperativo do Auto Conhecimento e o ideal da vida ética no Projeto Socrático aparece com clareza no comentário de Guthrie ao Primeiro Alcibíades (128b – 129a): É preciso entender a natureza e o propósito de alguma coisa antes que se possa fazê-la, cuidar dela ou repará-la adequadamente. Da mesma forma, na vida, nós não podemos adquirir a arte do Auto Aperfeiçoamento, a menos que entendamos primeiro aquilo que nós mesmos somos. Nosso dever primeiro, portanto, é obedecer à ordem délfica do “Conheça-se a si mesmo”, “pois uma vez que conheçamos a nós mesmos poderemos aprender a cuidar de nós mesmos, mas de outro modo jamais conseguiremos”. Como pode alguém tornar-se melhor – viver à altura do seu potencial e alçar à plenitude de uma existência humana - se não sabe quem é ou o que almeja? O conhecimento de si modifica o conhecido. Ao avançar na busca do Auto Conhecimento, argumenta Sócrates, o indivíduo não só aprimora a sua competência para discernir entre certo/melhor e errado/pior em questões envolvendo escolha moral – “Há mais risco em comprar saber do que em comprar comida” (Protágoras, 314d) - como passa a agir de acordo com o saber adquirido.  A conclusão Socrática, compartilhada por Platão (428 AC 347) mas rejeitada por Aristóteles (384 AC 322), é a de que o saber é condição necessária e suficiente ao fazer – quem sabe não erra - uma vez que o conhecimento do que é certo do ponto de vista ético é sempre seguido da ação certa. A validade dessa equação (que está discutido no capítulo 4, seção 5 do mesmo livro) é duvidosa. Fixemo-nos, por ora, na noção Socrática de Auto Conhecimento. Como procede Sócrates? Uma apreciação clara da fragilidade da palavra impressa como veículo de persuasão moral e o temor de ser mal entendido levaram Sócrates a jamais registrar por escrito o seu pensamento e a optar pelo diálogo vivo como estratégia de interlocução. O Método Dialógico, adotado pelo filósofo, é o da aproximação progressiva da verdade por meio de uma troca ágil de perguntas e respostas (élenchos). A dinâmica da troca segue, na maioria dos casos, um padrão definido. Em nenhum momento Sócrates se apresenta como o portador de um credo positivo ou doutrina a ser inculcada na mente do interlocutor. A essência do élenchos consiste em um duplo movimento: render a ignorância e extrair luz da escuridão. A mente do outro é o locus privilegiado da ação. O interlocutor Socrático é instado a reconhecer um duplo auto engano: ele imagina e confia saber o que de fato não sabe, mas ele também sabe mais do que imagina saber. Enquanto o Sócrates qua “mosca irritante” pica a ferida e puxa o véu do falso saber, insuflando duvida e perplexidade em quem lhe dá ouvidos, o Sócrates qua “parteiro do saber” abre o âmago do outro e dá à luz conhecimentos que estavam latentes e ocultos em sua mente. “Aqueles que frequentam a minha companhia”, reflete o filósofo, ” nunca aprenderam algo de mim; as diversas verdades admiráveis que eles trazem à luz foram descobertas por eles próprios dentro de si” (Teeteto, 150c-d). Maiêutica. Arte de partejar. A confissão Socrática de absoluta ignorância – imortalizada no dito “Só sei que nada sei” (Apologia, 23a-b) – contém um evidente elemento de exagero e irônica malícia (eironeía). Certo ou errado, não importa, Sócrates acredita que sabe muitas coisas, nem todas triviais: ele confia saber que o mundo a seu redor está aquém do que deveria ser; que a vida filosófica é o télos de uma alma bem formada; e que a morte refletida vale a pena ser morrida. O ponto, contudo, é que a dúvida sincera jamais o abandona. O elemento que acaba predominando, ao menos nos diálogos mais claramente Socráticos do corpus platônico, é o caráter inconclusivo da busca e a extraordinária dificuldade de se encontrar terra firme na arte do Auto Conhecimento. No Fedro (229e – 230a), por exemplo, Sócrates reage à sugestão de empreender uma investigação nos moldes da ciência pré-socrática, a fim de elucidar uma suposta ocorrência enigmática no mundo natural, evocando mais uma vez o preceito délfico e admitindo a sua completa ignorância a respeito de si: Eu, de minha parte, certamente não disponho de tempo para a empresa e digo-lhe o porquê, meu amigo. Eu ainda não pude, até este momento, “conhecer-me a mim mesmo”, como a inscrição em Delfos recomenda, e enquanto durar esta ignorância parece-me ridículo investigar assuntos remotos e alheios. Consequentemente, não me preocupo com tais coisas, mas aceito as crenças correntes sobre elas, e dirijo as minhas investigações, como acabei de dizer, para mim mesmo, a fim de descobri se sou de fato uma criatura mais complexa e inflada de orgulho do que Tifão [monstro mítico de cem cabeças] ou um ser mais gentil, mais simples, que os céus abençoaram com uma natureza serena e não tifônica. Igualmente, nos momentos que antecederam à sua execução sob as ordens do tribunal ateniense, Sócrates reafirma sua confiança na superioridade da vida filosófica e na imortalidade da alma, mas alerta não só para a sua própria falibilidade – “Vocês [Símias e Cebes] devem importar-se pouco com Sócrates mas muito mais com a verdade” (Fédon, 91b-c) -, como, de modo mais abrangente, para a precariedade de todo o mortal saber. As idas e vindas do argumento, o páthos da hora derradeira que se aproxima e o aflorar de dúvidas e incertezas no transcorrer do diálogo levam o filósofo a uma atitude não de desalento cético, mas de sóbria esperança: “Não admitamos em nossa alma o pensamento de que provavelmente não há nada robusto e bem fundamentado em argumentos racionais, mas admitamos sim, ao invés, que nós ainda não somos robustos e que devemos batalhar com virilidade para tornarmo-nos assim” (Fédon, 90d-e). A orientação fundamental da Filosofia Socrática não é a busca do Auto Conhecimento como um fim em si, mas como o caminho que leva a se incorporar ao aperfeiçoamento do ser. o Auto Conhecimento é a base de todas as virtudes Socráticas – moderação, coragem fria, justiça e consistência intelectual - da mesma forma como o Desconhecimento de si é a fonte das piores aberrações morais". A partir de agora começo minha fala mas não a centrarei no texto aludido vou tentar percorrer a estrada do Auto Conhecimento pelo via da interioridade humana. Somos basicamente dual (duas parte) matéria e espírito ou corpo e alma sendo o primeiro transitório e perecível e o segundo permanente e imortal. Nessa perspectiva segundo a filosofia esotérica assumimos após reencarnarmos uma personalidade e uma individualidade. A personalidade singulariza nossa parte densa e compacta representada pelo corpo físico, etérico (a energia que magnetiza nossa estrutura pós epiderme, o astral (emoções e vontades) e o mental (os pensamentos produzindo um mundo a partir de nossa consciência). Essa esfera é manifestada no mundo exterior pois cogita das coisas terrenas e mundanas que ficarão quando deixarmos esse corpo humano concentrado. Esse é o âmbito do Conhecimento Humano que se expressa pela nossa busca do saber e conhecer para evoluirmos nos variados aspectos de nossa vida seja no campo familiar, profissional, social, intelectual e espiritual. Deixando claro que espiritual aqui denota a compreensão objetiva da racionalidade sensitiva que modela os pensamentos trazendo mais o aspecto sócio cultura como construtor da personalidade do ser. Precisamos nos envolver nesse enfase de edificar nossa interioridade pois ela ao se desenvolver vai alcançando as etapas do crescimento da individualidade que cimentará o edifício do Auto Conhecimento. Então podemos inferir que o Conhecimento através do pensamento a nível concreto preceitua a forma objetiva, espacial e temporal das coisas e objetos sem uma profundidade lógica abstrata essencial para um despertar da cognição mais apurada captando uma representação para além do real. Assim nossa evolução perceptiva, imaginativa e intuitiva que simbolizam nossa consciência humana precisa tomar forma pelo despertar de uma individualidade voltada para as coisas eternas e perenes que pela nossa alma transmigratória acessa o macro cosmo passado, presente e futuro onde emoções, pensamentos, sentimentos e pressentimentos são desenvolvidos para nosso crescimento espiritual. A individualidade está diretamente ligada ao Consciência Universal e suas partes são a mente abstrata, o ego divino (pois o ego humano é um dos elementos da personalidade) e o Espírito Divino. Assim entramos na seara do Auto Conhecimento pois devemos pela individualidade nos desapegar dos desejos, vontades e interesse pessoais para pelo altruísmo e abnegação praticarmos atos de justiça e ações benevolente e fraternas em direção ao próximo. Parece simples e realmente é mas algo em nossa natureza pecaminosa insiste em nós prender a nosso egoísmo e narcisismo pois estamos num campo de batalha espiritual onde nossa parte inferior e terrena como é dito em Gênesis 3: 19 "Tu és pó e ao pó retornaras" cogitas das coisas temporais e transitórias não dando espaço para que O Infinito Absoluto possa nos permear de Sua Essência Cósmica. Entretanto como alvo nessa guerra espiritual nosso Ser Humano para vencer esses obstáculos e atravessar o portal da sabedoria divina que é um dos itens do Auto Conhecimento precisa evoluir para expressar uma individualidade madura e perfeita. Nosso ideal como seres micro e macro cosmo penso deve percorrer uma vida de santidade, pureza e compromisso com todos os seres dos vários reinos da natureza em especial o humano. Suponho ser impossível um Auto Conhecimento sem uma medida de dimensão universal nos vendo como um pequeno ponto nesse infinito universo mas mesmo como essa gota de água no oceano podemos fazer diferença transformando primeiro nós mesmos e depois aqueles que estão a nossa volta. Confúcio (551 AC 479) diz: "Você não pode mudar o vento, mas pode ajustar as velas do barco para chegar onde quer". Um dos aspectos fundamentais do Auto Conhecimento é a meditação pois a probabilidade de nos conhecermos intrinsecamente pela racionalidade intelectual é mínima e será um conhecimento cognitivo sem profundidade transcendente e mística. A meditação nos aproxima de nós mesmo e começamos a experiência de viver do nosso centro (ego) para a periferia de nossa existência. O contrário da viajem que fazendo em nosso interior pelo conhecimento que nos faz caminhar de fora pra dentro de nosso ser mas a meditação inverte esse processo e conseguimos andar a partir de nossa essência primordial elevando pela contemplação nossa individualidade à interação com todos os Seres de todos os reinos e mundos visíveis e invisíveis. O místico Hindu Rajneesh Chandra Mohan (1931-1990) mais conhecido com Osho disse: "A meditação é uma maneira de ir para dentro de si, de perceber que você não é o corpo e você não é a mente. É um modo de fixar em nós mesmo, no mais profundo centro de nosso ser, e uma vez que você encontrou o seu centro, você terá encontrado tanto suas raízes quanto suas asas". Beijo. Davi.          

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