quarta-feira, 6 de agosto de 2014

João 20: 23 "Se de alguns Perdoardes os Pecados, são lhes perdoados"..

Nelson. Essa questão que temos ponderado a respeito de Deus ser superior a sua revelação divina contida nas Sagradas Escrituras Cristã abre um importante leque para pensarmos e questionarmos inúmeros aspectos e mencionarei alguns. 1º As várias traduções das Escrituras Cristãs a partir da Septuaginta em latim no século I confeccionada por setenta sábios judeus em Alexandria no Egito e depois nos séculos III e IV traduzidas para o Hebraico e posteriormente o Grego Koiné já nesses primórdios apresentavam problemas de autenticidade e veracidade. Fatos como esses que não vou detalhes pois fugiria de nosso propósito inicial mostram que desde o início os originais desses mestres espirituais que debruçaram-se e consagraram-se para levar a posteridade mundial o melhor em termos de pesquisa e investigação histórica e filosófica acerca das narrativas bíblicas acabaram sofrendo perdas irreparáveis. Pois sendo reescritos para o latim culto, grego popular e o idiche que era uma antiga língua judaico-alemã perdeu-se muito da sabedoria divina  que estavam depositadas nesses escritos uma vez que esses tradutores ao manusearem os textos (pergaminhos e papiros) colocavam elementos de seus cenários sociais para uma melhor compreensão de seus contemporâneos. A princípio isso não era incorreto pois como conciliar elementos estranhos  a seu modo de vida a não ser acrescentando ou omitindo alguns assuntos que não se encaixavam em suas convivências. 2º Nos desprendemos da teologia tradicional dogmática que conceitua as Sagradas Escrituras Cristãs como igual a Deus criando um ambiente onde tudo o que se diz nela é absolutamente sagrado e inquestionável. Assim nesse contexto de supra valores só existe lugar para se praticar uma fé sentimentalista sem uma razão capaz de limitar a crendice e equilibrar as possíveis verdades mensuradas. A dúvida funciona como o fiel da balança nos levando a pensarmos logicamente usando a fé onde ela deve ser empregada e a razão quando percebermos que não podemos ultrapassar o nosso bom senso. Santo Agostinho (354-430) em dois de seus escritos em latim De Vera Relligione e De Utilitate Credendi aborda esses pontos com sobriedade e racionalidade. 3º Damos um importante salto pro futuro saindo do mesmismo do cristianismo nos aproximando das culturas, tradições e espiritualidades orientais que não concebem Deus como uma pessoa com atributos e virtudes humanas. Esse aspecto é chamado de Antropomorfismo a meu ver incoerente e contraproducente pois limitamos Deus numa humanidade desconsiderando sua multi forme sabedoria e sua infinidade de maneiras e situações de se revelar manifestando sua onipresença em qualquer coisa que lhe possa aprouver. Não era assim nos primeiros séculos de nossa era quando os cristãos primitivos tinham uma escola de sabedoria divina chamada gnose. Ela era o elemento que dava o sabor oriental ao nosso cristianismo pois seus ensinamentos vinham dos sábios e místicos egípcios, gregos, hindus, chineses e outros que entendiam Deus como sendo O Criador e A Criação o que podemos chamar em nossa língua de Heteromorfismo. Isso era ensinado nas comunidades cristãs até o III século quando a teologia tradicional se desvinculou da filosofia e metafísica seguindo seu próprio caminho baseado nas crendices sem passar pelo filtro da investigação filosófica e científica. Depois dos comentários desses três pontos ainda quero contextualizar nosso tema para que possamos tentar uma compreensão mais coerente. Dos quatro evangelhos do Novo Testamento o Evangelho de João é singular e particularizado porque é diferente dos demais contendo elementos acentuados do gnosticismo. Seus escritos são visualmente percebidos como profundos e místicos pois o tema dele é Jesus como o filho de Deus mas detalharemos alguns aspectos e reconheceremos que esse Deus é também sua Criação. Interessante dizer aqui que as principais religiões monoteístas tem suas escolas de mistérios o Judaísmo tem a Cabala, o Islamismo tem o Sufismo e o Cristianismo tinha o Gnosticismo que foi infelizmente pela ignorância dos Cardeais e Doutores da Igreja banido no século III no Concílio de Constantinopla. Assim perdemos nosso elo de ligação com a Sabedora Divina advinda dos antigos mestres e sábios da espiritualidade humana. Mas hoje há grupos de estudos em vários países Brasil, USA. Reino Unido, Argentina e outros estudando e investigando esse assunto para trazer de volta esses ensinamentos que estão sendo chamados de Cristianismo Esotérico. A profundidade do Evangelho de João pôde deixá-lo em sua maior parte a salvo do espezinhamento da teologia dogmática por isso que seus temas metafísicos e filosóficos estão quase intocados pois os exegetas e hermeneutas cristãos não conseguem mergulhar nas profundidades abissais desses textos. Temas como: "No princípio era o Verbo" esse é o Logos Divino a essência material e espíritual que criou e evolui tudo o que existe. "Um casamento em Caná da Galiléia" onde segundo a narração Jesus ao menos dá a benção aos nubentes. O Mestre reconhecia que essa importante instituição não fora criada para ser mais um ítem pra legitimar a religião dominante. "Se alguém não nascer de novo" aqui a ideia da necessidade dos renascimentos futuros para evoluímos em nossa jornada pela Senda Espiritual. "Deus é espírito ( ... ) o adorem em espírito e em verdade" como precisamos entender a lição de que o lugar de adoração não é físico mas espiritual em nosso aqui e agora. Criamos o estereótipo do lugar sagrado onde só nele acessamos a divindade superior e o Mestre quebrou esse paradigma. "Examinai as escrituras porque julgais ( ... ) a vida eterna ( ... ) não quereis vir a mim para terdes vida" o Mestre passa o argumento que a observância da letra sagrada é inútil quando não temos um comportamento virtuoso e meritório pra com a vida de amor pelo próximo sendo melhor a prática do segundo que a mera observância da lei. "Eu Sou o pão da Vida" a simplicidade de Jesus ao se comparar com um pão mostra penso a integração da divindade superior com sua criação. Devemos nos tornar esse trigo para alimentar todas as pessoas espiritual e fisicamente no sentido da fraternidade humana. "Eu Sou a Porta das ovelhas" o conceito dos diferentes portais da Sabedoria Espiritual aos quais precisamos adentrar em nossa busca pela maturidade espiritual. "Eu Sou a ressurreição e a Vida" é percebido nesse trecho que essas duas situações (ressurreição e vida) não são para o último dia como pensava Maria a irmã de Lázaro mas para o agora e o nesse instante. O milagre da ressurreição não é o estritamente físico mas principalmente o mental a mudança de atitude e comportamento. Nesse episódio quem precisava ressuscitar eram os vivos e não necessariamente seu amigo Lázaro que segundo o Mestre "adormeceu mas vou para despertá-lo". Entendo aqui o conceito de que a morte é um estágio de nosso processo evolutivo. Passamos a viver (adormecer) num plano superior não mais em nossa personalidade humana mas em nossa individualidade espiritual. O mundo da esfera mental abstrata, emoções, memórias carmicas e consciência despertada. Depois desse percurso acima chegamos ao ponto central de nosso comentário que é o capítulo vinte do Evangelho de João como vimos rapidamente um oceano de sabedoria divina e espiritual à ser explorado por aqueles que pela santidade e pureza junto AO Eterno possam laborar nesses mistérios ocultos. Essa narrativa específica é belíssima, poética e misteriosa sendo suas porções ocultas apenas para os iniciados no esoterismo científico e os comprometidos em revelar para aqueles que tem um coração puro e uma mente aberta ao entendimento e dialogo entre as espiritualidade humanas. No relato vemos Maria Madalena chegando ao túmulo de Jesus e preocupada por não ter encontrado o corpo do Mestre pois já se passarem três dias depois da sua morte e segundo ele disse ressuscitaria nesse dia. Mas o Mestre lhe aparece: "Mulher porque choras? A quem procuras?" Um encontro emocionante entre os dois Maria tenta abraçá-lo mas ele diz: "Não me detenhas porque não subi para meu Pai". O que falar de uma passagem tão mística parece que a cena da ressurreição é muito mais importante do que palavras sobre ela. Esse penso ser um quadro de contemplação e meditação espiritual onde a razão reflexiva quer penetrar no fato entrando no ocorrido se vendo junto com Maria dialogando com o Mestre e sentindo seu aroma e quase tocando em seu corpo vivendo o sentimento desse quadro sem a preocupação de propor nenhum dogma ou conceito religioso. A razão instrumental que deseja conhecer inteirando-se do evento racionalmente não tem lugar nessa cena íntima tão linda e comovente. Maria Madalena avisa aos demais discípulos que Jesus ressuscitará e Ele aparece "trancada as portas da casa" para insuflar em seus discípulos o Espírito Santo. Que era Ele mesmo. Aqui a reciprocidade entre o divino e o humano manifestada no mesclar Do Eterno como o temporal. Deus e o homem sendo a mesma essência e substância. O início da jornada evolutiva até a completude com O Absoluto. João 20: 23 "Se de alguns perdoardes os pecados são-lhes perdoados, se lhos retiverdes são retidos". Aqui percebo como o ensinamento exotérico do Mestre Jesus foi distorcido ao longo das eras pois a instituição oficial cristã assumiu a função de perdoar pecados ou imputá-los como ofensas a Deus. Um absurdo que ainda sobrevive como legado negativo cristão da Antiguidade, Idade Média, Idade Moderna e a nossa Contemporaneidade. O Todo é o único capaz de perdoar pecados e atribuiu a nós também essa (perdoar e ser perdoado) competência. Um importante pressuposto é apresentado nesse versículo em minha opinião trazendo a ideia da redenção individual como nas tradições orientais. O discípulo em sua jornada evolutiva vai alcançando os estágios de aperfeiçoamento espiritual através de atitudes meritórias e virtuosas ou vai retardando seu progresso ao falhar praticando os vícios e pecando contra si e o próximo. Situações que vão sendo equilibrada quando saldamos parte da dívida  "pelo princípio da causa e do efeito (carma) o que é dito em Gálatas 6: 7 "Não erreis, Deus não se deixa escarnecer. Porque tudo o que o homem semear isso também ceifará". Assim o Mestre Jesus colocou sob nossa responsabilidade escolher passar pela porta estreita e andar pelo caminho apertado que conduz para a vida ou entrar pela porta larga andando pelo caminho espaçoso que conduz a perdição. Perdição aqui no sentido de demorar muito mais para atingir o objetivo da completude com a Consciência universal pois como o Mestre Jesus disse em João 10: 28 "Eu lhes dou a vida eterna, e jamais perecerão e ninguém as arrebatará da minha mão". Assim um dia na eternidade todos os seres humanos criados por Deus alcançarão a totalidade de sua interação com Ele sendo Deus como ele É. Para termos um livre pensamentos usando o bom senso e o comedimento ao ler as Sagradas Escrituras Cristãs precisamos diferenciar Deus de sua revelação divina como fazem as tradições espiritualistas orientais com seus livros sagrados. No Hinduísmo temos os Upanishades, Vedas e Vedanta. No Budismo temos os Sutras do Lótus, Diamante e Coração literaturas milenares sagradas sendo objetos de apreciação meditativa e reflexiva para extração de princípios de vida dessa forma descaracterizadas como credo de catequese espiritual do discípulo. Mas têm-se vislumbrado pequenas mudanças nas principais religiões (Judaismo, Cristianismo e Islamismo) monoteístas sendo isso saudável para o dialogo e compreensão das espiritualidades e religiosidades humanas. Abraço. Davi.               

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