sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Comparecer ante o Tribunal de Cristo. Parte I.

II Coríntios 5:10 "Porque todos devemos comparecer ante o Tribunal de Cristo, para que cada um receba o que tiver feito por meio do corpo, ou bem, ou mal". A cidade litorânea de Corinto nos tempos do apóstolo São Paulo século I era uma importante localidade onde os gregos desenvolviam sua cultura e tradição. Haviam dois porto (Lecaion e Cencreia) que faziam o intercambio entre mercadorias vindas da Ásia setentrional (China, Japão e Coreia) e norte da África. Como os gregos davam prioridades aos conhecimentos filosóficos as comunidades cristãs esotéricas preservavam seus costumes baseados nos ensinamentos antigos dos místicos como Pitágoras (580 AC 490) que fundou uma escola parcialmente secreta com centena de alunos que compunham uma irmandade religiosa e intelectual. Entre os conceitos elaborados destacavam-se práticas de rituais de purificação e crença na doutrina da methempsicose isto é, a transmigração da alma após a morte de um corpo para outro, advogando a reencarnação e a imortalidade da alma. Lealdade entre os membros e distribuição comunitária dos bens materiais. Proibição de comer carne e beber vinho assim é falsa a informação de que seus discípulos mandaram matar 100 bois após a demonstração do Teorema de Pitágoras. Purificação da mente pelo estudo da geometria, aritmética, música e astronomia. Na música uma descoberta notável de que os intervalos musicais se deslocavam de modo que admitem expressões através de proporções aritméticas. Os números eram considerados sagrados havendo todo um processo ritualístico de iniciação a esses mistérios. Proclo (412 AC 485) que em razão da perseguição cristã preservou com seus estudos o conhecimento dessa religião naqueles tempos que estava fadada ao desaparecimento. Ensinou o simbolismo dos mitos gregos analisando-os com muito cuidado e sabedoria. Afirmou por exemplo que nos mitos gregos o casamento é a união indivisível de forças criativas. Platão (482 AC 347) que em linhas gerais desenvolveu a noção de que o homem está em contato permanente com dois tipos de realidade a inteligível e a sensível. A primeira é a realidade imutável igual a si mesma. A segunda são todas as coisas que nos afetam os sentidos, sendo realidades dependentes, mutáveis sendo imagens da realidade inteligível. É a chamada teoria das ideias ou das formas. O conhecimento era do próprio homem, mas sempre ressaltando o homem  não enquanto corpo, mas enquanto alma. O conhecimento contido na alma era a essência daquilo que existia no mundo sensível. Platão acreditava que a alma depois da morte reencarnava em outro corpo. A ela era concedida o privilégio de passar o resto dos seus tempos em companhia dos deuses. Por meio da relação de sua alma com a Alma do Mundo, o homem tem acesso ao mundo das ideias aspirando ao conhecimento e as ideias do Bem e da Justiça. A partir da contemplação do mundo das ideias, o Demiugo, tal como Platão descreveu em seu dialogo Timeu, organizou o mundo sensível. Não se trata de uma criação do nada, como no caso do Deus judaico cristão, pois o Demiurgo não criou a matéria, nem é a fonte da racionalidade das ideias por ele contempladas. A ação do homem se restringe ao mundo material. No mundo das ideias o homem não pode transformar nada. Pois o que é perfeito, não pode ser mais perfeito. Sócrates (469 AC 399) ouvia frequentemente uma voz que lhe transmitia  mensagens e ensinamentos. Dizem que ele ouviu e obedeceu a voz dessa presença invisível até o momento de sua morte. Sócrates nunca escondeu esse fenômeno de ninguém, com receio de ser chamado de louco. Os estudiosos do espiritualismo, misticismo e esoterismo dirão que Sócrates teve contato com alguma entidade espiritual. Essa entidade era chamada na época de Daemon. Os discípulos de Sócrates, Platão e Xenofonte (430 AC 354), denominaram esse ser de um Daemon, ou seja, um gênio ou inteligência invisível que teria a função de mediar as relações do homem perante o Divino. Essa palavra grega foi equivocadamente traduzida como demônio. O Daemon de Sócrates nada tem a ver com demônio, seres devotados unicamente ao mal, tal como eram concebidos pela Igreja Católica. Sócrates dizia que "Desde que eu era uma criança, uma voz impedia-me de fazer coisas. Contudo, ela nunca me induziu a fazer nada". Isso significa que o seu Daemon nunca teve a intenção de interferir em seu livre arbítrio, não procurou alterar a sua vontade consciente e nunca lhe deu ordens do que se deve ou não fazer. Ele apenas sugeria, orientava ou transmitia ensinamentos sobre o que lhe convinha e o que não lhe convinha. Nesse aspecto reside uma evidência de que o Daemon era, de fato, um espírito depurado, livre de desejos de mando ou de qualquer busca por poder ou submissão dos seres humanos. É provável que se tratasse de uma entidade voltada para o bem e o amor. Por esse motivo, Sócrates lhe seguia as orientações, tornando-se o grande filósofo grego, um amante da sabedoria e da busca pela verdade. Sócrates foi finalmente condenado a morte no ano 399 AC, num julgamento onde foi injustamente acusado de corromper a juventude, não adorar os deuses e violar as leis da sociedade ateniense. Após a condenação, foi obrigado a tomar uma bebida chamada Sicuta, um veneno que o levaria a morte. Sócrates fez uma admirável e digna defesa, mas o Daemon não falou absolutamente nada durante todo o tempo. Sócrates explicou "que considerava o silêncio do Daemon como uma aprovação do que estava dizendo. Os sinais costumeiros, por certo, opor-se-iam a mim, estivesse eu caminhando em direção ao mal, melhor do que ao bem. Meu fim, que se aproxima, não está acontecendo por acaso. Vejo, muito claramente, que morrer e pela morte ser libertado será melhor para mim, e por isso mesmo, o oráculo não me deu nenhum sinal". O aspecto da interação comercial e sócio cultural dos com diversos povos trouxe aos cristãos coríntios uma forma eclética de viveram a religiosidade e espiritualidade. Assim misturavam elementos de suas tradições míticas com o  esoterismo advindo da sabedoria dos antigos mestres filósofos. Deuses e semideuses faziam parte do cotidiano existencial dessas comunidades tendo uma visão ampla da comunhão com o Transcendente incluindo a mãe natureza como uma divindade presente no contexto social e espiritual. O apóstolo por certo reconheceu a maneira sui generis que os coríntios tinham para elevarem sua consciência ao Absoluto e Sempiterno. Tentando implantar algumas modificações na maneira exotérico da ortodoxia acabou cedendo a tradição que vinha de muitas gerações por eles praticada. Desistindo assim da interferência direta que poderia prejudicar a particularidade com que os coríntios desenvolviam sua religiosidade e busca pela verdade.  Foi levado por essas e outras circunstâncias a exercitar a tolerância e prudência com esses cristãos ao visitá-los e percebia que eles eram diferentes das comunidades cristãs de Colosso, Éfeso, Tessalônica, Galácia, Roma e Filipos. Penso que não havia um interesse de colonizar os coríntios com novos ensinos exotéricos já que as tradições helênicas eram um legado bem alicerçado nas consciências dos primitivos cristãos que tinham suas terras banhadas pelo mar Mediterrâneo. Todos esses conceitos filosóficos gregos estavam impregnados nas mentes dos crentes coríntios  sendo praticados em suas convivências. Assim a necessidade de duas epístolas para esclarecer pontos obscuros no entendimento desse amados que misturavam conscientemente a Sabedoria Divina da Gnose com a retórica Paulina dos primeiros séculos da era cristã. Desse modo eles praticavam uma espiritualidade diferenciada da ortodoxia teológica buscando no conhecimento e exercícios mentais de sociedades secretas a exemplo daquela instituída por Pitágoras acessar a Divindade Suprema que viam também nos homens aqueles mais evoluídos espiritualmente aspectos de semideuses. Após essa contextualização dos coríntios deixando claro não está baseada totalmente nos ensinamentos cristãos farei uma tentativa de leituras dos versículos que antecedem o ponto central que iremos comentar. "Porque sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus". Evidentemente o tabernáculo referido aqui é nosso corpo físico representado pela personalidade humana que conforme o esoterismo é a cápsula que envolve a verdadeira vida divina imperecível e eterna. Essa casa inexoravelmente se desfará pois para esse propósito ela foi criada sendo efêmera contaminada pelos desejos, vontades e egoísmos humanos que sobrepujam nossa vontade de se elevar a Consciência Divina. O edifício não feito por mão humanas é a partícula divina dentro de nós que a filosofia oculta chama de Monada a centelha (raio) cósmico vertido pela Mente Universal para germinar a primitiva pessoalidade divina em seu proto processo de evolução pela superfície da materialidade e espiritualidade primordial. "E por isso também gememos, desejando ser revestidos da nossa habitação que é do céu". Nosso processo de crescimento espiritual está relacionado a contração e expansão de nossa individualidade (parte superior do homem que busca a interação com o Divino) pelas fases da encarnação atual onde evoluímos através das práticas de virtudes e benemérito tendo como alvo o próximo e também aqueles distante de nosso convívio. Entretanto por ainda estarmos presos a nossas ambições e cobiças involuímos quando revelamos nossos vícios e pecados contra todos os seres da natureza manifestando pelas atitudes mesquinhas e impuras nosso centralismo egoísta e tacanho. "Se, todavia, estando vestidos, não formos achados nus". A nudez é simbolizada pela natureza humana impura e amoral desprovida de atividades éticas que possibilitem o equilíbrio do ser com suas funções cognitivas relacionadas a uma consciência intuitiva e sensitiva capaz de detectar pelo bom senso como agir nas variadas maneiras em prol do bem e da busca pela verdade. A vestimenta visualiza no discípulo que caminha pela Senda Espiritual corresponde a sua conduta correta sendo o elemento que o torna atuante dentro do contexto sócio cultural onde está inserido para o bem da comunidade. Ele não é diferente pela veste exterior mas pela roupa interior que o cobre fazendo o dividir sua túnica da moralidade e espiritualidade com aquele que está despido desse manto. É capaz de andar a segunda milha se necessário para saciar a sede espiritual daquele que precisa beber do fluir do Espírito Divino. "Porque também nós, os que estamos neste tabernáculo, gememos carregados, não porque queremos ser despidos, mas revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida", O raciocínio do apóstolo está baseado no Transcendente e Eterno reconhecendo que o mortal é pó e para o pó ira tornar, mas o elemento espiritual constituinte da matéria permanece imutável evoluindo para chegar a maturidade da Perfeição Divina. "Ora, quem para isto mesmo nos preparou foi Deus, o qual nos deu também o penhor do Espírito". Deus nos preparou para alcançar a completude com a Consciência Universal sendo um processo infalível e irreversível no qual toda vida humana crescerá e florescerá como um broto de lótus. No simbolismo budista a flor de lótus representa a pureza do corpo e da mente. A água lodosa que acolhe a planta é associada ao apego e aos desejos carnais, e a flor imaculada que desabrocha sobre a água em busca de luz é a promessa de pureza e elevação espiritual. É representativamente associada à figura de Buda e aos seus ensinamentos e, por isso, são flores sagradas para os povos do oriente. Diz a lenda que quando o menino Buda (563 AC 483) deu os primeiros passos, em todos os lugares que pisou, flores de lótus desabrocharam. Nas religiões asiáticas, a maior parte das divindades costumam surgir sentadas sobre uma flor de lótus durante o ato de meditação. Na literatura clássica de muitas culturas asiáticas, a flor de lótus simboliza elegância, beleza, perfeição, pureza e graça, sendo frequentemente associada aos atributos femininos ideais. Ela representa um mistério para a ciência, que não consegue explicar a característica própria que possui de repelir micro organismos e partículas de pó. Concluímos esse tema na parte II. Beijo. Davi.            

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