Cristianismo. Livro Catecismo da Igreja Católica. A profissão de fé. O fragmento de um afresco encontrado nas catacumbas de Priscila, Roma – Itália, início do século III, é a mais antiga imagem da Santíssima virgem. Esta imagem, entre as mais antigas da arte cristã, apresenta o que é central na fé cristã: o mistério da encarnação do Filho de Deus nascido da Virgem Maria. A esquerda, se vê uma figura de homem que aponta para uma estrela, situada acima da Virgem com o menino: um profeta, provavelmente Balaão a anunciar que “um procedente de Jacó se torna chefe” Números 24,17. É longa a espera da Antiga Aliança e o apelo da humanidade decaída a um Salvador redentor. Esse anúncio vê-se realizado com o nascimento de Jesus, Filho de Deus feito homem, concebido por obra do Espírito Santo, nascido da Virgem Maria que o traz ao mundo e dá aos homens. Assim ela é a figura mais pura da Igreja. Eu Creio – Nós Cremos. Quando professamos nossa fé, começamos dizendo: “Eu creio” ou “nos cremos”. Por isso, antes de expor a fé da Igreja tal como é confessado no credo, celebrada na liturgia. Vivida na prática dos mandamentos e na oração, nos perguntamos: o que significa crer? A fé é a resposta do homem a Deus que se revela e a ele se doa, trazendo, ao mesmo tempo, uma luz superabundante ao homem – Capítulo I. Em seguida, a revelação divina, pela qual Deus se apresenta ao homem – Capítulo II. Logo após, a resposta da fé – Capítulo III. CAPÍTULO I. O HOMEM É “CAPAZ DE DEUS”. 1. O Desejo de Deus. O desejo de Deus está inscrito no coração do homem, visto que o home é criado por Deus e para Deus. Deus não cessa de atrair o homem a si e somente em Deus o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar. “O aspecto mais sublime da dignidade humana está nesta vocação do homem à comunhão com Deus. Este convite que Deus dirige ao homem de dialogar com ele, começa com a existência humana, pois se o homem existe, é porque Deus o criou por amor. E, por amor, não cessa de dar-lhe o ser. O homem só viverá plenamente segunda a verdade, se reconhecer livremente este amor e se entregar ao seu Criador”. Em sua história, e até os dias de hoje, os homens têm expressado sua busca de Deus de múltiplas maneiras. Por meio de suas crenças e de seus comportamentos religiosos: orações, sacrifícios, cultos, meditações etc. Apesar das ambiguidades que podem comportar, estas formas de expressão são tão universais que o homem pode ser chamado de um ser religioso. “De um só homem ele (Deus) fez toda a espécie humana, para habitar sobre toda a face da terra. Tendo estabelecido o ritmo dos tempos e os limites de sua habitação. Assim fez, para que buscassem a Deus e, talvez às apalpadelas, o encontrassem, a ele que na realidade não está longe de cada um de nós. Sendo que nele vivemos, nos movemos e existimos, Atos 17,26-28. No entanto, esta “união íntima e vital com Deus” pode ser esquecida, ignorada e até rejeitada explicitamente pelo homem. Tais atitudes podem ter origens muito diversas, a revolta contra o mal no mundo. A ignorância ou a indiferença religiosa, as preocupações com as coisas no mundo e com as riquezas. O mau exemplo dos crentes, as correntes de pensamentos hostis à religião. A atitude do homem pecador que, por medo, esconde-se na presença de Deus e foge diante de seu chamado. “Alegre-se o coração dos que buscam o Senhor!” Salmos 105,3. Se o homem pode esquecer ou rejeitar Deus, este, de sua parte, não cessa de chamar todo homem a procurá-lo, para que viva e encontre a felicidade. Esta busca, porém, exige do homem todo o esforço de sua inteligência, a retidão de sua vontade. Um reto coração, e o testemunho dos outros, que o ensinam a procurar Deus. “Vós sois grande, Senhor, e altamente digno de louvor, grande é o vosso poder, a vossa sabedoria não tem medida. O homem, pequena parcela de vossa criação, pretende louvar-vos, precisamente o homem que, revestido de sua condição mortal, traz em si o testemunho de seu pecado e de que resistis aos soberbos. A despeito de tudo, o homem, pequena parcela de vossa criação, quer louvar-vos. Vós mesmo o instigais a isto, fazendo com que ele encontre suas delícias no vosso louvor, porque nos fizestes para vós e o nosso coração não descansa enquanto não repousar em vós”. 2. As vias de acesso ao conhecimento de Deus. Criado a imagem de Deus, chamado a conhecer e a amar Deus, o homem que procura Deus descobre certos caminhos para chegar ao conhecimento de Deus. Eles são também chamados de “provas da existência de Deus”, não no sentido das provas que as ciências naturais buscam. Mas no sentido de argumentos convergentes e convincentes que permitem chegar a verdadeiras certezas. Estas “vias” para chegar a Deus tem como ponto de partida a criação, o mundo material e a pessoa humana. O mundo a partir do movimento é o devir, da contingência, da ordem e da beleza do mundo, pode-se conhecer a Deus como origem e fim do universo. “São Paulo afirma a respeito dos incrédulos: “O que de Deus se pode conhecer é a eles manifesto, já que Deus mesmo lhes deu esse conhecimento. De fato, as perfeições invisíveis de Deus – não somente seu poder eterno, mas a sua eterna divindade – são percebidas pelo intelecto, através de suas obras, desde a criação do mundo” Romanos 1,19-20. Diz Santo Agostinho (354-430): “Interroga a beleza da terra, interroga a beleza do mar, interroga a beleza do ar que se dilata e se difunde. Interroga a beleza do céu (...) Interroga todas estas realidades. Elas te respondem: Olha-nos, somos belas. Sua beleza é um hino de louvor, confesso. Essas belezas sujeitas a mudanças, quem as fez senão o Belo, Bonito, não sujeito a mudanças. O homem com sua abertura à verdade e à beleza, com seu senso do bem moral, com sua liberdade e a voz de sua consciência. Com sua aspiração ao infinito e à felicidade, o homem se interroga sobre a existência de Deus. Mediante tudo isso percebe sinais de sua alma espiritual. Como “semente de eternidade que leva dentro de si, irredutível à só matéria” sua alma não pode ter origem senão em Deus. O mundo e o homem atestam que não tem em si mesmo nem seu princípio primeiro nem seu fim último. Mas que participam do Ser em si, que é sem origem e sem fim. Assim, por esses diversos caminhos, o homem pode chegar ao conhecimento da existência de uma realidade que é a causa primeira e o fim último de tudo, “a que todos chama Deus”. As faculdades do homem o tornam capaz de conhecer a existência de um Deus pessoal. Porém, para que o homem possa entrar em sua intimidade, Deus quis revelar-se ao homem e dar-lhe a graça de poder acolher esta revelação na fé. As provas da existência de Deus podem, todavia, dispor a fé e ajudar a ver que a fé não se opõe à razão humana. 3. O conhecimento de Deus segundo a Igreja. “A santa Igreja, nossa mãe, sustenta e ensina que Deus, princípio e fim de todas as coisas, pode ser conhecido, com certeza, pela luz natural da razão humana, a partir das coisas criadas”. Sem esta capacidade, o homem não poderia acolher a revelação de Deus. O homem tem esta capacidade por ser “a imagem de Deus”. Todavia, nas condições históricas em que se encontra, o homem enfrenta muitas dificuldades pra conhecer a Deus apenas com a luz de sua razão. “Embora a razão humana, falando simplesmente, possa realmente com suas forças e sua luz natural chegar ao conhecimento verdadeiro e certo de Deus único e pessoal, que sustêm e governa o mundo com sua providência. Bem como ao conhecimento da lei natural, impressa pelo Criador em nossas almas, não são poucos, todavia, os obstáculos que impedem a razão de fazer o uso eficaz e frutuoso dessa sua capacidade natural. De fato, as verdades que se referem a Deus e às relações entre os homens e Deus são verdades que transcendem por completo a ordem das coisas sensíveis e quando entram na prática da vida e a enformam, exigem sacrifício e abnegação própria. Ora, o entendimento humano encontra dificuldades na aquisição de tais verdades, quer pela ação dos sentidos e da imaginação, quer pelas más inclinações nascidas do pecado original. Isso faz com que os homens, em semelhantes questões, facilmente se persuadam de ser falso e duvidoso o que não querem que seja verdadeiro. Por isso, o homem ter necessidade de ser iluminado pela revelação de Deus, não somente sobre o que ultrapassa seu entendimento. Mas também sobre “as verdades religiosas e morais que, por si mesmas, não são acessíveis a razão. A fim de que estas, no estado atual do gênero humano, possam ser conhecidas por todos sem dificuldades, com firme certeza e sem confusão de erro. 4. Como falar com Deus? Ao defender a capacidade da razão humana de conhecer a Deus, a Igreja exprime sua confiança na possibilidade de falar de Deus a todos os homens e com todos os homens. Essa convicção está na base de seu diálogo com as outras religiões, com a filosofia e com as ciências, como também com os não crentes e os ateus. Uma vez que nosso conhecimento de Deus é limitado, também limitada é nossa linguagem sobre Deus. Só podemos falar de Deus a partir das criaturas e segundo nosso modo humano, limitado de conhecer e de pensar. As criaturas todas elas, trazem em si certa semelhança com Deus, muito particularmente o homem criado à imagem e à semelhança de Deus. Por isso as múltiplas perfeições das criaturas (sua verdade, bondade, beleza) refletem a perfeição infinita de Deus. Em razão disso, podemos falar de Deus a partir das perfeições de suas criaturas, “partindo da grandeza e beleza das criaturas, pode -se chegar a ver, por analogia, o seu Criador. Deus transcende a toda criatura. Por isso, é preciso incessantemente purificar nossa linguagem daquilo que possui de limitado, de proveniente da pura imaginação, de imperfeito. Para não confundir Deus “inefável, incompreensível, invisível, inatingível” com as nossas representações humanas. Nossas palavras humanas permanecem sempre aquém do mistério de Deus. Assim falando de Deus, nossa linguagem se expressa, sem dúvida, de maneira humana. Contudo ela atinge realmente o próprio Deus, ainda que sem poder exprimi-lo em sua infinita simplicidade. Com efeito, é preciso lembrar que “entre o Criador e a criatura não se pode notar uma semelhança, sem que se deva notar entre eles uma ainda maior dessemelhança”. E que, “não podemos apreender de Deus o que ele é, mas apenas o que ele não é e de que maneira os outros seres situam-se em relação a ele”. Resumindo. O homem é, por natureza e por vocação, um ser religioso. Porque provém de Deus e para Ele caminha, o homem só vive uma vida plenamente humana, se vive livremente sua relação com Deus. O homem é feito para viver em comunhão com Deus, no qual encontra sua felicidade. “Quando eu estiver inteiramente em vós, nunca mais haverá dor e provação, repleta de vós por inteiro, minha vida será verdadeira”. Quando escuta a mensagem das criaturas e a voz de sua consciência, o homem pode atingir a certeza da existência de Deus, causa e fim de tudo. A Igreja ensina que o Deus único e verdadeiro, nosso Criador e Senhor, pode ser conhecido, com certeza, por meio de suas obras graças à luz natural da razão humana. Podemos realmente falar de Deus, partindo das múltiplas perfeições das criaturas, semelhanças do Deus infinitamente perfeito, ainda que nossa linguagem limitada não esgote seu mistério. “Sem o Criador (...) a criatura se esvai”. Eis por que os crentes sabem que são impedidos pelo amor de Cristo a levar a luz de Deus vivo aqueles que o desconhecem ou recusam. Abraço. Davi. Capítulo II. Página 36.
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