terça-feira, 15 de outubro de 2024

A RELIGIÃO DO ISLAM. Parte V

 

Islamismo. Livro Manual para o Novo Muçulmano. Por Jamaal Zarabozo (1960 - ). A RELIGIÃO DO ISLAM. Parte V. A Justiça e a Proibição de Fazer Mal aos Outros A vida sobre a terra não pode florescer se não houver justiça. Por isso o chamado e a implementação da justiça são uma das características mais destacadas no Islam. Em diversas passagens do Qur’an, Allah ordena aos muçulmanos que cumpram as exigências da justiça, ainda quando estas estejam contra seus próprios interesses ou desejos. Por exemplo, Allah disse:  “Deus manda restituir a seu dono o que vos está confiado; quando julgardes vossos semelhantes, fazei-o com equidade. Quão excelente é isso a que Deus vos exorta! Ele é Oniouvinte, Onividente.” (4:58). “Ó fiéis, sede firmes em observardes a justiça, atuando de testemunhas, por amor a Deus, ainda que o testemunho seja contra vós mesmos, contra os vossos pais ou contra os vossos parentes, seja contra vós mesmos, contra os vossos pais ou contra os vossos parentes, seja o acusado rico ou pobre, porque a Deus incumbe protegê-los. Portanto, não sigais os vossos caprichos, para não serdes injustos; e se falseardes o vosso testemunho ou vos recusardes a prestá-lo, sabei que Deus está bem inteirado de tudo quanto fazeis.” (4:135). ” Ó fiéis, sede perseverantes na causa de Deus e prestai testemunho, a bem da justiça; que o ódio aos demais não vos impulsione a serdes injustos para com eles. Sede justos, porque isso está mais próximo da piedade, e temei a Deus, porque Ele está bem inteirado de tudo quanto fazeis.” (5:8) . O Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) demonstrou que ninguém está acima da lei e da justiça no Islam. Uma vez Usamah, que era muito próximo e querido pelo Profeta, foi convencido a tentar interceder, junto ao Profeta, sobre um castigo prescrito, e o Profeta lhe disse: “Acaso, Usamah, intervéns para impedir um dos castigos prescritos por Allah? Por Allah, se Fátima, a filha do Profeta, roubasse, eu mesmo cortaria sua mão.” (Bukhari). Portanto, a justiça deve ser paliçada a todos: ricos, pobres, jovens, velhos, amigos, inimigos, muçulmanos, não muçulmanos, e assim sucessivamente. Na verdade, se não fosse assim e fosse utilizado algum tipo de intermédio, não seria uma justiça verdadeira. O muçulmano deve ser justo com todos, amigos ou inimigos, incluindo com sua própria alma. Não é permitido que sua alma lhe cause danos, pois isso não é “liberdade”, senão uma das piores formas de injustiça. Um verdadeiro muçulmano é ordenado a ser mais que justo, deve, também, ser benevolente e tolerante. Por isso, Allah disse: “Deus ordena a justiça, a caridade, o auxílio aos parentes, e veda a obscenidade, o ilícito e a iniqüidade. Ele vos exorta a que mediteis.” (16:90). A aplicação da justiça e trabalho em prol dela são algumas das grandes responsabilidades da comunidade islâmica, coletivamente. De certa maneira os muçulmanos são testemunhas, ante o resto da humanidade, do que se trata a verdadeira religião de Allah. A este respeito, Allah disse: “E, deste modo, (ó muçulmanos), contribuímos-vos em uma nação de centro, para que sejais, testemunhas da humanidade, assim como o Mensageiro será para vós...” (2:143). Um dos significados da palavra wasat (no versículo acima traduzido como “de centro”) é justo e equilibrado, que evita os extremos que acompanham sempre a exploração e a injustiça. Por último, existe uma relação muito importante entre a justiça e a obediência à revelação de Allah. Allah é o único com imparcialidade e justiça para determinar leis que não favorecem a uma classe em detrimento de outra (em particular, a dos poderosos sobre os fracos). É também o único com conhecimento total que Lhe permite estabelecer leis verdadeiramente justas. Pode-se ter intenções sinceras, entretanto, devido à necessidade do conhecimento racional perfeito e das interações sociais humanas, corre-se o risco de invocar leis que na realidade são injustas e parciais. Mais uma vez, se uma pessoa uma pessoa deseja uma justiça pura e intacta, não tem outra opção senão recorrer à revelação de Allah e Suas Leis. Ibn al Qaiim escreveu: “Allah enviou Seus mensageiros e revelou Seus Livros para que a gente pudesse viver com justiça. É a mesma justiça e o mesmo equilíbrio em que se baseiam os céus e a terra. Em todo lugar onde estejam visíveis e claros os sinais da verdadeira justiça, ali estará a Lei de Allah e Sua religião.” Afortunadamente, para toda a humanidade, o funcionamento do cosmos se dá segundo a justiça e a verdade de Allah e não se baseia em paixões dos seres humanos. Dessa forma Allah disse: “E se a verdade tivesse satisfeito os seus interesses, os céus e a terra, com tudo quanto encerram, transformar-se-iam num caos. Qual! Enviamos-lhes a Mensagem e assim mesmo a desdenharam.” (23:71). A justiça, que é tão essencial ao Islam, estende-se além desta vida. Em outras palavras, Allah julgará todas as pessoas da maneira mais justa e não prejudicará a ninguém, nem mesmo no mínimo que seja. Parte desta justiça inclui o fato de que nenhuma pessoa carregará o pecado de outra e ninguém será responsável pelo que esteja além de seu alcance. Sobre isso Allah disse: “Dize ainda: Como poderia eu adorar outro senhor que não fosse Deus, uma vez que Ele é o Senhor de todas as coisas? Nenhuma alma receberá outra recompensa que não for a merecida, e nenhum pecador arcará com culpas alheias, então, retornareis ao vosso Senhor, o Qual vos inteirará de vossas divergências.” (6:164). “Quem se encaminha, o faz em seu benefício; quem se desvia, o faz em seu prejuízo, e nenhum pecador arcará com a culpa alheia. Jamais castigamos (um povo), sem antes termos enviado um mensageiro.” (17:15). “Deus não impõe a nenhuma alma uma carga superior às suas forças. Beneficiar-se-á com o bem quem o tiver feito e sofrerá mal quem o tiver cometido...” (2:286). “Que o abastado retribua isso, segundo as suas posses; quanto àquele, cujos recursos forem parcos, que retribua com aquilo com que Deus lhe agraciou. Deus não impõe a ninguém obrigação superior ao que lhe concedeu; Deus trocará a dificuldade pela facilidade.” (65:7). A justiça não só tem um aspecto positivo (o cumprimento e a restituição dos direitos que haviam sido violados), mas também deve ter um componente “negativo”: a proibição de prejudicar o próximo. No Islam é muito evidente o impedimento de se prejudicar o próximo. O Profeta afirmou que Allah lhe disse: “Ó servos Meus, é proibida para Mim a injustiça e proibida para vós. Portanto, não vos prejudiquem uns aos outros.” (Muslim). Ibn Taimiyah sustenta que essa afirmação cobre toda a religião. Tudo o que Allah proibiu, de uma ou outra maneira, é um tipo de injustiça (dhulm), enquanto tudo o que foi ordenado é uma forma de justiça (adl). De fato, Allah disse: “Enviamos os Nossos mensageiros com as evidências: e enviamos, com eles, o Livro e a balança, para que os humanos observem a justiça; e criamos o ferro, que encerra grande poder (para a guerra), além de outros benefícios para os humanos, para que Deus Se certifique de quem O secunda intimamente, a Ele e aos Seus mensageiros; Sabei que Deus é Poderoso, Fortíssimo.” (57:25). Portanto, foram enviados mensageiros, livros foram revelados e alcançou-se um equilíbrio para que a humanidade pudesse se estabelecer e viver com justiça. Além disso, o ferro foi criado para que pudesse ser usado em nome da verdade e justiça. O Livro guia à justiça e a espada e o ferro o apoiam. Existe outra relação muito importante entre justiça e Islam. Para que os seres humanos possam ser realmente justos, necessitam de algum tipo de mecanismo interno que os impulsione a fazer algo correto. É muito fácil ser parcial quando está em jogo a riqueza, a família, a comunidade e a honra. Muitos sabem reconhecer a injustiça dos demais, mas não conseguem, ou mesmo se negam, a reconhecer a própria injustiça. Nesses casos as paixões não nos permitem reconhecer a verdade. Sem dúvidas, uma vez que a verdadeira fé entra no coração da pessoa, a situação muda por completo. A pessoa entende que Allah quer que ela atue com justiça. Ela também sabe que Allah está inteirado de todas as suas ações e intenções, até as mais pequenas. Allah exige justiça e proibiu todas as formas de injustiça. Então, o verdadeiro crente não dará preferência a seus desejos, sua riqueza, sua nação ou o que for, sobre o que Allah exige dele em forma de justiça. Sabe que se encontrará com Allah e que quererá fazê-lo com a consciência limpa. Assim, esforçar-se-á para alcançar a justiça e aceitar somente o que está determine. Muitos convertidos, hoje em dia, vêm de sociedades individualistas, onde, em muitas ocasiões, a justiça é passada para trás para servir aos interesses próprios. Isto não tem cabimento dentro do Islam. Novamente, ainda que vá contra nossos próprios interesses, um muçulmano deve sempre firmar-se e encorajar-se na verdade e justiça. - A Paz Verdadeira A luz e a orientação de Allah é o caminho para a paz verdadeira. Allah disse: “Ó adeptos do Livro, foi-vos apresentado o Nosso Mensageiro para mostrar-vos muito do que ocultáveis do Livro e perdoar-vos em muito. Já vos chegou de Deus uma Luz e um Livro lúcido, pelo qual Deus conduzirá aos caminhos da salvação aqueles que procurarem a Sua complacência e, por Sua vontade, tirá-los-á das trevas e os levará para a luz, encaminhando-os para a senda reta.” (5:15-16). De fato Allah chama os seres humanos à morada da paz eterna: “Onde sua prece será: Glorificado sejas, ó Deus! Aí sua mútua saudação será: Paz! E o fim de sua prece será: Louvado seja Deus, Senhor do Universo!” (10:25). A paz total e verdadeira só se pode ser alcançada quando as pessoas obtêm a paz interior. É a única forma de vida compatível com a natureza dos seres humanos. De fato, é o que podemos chamar “verdadeira vida”. Assim, disse Allah: “Ó fiéis, atendei a Deus e ao Mensageiro, quando ele vos convocar à salvação. E sabei que Deus intercede entre o homem e o seu coração, e que sereis congregados ante Ele.” (8:24). Conhecer a Allah é o que pode trazer a verdadeira felicidade da alma. Se a pessoa não conhece seu Criador, sua alma sempre estará sempre buscando algo que falta em sua vida. A menos que a alma e o coração estejam contentes, a pessoa nunca poderá alcançar a felicidade. O Profeta disse: “A verdadeira riqueza está na felicidade interna.” (Bukhari e Muslim). Também disse: “A verdadeira riqueza é a riqueza do coração. A verdadeira pobreza é a pobreza do coração.” Uma vez que o indivíduo está em paz consigo mesmo e livre de toda agitação interna, pode estabelecer relações verdadeiramente pacíficas com os demais. Isso começa com os mais próximos de sua família e se estende aos vizinhos e outras pessoas da comunidade, para eventualmente alcançar a humanidade em sua totalidade. Assim o Islam estabelece uma estrutura social baseada na interatividade entre as pessoas, de forma que geram uma coexistência pacífica. Os filhos reconhecem os direitos de seus pais sobre eles mesmos, por sua vez, os pais reconhecem as suas responsabilidades para com seus filhos. Os cônjuges se unem não como competidores, mas como companheiros que cooperam para criar um lugar cheio de paz e amor. De fato, Allah ressalta que esta relação - que Ele criou - como um grande sinal: “Entre os Seus sinais está o de haver-vos criado companheiras da vossa mesma espécie, para que com elas convivais; e colocou amor e piedade entre vós. Por certo que nisto há sinais para os sensatos.”(30:21). Allah estabelece leis estritas que protegem a santidade do lar, como as leis que dizem respeito ao adultério, fornicação e injúria. A razão para isso é que o lar é a verdadeira base de toda a sociedade. Dificilmente as pessoas que provêm de um lar conflitado e sem paz poderão se tornar membros positivos e pacíficos da sociedade. Posto que a orientação do Islam não só cobre o que se conhece tradicionalmente como “lei”, senão também o comportamento e a conduta ética; o Islam oferece uma orientação detalhada da maneira em que os membros da sociedade devem interagir entre si. Há uma grande ênfase no respeito mútuo, no que cada membro da sociedade é consciente de que é parte de uma unidade maior e que isso implica direitos e deveres. Este sentimento mútuo produz uma sociedade cheia de paz, na qual cada indivíduo cuida do bem-estar e das necessidades dos outros membros da sociedade. Portanto, quando se põe em prática o Islam, a pessoa encontra paz ao seu redor, tanto em si mesma, quanto na sociedade. Até mesmo a paz mundial só pode ser real através da justiça. Nos últimos anos, cada vez mais pessoas se dão conta disso e declaram que “não há paz sem justiça”. (A justiça geralmente é um lema utilizado em tempos de guerra, mas normalmente não é mais que isso, um lema.) Entretanto, não pode haver paz verdadeira ou justiça até que as pessoas consigam superar os interesses nacionalistas, étnicos, econômicos ou políticos. A verdadeira justiça só pode acontecer quando as pessoas se dedicam inteiramente a Allah, aplicando Sua orientação e eliminando seus egos e paixões em suas decisões. Na próxima vida, desde já afirmo, a paz eterna só poderá ser alcançada crendo em Allah e seguindo Sua orientação. Novamente, Allah deixa bem claro que esse é o destino o qual os seres humanos são convidados: “Deus convoca à morada da paz e encaminha à senda reta quem Lhe apraz.” (10:25). - Uma Última Consideração Não é exagero advertir que todos os objetivos do Islam estão fortemente interligados e isso é algo bastante lógico. Na verdade, todos surgem da base do monoteísmo verdadeiro. Quando uma pessoa se cerca pelos ensinamentos islâmicos, liberta-se da adoração a qualquer coisa ou objeto. Além disso, leva uma vida, neste mundo, de uma maneira que beneficia a sociedade e a civilização. Trabalha pela justiça e se assegura que nem ele, nem os outros provoquem algum tipo de dano. No fim encontra a verdadeira paz e pode transmiti-la aos demais. Entretanto, tudo isso deve começar com a verdadeira interiorização do monoteísmo puro, naquilo que a pessoa adora e se submete – Allah e a prática, com devoção, da religião de Allah em sua vida. Claramente, uma vez que a pessoa entende, aceita e aplica o verdadeiro conceito do monoteísmo islâmico em sua vida, alcança-se os outros aspectos como consequência desta meta principal. Por outro lado, sem um monoteísmo puro, não se pode alcançar os objetivos, inclusive a níveis superficiais. Por isso, é compreensível que, na essência, todo o Qur’an trate do tauhid, ou o monoteísmo puro; de fato, cada capítulo do Qur’an [trata sobre tauhid]. O Qur’an cita os nomes e atributos de Allah. Esse é o tauhid que se refere ao que deve ser conhecido e é reportado. O Qur’an convida a adorá-lo, sem associá-lo companheiros [nessa adoração] e abandonando todo ídolo que não seja Ele. Esse é o tauhid da intenção ou vontade. O Qur’an ordena, proíbe ou decreta a obediência para com Ele. São aspectos essenciais do tauhid e parte de sua totalidade. O Qur’an reporta como [Allah] honra àqueles que aderem ao tauhid, o que Ele faz por estes neste mundo e o que lhes é reservado na próxima vida. Essa é a recompensa por aderir ao tauhid. O Qur’an também reporta sobre os politeístas e de como são tratados neste mundo e que tipo de castigo receberão quando chegar o fim, esse é o castigo para aqueles que abandonam os aspectos do tauhid.” Abraço. Davi.

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