Judaísmo. Livro Judaísmo e Cristianismo – As Diferenças. Por Trude Weiss Rosmarin (1908-1989). JESUS. Capítulo 8. JESUS. Parte VI. A Bíblia Hebraica considera todos os seres humanos como irmãos por parte do Pai do Céu. Portanto, os profetas eram os mensageiros de Deus para toda a humanidade e não somente para seu próprio povo. Jesus, por outro lado, apresentou uma atitude definitivamente exclusivista ao enfatizar que fora enviado somente para “as ovelhas desgarradas do povo de Israel” Mateus 15,24. Esse aspecto é ainda mais enfatizado na recusa de Jesus em curar a filha de uma canaanita. A Bíblia Hebraica está repleta de exemplos de gestos de bondade dirigidos a não judeus. Para citar apenas um: quando Naamã, o general arameu acometido por lepra, dirigiu-se ao Rei de Israel pedindo ajuda, o profeta Eliseu prontamente ofereceu seus préstimos restabelecendo sua saúde devido à graça Divina, II Reis 5. O fato de Naamã não ser israelita não fez com que o profeta não o ajudasse. De modo semelhante, todos os códigos de lei e guias éticos judaicos enfatizam que o judeu não deve discriminar os não judeus. Mas auxiliá-los na adversidade, doença e tragédia, assim como ajudaria um judeu. A dura resposta de Jesus à canaanita não foi menos contrária à tradição judaica do que aos padrões éticos aceitos. Pois quando a mulher implorou: “Tenha piedade de mim, Senhor! Minha filha está terrivelmente possuída pelo demônio”, Jesus não a reconfortou e instruiu seus discípulos: “Mande-a embora pois fica implorando”, e acrescentou: “Fui enviado somente para as ovelhas desgarradas da casa de Israel”. Quando a mãe alterada continuou implorando, ele exclamou as cruéis palavras: “Não é certo tirar o pão das crianças e jogar aos cães”, querendo dizer com isso que os não judeus são cães e, consequentemente, não tem direito à misericórdia Divina. Somente quando a pobre mulher se humilhou, a ponto de aceitar o papel de um cão, dizendo: “Até os cães comem as migalhas que caem da mesa de seu dono”. É que Jesus considerou e prometeu ajudá-la “porque você possui grande fé”, Mateus 15,22-28. Mas, mesmo assim ao ajudá-la, ele o fez sem humanidade ou piedade, porém como retribuição à grande fé da mulher em sua pessoa. Assim como suas inconsistências e oposições a certos princípios da crença e ética judaicas colocaram Jesus em oposição ao judaísmo. Da mesma foram as interpretações arbitrárias de certas leis primordiais o desqualificaram como “rabino” ou “mestre”. Vimos que o reconhecimento de Jesus de que ele não veio para alterar a Lei foi anulado pela parábola de que um retalho novo não pode remendar uma roupa velha, nem um vinho novo pode ser mantido num barril envelhecido. Apesar de Jesus ter apregoado que nenhum pingo no i ou traço no t deveria ser retirado da Lei. Ele próprio desconsiderou e violou várias leis importantes. Já analisamos a ilegalidade da autorização a seus discípulos e apanharem as espigas de milho no Shabat. Pois estar faminto não se trata de emergência que justifique a transgressão do Shabat. Também vimos que ao enumerar os Dez Mandamentos, Jesus omitiu os quatro referentes aos deveres cerimoniais. Isto, entretanto, foi somente parte da desconsideração deliberada de Jesus pela Lei. Em várias ocasiões ele curou pessoas no Shabat que não estavam em situação emergencial, alegando que poderia fazê-lo em oposição aos rabinos que sustentavam que o Shabat pode (e deve, na verdade) ser transgredido somente com vistas a salvar e preservar uma vida. Contudo não para tratar de pessoas com enfermidades crônicas cujo estado se prolonga por anos e que, sem qualquer perigo de vida e saúde, podem aguardar algumas horas até o término do Shabat, ver Mateus 12,14-19. Lucas 13,10-16. A lei judaica aprova e recomenda o divórcio como meio de findar um matrimônio infeliz e insustentável. De fato, a Lei é notavelmente liberal, pois aceita como justificativa para o divórcio a incompatibilidade, o que não é admitido por várias religiões progressistas. O motivo subjacente, claro, é que é cruel e imoral forças duas pessoas que não mais se amam ou respeitam viverem sob o mesmo teto. A sensibilidade extremamente refinada do judeu para a santidade do vínculo do matrimônio pode ser vista pelo fato de que a lei judaica proíbe a intimidade conjugal se o marido odeia sua esposa “em seu coração”. O divórcio se constitui numa tragédia, ao que todos os mestres judeus prontamente admitem. Na verdade, é tão trágico que o próprio altar de Deus verte lágrimas quando um homem se divorcia da esposa que conheceu na sua juventude. Mas devido ao fato de a vida ser como é, o divórcio é necessário. Assim, a lei judaica aprova o divórcio e o Talmud devota um tratado inteiro para as implicações legais da dissolução do casamento – Guitim. “A eles (os judeus) foi dito: Aquele que repudiar sua mulher, dê-lhe uma carta de divórcio. Eu, porém, vos digo: Todo aquele que repudia sua mulher, a não ser por motivo de fornicação, faz com que ela adultere, e aquele que se casa com a repudiada, comete adultério”. Mateus 5,31 e seguintes: comparar com Mateus 19,3-9. Abraço. Davi
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