Cristianismo. Livro Catecismo da Igreja Católica. CAPÍTULO II. Parte I. DEUS VEM AO ENCONTRO DO HOMEM. Mediante a razão natural, o homem pode, com certeza, conhecer a Deus a partir de suas obras. Existe, porém, outra ordem de conhecimento que o homem de modo algum pode atingir por suas próprias forças, a da revelação divina. Por uma decisão totalmente livre, Deus se revela e se doa ao homem. Faz isto revelando seu mistério, seu projeto benevolente, que, desde toda a eternidade, concebeu em Cristo, em favor de todos os homens. Revela plenamente seu projeto, enviando seu Filho bem-amado, nosso Senhor Jesus Cristo e o Espírito Santo. A Revelação de Deus. 1. Deus revela seu projeto benevolente. “Aprouve a Deus em sua bondade e sabedoria, revelar-se a si mesmo e tornar conhecido o mistério de sua vontade, pelo qual os homens, por intermédio de Cristo, Verbo feito carne, no Espírito Santo. Tem acesso ao Pai e se tornam participantes da natureza divina”. Deus, que “habita numa luz inacessível” I Timóteo 6,16, quer comunicar sua própria vida divina aos homens, criados livremente por ele, em seu Filho único, filhos adotivos. Ao revelar-se, Deus quer tornar os homens capazes de responder-lhe, de conhecê-lo e de amá-lo bem mais do que seriam capazes por si mesmos. O projeto divino da Revelação realiza-se ao mesmo tempo por ações e por palavras, intimamente ligadas entre si e que iluminam mutuamente. Este projeto comporta uma pedagogia divina peculiar. Deus comunica-se gradualmente com o home, o prepara, por etapas, para acolher a revelação sobrenatural que faz de si mesmo e que culmina na Pessoa e na missão do Verbo encarnado, Jesus Cristo. Santo Irineu de Lion (130 d.C.) fala, repetidas vezes, desta pedagogia divina sobre a imagem da familiaridade mútua entre Deus e o homem. “O Verbo de Deus (...) habitou no homem e se fez Filho do homem para acostumar o home a apreender a Deus e acostumar Deus a habitar no homem, segundo o consentimento da Pai”. 2. As etapas da revelação. Desde a origem, Deus se dá a conhecer. “Deus, criando e conservando todas as coisas pelo Verbo, oferece aos homens um testemunho perene de Si mesmo na criação, Romanos 1,1-20”. Além disso, decidindo abrir o caminho da salvação sobrenatural, manifestou-se a Si mesmo, desde o princípio, aos nossos primeiros pais. Depois da sua queda, com a promessa de redenção, deu-lhes a esperança da salvação, Gênesis 3,15, cuidando continuamente do gênero humano, para dar a vida eterna a todos aqueles que, perseverando na prática das boas obras, procuram a salvação Romanos 2,6-7. No devido tempo chamou a Abraão, para fazer dele pai de um grande povo, Gênesis 12,2 povo que, depois dos patriarcas, ele instruiu. Por meio de Moisés e dos profetas, para que o reconhecessem como único Deus vivo e verdadeiro, pai providente e juiz justo. Para que esperassem o Salvador prometido, assim preparou Deus através dos tempos o caminho ao Evangelho. Convidou-os a uma comunhão íntima consigo mesmo, revestindo-os de uma graça e de uma justiça resplandentes. Esta revelação não foi interrompida pelo pecado de nossos pais. Deus, com efeito, “após a queda deles (...) com a promessa da redenção, os consolou com a esperança da salvação e velou permanentemente pelo gênero humano. A fim de dar a vida eterna a todos aqueles que, pela perseverança na prática do bem, procuram a salvação. “Quando pela desobediência perderam vossa amizade, não os abandonastes ao poder da morte (...). Oferecestes, muitas vezes, aliança aos homens e às mulheres”. A Aliança com Noé. Desfeita a unidade do gênero humano pelo pecado. Deus procura, antes de tudo, salva a humanidade intervindo em cada uma de suas partes. A Aliança com Noé, depois do dilúvio, exprime o princípio da economia divina para com as nações, isto é, para com os homens agrupados “segundo seu país, língua, família e nação” Gênesis 10,5. Esta ordem cósmica, social e religiosa da pluralidade das nações destina-se a limitar o orgulho de uma humanidade decaída que, unânime em sua perversidade, gostaria de construir, por si mesma, sua unidade a maneira de Babel, Gênesis 11,4-6. Contudo, devido ao pecado, o politeísmo, assim como a idolatria da nação e de seu chefe, constitui uma contínua ameaça de perversão pagã para essa economia provisória. A Aliança com Noé permanece em vigor durante todo o tempo das nações, até a proclamação universal do Evangelho. A Bíblia venera algumas grandes figuras das nações, tais como Abel o justo, o rei sacerdote Melquisedeque, figura de Cristo, ou os justos Noé, Daniel e Jó. Assim, a Escritura exprime que grau elevado de santidade pode atingir os que vivem segundo a Aliança de Noé, na expectativa de que Cristo congregue na unidade “todos os filhos de Deus dispersos, João 11,52. Deus elege Abraão. Para congregar a humanidade dispersa, Deus elege Abraão. Para congregar a humanidade dispersa, Deus elege Abrão, o chamando. “Sai de tua terra, do meio de teus parentes, da casa de teu pai”, Gênesis 12,1. Para fazer dele Abraão, o pai de uma multidão de nações, Gênesis 17,5. “Em ti serão abençoadas todas as famílias da terra” Gênesis 12,3. O povo originado de Abraão será o depositário da promessa feita aos patriarcas, o povo escolhido, chamado a preparar, um dia, a unidade da Igreja de todos os filhos de Deus. Este povo será a raiz sobre a qual serão enxertados os descrentes tornados crentes. Os patriarcas e os profetas, bem como outras personalidades do Antigo Testamento, foram e serão sempre venerados como santos em todas as tradições litúrgicas da Igreja. Deus forma seu povo. Depois forma seu povo Israel. Depois dos patriarcas, Deus formou Israel como seu povo, o salvando da escravidão do Egito. Fez com ele a Aliança do Sinai e deu-lhe, por intermédio de Moisés, sua Lei, para que o reconhecesse e o servisse como o único Deus vivo e verdadeiro. Pai providente e juiz justo, para que esperasse o Salvador prometido. Israel é o povo sacerdotal de Deus, aquele sobre o qual é invocado o Nome do Senhor, Deuteronômio 28,10. É o povo daqueles aos quais Deus falou em primeiro lugar, o povo dos irmãos mais velhos da fé de Abraão. Por meio dos profetas, Deus forma seu povo na esperança da salvação, na expectativa de uma Aliança nova e eterna, destinada a todos os homens, e que será impressa nos corações. Os profetas anunciam uma redenção radical do Povo de Deus, a purificação de todas as suas infidelidades, uma salvação que incluirá todas as nações. Serão sobretudo os pobres e os humildes do Senhor os portadores desta esperança. As mulheres santas como Sara, Rebeca, Raquel, Miriam, Débora, Hulda, Ana, Judite e Ester mantiveram viva a esperança da salvação de Israel. Entre todas elas, a figura mais luminosa é Maria. Cristo Jesus “mediador e plenitude de toda a revelação. Deus tudo disse no seu Verbo. “Muitas vezes e de muitos modos, Deus falou outrora aos nossos país, pelos profetas. Nestes dias, que são os últimos, falou-nos por meio do Filho, Hebreu 1,1-2. Cristo, o Filho de Deus feito homem, é a Palavra única, perfeita e insuperável do Pai. Nele o Pai disse tudo, e não há outra palavra senão está. São João da Cruz (1542-1591), a exemplo de tantos outros, expressa isto de maneira brilhante, ao comentar Hebreus 1,1-2. “Porque em dar-nos, como nos deu, seu Filho, que é sua Palavra única, e não há outra, tudo nos falou de uma só vez nessa única Palavra, e nada mais tem a falar (...). De fato, aquilo que outrora falou parcialmente aos profetas, agora nos disse inteiramente em seu Filho, nos dando o todo que é seu próprio Filho. Portanto, se alguém ainda quisesse interrogar o Senhor e pedir-lhe visões ou revelações. Não só cometeria uma insensatez como ofenderia a Deus, por não fixar seu olhar unicamente em Cristo e buscar fora dele coisas diferentes ou novidades”. Não haverá outra revelação. A economia cristã, portanto, como Aliança nova e definitiva, jamais passará, e já não há que esperar nenhuma nova revelação pública antes da gloriosa manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo. Todavia, embora a Revelação esteja terminada, não está explicitada por completo. Cabe a fé cristã captar gradualmente, ao longo dos séculos, todo o seu alcance. No decurso dos séculos, houve revelações denominadas “privadas”, algumas delas reconhecidas pela autoridade da Igreja. Elas não pertencem, contudo, ao depósito da fé. A função delas não é “melhorar” nem “completar” a Revelação definitiva de Cristo. Todavia ajudar a viver dela, com mais plenitude, em determinada época da história. Guiado pelo Magistério da Igreja, o sendo dos fiéis sabe discernir e acolher o que nessas revelações constitui um apelo autêntico de Cristo ou de seus santos à Igreja. A fé cristã não pode aceitar “revelações” que pretendam ultrapassar ou corrigir a Revelação da Qual Cristo é a perfeição. Este é o caso de certas religiões não cristãs e de certas seitas recentes que se fundamentam em tais “revelações”. Abraço. Davi
Nenhum comentário:
Postar um comentário