Religião Afro-brasileira.
Umbanda. Livro Código de Umbanda. Por Rubens Saraceni (1951-2015). O MÉDIUM DE
UMBANDA. Capítulo III. O médium de Umbanda, ainda que muitos não o valorize, é
o ponto chave do ritual de Umbanda no plano material. E por sê-lo, deve merecer
dos filhos de Fé já maduros, iniciados, toda atenção, carinho e respeito quando
adentram no espaço interno das tendas, pois é mais um filho da Umbanda que é
“dado” à luz. E tal como quando a generosa mãe dá a luz mais um filho, em que
tanto o pai quanto os irmãos se acercam do recém nascido e o cobrem de bençãos,
amor, carinho e ... compreensão para os seus choros. O novo filho de Fé ainda é
uma criança que veio à luz e precisa de amparo e todos os cuidados devido à sua ainda frágil
constituição íntima e emocional. Do lado espiritual, todo o apoio lhe é dado,
pois nós, os espíritos guias deles, sabemos que este é o período em que mais
frágil se sente um ser que traz a mediunidade. Para um médium iniciante, este é
um momento único em sua vida, e um período de transição, onde todos os seus
valores religiosos anteriores de nada lhe valem, pois outros valores lhe estão
sendo apresentados. Para todos os seres humanos este é um período extremamente
delicado em suas vidas. E não são poucos os médiuns que se decepcionam com a
falta de compreensão para sua fragilidade diante do novo e do ainda
desconhecido. É tão comum uma pessoa dotada de forte mediunidade e de grandes
medos ser vista como “fraca” de cabeça pelos já “tarimbados” médiuns. Mas estes
não param para pensar um pouco no que realmente incomoda o novo irmão e, com
isso, o Ritual de Umbanda Sagrada vê mais um dos seus recém-nascidos filhos
perecer na maior angústia, e socorrer-se a outros rituais que primam pela
ignorância do mundo espiritual e sufocam nos seus fieis seus mais elementares
dons naturais. Muitos apregoam que tantos e tantos brasileiros são umbandistas,
e que isso demonstra o vigor da religião umbandista. Contudo, infelizmente,
isso não é verdade, e só serve para diminuir o que poderia ser uma grande
verdade. Vários milhões de brasileiros já assumiram suas mediunidades por
completo e são médiuns praticantes, que incorporam regularmente seus guias
dentro das tendas onde trabalham. Ou nas suas reuniões mais íntimas em suas
próprias casas. Mas alguns milhões de filhos de Fé com um potencial mediúnico
magnífico já foram perdidos para outros rituais. Por os diretos das tendas não
deram a devida atenção ao “fator médium” do Ritual de Umbanda, assim como não
atentaram para o fato de que aqueles que lhes são apresentados pelos guias
zeladores dos novos médiuns, se lhes são enviados, o são pelo próprio Espírito
Universal e universalista anima a Umbanda Sagrada. E que é o seu espírito
religioso, que no lado espiritual tem meios sutis de atuar sobre um filho de
Fé. Todavia no lado material depende fundamentalmente dos sacerdotes,
animadores materiais desse corpo invisível, ativo e totalmente religioso. É tão
comum vermos médiuns já iniciados que não tem a menor noção da existência desse
corpo religioso umbandista que se move através do plasma universal que é Deus,
é fé e é religiosidade. “Eu sou filho de tal Orixá ...”, e pronto. Sua fé acaba
a partir daí, e sua ligação com esse plasma divinizado em uma religião fica
restrito a isto: “Eu sou filho de tal Orixá”. Incorpora seus guias, estes
trabalham, e maravilhosamente, pois estão em comunhão total com esse espírito
ativo que é o corpo religioso umbandista. Corpo este que assume a forma de
Orixás ou de seus pontos de forças, mas que não deixam de irradiar essa energia
divina chamada Fé. O ritual é aberto a todas as manifestações, todavia o lado
material, médiuns, tem de ser esclarecido de que as manifestações só acontecem
por causa desse espírito religioso invisível conhecido por Ritual de Umbanda, e
fora dele não há manifestações, tão somente possessões espirituais. É este
espírito invisível que sustenta todas as
manifestações, quando em nome da Umbanda Sagrada são realizadas. Houve um tempo
em que os Orixás foram sincretizados com santos católicos, pois aí a
concretização do ritual aconteceria. As imagens “mascaravam” a verdade oculta e
as perseguições religiosas, políticas e policiais foram abrandadas. Mas
atualmente, isso já não é preciso como meio de expansão da Umbanda Sagrada.
Hoje já existe liberdade suficiente para que todos digam abertamente: Sou um
filho de Fé, sou um filho de Umbanda. Mas, para que isso possa ser realmente
dito, é chegado o tempo de a Umbanda deixar de perder seus filhos
recém-nascidos para religiões que ainda recorrem a princípios medievais, quando
não obscurantistas. Há de ser criada uma forte linha de fé doutrinadora dos
sentimentos religiosos dos filhos de Fé, pois só assim, a Umbanda Sagrada sairá
do interior das tendas e dos lares e abarcará, em um movimento abrangente e envolvedor,
os milhões de irmãos que afluem as tendas ou aos médiuns à procura de uma
palavra de consolo, conforto ou esclarecimento. É chegado o momento de todos os
médiuns, diretores espirituais, dirigentes espirituais e pais e mães no Santo
imprimirem aos seus trabalhos mais uma vertente da Umbanda Sagrada: a
doutrinação dos irmãos e irmãs que afluem as tendas nos dias de trabalho. É
preciso uma conscientização dos pais e mães no Santo de que os necessitados, os
aflitos e os carentes não só as tendas de Umbanda, mas também a todas as outras
portas abertas onde há uma promessa, um vislumbre de socorro imediato. Mas só
aquelas portas que, ao lado do socorro imediato, oferecerem uma luz para toda a
vida alcançarão seu real objetivo, pois ao par do imediato também oferecem o
bem duradouro, que é a fé forte em uma religião. E a Umbanda Sagrada é uma
religião ! Por isso, ela tem de sair da tenda e conquistar os corações dos que
a ela afluem nos dias de trabalho, e conquistar o e respeito e a confiança de
todos os cidadãos no seu trabalho de doutrinação e salvação de almas. Nós temos
acompanhado com carinho e atenção os irmãos umbandistas que têm oferecido a
maior parte de suas vidas a esta necessidade da religião umbandista. Abençoados
são estes verdadeiros filhos de Umbanda, porém temos acompanhado a vida de
todos os pais e mães de Santo e temos visto que bloqueiam a si próprios e às
suas potencialidades doutrinadoras dentro da Umbanda Sagrada, quando limitam a
si e sua religião aos trabalhos dentro de suas tendas, quando seus guias
incorporam e ... trabalham. Limitam-se só a isso e limitam à própria religião
umbandista, mas não concedem a si próprios as qualidades que seus Orixás lhes
mostram serem possuidores. Muitos filhos de Fé, movidos por nobres e dignificantes
intenções, buscam nas línguas a explicação do termo “umbanda”. Alguns chegam a
mergulhar no passado ancestral em busca do real significado desta palavra. Nada
a opor de nossa parte, mas melhor fariam e mais louvável aos olhos dos Orixás
seriam seus esforços, caso já tivessem atinado com o real e verdadeiro sentido
do termo “Umbanda”. Umbanda significa: o sacerdócio em si mesmo, na m’banda, no
médium que sabe lidar tanto com os espíritos quanto com a natureza humana.
Umbanda é o portador das qualidades, atributos e atribuições que lhe são
conferidas pelos senhores da natureza; os Orixás. Umbanda é o veículo de
comunicação entre os espíritos e os encarnados, e só um Umbanda está apto a
incorporar tanto os do Alto, como os do Embaixo, assim como os do Meio, pois
ele é, em si mesmo, um templo. Umbanda é sinônimo de poder ativo. Umbanda é
sinônimo de curador. Umbanda é conselheiro. Umbanda é sinônimo de
intermediador. Umbanda é sinônimo de filho de Fé. Umbanda é sinônimo de
sacerdote. Umbanda é a religiosidade do religioso. Umbanda é o veículo, pois
traz em si os dons naturais pelos quais os encantados da natureza falam aos
espíritos humanos encarnados. Umbanda é o sacerdote atuante, que traz em si
todos os recursos dos templos de tijolos, pedra ou concreto armado. Umbanda é o
mais belo dos templos, onde Deus mais aprecia ser manifestado ou mesmo onde
mais aprecia estar: no mínimo o ser humano. Umbanda foram os primeiros
espíritos dos sacerdotes, que aos poucos foram criando para si, no íntimo dos
médiuns filhos de Santo já preparados para recebê-los, uma lista tão poderosa,
mas tão poderosa, realizam curas milagrosas nos frequentadores dos terreiros de
“macumba”. Umbanda eram os caboclos índios que dominavam os quiumbas e
libertavam os espíritos encarnados de obsessões e perseguidores. Umbanda eram
os pretos velhos que baixavam nas “mesas brancas” e faziam revelações que não
só deixavam admirados quem os ouviam, mas encantavam também. Umbanda eram os
exus e pomba giras brincalhões, debochados e francos, tanto quanto os
encarnados. Falavam a estes e igual para igual, e com isso iam rompendo o temor
dos filhos de Santo para com seus “santos”. Umbanda era o início do rompimento
da casca grossa do ritual do culto aos eguns (sacerdotes já no outro lado de
vida. Umbanda o sacerdócio, embanda, o chefe do culto. Umbanda, o ritual aberto
do culto aos ancestrais. Umbanda na banda do “Um”, mais um, todos nós somos,
pois tudo o que nos cerca, por meio de nós pode manifestar-se. Umbanda na banda
do “Um”, todos são e sempre serão, desde que limpem seus templos íntimos dos
tabus a respeito dos Orixás e os absorvam por intermédio da luz divina que
irradiam seus mistérios. Daí em diante, serão todos “mais um”, plenos
portadores dos mistérios dos Orixás. Umbanda provém de “m’banda”, o sacerdote,
o curador. Umbanda é sacerdócio na mais completa acepção da palavra, colocando
o médium na posição de doador das qualidades de seus Orixás, que,
impossibilitados de falarem diretamente ao povo, falam a partir de seus templos
humanos: os filhos de Fé! Despertem para esta verdade, pais e mães de Santo!
Olhem para todos os que chegam até vocês, não como seres perturbados, mas sim
como irmãos em Oxalá que desejam dar “passagem” as forças da natureza que lhes
chegam. Contudo irmãos em Oxalá que desejam dar “passagem” as forças da
natureza que lhes chegam. Todavia encontram seus templos (mediunidade) ocupados
por escolhos, inculcados neles ao longo dos séculos e séculos que estiveram
afastados de seus ancestrais Orixás. Não inculquem mais escolhos dizendo a eles
que há Orixá brigando pela cabeça deles ou que exu está cobrando alguma coisa.
Tratem os filhos de olorum, o Incriado, envia-lhes com o mesmo amor, carinho e
cuidados que devotam a seus filhos encarnados. Cuidem deles, transmitam a eles
amor aos Orixás, sendo Orixá é o amor do Criador às suas criaturas.
Ensinem-lhes que, na lei de Oxalá, ninguém é superior a ninguém, como na banda
do “Um”, mais um todos são. Mostrem-lhes que Orixá é um santo, sendo mais do
que isso: Orixá é a natureza divina se manifestando de forma humana, para os
espíritos humanos. Não percam tempo tentando contar lenda dos tempos do
cativeiro, quando irmãos de cultos diferentes, raças diferentes e formações as
mais diversas possíveis eram reunidos em uma só senzala. Evitavam a mistura dos
Orixás com medo de perderem seus últimos vestígios humanos, seus “santos” de
cabeça e de fé. O tempo de escravidão já é passado e Umbanda é liberdade de
manifestação dos Orixás por intermédio dos seus veículos naturais: os médiuns.
Ensinem-lhes que, estando aptos a incorporar o “seu” pai de cabeça, também
estão aptos a serem as moradas de todos os outros “pais”. Assim, Orixá é,
inicialmente e acima de tudo, isto: senhor da cabeça. É senhor da coroa
luminosa que paira em torno do mental purificado do filho de Fé já liberto dos
escolhos que o mantinham acorrentado. Também escravizado a tabus e dogmas
religiosos, que inicialmente visavam a impedi-lo de ser mais um na banda do
“Um”. Mantendo-se na eterna dependência da vontade dos carnais, senhores dos cultos
ao Criador, em que um é o pastor e o restante, só rebanho, ovelhas mesmo! Digam
que, na banda do “Um”, o rebanho é composto só de pastores, pois “Umbanda” é o
sacerdócio. Esclareçam ao filho recém-chegado que se sente incomodado que isso
não é nada de ruim, há todo um santuário aprisionado em seu íntimo tentando
explodir por meio de sua mediunidade magnífica. Conversem demoradamente com ele
e procurem mostrar-lhe que Umbanda não é panaceia para todos os males do corpo
e da matéria, Todavia sim o aflorar da espiritualização sufocada por milênios
de ignorância e descaso com as coisas do espírito. Expliquem que pode fazer o
que quiser com seu corpo material, mas deve preservar sua cora (cabeça), desde
modo é nela que a luz dos Orixás lhe chega e o liberta dos vícios da carne e do
materialismo brutal. Ensinem-lhe que, como templos, deve manter limpos seus
íntimos, pois nesse íntimo há uma centelha divina animada pelo fogo divino que
a tudo purifica. E que o purificará sempre que entregar sua coroa ao seu Orixá.
Instrua os com seu mentor e guia chefe, irmãos e irmãs (pais e mães de santo).
Estabeleçam um dia da semana ou do mês dedicado exclusivamente a um guia
doutrinador que lhe falará da Umbanda a partir da visão mais acurada desta
religião. Em que os fiéis são mais que fiéis” são “meios” pelos quais toda uma
gama magnífica de seres de altíssima evolução se manifesta como humildes pretos
velhos. Garbosos, mas amáveis caboclos, inocentes crianças ou humanos exus e
pomba giras. Sim, porque nós conhecemos irmãos exus que possuem muito mais luz
do que vocês imaginam. E, se preferem atuar como exus, é porque assim, bem
humanos, chegam mais rápido até onde desejam, aos consulentes sofredores e
veículos de espíritos sofredores afins. Ensinem aos médiuns que eles trazem
consigo mesmo todo um templo já santificado e que nele se assentem os Orixás
sagrados. E que por intermédio desse templo muitas vozes podem falar, serem
ouvidas, onde Umbanda provém de Embanda: sacerdote”. E o médium é um sacerdote,
um embanda, um Umbanda ou mais um na banda do um, a Umbanda!. Abraço. Davi.
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