terça-feira, 23 de abril de 2024

JESUS NUMA PERSPECTIVA HISTÓRICA. Parte I

 

Islamismo. Livro Jesus um Profeta do Islam. Por Muhammad Ata Ur-Rahim. Capítulo II. Parte I. JESUS NUMA PERSPECTIVA HISTÓRICA. Parte I. Quanto mais pessoas tentam saber quem foi realmente Jesus, mais se descobre quão pouco se sabe sobre ele. Há registros restritos de seus ensinamentos e de algumas de suas ações, mas, além disso, muito pouco se conhece acerca da maneira como realmente viveu a vida, momento a momento, como se relacionou diariamente com as outras pessoas. Certamente, as imagens que muitas pessoas deram de Jesus — de quem era e daquilo que fez — são distorcidas. Embora haja alguma verdade nos quatro Evangelhos aceitos, sabe-se que não só têm sido alterados e censurados através dos tempos, como também não constituem registros de testemunhas oculares. O primeiro Evangelho é o de Marcos, escrito por volta dos anos 60-70 d.C.. Marcos era o filho da irmã de São Barnabé. Mateus, por sua vez, era um coletor de impostos, um oficial menor que não viajava com Jesus. O Evangelho de Lucas também foi escrito muito mais tarde e teve, de fato, a mesma origem dos anteriores. Lucas era o médico de Paulo e, tal como Paulo, nunca conheceu Jesus. Por sua vez, o Evangelho de João tem uma origem diferente e foi escrito ainda mais tarde, por volta do ano 100 d.C. Além disso, esse João não deve ser confundido com João, o discípulo, que foi outro homem. Aliás, durante dois séculos foi ardentemente debatido, se esse Evangelho deveria ser aceito como um registro seguro da vida de Jesus e se poderia ser incluído nas Escrituras. A descoberta dos famosos Pergaminhos do Mar Morto veio lançar uma nova luz acerca da natureza da sociedade em que Jesus nasceu. O Evangelho de Barnabé cobre, mais extensamente do que os outros, a vida de Jesus, enquanto o Alcorão e os Ahadice clarificam ainda mais a imagem real de Jesus. Nós descobrimos que Jesus não era o "filho de Deus" no sentido literal da palavra, mas, tal como Abraão e Moisés, antes dele e Maomé (ár. Mohammad) depois dele, era um Mensageiro que, como todos os seres humanos, necessitava de alimentos e ia ao mercado. Nós descobrimos que Jesus travou, inevitavelmente, batalhas com outras pessoas, cujos interesses estavam em conflito com o que ensinava. Pessoas que não aceitavam a orientação que recebiam ou que, mesmo sabendo da verdadeira, optavam por ignorá-la em favor da busca do poder, da riqueza e da reputação aos olhos dos homens. Além disso, descobrimos que a vida de Jesus, na terra, faz parte integrante da história judaica e, por conseguinte, para perceber a sua história é necessário conhecer a dos judeus. Ao longo da vida, Jesus foi um Judeu Ortodoxo praticante e chegou a reafirmar e reviver os ensinamentos originais de Moisés, que tinham sido alterados através dos anos. Finalmente, descobrimos que não foi Jesus quem foi crucificado, mas alguém que se parecia com ele. Lentulus, um oficial romano, descreve Jesus da seguinte forma: «Tinha o cabelo castanho, cor de avelã, liso até as orelhas e formando caracóis que caiam levemente até os ombros, em anéis abundantes; usava risco ao meio, segundo a moda dos Nazarenos. A testa era lisa e clara e a face rosada, sem borbulhas nem sardas, nem defeitos no nariz e nem na boca. Usava uma barba farta e luxuriante, da mesma cor do cabelo e dividida ao meio. Os olhos eram dum azul acinzentado com uma capacidade de expressão variada e fora do vulgar. Tinha altura média, com quinze punhos e meio. Alegre na seriedade e, por vezes chorava, mas jamais alguém o viu rir». Uma Tradição Muçulmana, no entanto, traça uma imagem diferente, dando lhe um aspecto delgado. De acordo com essa fonte: «Era um homem rosado, tendendo ao branco e não tinha o cabelo comprido. Nunca ungiu a cabeça e costumava andar descalço; não tinha casa, nem bens, nem roupas, não usava adornos e não levava consigo provisões, exceto os alimentos necessários ao próprio dia. O seu cabelo era desgrenhado e o rosto pequeno. Era um asceta neste mundo, esperando ansiosamente pelo próximo a fim de adorar Deus (àr. Allah)». A data exata do nascimento de Jesus não é conhecida. De acordo com Lucas, essa data está associada a um censo efetuado no ano 6 d.C. Mas, por outro lado, é também afirmado que Jesus nasceu no reinado de Herodes e que esse morreu no ano 4 a.C. Vicent Taylor, contudo, conclui que a data do nascimento de Jesus pode ter sido anterior, isto é, no ano 8 a.C.; dado que o decreto de Herodes, desencadeado pelas notícias do recente ou do eminente nascimento de Jesus, pretendia que todas as crianças recém-nascidas em Belém fossem mortas, tem que, obviamente, ter precedido a morte de Herodes. Mesmo se seguirmos Lucas, a discrepância entre dois versículos no mesmo Evangelho é de dez anos. A maioria dos comentadores acredita no segundo versículo, que infere que Jesus nasceu no ano 4 a.C., isto é, quatro anos "Antes de Cristo". A miraculosa concepção e o nascimento de Jesus têm sido igualmente assuntos de muita discussão. Algumas pessoas creem que ele não era mais do que o filho de carne e osso de José; enquanto outras, acreditando na imaculada concepção, concluem que ele era o "filho de Deus", mas permanecem divididas, quanto ao fato de o tratamento dos termos poder ser feito literal ou figurativamente. Lucas diz o seguinte: «O Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma virgem ... e o nome da virgem era Maria. Ao entrar em sua casa, o Anjo lhe disse: "Salve, ó cheia de Graça, o Senhor está contigo". Ao ouvir essas palavras, perturbou-se e inquiriu-se a respeito do significado de tal saudação. Disse-lhe o Anjo: "Não tenhas receio, Maria, pois achaste graça diante de Deus. Hás de conceber no teu seio e dar à luz a um filho, ao qual porás o nome de Jesus ... " Maria disse ao Anjo: "Como será isso, se eu não conheço homem?" E o Anjo lhe respondeu: "...porque nada é impossível a Deus". Maria disse, então: “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”. E o Anjo se retirou». (Lucas 1: 26-39). O mesmo episódio é descrito no Alcorão da seguinte forma: “Recorda-te de quando os anjos disseram: Ó Maria, Deus te elegeu, purificou-te e te preferiu a todas as mulheres da humanidade! Ó Maria, consagra-te ao Senhor. Prostra-te e ajoelha-te com os que se ajoelham! Esses são alguns relatos do desconhecido, que te revelamos (ó mensageiro). Tu não estavas presente com eles (os judeus) quando, com setas, tiravam a sorte para decidir quem se encarregaria de Maria; tampouco estavas presente quando estavam a discutir entre si. E quando os anjos disseram: Ó Maria, Deus te anuncia o Seu Verbo, cujo nome será o Messias, Jesus, filho de Maria, nobre neste mundo e no outro, que se contará entre os próximos de Deus. Falará aos homens, ainda no berço, bem como na maturidade e se contará entre os virtuosos. Perguntou: Ó Senhor meu, como poderei ter um filho, se mortal algum jamais me tocou? Disse-lhe o anjo: Assim será. Deus cria o que deseja, posto que quando decreta algo, basta dizer: Seja! E é”. (Alcorão, 3:42-47) Dos quatro Evangelhos, Marcos e João mantêm silêncio em relação ao nascimento de Jesus e, Mateus, só casualmente o menciona. Tal como entre Mateus e Lucas, o primeiro indica vinte e seis pessoas entre Adão e Jesus, ao passo que Lucas tem quarenta e dois nomes em sua lista. Portanto, há uma discrepância, entre os dois, de dezesseis pessoas. Se considerarmos os quarenta anos, a idade média de uma pessoa, então, há uma lacuna de seiscentos e quarenta anos entre os dois registros da suposta linha da ascendência de Jesus! Contradições desse gênero não existem na Doutrina do Alcorão, nem quanto à imaculada concepção, nem em relação ao milagroso nascimento de Jesus. No entanto, o Alcorão rejeita firmemente a Divindade de Jesus, tal como é mostrado nessa descrição, do que aconteceu pouco depois de seu nascimento: “Regressou ao seu povo levando-o (o filho) nos braços. E lhe disseram: Ó Maria, eis que trouxeste algo extraordinário! Ó irmã de Aarão, teu pai jamais foi um homem do mal, nem tua mãe uma (mulher) sem castidade! Então, ela lhes indicou que interrogassem o menino. Disseram: Como falaremos a uma criança que ainda está no berço? Ele lhes disse: Sou o servo de Deus, o Qual me concedeu o Livro e me designou como profeta. Fez-me abençoado, onde quer que eu esteja, recomendou-me a oração e o Zakat enquanto eu viver. E me fez gentil com a minha mãe, não permitindo que eu seja arrogante ou rebelde. A paz está comigo, desde o dia em que nasci; estará comigo no dia em que eu morrer, bem como no dia em que eu for ressuscitado. Este é Jesus, filho de Maria; é a pura verdade, da qual duvidam. É inadmissível que Deus tenha tido um filho. Glorificado seja! Quando decide uma coisa, basta-lhe dizer: Seja! E é.” (Alcorão, 19:27-35) O nascimento de Adão foi o maior milagre, uma vez que nasceu sem pai nem mãe; mas o nascimento de Eva foi um milagre maior do que o nascimento de Jesus, pois, também, ela nasceu sem uma mãe. O Alcorão diz: “O exemplo de Jesus, ante Deus, é idêntico ao de Adão, que Ele criou do pó; então lhe disse: Seja! E foi”. (Alcorão, 3:59) É muito importante examinar a vida de Jesus, no contexto do que estava acontecendo, no âmbito político e social, na sociedade em que nasceu, pois era um tempo de grande desassossego no mundo judaico. Ao longo de sua história, os judeus têm sido espezinhados pelos invasores, um em seguida do outro, numa série de invasões que serão examinadas, detalhadamente, mais à frente. Além disso, devido às derrotas e ao abandono delas resultante, a chama do ódio se manteve sempre ardendo em seus corações. No entanto, mesmo nos dias de mais negro desespero, grande parte dos judeus manteve o equilíbrio mental e continuou à espera de um novo Moisés, que viesse, com seu exército, afastar o invasor e dar início ao Governo de Jeová. Esse seria o Messias, ou o Anunciado. Sempre existiu uma parte da nação judaica que idolatrava todas as auroras e desfraldava as velas, qualquer que fosse o vento, na ocasião, de maneira a tirar o maior proveito, mesmo de um mau negócio. Assim adquiriam fortuna e posição, tanto temporais, como religiosas, mas eram odiados pelo restante dos judeus e considerados traidores. Além desses dois grupos, havia um terceiro agrupamento de judeus que diferia profundamente dos primeiros. Refugiava-se no deserto, onde podia praticar a religião, de acordo com a Torá e preparava-se para combater os invasores sempre que a oportunidade surgisse. Durante este período, os romanos fizeram muitas tentativas falhas para descobrir o seu esconderijo, mas o número desses patriotas continuou sempre a crescer. A primeira vez que tivemos conhecimento deles, foi através de Flavius Josephus (37-100), que apelidava esses três grupos judeus de fariseus, saduceus e essênios, respectivamente. A existência dos Essênios era conhecida, mas sem grande pormenor, não sendo mencionada, nem uma vez, nos Evangelhos. Então, subitamente, os documentos conhecidos como Pergaminhos do Mar Morto vieram a lume nas montanhas do Jordão, perto do Mar Morto, descoberta que desabou sobre todo o mundo intelectual e eclesiástico como uma tempestade. A história de como esses documentos foram encontrados precisa ser contada. Em 1947, um rapaz árabe, enquanto apascentava o seu rebanho, perto de Qumran, notou que lhe faltava uma das ovelhas e, como tal, decidiu subir a montanha mais próxima à procura do animal que lhe faltava. Durante a busca, chegou à boca de uma caverna onde pensou que a ovelha entrou. Atirou um calhau no interior e esperou ouvi-lo bater em pedra. Em vez disso, o calhau provocou um estalido como se tivesse atingido um pote de barro e o rapaz pensou que, talvez, tivesse tropeçado num tesouro escondido. Na manhã seguinte, voltou à caverna e entrou, levando um amigo para ajudá-lo. Porém, em vez do tesouro, encontraram alguns potes de barro entre olaria partida. Levaram um deles ao acampamento onde viviam, mas ficaram amargamente desapontados ao verem que tudo o que encontraram foi uma coisa suja e cheirando a pergaminho de couro, que desenrolaram até chegar de uma ponta à outra da tenda. Era um dos pergaminhos que, mais tarde, foi vendido por um quarto de milhão de dólares. Os rapazes venderam-no a um cristão sírio, chamado Kando, por alguns xelins. Kando era um sapateiro e estava apenas interessado na pele, que lhe poderia servir para reparar sapatos velhos. No entanto, o sapateiro reparou que a folha de couro tinha letras escritas, que não conhecia. Após uma observação mais minuciosa, decidiu mostrá-la ao Bispo Primaz Sírio, do Mosteiro de São Marcos, em Jerusalém e essas duas figuras sombrias carregaram, então, o pergaminho de país em país, na esperança de ganhar dinheiro. No Instituto Oriental Americano do Jordão, verificaram que o pergaminho era a mais antiga cópia do Livro de Isaías do Antigo Testamento. Sete anos depois, o pergaminho foi colocado pelo governo de Israel no Santuário do Livro em Jerusalém. Numa estimativa incerta, existem cerca de seiscentas cavernas na encosta sobranceira ao leito do rio. Ora, nessas cavernas viviam os essênios, uma comunidade de pessoas que tinha renunciado ao mundo, dado que o verdadeiro judeu podia viver, apenas, sob a soberania de Jeová e não lhe era permitido obedecer a nenhuma autoridade, além d’Ele. Portanto, segundo as suas crenças, um judeu vivendo sob outro domínio e reconhecendo o Imperador Romano como senhor absoluto, cometia um pecado. Cansados da pompa, do espetáculo do mundo e oprimidos por forças incontroláveis que conduziam, inevitavelmente, ao conflito e à autodestruição, os essênios procuraram refúgio no silêncio dos rochedos, que se elevavam às margens do Mar Morto. Recolhiam-se à solidão das cavernas, nas montanhas, a fim de poderem se concentrar, levando uma vida de pureza, para conseguirem, assim, ganhar a salvação. Ao contrário de muitos dos judeus do Templo, não usavam o Antigo Testamento para ganhar dinheiro, mas tentavam viver segundo seus ensinamentos e, com isso, esperavam alcançar perfeição e santidade. A sua finalidade era criar um exemplo que mostrasse, aos restantes judeus, como escapar da estrada que os levava à destruição e que sabiam aproximar-se rapidamente, a menos que os judeus seguissem a Palavra de Deus. Escreviam canções gnósticas, o que devia ter agitado os corações das pessoas, mais profundamente do que as palavras, por si só, pudessem exprimir. Uma vida gnóstica é como uma embarcação numa tempestade, diz uma canção. Noutra, um gnóstico é descrito como um viajante numa floresta cheia de leões, cada um com uma língua afiada como uma espada. No princípio do caminho, um gnóstico é atormentado pela dor, tal como uma mulher em trabalho de parto ao dar à luz ao seu primeiro filho, mas, se conseguir suportar essa dor, torna-se iluminado pela Luz perfeita de Deus. Então, percebe-se que o homem é uma criatura frívola e vazia, moldado em barro e amassado com água. Depois de ter passado pelo severo teste do sofrimento, de ter suportado os limites da dor e do desespero, alcançará a paz na agitação, a alegria no sofrimento e uma nova vida de felicidade na dor. Então, ficará envolto no manto do amor de Deus. Nesse ponto, com um humilde reconhecimento, alcançará o significado do que é ter sido arrebatado de um fosso e colocado num plano elevado. E, assim iluminado pela Luz de Deus, poderá se manter ereto e inflexível perante a força bruta do mundo. Antes da descoberta dos Pergaminhos do Mar Morto, muito pouco se sabia acerca dos Essênios. Abraço. Davi

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