Islamismo. Livro Jesus um
Profeta no Islam. Por Muhammad Ata Ur Rahim. Capítulo II. JESUS NUMA
PERSPECTIVA HISTÓRICA. Parte II. Plínio e Josephus os mencionaram, mas foram virtualmente
esquecidos pelos historiadores subsequentes. Plínio os descreve como a raça,
propriamente, mais notável que qualquer outra no mundo: Não têm mulher,
renunciam ao amor sexual, não têm dinheiro... A comunidade aumenta firmemente,
com um elevado número de pessoas atraídas pelo seu estilo de vida... dessa
forma a sua raça durou milhares de anos, embora ninguém tenha nascido no seu
seio». Josephus, que começou a vida como Essênio, escreveu: «acreditam que a
alma (ruach) é imortal e uma dádiva de Deus. Deus purifica algumas criaturas
para Si, removendo todas as manchas da carne. A pessoa, assim aperfeiçoada,
atinge uma santidade livre de todas as impurezas». Esses habitantes das
cavernas continuaram a levar uma vida que não foi afetada pelas vagas de
conquistadores, que tantas vezes destruíram o Templo e conquistaram os judeus.
A vida no deserto não era uma fuga à responsabilidade que todo judeu tem, de
lutar pela pureza da sua religião e de libertar a Judeia da agressão
estrangeira. Lado a lado com aqueles que rezavam diariamente e que estudavam as
Escrituras, alguns constituíram uma força eficiente e, não só pregavam a
Doutrina de Moisés, mas também, estavam preparados para lutar pela liberdade de
viver, de acordo com aquela Doutrina. Assim, a sua luta, apenas, era a serviço
de Deus e não para ganhar poder ou consideração pessoal. Os membros dessa força
de luta eram chamados pelo inimigo de “Zelotes”. Estavam organizados sob uma
bandeira e cada tribo tinha a sua insígnia. Os Zelotes estavam agrupados em
quatro divisões, cada uma encabeçada por um chefe. Cada divisão era composta
por pessoas de três tribos de Israel. Desta forma, todas as doze tribos
judaicas estavam organizadas sob uma bandeira. O chefe tinha que ser um Levita,
que era, não só um comandante militar, mas também um professor da Lei. Cada
divisão tinha o seu próprio Midrash (escola) e esse Levita, além de executar as
tarefas de comandante militar, tinha que dar darsh (lições) regulares na
escola. Assim, vivendo nas cavernas do deserto, os essênios se mantinham
afastados da procura do prazer, desprezavam o matrimônio e desdenhavam a
riqueza. Além disso, formavam uma sociedade secreta, cujos segredos nunca eram
revelados a alguém que não fosse seu membro. Os romanos sabiam da existência
dessas tribos, mas não conseguiram penetrar a muralha de segredo que os
rodeava. O sonho de qualquer judeu, aventureiro, era se tornar membro dessa
sociedade, pois esse era o único método prático, disponível, para lutar contra
os invasores estrangeiros. Os essênios, tal como já vimos nos registros de
Plínio, desprezavam o casamento, mas adotavam os filhos de outros homens desde
que fossem dóceis e brandos, aceitando-os como parentes e moldando-os ao seu
estilo de vida. Assim, por incrível que pareça, a sociedade essênia se
perpetuou através de séculos, muito embora, ninguém nela tenha nascido. Desta
forma, Zacarias, Sumo Sacerdote do Templo de Salomão, teve um filho, enviando-o
aos essênios, no deserto, local onde a criança foi criada, conhecido na
História como João Batista. Agora, sabendo-se que a comunidade essênia existiu,
de fato, no deserto, a ação de Zacarias se torna compreensível, pois não estava
mandando o filho querido, sozinho ao deserto, mas deixando-o aos cuidados da
comunidade de maior confiança. Uma comunidade que procurava viver de maneira
agradável a Jeová. Maria, a prima de Elisabete, mulher de Zacarias, foi criada
por Zacarias, porque tinha sido entregue ao templo, em concordância com um voto
feito por sua mãe. Foi nesse ambiente que nasceu Jesus. Além disso, havia,
entre os judeus, a esperança num Messias, num novo «chefe» que seria batizado e
anunciado como rei. O rumor que circulava entre os judeus, sobre o seu iminente
nascimento, levou Herodes à decisão de matar todos os bebês nascidos em Belém,
onde, de acordo com a tradição, o Messias deveria aparecer. A poderosa sociedade
secreta dos essênios foi informada por Zacarias e Maria conseguiu, por isso,
escapar das garras dos soldados romanos, indo com Jesus ao Egito, onde os
Essênios tinham outra colônia. O desaparecimento súbito de Jesus e Maria, a
fuga bem-sucedida foi um mistério às autoridades romanas e uma fonte de
especulação, até a descoberta dos Pergaminhos do Mar Morto. Nenhum dos
Evangelhos cobre esse episódio, nem a existência da comunidade essênia, nem
como lhes foi possível fugir dos perseguidores, com tanto sucesso, apesar da
publicidade que deve ter rodeado o nascimento. Em circunstâncias diferentes,
uma criança que falava coerentemente e com autoridade, desde o berço, que foi
visitada por pastores e Magos, não poderia desaparecer tão facilmente. No ano 4
a.C., quando Jesus tinha três ou quatro anos de idade, Herodes morreu. Dessa
forma, o perigo eminente, que rodeava sua vida, foi afastado e passou a poder
se mover livremente. Ao que parece, Jesus foi educado sob a dura disciplina de
professores essênios e, sendo um aluno inteligente, aprendeu a Torá muito
depressa. Assim, quando tinha doze anos, foi mandado ao Templo, verificando-se
que o aluno, em vez de repetir as lições que recebera, falava com certa
confiança e autoridade. Há algumas tradições muçulmanas que falam das
singulares dádivas, que tão cedo, foram dadas a Jesus, em sua vida. A citação
que se segue pertence a Histórias dos Profetas, de Sa’labi: Wahb disse: «O
primeiro sinal de Jesus, que as pessoas viram, ocorreu enquanto sua mãe vivia
na casa do chefe da vila, onde José, o carpinteiro, levou-a, quando foi ao
Egito; os pobres costumavam ir, frequentemente, à casa desse chefe. Entretanto,
foi roubado algum dinheiro do tesouro que lhe pertencia, mas, embora não
tivesse suspeitado dos pobres, Maria se afligiu com o seu tormento. Quando
Jesus viu a preocupação da mãe com a aflição do anfitrião, perguntou-lhe:
"Mãe, queres que eu o guie até o dinheiro?". Ao que ela respondeu:
"Sim, meu filho. " Jesus disse: "Diz-lhe que reúna os pobres
perante mim, em sua casa." Então, Maria disse isso ao chefe que reuniu os
pobres. Quando todos estavam reunidos, Jesus se dirigiu a dois deles, um cego e
outro coxo, pôs o coxo nos ombros do cego e disse-lhe: “Levanta-te com ele”. O
cego respondeu: “Sou demasiado fraco para isso”. Jesus disse-lhe: “Como foste
suficientemente forte para fazer isso ontem?” Quando o ouviram dizer isso,
bateram no cego até que se levantasse e, quando isso aconteceu, viram que o
coxo chegava à janela do tesouro. Então, Jesus disse ao chefe da aldeia: "Assim
conspiraram, ontem, contra a tua propriedade, pois o cego se valeu da sua
própria força e o coxo dos olhos. “ Então o cego e o coxo disseram: “Ele falou
verdade, por Deus!” E devolveram o dinheiro todo. O dono o pegou, colocou-o no
tesouro e disse: "Ouve Maria, podes ficar com metade”. Ela respondeu: “Não
fui criada para isso”. O chefe disse: “Então, dá-o ao teu filho”. Ela
respondeu: “Ele é-me superior”. ...E nessa altura tinha, ele doze anos». Outro
sinal: Tal como disse Sadi: «Quando Jesus, a paz esteja com ele, andava na
escola, costumava dizer aos rapazes o que os pais estavam fazendo. Teria dito a
um rapaz: "Vai para casa, pois a tua família está comendo tal, prepararam
tal para ti e estão comendo tal." Então, o rapaz teria ido à casa e
chamado até lhe darem essa coisa. Ter-lhe-iam dito: "Quem te falou
disso?" Ao que teria respondido: "Jesus." Reuniram-nos, então,
numa casa e quando Jesus chegou à procura deles, disseram-lhe: "Não estão
aqui." Jesus disse-lhes: "Então o que é que está nesta casa?"
Eles responderam: "Suínos." Jesus disse: "Então que sejam
suínos." E assim, quando abriram a porta, vede! Eram suínos. Os filhos de
Israel estavam preocupados com Jesus e, assim, quando a sua mãe temeu por ele,
pô-lo num burro e foram rapidamente ao Egito ...» Ata' disse: «Depois de Maria
ter tirado Jesus da escola, confiou-o a diversos comerciantes, sendo os
últimos, tintureiros; assim, entregou-o ao chefe para que Jesus pudesse
aprender com ele. O homem, como tinha vários panos para tingir e precisava partir
em viagem, disse a Jesus: "Aprendeste esse ofício e vou partir numa
viagem, da qual não voltarei, senão daqui dez dias. Esses panos têm cores
diferentes e eu marquei cada um de acordo com a cor com que deve ser tingido e,
portanto, quero que tenhas o trabalho terminado quando eu voltar". Jesus,
a paz esteja com ele, preparou um recipiente com uma cor, pôs nele todos os
panos e disse-lhes: "Sede, com a permissão de Deus, o que é esperado de
vós. " Quando o tintureiro voltou, vendo que todos os panos estavam no
mesmo recipiente, disse: "Oh Jesus, o que foi que fizeste?" Jesus
respondeu: "Acabei o trabalho." O homem disse: "Onde está a
roupa?" Jesus respondeu: "No recipiente. " O homem disse:
"Toda ela? " Jesus respondeu: "Sim. " O homem disse:
"Como pode estar toda no mesmo recipiente? Estragaste-me esses panos.
" Jesus respondeu: "Levanta-te e olha." O tintureiro levantou-se
e Jesus tirou um trajo amarelo e um verde e um vermelho até os ter tirado todos
de acordo com as cores que desejara. Então o tintureiro começou a pensar,
porque sabia que aquilo era coisa de Deus, pois Ele é Grande e Glorioso. E
disse às pessoas: "Venham e vejam o que Jesus (a paz esteja com ele)
fez." Deste modo ele e os companheiros, que eram os discípulos,
acreditaram e Deus, Grande e Glorioso como Ele é, sabe bem» Durante os
primeiros anos da vida adulta de Jesus, espalhou-se o rumor de que João se
afastara da sociedade essênia e vivia sozinho no deserto. «Vestia-se de trajes
simples, de pelo de camelo, com uma faixa de couro à volta da cintura. Comia
apenas gafanhotos e mel selvagem». (Mateus, 3:4) Assim começou a pregar,
diretamente, às pessoas e não insistia no longo período de aprendizagem
necessário, a qualquer pessoa que desejasse ser membro pleno da irmandade
essênia. Era, portanto, um movimento público, pois João convidava todos a se
voltarem a Jeová e assegurava-lhes que o Reino de Deus, em breve, seria
estabelecido. Relacionado com esses acontecimentos, é de interesse ler na
história escrita por Josephus, a parte relativa a outro eremita, de quem esse
historiador foi discípulo. Josephus tinha passado três anos no deserto como um
asceta. Durante esse tempo, era orientado por um eremita chamado Bannus, que se
vestia com o que crescia nas árvores, comia apenas alimentos selvagens e se
disciplinava à castidade, com constantes banhos frios. Portanto, é obvio que
João seguia a tradição comum dos eremitas. O deserto tinha sido um lugar de
refúgio a David e aos outros Profetas anteriores. Era um local onde os judeus
podiam estar livres do domínio dos governantes estrangeiros e da influência de
falsos deuses. No deserto, não havia a procura dos favores dos governantes
pagãos. Essa atmosfera, onde apenas poderia haver a dependência do Criador e a
Sua adoração como Deus Único, foi o berço do monoteísmo. A solidão do deserto
removia qualquer falso sentido de segurança e o homem aprendia a confiar apenas
na Realidade: «Na aridez do deserto faltam todos os outros apoios e o homem
fica entregue ao Deus Único, Poder e Fonte Permanente de toda a Vida e Raiz de
toda a Segurança». Assim, a luta no deserto tinha dois aspectos. Primeiro,
ocorria no interior dos corações dos próprios homens, que tinham que travar
batalhas internas, uma vez que se propunham a viver de maneira a agradar seu
Senhor. Em segundo lugar, tal como já tínhamos visto, a escolha desse rumo de
ação tinha, como resultado inevitável, o conflito com os que desejavam viver de
outra maneira. A primeira luta era uma questão de fé em Jeová e na vitória
espiritual, independentemente da segunda batalha poder ser ganha ou perdida.
Abraço. Davi
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