Cristianismo. Livreto o Reino
e a Igreja. Witness Lee (1905-1997). Capítulo II. A VIDA E O REINO. A Bíblia,
do princípio ao fim, associa vida com autoridade. Quando o homem é mencionado
pela primeira vez, esses dois assuntos são introduzidos. No primeiro capítulo
de Gênesis é introduzida a questão da autoridade. Quando Deus criou o homem,
ele disse: “Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo
animal que rasteja pela terra” Gênesis 1,28. Assim Deus criou Adão, ele
conferiu-lhe o direito de governar toda a terra. Mas Gênesis 1 não nos diz tudo
o que ocorreu entre Deus e o homem, quando este foi criado. Portanto, o
capítulo 2 complementa o registro. Gênesis 1 diz-nos que Deus queria que o
homem exercesse domínio por ele sobre a terra e nos diz que tipo de homem deve
ser o que vai exercer a autoridade de Deus. Ele deve ser “a imagem de Deus”. O
homem que vai governar a terra por Deus deve ser um homem “conforme a
semelhança de Deus”, isto é, igual a Deus, de tal maneira que, quando vê esse
homem que está dominando, você vê o próprio Deus. O homem que deve governar a
terra por Deus não é meramente alguém que exerce autoridade. Ele é alguém que
exerce autoridade como representante de Deus. Isso é algo tremendo! É algo
transcendente e exige uma vida transcendente para sua realização. É necessário
que nos fixemos neste ponto: se o homem deve representar Deus e exercer domínio
por ele na terra, esse homem deve possuir uma vida sobrenatural. Ele é incapaz
de arcar com uma responsabilidade tão elevada na força de sua própria vida
natural. Se ele deve exercer a autoridade divina e ser um representante divino,
ele precisa possuir a vida divina. Portanto, assim que Gênesis 1 apresentou um
homem a semelhança divina e no exercício da autoridade divina. Gênesis 2
apresenta a árvore da vida. Deus estava indicando que ele queria que o homem
participasse da árvore da vida afim de possuir a vida divina. Assim sendo capaz
de cumprir as responsabilidades do seu ministério. Somente se a vida incriada
de Deus entrasse numa criatura humana é que essa criatura estaria capacitada a
representar o Senhor da criação e a governar sobre a terra em nome do Senhor da
criação. Você percebe que logo no começo a Bíblia vinculou autoridade à vida? E
no final da Bíblia essas duas ainda estão vinculadas. Nos dois capítulos finais
de Apocalipse, pode-se ver a vida fluindo do trono, e o trono representa a
autoridade Apocalipse 22,1-2. A autoridade está totalmente relacionada a vida.
Se você tem a vida, tem autoridade. “Se alguém não nascer de novo, não poder
ver o reino de Deus (...). Se alguém não nascer da água e do Espírito, não pode
entrar no reino de Deus” João 3,3-5. Se queremos tomar parte no reino,
precisamos nascer de novo. Precisamos tornar-nos possuidores de uma vida
diferente da que possuímos por natureza. Usando uma ilustração do Antigo
Testamento, Adão em Gênesis 1, com sua vida terrena, precisa receber a vida
celestial de Gênesis 2. Não pense que precisamos nascer de novo porque pecamos.
Devemos nascer de novo porque necessitamos possuir uma vida que não temos pelo
nascimento natural. É claro que os pecadores precisam nascer de novo, mas se o
homem não tivesse caído, o novo nascimento ainda seria necessário. Nosso Senhor
Jesus disse a Nicodemos que ele precisava receber a vida de Deus para que
pudesse tornar-se participante do reino de Deus. Você vê que aqui, uma vez
mais, a vida e o reino estão vinculados? Você pode dizer: “Oh tudo isso é muito
bom, mas está além da minha capacidade! Verdadeiramente quero submeter-se à
autoridade de Deus, porém simplesmente não consigo! Eu sou muito fraco”. Sim,
todos nós somos muito fracos, pois somos filhos de Adão. Somos todos filhos do
pó, somos todos muito terrenais. E as coisas da terra são frágeis demais. Um
pequeno golpe e elas se fazem em pedaços. Assim somos nós. E não somos apenas
criaturas frágeis, somos criaturas caídas. Somos rebeldes por natureza. Não
temos força para nos submeter a Deus, todavia temos muita força para nos
rebelar contra ele. Temos de confessar que nossa vida natural é uma vida
rebelde, que não consegue submeter-se a Deus. A vida que temos por nosso
nascimento natural é totalmente incapaz de se render à sua autoridade. E
totalmente incapaz de estar sob o governo de Deus. Quando os discípulos ouviram
o Senhor Jesus falar sobre o reino, eles deram um suspiro e disseram: “Quem
consegue? E o Senhor respondeu: “Isso é impossível aos homens”. Deixe-me usar
uma ilustração aqui. Um cachorro não pode voar. Voar é algo absolutamente
impossível para o cachorro. Mas o pássaro faz com facilidade. Para um pássaro,
voar pelos ares é a coisa mais simples. A vida de um cachorro é uma vida que
não consegue voar, a de um pássaro é uma vida que voa facilmente. O pássaro tem
o tipo de natureza que voa, e ele sofreria muito se você não o deixasse voar.
Assim, se quiser que o cachorro rasteje por um buraco ou escale uma colina, ele
conseguirá fazê-lo, mas peça-lhe para voar e ele não conseguirá. É uma questão
de vida. Nossa vida natural corrompida não consegue submeter-se a Deus.
Precisamos de outra vida para isso. Precisamos da vida de Deus. O novo
nascimento é Deus vindo para dentro do homem. De maneira que o que era antes
impossível para o homem torna-se agora possível. “Para Deus tudo é possível”
Mateus 19,26. Nosso problema de autoridade não é problema para Deus. Quando
temos sua vida, é a coisa mais natural estar sob sua autoridade. É tão
espontâneo como um pássaro voar. Se reprimimos a vida divina em nosso interior
não a deixamos submeter-se à autoridade divina, então, sofremos como um pássaro
na gaiola. Mas quando nos submetemos ao controle divino somos maravilhosamente
libertados. Quanto mais nos submetemos, mais libertados somos, até que, como
disse Isaias, podemos subir “com assas como águias” Isaías 40,31. Você percebe
que o reino está relacionado à vida? As exigências do reino são terríveis, mas
a provisão da vida divina é equivalente a todas as suas exigências. Um
evangelho pleno apresenta o sangue precioso para limpar da corrupção e a vida
para suprir a força que nos torna participantes do reino. O evangelho apresenta
estas três coisas: o reino, o sangue e a vida. O reino faz suas exigências,
contudo em razão da purificação que vem mediante o sangue precioso e da força
que vem por meio da vida divina. Mesmo nós, que por natureza somos criaturas
caídas, podemos viver a vida do reino.
Louvado seja Deus, pois a própria fonte da vida está em nosso interior, a saber
o próprio Deus! O Deus que do trono fax suas exigências. Ele mesmo as satisfaz.
Do trono, ele exige que nos submetamos a ele, e do nosso interior ele supre a
vida que se submete a ele. Isso não exige nosso esforço, todavia nossa
cooperação. Não é necessário que façamos, mas é preciso deixarmos que ele faça.
De outra maneira, como poderiam ser satisfeitas as exigências do reino? Ouça
essas exigências elevadas: “Ouvistes que foi dito: Olho por olho, dente por
dente. Eu, porém, vos digo que não resistais ao perverso. Antes, a qualquer que
te fere na face direita, volta-lhe também a outra. E ao que quer (...) tirar-te
a túnica, deixa-lhe também a capa” Mateus 5,38-40. Quando li estas palavras em
minha juventude, pensei: Oh! Eu não consigo fazer isso! E jamais em toda a
minha vida serei capaz de fazê-lo. Por isso tenho de desistir de ser um
cristão. Não posso ser um falso cristão, tampouco posso ser um cristão
verdadeiro. Por isso não posso ser cristão de maneira alguma. Não há nenhuma
saída! Mas uma voz em meu interior disse: Você não pode deixar de ser cristão.
Eu queria recuar, mas não podia, queria avançar e não conseguia. Oh! Que coisa
triste! Por muito tempo estive em grande perplexidade, contudo um dia Deus
mostrou-me que o que eu tentava fazer era totalmente impossível. E ele jamais
pretendera que eu tentasse fazer. Imagina tentar alcançar tal padrão: “Sede vos
perfeitos como perfeito é o vosso Pai Celeste” Mateus 5,48. Naquele dia a luz
raiou e pude louvar a Deus por ele ser meu Pai e porque a vida do Pai em mim
capacitava-me a ser perfeito. Não se trata da nossa capacidade de fazer algo,
porém de darmos nosso consentimento para ele fazer. Se não consentimos, ele é
incapaz. E aí que frequentemente está o problema. Ele quer, mas nós não
queremos. As exigências do reino jamais podem ser cumpridas pelo homem, e Deus
jamais esperou que o homem as cumprisse. As exigências que ele faz, ele mesmo
as cumpre, e essa é a graça revelada no Novo Testamento. No Antigo Testamento a
lei fazia suas exigências para o homem, porém no Novo Testamento é o reino que
faz exigências. Essas, do reino, são muito mais severas que as da lei. As
exigências da lei provaram quão impotente o homem é. Agora, as exigências do
reino provam, não quão incapaz é o homem, mas quão capaz é Deus. Não é
necessário que as exigências do reino provem a incapacidade do homem, pois isso
já foi definitivamente provado pelas exigências da lei. Hoje, as exigências do reino
servem para demonstrar a infinita capacidade de Deus. Ele se tornou nossa vida
para que ele mesmo, em nós, possa satisfazer a todas as exigências que o seu
reino impõe. É importante perceber que a vida de Deus nos foi dada por causa do
seu reino Se não o deixamos estabelecer seu trono em nossa vida e vindicar sua
autoridade sobre nós, sua vida não pode operar em nós. Deus pôs sua vida em nós
com o propósito específico de satisfazer às exigências do reino e, se não
permitirmos que ele estabeleça seu reino em nós, sua vida em nós não pode
funcionar. Deixe-me usar uma ou duas ilustrações. Uma irmã veio ter comigo com
seus problemas e, depois de falar um pouco, disse algo assim: “Na verdade, não
tenho nenhum problema, a não ser meu mau temperamento. Continuo perdendo a
paciência com meu marido e com meus filhos, mas quanto mais oro para obter
vitória, mais meu temperamento me vence. Por que isso ocorre? Sei que o Senhor
Jesus é meu Salvador, por que ele não me salva de meu mau temperamento? Sei que
o Senhor ouve as orações. Por que, então, ele não ouve as minhas preces a esse
respeito? Sei que a vida dele é poderosa. Por que sua vida poderosa não
consegue vencer meu pequeno temperamento?”. Tudo o que ela disse era bastante
racional. A vida do Senhor Jesus em nós é uma vida poderosa, e ele é alguém que
ouve e responde as orações. Por que, então, esse temperamentozinho não é
vencido? Por favor, não me interprete mal quando digo que a vida do Senhor foi
colocada em você e em mim para satisfazer as exigências do grande reino de Deus
e não para satisfazer nosso temperamentozinho. Então, eu disse aquela irmã:
Quem é o Senhor da sua vida: você ou o Senhor? A autoridade está em suas mãos
ou nas dele? E quando ela arrazoou novamente a respeito do seu temperamento, perguntei-lhe
outra vez: Quem está no trono da sua vida, você ou Deus? Quando enfatizei esse
ponto e não lhe dei uma escapatória, finalmente veio a resposta: Eu estou no
comando da minha vida. Então eu disse: Irmã, que mais é necessário dizer? Você
está no trono e quer que o Senhor a ajude. Se ele não está no lugar de
autoridade em sua vida, como pode. Ele fazer algo por você? Esse é todo o nosso
problema hoje. Por que a vida poderosa de Deus não consegue tratar com nossos
temperamentozinhos? A questão não são os pequenos ou grandes problemas, a
questão é: Quem está no trono? Você está sempre esperando que Deus se limite ao
trono, nos céus, enquanto você ocupa o trono em sua vida. Então você é
incomodado por suas fraquezas e pecados e invoca o Senhor para que lhe ajude.
Você clama a ele: O Senhor não é o Todo-Poderoso? Não prometeu responder as
orações? Será que o Senhor suporte ver seu filho vivendo uma vida derrotada?
Sim. Ele suporta vê-lo derrotado e o deixará assim até que perceba que ele pôs
sua vida em você para estabelecer seu reino em você. Você deve deixá-lo possuir
o trono. Deixá-lo tomar o controle. Deixe-o estabelecer seu reino em sua vida.
Então cada inimigo será derrotado. Já não haverá necessidade de orar por suas
fraquezas, pois se ele tem seu lugar no trono da sua vida, todo inimigo será
vencido. Nos dias do Antigo Testamento, quando Jeová tinha seu lugar com Rei de
seu povo, todos os inimigos foram subjugados por ele. Todavia quando os
israelitas recusaram que Deus tivesse o domínio, seus inimigos predominaram
sobre eles. Seus inimigos tomaram a cidade santa – Jerusalém, destruíram o
templo, carregaram a arca e levaram cativo o povo de Deus. Certa vez, um irmão
veio a mim e disse algo assim: “Por que será que meu ministério de pregação é
tão fraco? Eu oro muito a esse respeito. Às vezes jejuo e oro, e as vezes gasto
toda uma noite em oração antes de aceitar um convite para ministrar. Por que
ainda não tendo poder? Minha resposta foi a mesma de antes: “Quem está no
controle de sua vida?” Eis aí toda questão. Se você tenta limitar Deus no trono
no céu e recusa-lhe o trono da sua vida. Todo seu clamor por ajuda de nada
valerá. Não se trata de haver fraqueza ou poder, porém de quem está no trono.
Lemos a respeito do rio de água viva e que “e desde e daquele lado do rio está
a árvore da vida, que produz doze frutos, dando o seu fruto a cada mês”
Apocalipse 22,2. Onde quer que esse rio flua, toda necessidade é suprida. Mas
de onde veio esse rio? “E mostrou-me o rio da água da vida (...) que sai do
trono de Deus e do Cordeiro” Apocalipse 22,1. A vida está sempre associada com
o trono. Quando nos submetemos à autoridade de Deus e deixamos que ele
estabeleça seu reino em nossa vida. Somos mantidos em vitória e em plenitude de
vida, pois, então, nós também estaremos em autoridade. Livreto O Reino e a
Igreja. Abraço. Davi.
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