Judaísmo. Livro Portal das
Reencarnações. Por Rabino Isaac Luria (1532-1572). Tradução do Rabino Joseph
Saltoun. INTRODUÇÃO I – Parte I. A reencarnação é um estudo profundo da evolução
espiritual da consciência humana. Como o Ari explica, citando partes do Talmud,
existem cinco níveis básicos da inteligência humana, veja acima na tabela 1. A
evolução e o desenvolvimento humano envolvem um crescimento gradual, espiritual
e físico, passo a passo, de um nível para o outro. Este processo pode ser
governado, por um lado, pelas leis da natureza, que são impostas sobre o homem
ou, por outro lado, pelo livre-arbítrio. A principal intenção deste livro é
expor essas leis, a fim de permitir que o homem pratique seu livre-arbítrio e
participe conscientemente no processo de sua própria evolução. Todos conhecem a
Teoria da Evolução de Darwin, que explica o processo de evolução do corpo
físico do homem. Mas as questões são: Quais são as origens da inteligência
humana? A lei da seleção natural pode ser controlada? O homem pode
conscientemente navegar ao topo da escada da evolução ou ele só é regido pelas
leis da natureza? A reencarnação não tem a ver somente com vidas passadas. É
também sobre como conduzir-nos no presente e futuro. Estudar o processo de
evolução humana através da reencarnação e compreender os níveis de inteligência
humana e sua origem, não só melhora a nossa compreensão de nós mesmos, como também
pode apressar este processo e oferecer controle sobre o nosso destino. Isso
porque tudo o que acontece em nossa vida segue a lei básica de causa e efeito.
Consequentemente, nada acontece por acaso. Reconhecer a causa principal dá a
possibilidade de modificar o efeito. É assim que o ser humano exerce o seu
livre-arbítrio. Evoluir sendo regido pelas leis da seleção natural envolve dor
e sofrimento, morte e nascimento, e uma vida vivida sem consciência e sem
livre-arbítrio. Uma profunda compreensão das leis espirituais, que regem a
nossa alma-consciência, pode nos libertar do caminho da dor e levar-nos ao
caminho do prazer. A justiça divina e a compreensão da Vontade do Divino têm
sido um grande desafio para o homem, se não o maior deles. O versículo que aparece
em Deuteronômio 29,28 diz: “As coisas ocultas pertencem a Adonai, nosso Elohim.
Porém, as reveladas pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para cumprir
todas as palavras desta Torá”. Isso pode nos dar ainda mais desânimo na
tentativa de compreender a Vontade Divina, pois se as coisas ocultas pertencem
apenas ao Santíssimo, como então podemos seguir todas as palavras desta Torá
sem entendermos o motivo delas? A reencarnação explica as coisas ocultas, que
se estendem para além das nossas expectativas lógicas, que são baseadas em
nossa percepção física. Ela nos permite participar das “coisas ocultas’ e
entender as leis cósmicas que regem a consciência da nossa alma. Nada é um
mistério, tudo tem uma razão, mesmo que esteja oculto de nossa percepção atual.
Nesta primeira introdução, o Ari apresenta os níveis da alma (Neshamá) e os
seus nomes. Recomenda-se aprender os seus nomes em hebraico, por causa do
significado preciso que cada nome representa em relação ao seu nível
específico. Assim, de baixo para cima, a Néfesh, que pode ser traduzida como os
poderes instintivos e impulsivos do ser humano, é a parte mais baixa da alma, e
é como a Bíblia diz: “(...) porque o sangue é a Néfesh” Deuteronômio 12,23.
Isto significa que o sangue é o elemento físico do corpo humano que conecta o
mundo da matéria com o espírito. Tirar todo o sangue físico do corpo provoca a
morte. O nível de consciência de Néfesh está relacionado com nossas
necessidades básicas e instintivo de sobrevivência. Caçar e consumir outros seres
vivos para sustentar o nosso corpo. Adquirir riquezas físicas e posses para se
sentir seguro e protegido, satisfazer desejos luxuriosos, de sexo e de prazer
etc. Moralmente, é, portanto, mais provável que a Néfesh leve uma pessoa a
sucumbir a suas fraquezas e cometer pecados. Esses pecados podem ser vistos
como atos que prejudicam a pessoa e seu companheiro. Poderíamos comparar o
termo Néfesh com o termo anima descrito por Aristóteles, sendo a percepção do
eu através dos sentidos, consciência de si, e a auto moção. Já para Jung, o
anima e o animus, masculino e feminino, são descritos como elementos de sua
teoria do inconsciente coletivo, um domínio do inconsciente que transcende a
psique pessoal. Ela pode ser entendida como a consciência e o autoconhecimento
que uma pessoa tem de ser e de se tornar uma parte do todo. Ela pode dormente
ou desperta. Cabalisticamente falando, é o Ruach, Espírito, de cima, que
desperta a Néfesh. O Rúach, traduzido como Espírito, é o próximo nível. É aqui
que a pessoa se torna “espiritual”. A primeira centelha de consciência
espiritual aparece quando o homem faz as perguntas mais básicas: Por que estou
vivo? Qual é o sentido da vida? Há um propósito para eu viver? Há alguém lá
fora olhando para mim? Estas questões levam o homem a pensar, contemplar e
aspirar pelos estudos superiores de vida. Filosofia, astrologia, meditação,
sabedoria esotérica, tudo em uma tentativa de desmistificar o mistério de sua
própria existência. As respostas estão dentro de nós! O Rúach, Espírito, serve
como um intermediário entre a Néfesh e a Neshamá, Alma. Em geral, o Rúach ajuda
a Néfesh em sua constante luta para escolher entre o bem e o mal. A Neshamá,
Alma, é um nível muito alto de consciência que reside no paraíso. Ele não passa
pelos ciclos de reencarnação. Ela não sofre os altos e baixos que o corpo
atravessa. Ela se conecta com a pessoa uma vez que ela corrigiu os dois
primeiros níveis de Néfesh e Rúach. Os outros dois níveis, Chaiá, forma viva e
Iechida, unidade, não participaram no pecado de Adão, em hebraico Adam, assim,
as leis da reencarnação também não se aplicam a eles. Isto nos ensina que as
leis da reencarnação surgiram no Universo para ajudar o homem corrigir o pecado
de Adão. Esta é a origem da palavra Ticun em hebraico, que significa corrigir.
Isso vale embora estas duas partes não estejam inclusas no processo geral do
Tucun. Para uma compreensão mais simples e prática dos níveis da alma, por
favor, consulte a Tabela n° 3. Rabino Isaac Luria (1534-1572), Há’ Ari Há-Cadosh:
Vamos começar falando sobre o que os nossos Sábios, de abençoada memória,
disseram, de que a alma, Neshamá, Chaiá e Iechida ou em resumo NaRaNCHal. Para
ter uma visão mais clara disso, por favor, consulte a Tabela n°1. Nós podemos
nos perguntar de onde é que os níveis da alma, conhecidos como “luzes”,
surgiram? As origens dos níveis da alma vêm do infinito, conhecido como Ein
Sof. Depois que o Tsimbsum ocorreu, o Receptáculo criado, receptor da Luz do
Criador, rejeitou a abundância infinita do Ein Sof e voluntariamente saiu do
Infinito. Esta ação causou a descida gradual tanto do Receptáculo como da Luz
para a dimensão dos mundos. A descida do Receptáculo causou o aparecimento dos
mundos, enquanto a da Luz, o aparecimento das “Luzes”. Para um estudo mais
profundo sobre este assunto, consulte o Talmud Esser HaSefirot (Estudo das Dez
Emanações), do Rabino Iehuda Ashlag. E não há dúvidas de que estas partes não
possuem nomes por acaso. Saiba que a pessoa de fato é o elemento espiritual que
fica dentro de um corpo, e o corpo nada mais é do que uma vestimenta para a
pessoa real, e não a pessoa em si. É por isso que no Zohar se diz que o homem
conecta e une todo os quatro mundos. Emanação, Atsiluf, Criação, Beriá,
Formação, Ietsirá e Ação, Assiá, porque nele existem partes de todos estes
quatro mundos. Sendo que cada uma dessas partes é designada por um dos cinco
nomes mencionados anteriormente: NaRaNCHal, como será explicado. Uma pessoa não
adquire todos os níveis de sua alma, Neshamá, de uma só vez,mas de acordo com o
mérito. Então, primeiro a pessoa recebe o nível mais baixo deles, que é chamado
Nésfesh. Depois, se merecer mais, ela também adquire o Rúach. Tudo isso é
conforme o que está explicado em algumas partes do Zohar, como Porção Semanal
de Vaiechi e, parcialmente, na Terumá. E especialmente no início da Porção
Semanal de Mishpatim: “Quando a pessoa nasce, ela recebe uma Néfesh etc”. E agora
que explicamos isso, é preciso falar um pouco, de maneira introdutória, sobre o
assunto trazido aqui. O tema de Néfesh, Rúach e Neshamá, bem como a divisão da
alma segundo os nosso Sábios, já foi explicado em detalhes no Shaar Hapessukim –
Portão dos versículos, quando se falou do versículo: “E sua mãe fazia-lhe uma
túnica pequena”. Isso também foi explicado no Shaar Hamitsvot – Portão dos
Preceitos, na Porção Semanal de Vaiechi, quando se falou das leis do luto. E
falaremos mais disso ... Saiba, que toda Néfesh é do mundo de Assià. Todo Rúach
é do mundo de Ietsirá e toda Neshamá é do mundo de Beriá. No entanto, a maioria
das pessoas não tem as cinco partes da alma, chamadas de NaRaNChal, mas apenas
a Néfesh, que é de Assiá. No entanto, mesmo nela existem diversos níveis, pois
o próprio mundo de Assiá também se divide em cinco Partsufim, chamados: Arich
Anpin, Face Longa, Aba, Pai, Ima, Mãe, Zachar, Pequena Face, Aspecto Masculino
e Nucvá, Aspecto Feminino. Antes de a pessoa ter mérito para poder adquirir seu
Rúach, que é do mundo de Ietsirá. Ela precisa estar completa em todos os cinco
Partsufim da Néfesh que é Assiá. E mesmo sabendo que existem pessoas cuja
Néfesh é de Malchut de Assiá e outra cuja Néfesh é de Iessód de Assiá etc.
Independente disso, cada pessoa tem o dever de corrigir todo o mundo de Assiá,
e só depois disso a pessoa consegue receber o seu Rúach, que é de Ietsirá, já
que o mundo de Ietsirá é maior do que todo o mundo de Assiá. Isso segue e,
portanto, de modo similar, para poder adquirir a Neshamá, que é do mundo de
Beriá, a pessoa precisa corrigir todas as partes do seu Rúach, em todo o mundo
de Ietsirá. Depois, a pessoa pode receber a Neshamá, que é de Beria. Não basta
retificar apenas o local específico que é a Raiz de sua alma. Mas a pessoa tem
que corrigir as coisas da maneira mencionada, até ser digna de receber todo o
mundo de Assiá. E aí, então, ela pode receber o Rúach de Ietsirá. E desse modo
ela segue por todos os mundos. Abraço. Davi.
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